Sim, as instituições precisam mudar. O Estado brasileiro (nos níveis federal, estadual e local), controlado por elites muito ruins (sejam elas políticas ou intelectuais), precisa mudar, para que seja o garantidor da ordem e o provedor da justiça. As igrejas (e os batistas sempre pensamos na igrejas locais, de diferentes denominações, que compõem um mosaico nacional) precisam mudar, para que sejam distribuidoras da graça de Deus e mentoras de vidas saudáveis. As escolas precisam mudar para que, em tempo integral, ensinem a disciplina e as disciplinas, sem as quais a corrupção corroerá, por dentro e por fora, o estado e as igrejas. Todos podemos concordar com estes desejos. As elites políticas, intelectuais e eclesiásticas colocarão obstáculos, porque essas mudanças não lhes interessam. A dúvida é se nós realmente desejamos estas mudanças. O Estado não precisa mudar para atender aos interesses de uns, mas às necessidades dos públicos brasileiros. As igrejas não precisam mudar para promover cultos que agradam a alguns ou para oferecer cargos que satisfaçam ou para promover os ideais que uns imaginam melhores. As escolas não precisam mudar para prover uma educação para o mercado, que é, por definição, volátil em seus valores, mas para oferecer uma educação que ensine a ler e inculque (e a arcaica palavra é proposital aqui) valores de forma tão convincente que não sejam facilmente abandonados diante de um prato de lentilhas. Quando Jesus disse que o mal nasce no coração (de onde procedem "os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias" — Mateus 15.19), estava propondo uma revolução e também uma pedagogia. O mal do Estado nasce no coração dos cidadãos. O mal das igrejas nasce no coração dos seus membros. O mal das escolas nasce no coração dos seus participantes. Sem esta percepção, ficaremos sempre no sonho de instituições boas. É claro que devemos lutar para que elas mudem, mas nossa autoridade existe quando nos vemos como parte do problema. Só nos vendo como parte do problema, poderemos ser parte da solução. Por isto, o Estado, as igrejas e as escolas deviam se envolver no ensino e na prática de princípios morais, que começam individuais e se tornam republicanos. Então, poder-se-ia sugerir, vamos nos reunir para discutir um grande pacto contra a corrupção, mas como? se os signatários do referido pacto gostam da corrupção, porque todo ser humano detesta a corrupção quando ela beneficia os outros. Cada um de nós, portanto, precisa reconhecer que os seus desejos estão corrompidos e se dispor a educá-los (que inclui aceitar ser educado, antes de ser mestre dos outros). Cada um de nós, assim, precisa aceitar, para si mesmo, que o respeito ao outro (para não falarmos de amor ao próximo…) é um princípio essencial para que a sociedade seja justa. Com estes pressupostos, podemos começar. ISRAEL BELO DE AZEVEDO