Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 12.03.2000 – noite 1 . A DIMENSÃO DA CONFISSÃO Cultuamos a Deus para confessar a Ele os nossos pecados. Como não devemos participar da Ceia? O apóstolo Paulo responde a esta pergunta do seguinte modo: De modo que qualquer que comer do pão, ou beber do cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Porque quem come e bebe, come e bebe para sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor. (1 Co 11.27-29) Pelos meus cálculos, batizado que sou há 35 anos, participei de uma cerimônia como esta umas 270 vezes. Se neste tempo, estivesse em Itacuruçá, o número superaria as 400 vezes, posto que aqui há 12 celebrações por ano. De quantas Ceias você já participou? Faça as suas contas. Na igreja apostólica, a celebração era dominical. Era parte da festa do ágape (festa do amor fraternal), quando se reuniam todos na igreja para uma refeição comunitária e litúrgica. Cada família levava de casa a sua bebida e a sua comida. A última parte desta festa era a participação na Ceia do Senhor. Era assim na igreja em Corinto. A beleza da festa, no entanto, estava manchada por alguns que não entendiam a natureza da igreja, o “corpo do Senhor” (v. 29). Alguns havia que levavam de casa e guardavam sua comida, não a distribuindo entre os outros, mesmo que estes não tivessem o que levar. O apóstolo Paulo adverte aos egoístas, que não estavam discernindo (entendendo) o corpo do Senhor, pelo que toda a sua participação redundava em condenação para si mesmos. Era preciso, portanto, que cada um examinasse o seu comportamento e, se estivesse no erro, arrependesse-se, confessasse-se e então participasse da segunda parte da festa (a Ceia, propriamente dita). Era comum que durante a primeira parte da festa as pessoas bebessem o vinho que tinham levado. Alguns bebiam até ficar embriagados. Esses não entendiam a natureza da vida cristã, que consiste na moderação. Como poderiam participar, bêbados, da Ceia do Senhor? Era preciso que, também no tocante à bebida forte, comum na cultura judaica, que cada um examinasse o seu comportamento e, se estivesse no erro, arrependesse-se, confessasse-se e então participasse da Ceia memória de Jesus Cristo. Estes erros, pelas características da Ceia moderna, não são os nossos. No entanto, a advertência de Paulo se aplica inteiramente a nós: não devemos participar de modo indigno da Ceia do Senhor. Este memorial pede, pois, de nós uma reflexão acerca do modo como nos apresentamos hoje diante de Deus. Em outra seção desta mesma epístola, Paulo adverte duramente contra a prostituição e recomenda que uma pessoa, culpada de prostituição, fosse afastada da igreja. Ao fazê-lo, ele faz um convite de grande valor: Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado. Pelo que celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade. (1Co 5.7-8) O fermento velho, podemos aplicar, é a culpa. Há pessoas que se deixam levedar (e o fermento leveda toda a massa, diz o apóstolo — 1Co 5.6) pelo fermento velho. Essas pessoas se esquecem que Cristo já foi crucificado e querem se crucificar constantemente para expiar suas culpas. Nosso culto, que é celebração, procede da cruz, onde Cristo apagou todas as nossas culpas. Se cultuássemos a nós mesmos, celebraremos a malícia (maldade) e a corrupção. De nós, só há um requerimento: arrependimento. Quando o fazemos, participamos do culto com os pães ázimos (isto é: pão sem fermento) da sinceridade e da verdade. É com sinceridade e com verdade que devemos participar desta Ceia. Examine-se a si mesmo e participe. Com sinceridade e verdade. Não peça perdão por uma multidão de pecados, mas por algum pecado específico, que só você sabe. Revele-o a Deus agora. Se, portanto, descobrir agora que não está em condições de participar da Ceia (seja por causa da prostituição, seja por um profundo sentimento de culpa, seja pela dificuldade de respeitar as pessoas como poemas de Deus), ponha-se em condição: confesse os seus pecados a Jesus, arrependa-se do seu erro, seja ele qual for, e venha participar da Mesa de Deus. Examine-se, não para não participar, mas para participar. Examine-se e se arrependa, com sinceridade e verdade, e participe. 2. A DIMENSÃO DA GRATIDÃO Cultuamos a Deus para agradecer a Ele o que fez/faz por nós. Quando celebrou a Ceia-fundadora, Jesus deu graças (v. 24a). Jesus deu graças porque ia morrer na cruz dentro de pouco tempo. Graças a Ele, não precisamos dar graças porque vamos morrer. Nossa gratidão decorre da cruz de Cristo, pela vida que trouxe/traz. Damos graças porque vamos viver. Damos graças porque estamos livres diante da culpa. Damos graças porque fomos feitos irmãos de Jesus. Damos graças porque somos feitos irmãos uns dos outros, co-irmãos de todos quantos aceitam o sacrifício de Jesus na cruz. Damos graças porque temos livre e direto acesso ao coração do Pai. Por isto, podemos dar glórias a Deus por Suas bênçãos sem fim para conosco. Podemos dar glórias a Deus porque temos o que agradecer: a salvação, mas também a presença dEle conosco. 3. A DIMENSÃO DA GRAÇA Cultuamos a Deus para reviver o poder do Seu amor. A Ceia do Senhor é um memorial da Sua Graça. Não recebemos graça ao partilhar do cálice. Apenas, ao tomá-lo, recordamos que fomos alcançados pela Graça de Deus. Jesus o disse de modo bastante claro: Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim (v. 26). O cálice nos recorda que somos salvos não mais pelas obras, mas pela fé. O cálice nos recorda que, em lugar do esforço próprio, podemos descansar nos braços dAquele que morreu por nós. O cálice