EVANGELIZANDO ATRAVÉS DA MÚSICA (Sylvio Macri)

A Bíblia aponta para a necessidade de a nossa música ser uma proclamação da salvação do Senhor, e isso não somente de quando em quando, mas diariamente: “Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome; dia após dia, proclamai a sua salvação.” (Sl.96.2).
 
A música que se canta na maioria das igrejas hoje em dia tem muito pouco de proclamação, pois abandonaram os hinários tradicionais e, consequentemente, aqueles grandes hinos da fé cristã que apresentam o caminho da salvação e que são lindos testemunhos de pessoas criativas a respeito da sua experiência de libertação em Cristo, constituindo verdadeiros apelos ao coração dos pecadores para que aceitem Jesus como Salvador.
 
A maioria dos cânticos que se usa nas igrejas atualmente é, em primeiro lugar, de natureza meramente contemplativa, mostrando, por um lado, uma certa indiferença para com os pecadores perdidos, e, por outro lado, evidenciando uma certa alienação da realidade de um mundo que jaz no maligno e necessita ouvir falar que há poder e libertação em Jesus.
     
Em segundo lugar, são também cânticos triunfalistas, que falam de vitória e proteção incondicional vindas de um Deus que não exige nenhum arrependimento de pecados nem a sua confissão. Enquanto os templos e outros locais se enchem de “adoradores” emocionados entoando durante horas este tipo de cânticos, lá fora (e mesmo dentro) jazem os perdidos, e o Diabo continua vitorioso em sua sinistra colheita de almas para povoar o inferno.
 
Em terceiro lugar, são cânticos humanistas, isto é, colocam o homem no centro, e não Deus. Este é mero coadjuvante dos “adoradores eleitos”, os quais são automaticamente abençoados por causa do “louvor” que apresentam. Isto é, a partir do momento que “levantam as mãos” (um gesto ritual) Deus virá e lhes dará a vitória. Raramente vemos a relação de dependência criatura/Criador, redimido/Redentor, discípulo/Mestre, servo/Senhor, que coloca Deus no centro da vida do crente.
 
Assim, por ser destituída do caráter de testemunho, a música de igreja hoje em dia não produz mudança nenhuma, pelo contrário gera apenas uma situação de êxtase momentâneo, sem consequência no cotidiano das pessoas. 
 
Diante desse tipo de música, que deixa muito a desejar no que se refere à evangelização, o que devemos fazer?
 
Em primeiro lugar, temos que ser mais seletivos, isto é, ao escolher o que cantar não podemos submeter-nos à tirania do novo, do mercado, da maioria. Cantar somente ou principalmente o que é novo não é um bom critério, pois assim deixamos de usar o que é bom e bonito que foi feito antes, e corremos o risco de não cantar nada de bom e bonito, ainda que seja novidade. Não é bom também cantar só o que toca nas rádios, porque elas são ligadas a gravadoras; são um negócio, obedecem às leis de mercado e estão interessadas, não em qualidade, mas em ganhar dinheiro. Cantar o que agrada à maioria, infelizmente acaba no que Paulo disse a Timóteo: que as pessoas desejarão ouvir apenas “coisas agradáveis”, não suportando a sã doutrina (2Tm. 4.3).       
 
Em segundo lugar, precisamos ser mais objetivos. Qual é a finalidade da música no culto? Que tipo de música vamos cantar? Que resultados esperamos e o que temos alcançado? A música do culto cristão deve dirigir-se a Deus (louvando) e ao ser humano (proclamando). Sua finalidade não é contemplativa, estética ou exibicionista, antes é um ato de adoração e de pregação do evangelho (Salmo 96). Nesse sentido, então, devemos ser muito criteriosos na escolha das músicas, mesmo tendo que restringir o repertório. Temos que planejar e não agir ao sabor do momento. Além disso, precisamos avaliar os resultados, para corrigir os erros e melhorar o conteúdo e a apresentação. 
 
Em terceiro lugar, precisamos ser mais comprometidos. Isto significa ter um claro senso de missão. A igreja existe para adorar, proclamar, ensinar e servir, e a música que ela canta faz parte disso. As pessoas que cuidam da música precisam ter esse senso de missão, e precisam também ter um compromisso com a qualidade, tanto da melodia e da letra, quanto da apresentação. Não podem produzir apenas ruído, tem que haver beleza, equilíbrio e mensagem. A isso chama-se senso de perfeição. Mas também necessita haver senso de comunhão, de solidariedade. Cantar na igreja é um ato coletivo de alto poder de coesão. A comunicação entre as pessoas através da música é sem igual. Quem faz a música na igreja precisa lembrar-se sempre disso.
 
Pr. Sylvio Macri