BOM DIA: OS CAPÍTULOS QUE ESCREVEMOS

A história de cada um de nós tem dois começos. Na verdade, três.
O segundo começo é quando nascemos. Sabemos um pouco dele, pelas fotos, se foram feitas e guardadas; ou pelos relatos, se nos são feitos. Nascemos antes, na verdade, e nada sabemos: os padrões de nossas famílias, podendo ser mais fortes os paternos ou os maternos. Esses padrões que as influências nos legam têm a ver com a nossa atitude perante a vida. Alguns séculos antes de nascermos já tínhamos a propensão para uma doença ou estávamos marcados para a força; dezenas de anos antes da palmadinha primordial nas nádegas, estava inscrito como andaríamos; o modo como nossos pais tratavam o dinheiro já era o nosso jeito de nos relacionar com o meio de pagar ou ser feliz; o jeito como nossos avós enfrentavam os seus desafios nós o reproduzimos.
Então, cada um com a sua pompa e circunstância, nascemos, tendo diante de nós três alternativas, entre outras: carimbamos tudo como sendo a nossa vida, recusamo-nos a receber as heranças todas ou vamos fazendo mudanças no roteiro.
Para nascer, pela terceira vez, e viver na nossa vez, precisamos tomar consciência da vida que somos. Em nossa singularidade, carregamos traços que nos precedem e vamos fazendo marcas que nos acompanham. Não somos apenas resto de fumaça, porque podemos ser fogo. Não somos apenas papel amassado, porque podemos ser folha nova. Não somos laranja bichada, porque podemos ser produto limpo. Não somos gado no quintal, porque podemos ser o vaqueiro.
Diante das heranças (de ontem) e das influências (de hoje), ao som dos embates de hoje, vamos dando contorno aos nossos músculos.
A história que escrevemos é a nossa história. Talvez não peguemos do primeiro capítulo, mas temos o poder de mudar o enredo e preparar a capa do romance da nossa existência.
Nossa história será a que fizermos dela. Não estamos condenados a repetir o passado ou a fazer o que todo mundo faz. Fomos feitos por Deus para vidas plenas e não podemos aceitar senão a plenitude.
(José Sélio de Andrade — 13.1.1951/10.8.2014 — foi vida curta mas plena,)
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO