Pessoalidade é a qualidade do que é pessoal, sinônimo de personalidade. É o que determina a individualidade de uma pessoa moral (Aurélio). Tem a ver com o ser. Quem a pessoa é por natureza. Deus nos fez ser Nele e para Ele. Somos Dele por direito de criação e por direito de redenção (João 1.3; Col 1.16,17). A nossa pessoalidade tem tudo a ver com Aquele que nos criou e nos salvou para Si mesmo, para o louvor da Sua glória. Titularidade, por sua vez, tem a ver com título, identificação externa, posição, fama, diploma e bens. O homem está mais preocupado com títulos do que com seu ser, sua interioridade e sua capacidade de se auto-examinar, de olhar para dentro e de se deixar perscrutar pelo Senhor. A sociedade, de um modo geral, valoriza mais os títulos, a cultura, o patrimônio das pessoas. Vivemos num mundo estético e implacavelmente voltado para o aqui e agora, para o ter. O ser humano tem necessidade (e isto é fruto da natureza de Adão) de se auto-afirmar numa sociedade que cria esta demanda. Apresenta-se atrelado a algo meramente material. Algo que o ‘projete’ na sociedade.
Ter título é um patrimônio muito valorizado na vida dos que vivem de aparência. Contamos vantagens dos cônjuges e filhos. O nosso prazer é dizer que o nosso cônjuge e filhos fazem isto ou aquilo. Têm determinados cursos. Na verdade, vivemos muito fortemente ao sabor do que os outros pensam de nós. Quantas vezes nos sentimos escravos das opiniões alheias e das avaliações da sociedade. Somos pressionados a dar um histórico do que possuímos na perspectiva física. Apreciamos mais as vantagens da vida profissional e cultural e nos esquecemos do valor do ser. A pessoa é mais importante do que qualquer profissão ou patrimônio. Temos criado castas nos nossos relacionamentos dentro e fora da Igreja. Os que estão lá embaixo (sem dinheiro, cultura, bens) não têm a nossa valorização e a nossa atenção. Daí as Igrejas chamadas de ‘segmentadas’. Então, os títulos podem mascarar a realidade do ser. Muitos se escondem atrás de propriedades e diplomas. A nossa ênfase deve ser sempre a pessoa, como ela é. Os títulos são, muitas vezes, moeda de troca neste mundo estético, das coisas que podem ver, que têm a capacidade de inflar as pessoas. O mundo pós-moderno é caracterizado pela ditadura do ter, do meramente estético e da “verdade” pessoal. O sentimento de realização pessoal é o que interessa.
Pessoalidade, por sua vez, tem a ver com o ser que vive intensamente a sua realidade. Ela está ligada a relacionamentos sadios. O meu interesse não é o que a pessoa faz e tem, mas o que ela é. Tenho interesse em relacionamentos respeitosos. A valorização do próximo é uma característica cristã bem genuína. A sociedade secular trabalha para os interesses corporativos. O padrão aferidor é pragmático, isto é, está nos resultados ou lucros que a pessoa pode dar para a organização. O título, a graduação, a performance são elementos essenciais no processo de inclusão social às avessas, a necessidade de se auto afirmar. As pessoas são valorizadas pelo que elas podem dar de retorno. Há um padrão de desempenho exigido. Ele é definido pela sociedade, que tem um viés espartano – só os “saudáveis” podem ter direito de viver bem, servir, trabalhar, ter o seu lugar no pódio de uma vida “bem sucedida”.
Jesus sempre valorizou a pessoalidade. Prostitutas, cegos, aleijados, pobres e demais rejeitados pela sociedade de então, eram aceitos pelo Senhor. O Seu convite brotava do Seu coração amoroso que não excluía quem quer que seja. Os cansados e oprimidos encontram o coração do Mestre aberto, receptivo e pronto para abençoar. No ambiente do Mestre entram todos os que têm consciência da sua natureza pecaminosa e que desejam mudar, ter suas vidas restauradas e que testemunhem a sua mudança. Jesus sempre valorizou a pessoa por inteiro. Era dele mesmo considerar que o homem vale pelo que é e não pelos seus bens, por sua produtividade. A pessoalidade deve estar ligada à Pessoa de Cristo. O sentido da vida, todas as riquezas espirituais e emocionais, e nossa realização, estão nele. Paulo disse que todos os tesouros da sabedoria e da ciência estão em Cristo Jesus. Tudo o que precisamos está nEle. Na verdade, a pessoalidade plena só tem sentido em Cristo. É muito precioso sermos pessoas transformadas por Sua obra na cruz e na ressurreição. Reconhecermos a nossa incapacidade de servi-lO se Ele não for conosco. Que vençamos os nossos preconceitos. Valorizemos a pessoa em sua simplicidade, sua expressão de humildade e sua capacidade de reconhecer as profundas limitações. Tenhamos um coração amoroso e perdoador, que aceita em graça. Preguemos o evangelho que nos ensina a amar e a respeitar o próximo e, acima de tudo, glorificar Aquele que nos fez à Sua imagem e semelhança.