Deus fez uma reunião no céu.
Participaram o Pai e o Espírito Santo. O Filho estava viajando.
Participaram também os anjos. Era, na verdade, uma reunião de preparação final.
O Filho estava viajando à terra, mas, na terra, poucos sabiam.
A terra precisava saber.
Parte da terra era governada por um imperador que morava na Itália. Ele comandava parte da terra, mas achava que controlava toda a terra, ao ponto de dizer que quem não era governado por ele, civilizado, era bárbaro. O imperador não precisava ser informado. Era até bom que não soubesse, para não se sentir ameaçado.
Esse jeito imperial, como se ninguém mais importasse, era seguido até por governantes de menor porte, com jurisdições menores sobre regiões inexpressivas.
O Filho de Deus estava viajando. Até então ele estava na Galieia, no norte de Israel, numa cidade desprezível. A cidade-capital do país ficava uns 160 km ao sul. Lá moravam as autoridades que a Itália escolhia e as que tolerava. Não precisavam ser informadas da viagem do Filho de Deus. Essas autoridades, para controlar melhor e arrecadar mais, passaram a exigir que as pessoas se recadastrassem em suas cidades de origem. Muita gente subiu do norte para o sul. Muita gente desceu do sul para o norte. O Filho de Deus teve que subir, de Nazaré para Belém, encostada na cidade-capital, Jerusalém.
O Filho de Deus viajava no ventre de uma mulher que nunca tivera filhos. Maria de Nazaré. Ela sofreu, porque que a viagem era longa. Seu marido sofreu, José de Belém sabia dos perigos.
As coisas não correram como José imaginou, nem como a mãe sonhou. Não havia um quarto para o bebê chegar. Maria reclamou muito. José chorou bastante. O único jeito era ocuparem a parte térrea, nos fundos da casa que fôra do seu pai Eli e que agora era habitada por uma irmã.
Ali nasceu o Filho de Deus, diante de poucas testemunhas.
A mãe estava confusa. Sabia que no seu ventre vinha o maravilhoso Messias, porque ouvira de um anjo antes mesmo de engravidar. Mas assim, tendo uma manjedoura como berço?
No céu, durante a reunião, o Pai anunciou:
— Precisamos fortalecer a mãe do Messias.
Os anjos, como se num coro, se apresentaram:
— Senhor, estamos prontos.
Um ficou encarregado de descer e dar a notícia. Os outros viriam para cantar, para que não houvesse dúvida de onde vinham.
— Vocês vão dar a notícia aos pastores de noite.
— Aos pastores?
O Espírito Santo confirmou, dando outras instruções.
Os anjos chegaram a Belém perto da meia noite. Foram a um campo de vigília em Belém.
Recebidos com medo, anunciaram a alegre notícia de que o Messias tinha nascido. Responderam a perguntas.
Saíram correndo a Belém, empolgados. Encontraram o menino deitado, a mãe assentada ao seu lado.
Maria primeiro ficou assustada, mas, com a chegada inesperado dos pastores na madrugada, entendeu o que Deus estava fazendo. Com ela e com a humanidade.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO