A RELIGIÃO QUE DEUS PREFERE
Lucas 5.33-39
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 27.12.1998.
1. INTRODUÇÃO
As religiões podem ser vistas como esforços humanos para agradar a Deus. Neste texto encontramos em destaque um tipo de esforço: uma vida vivida estritamente dentro de padrões legais, exemplificada pela prática do jejum.
No entanto, o interesse de Deus é a felicidade do homem, como Jesus sempre ensinou e os seus ouvintes, e nós também, têm dificuldade de entender. Por isto, continuam as práticas. Até hoje, por exemplo, o sábado incomoda muitos de nós (por que não o guardamos?)
2. O TEXTO
2.1. Os acompanhadores de Jesus
. os que buscavam espetáculo (numa religião sem cruz, do tipo teologia da prosperidade)
. os que queriam enquadrá-lo (numa religião limitada ao entendimento humano, logo fechado ao sopro do Espírito)
. os seguidores (que buscavam a felicidade em todas as suas dimensões)
2.2. As acusações (dos que queriam enquadrá-lo)
2.2.1. Jesus e seus discípulos não oravam (eles o faziam, mas não em alta voz nos lugares de destaque — o caso do professor universitário que se assentava no restaurante onde fosse visto pelos diretores)
2.2.2. Jesus e seus discípulos não jejuavam (eles o faziam, mas não deixavam isto na cara… Jesus e seus discípulos jejuavam (Mc 9.29). Jesus e seus discípulos oravam (Mt 6.5). A diferença é que faziam isto para cima [isto é, para Deus] e não para os lados [isto é, para a platéia].
2.2.3. Jesus e seus discípulos não escolhiam as boas companhias (porque eles vieram para os doentes e não para os que se consideravam sãos)
2.3. As respostas
2.3.1. Primeira resposta: jejum é saudade (vv. 34-35)
2.3.2. Segunda resposta: jejum é lei/tradição (36-39)
Os judeus o observavam três a quatro vezes por ano. Segundo o profeta Zacarias, eram quatro os jejuns públicos obrigatórios, todos associados a tragédias nacionais (Zc 8.19). Muito possivelmente, ao tempo de Jesus, eram ocasiões para o jejum o Dia da Expiação, a véspera da Festa de Purim e n comemoração da queda de Jerusalém.
2.3.3. O ensino de Jesus acerca da vida cristã:
. não devemos remendar pano velho com pano novo (que encolherá e deixará um buraco na roupa)
. não devemos pôr vinho novo em odres (de couro de cabra) velhos (que arrebentarão por falta de elasticidade)
. não devemos preferir o vinho novo, mas o velho (porque é mais saboroso)
3. A VIDA NOVA
Deste texto, não podemos derivar uma doutrina acerca do jejum. Os ensinos de Jesus são sobre a natureza da religião cristã, que pode incluir o jejum. Este, no entanto, não faz parte da sua essência. Para Jesus, por mais legítimo que seja, o jejum não pode estar acima do homem ou acima de Deus.
A essência da verdadeira religião, neste texto, pode ser sintetizada nos seguintes termos:
1. A religião verdadeira é o resultado de uma atitude perante a vida, que se manifesta nas coisas corriqueiras, como no ato de sentar à mesa e tomar as refeições diárias. Ela não tem nada de necessariamente espetacular. A religião não é contra a vida, mas a seu favor (v. 33).
2. A religião verdadeira se realiza pela presença de Deus. Não é um culto à sua ausência ou à sua distância, mas um regozijo por sua companhia conosco (v. 34).
3. A religião verdeira celebra a presença de Deus, mas reconhece que esta presença está obscurecida pelo pecado. Por isto, a religião verdadeira anela pelo tempo em que o pecado deixará de fazer parte da vida humana (v. 35).
4. A religião verdadeira se estabelece sobre a novidade de vida, iniciada com o arrependimento e prolongada com os atos de Deus na história de cada um dos discípulos de Jesus, o-Deus-conosco (v. 36-38).
5. A religião verdadeira não vive das experiências do passado, mas vai se aperfeiçoando a cada dia, como resultado da comunhão entre o filho e o Pai. O compromisso do crente é ser como o vinho: quanto mais passa o tempo, mais saboroso fica. Como o vinho, a excelência cristã se aprimora com o tempo, que não faz do crente um ser rabugento, apegado a tradições humanamente estabelecidas e escravo de suas próprias convicções, fechado para o soprar do Espírito (v. 39).
6. A verdadeira religião pode até incluir elementos da tradição (como o jejum), mas estes elementos por si só são insuficientes. Como não tinham a que se apegar, os publicanos entenderam a mensagem de Jesus e beberam do vinho da sua graça. Os fariseus e escribas cultuaram odres que eles mesmos inventaram e não permitiram que Jesus derramasse neles sua deliciosa graça, preferindo afligir suas almas, em lugar de entregá-las ao Senhor Jesus Cristo.
O JEJUM DE DEUS
Não está no rosto o jejum.
Está no coração onde só o Pai penetra.
Não está na palavra o jejum.
Está no silêncio de quem com o Pai se acerta.
Não está no cântico o jejum.
Está no gemido solitário da alma aberta.
Não está na auto-exaltação o jejum.
Está na autonegação de fato completa