CHEIROS (3)
Romanos 16.3-16
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 18.7.99 – manhã
1. INTRODUÇÃO
Neste capítulo, Paulo faz duas recomendações: que os crentes se cumprimentem (“saudai”, verbo repetido várias vezes) e se beijem (“beijai”) mutuamente.
Este é um capítulo aparentemente estranho, por conter uma longa lista de nomes de pessoas. Seus 27 versículos contêm 33 nomes. Apesar disto, no entanto, é um dos mais interessantes da Bíblia. Para tanto, precisamos considerar que a lista é resultado principalmente da amizade de Paulo por eles.
2. MODOS DE SAUDAR
Paulo saúda as pessoas de Roma que conheceu no exercício do seu trabalho missionário naquela cidade.
A lista que produz é resultado do seu reconhecimento pelas ações das outras pessoas em sua vida e ministério. Na lista há nomes de escravos, como Ampliato, e nobres, como Aristóbulo, que era neto de Herodes o Grande e amigo do imperador Cláudio, indicando que o apóstolo era grato àqueles que apoiaram seu trabalho em diferentes circunstâncias.
Quando Paulo diz “saudai”, diz “saudamos”, porque pede que suas saudações fossem transmitidas. Além de saudar, Paulo cobre de elogios as pessoas que saúda.
. querido
. dileto amigo
. amado
. aprovado em Cristo
. eleito
. mãe para mim
. notáveis
. primícia
Nestes elogios paulinos está presente, portanto, a idéia de reconhecimento pela cooperação ao seu ministério, cooperação que ficaria anônima, não fosse a lista.
Desta lista, aprendemos direta e indiretamente muito para nossas vidas. Há muitas aplicações que podemos fazer.
1. Uma atitude grata para com as pessoas. Certamente, ele tinha motivos para reclamar; certamente em Roma havia crentes que lhe tinham dado muito trabalho. No entanto, ele guardou recordações saudáveis (e não amargas); ele assim o fez em função de sua atitude perante a vida.
2. Uma atitude reverente perante as pessoas. Paulo não colocou a igreja em primeiro plano, mas as pessoas. As pessoas não são substrato de pó de nada; são obras-primas de Deus. Como é difícil reverenciar a obra do Criador! O apóstolo não se permitiu fazer acepção de pessoas… em função de sua escolaridade ou sua condição econômica.
3. Uma atitude carinhosa para com as pessoas. Paulo deve ter feito um esforço enorme para se lembrar do máximo de pessoas, mas ele queria se lembrar das pessoas como pessoas, pelo nome, com adjetivos.
Os elogios não são demagógicos, mas reais expressões de carinho. Como é difícil elogiar! Paulo elogia pessoas que cooperaram com seu trabalho, às vezes de modo singelo (como Maria, que talvez lhe tivesse executado serviços domésticos). O reconhecimento paulina independe dos títulos e atribuições dos outros, mas de sua amizade. Não se deve mesmo distinguir as pessoas pelo que elas são distintas. Não há raia miúda na vida…
Precisamos desenvolver, como o apóstolo, uma postura mais grata, mas respeitosa e mais carinhosa para com as pessoas.
Há três palavras que devemos colocar como bandeiras para nós mesmos, em relação aos outros:
. simpatia (que é ver a vida com o olhar do outro; é abrir-se para o outro; permitir que o outro se aproxime, se abra, chore, peça ajuda)
. cortesia (no tratamento, com sorrisos que demonstram prazer no encontro, na companhia)
. interesse (preocupação pelo bem-estar do outro, evidenciada por meios de orações, de telefonemas, de visitas, de almoços mútuos)
3. MODOS DE BEIJAR
Paulo recomenda que os romanos se beijem. O beijo é uma prática oriental. Os russos até hoje se beijam na boca. José, por exemplo, beijou seus irmãos (Gn 45.15). Davi e Jonatas se beijaram (1Sm 20.41), o que tem provocado muitas interpretações propositalmente distorcias.
Em diferentes epístolas, Paulo recomenda o beijo (ou ósculo) santo (1Co 16.20; 2Co 13.12;1Ts 5.2). O beijo era na boca (mas não nos lábios) e, diferentemente do que fazem os brasileiros, em pessoas do mesmo sexo…
Não devemos transplantar esta prática cultural para hoje, sob pena de ser apenas um modismo, vazia como todos os modismos.
Desta recomendação paulina, derivamos dois princípios:
1. O amor cristão deve incluir o toque (por meio do abraço e do beijo). O afeto deve ser uma dimensão do amor cristão. O toque faz parte da expressão de amor.
2. O relacionamento deve ser visto como uma dimensão da espiritualidade. A ênfase deve estar tanto no santo quanto no beijo. Os cristãos de Corinto se beijavam, mas deixaram de ser santos.
4. CONCLUSÃO