ENCONTRO 1 REFLEXÃO: VIVER VALE A PENA? PARA MEDITAR "Já aprendi a estar contente, a despeito das circunstâncias. Fico satisfeito com muito ou com pouco. Encontrei a receita para estar alegre, com fome ou alimentado, com as mãos cheias ou com as mãos vazias. Onde eu estiver e com o que tiver, posso fazer qualquer coisa por meio daquele que faz de mim o que eu sou" (Apóstolo Paulo, em Filipenses 4.12-13 – A MENSAGEM) PARA PENSAR "Adoramos nos conformar (ou nos resignar) às expectativas que mais nos afastam de nossos sonhos" (CONTARDO CALIGARIS). PARA VIGIAR NÃO deixe de desejar. PARA ALCANÇAR Apesar de mim e das minha circunstâncias, quero a vida que Jesus prometeu, com alegria completa. PARA MEMORIZAR "O SENHOR, tenho-o sempre àminha presença; estando ele àminha direita, não serei abalado. Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo repousará seguro. (…) Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente" (Salmo 16.8-11). *** RENÚNCIAS ERRADAS Comecemos por entrelaçar duas provocações de psicanalistas brasileiros. Francisco Daudt registra o seguinte diálogo com seu filho, de seis anos de idade: — Pai, qual é o sentido da vida? — Filho, qual é o sentido da pedra? Nenhum? Pois então, tanto a pedra quanto a vida são fenômenos da natureza, e eles não têm nenhum sentido. (DAUDT, Francisco. O sentido da vida, parte dois. Folha de S. Paulo, 6.9.2011. Equilíbrio, p. 2) Em seguida, Daudt vaticina: "embora a vida não tenha sentido algum, somos nós, os donos dela, que lhe damos sentido e graça, por meio de uma misteriosa e inconsciente força motriz: o desejo". Assim, "quando o desejo, esta constelação de memórias ligadas ao impulso, se manifesta (…) e encontra seu objeto de satisfação, a vida ganha sentido, brilho e intensidade, mas é um sentido saído de nós". Contardo Caligaris observa que "dedicamos mais energia à tentativa de silenciar os nossos sonhos do que à tentativa de realizá-los" e conta ouvir muitos dizerem que "desistiram de sonhos dos quais os pais não gostavam por medo de perder o amor deles". Ele propõe uma espécie de enigma: na verdade, "somos complacentes com as expectativas dos outros" desde que "elas nos convidem a desistir de nosso desejo. (…) Adoramos nos conformar (ou nos resignar) às expectativas que mais nos afastam de nossos sonhos. Aparentemente, preferimos ser o romancista potencial que foi impedido de mostrar seu talento a ser o romancista que tentou e revelou ao mundo que não tinha talento. Desistindo de nossos sonhos, evitamos fracassar nos projetos que mais nos importam". Então, ele adverte: "A vida comporta poucas traições radicais de nós mesmos e de nossos desejos, e muitas soluções negociadas, espúrias, pelas quais a gente busca conciliar desejos diferentes com acasos, oportunidades e outros acidentes, reinventando-se a cada dia". (CALIGARIS, Contardo. É fácil desistir de nossos sonhos. Folha de S. Paulo, de 7 e 14.7.2011, Ilustrada, p. 12) A vida tem sentido. A fruição deste sentido tem inimigos e amigos. Há um sentido externamente atribuído. Por "externamente", leia-se, na verdade, "divinamente". Não fomos postos na história por uma decisão do acaso, mas por uma decisão radical de Deus, para louvarmos a glória da Sua graça. Pelo menos é o que o apóstolo Paulo diz na linda oração indireta que lemos na carta aos Efésios 1. John Pipper fez deste moto toda a sua teologia e toda a sua vida. Para ele, nós vivemos para dar alegria a Deus, no que ele chama de hedonismo cristão. (PIPER, John. Em busca de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2007. 296p.) O outro hedonismo é tirar o máximo de prazer da vida. O hedonismo cristão visa, então, dar o máximo de prazer a Deus. Assim, Deus nos criou para dar prazer a Ele. É mais ou menos como alguns têm filhos ou animais de estimação… A razão não dá, com razão, razão a este raciocínio, a menos que tenhamos uma outra maneira de o compreender. E é possível uma conciliação, se caminharmos na seguinte direção. Nós vivemos para o louvor da glória de Deus, entendido que Deus se alegra no nosso bem-estar, razão pela qual nos ofereceu dois presentes para viabilizá-lo: Ele enviou Seu Filho para mostrar a inteireza do Seu amor para conosco, amor que restabelece nossa comunicação quebrada pelo pecado, e também nos legou a Bíblia Sagrada, com instruções que não são pesadas (1João 5.3), mas visam nos ensinar a viver de um modo prazerosamente sábio, santo e saudável. Não somos como as pedras, vazias de sentido. No entanto, tendo um sentido para as nossas vidas, por Deus dado, precisamos tornar este sentido o nosso sentido. Neste sentido, somos nós quem atribuímos sentido à vida. Atribuir sentido à vida (e vamos juntando os dois psicanalistas) há que ser a principal manifestação do desejo. São, portanto, graves as advertências de Caligaris. Dizemos que dedicamos toda a nossa energia para realizar nossos desejos mas, na prática, gastamos mais tempo silenciando-os. Culpamos pessoas e circunstâncias de nos impedirem de realizar nossos desejos mas, na verdade, fomos derrotados pelo medo de fracassar. O PROJETO DE DEUS Todo o projeto de Deus visa o nosso bem-estar, a que a Bíblia chama de "shalom", uma palavra polifônica para indicar harmonia (ou ausência de conflito), saúde (ou inteireza), prosperidade (não necessariamente material) e bem-estar (plenitude de vida). Compreendemos bem este significado (aparecendo ou não a palavra "shalom" ou "eirene"), lendo, entre tantos, as seguintes perícopes bíblicas: . "Há muitas pessoas que oram assim: 'Dá-nos mais bênçãos, ó SENHOR Deus, e olha para nós com bondade!' Mas a felicidade que pões no meu coração é muito maior do que a daqueles que têm comida com fartura. Quando me deito, durmo em paz, pois só tu, ó SENHOR, me fazes viver em segurança" (Salmo 4.6-8). Nosso conceito de felicidade tende a ser fortemente influenciado pelos valores predominantes em nossa época. Nossa época