“Agora, portanto, se ouvirdes atentamente a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade exclusiva dentre todos os povos, porque toda a terra é minha; mas vós sereis para mim reino de sacerdotes e nação santa.” (Êxodo 19.5,6a).
O propósito de Deus ao celebrar um pacto especial com o povo de Israel, elegendo-o entre tantos povos do mundo antigo, foi de torná-lo uma nação sacerdotal, separado entre todos para ser um instrumento escolhido, um canal de bênçãos para os demais povos e nações. Isso veio desde Abraão, por meio de quem Deus afirmou que abençoaria todas as famílias da terra. Sacerdote é aquele ministra a Deus em favor dos outros. Portanto, o papel de Israel seria o de levar a graça de Deus às demais nações.
Ao longo dos séculos, porém, o povo israelita subverteu essa ideia de eleição e desenvolveu uma ideologia de supremacia. Na época em que Jesus exerceu seu ministério terreno havia duas representações extremas dessa ideologia: os essênios, que chamavam a si mesmos de “filhos da luz”, e os zelotes, um partido ultranacionalista e xenófobo. Os essênios, considerando-se o verdadeiro Israel, se retiraram para as cavernas de Qumram, esperando o juízo final, sua preservação como verdadeiro povo de Deus e a destruição de todos os demais. Os zelotes eram a face violenta da oposição aos romanos, preconizando a luta armada, a resistência ao pagamento de impostos, e pregando o triunfo da teocracia divina sobre todos os demais governos. Todo supremacista acaba sendo exclusivista, e vice-versa.
Tendo Israel fracassado no cumprimento de sua missão, Deus fez surgir um novo e verdadeiro Israel, de quem Pedro falou: “Mas vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1Pd.2.9). Pedro estava se referindo à Igreja de Cristo. Modernamente, porém, amplos setores dessa igreja caíram na armadilha da ideologia supremacista, transformando em principal bandeira de luta a imposição de suas “verdades” às demais pessoas. Assim, deixaram de cumprir sua missão sacerdotal de compartilhar a graça de Deus e de serem seus instrumentos para abençoar o mundo.
Pr. Sylvio Macri