Lucas 19.1-10: Ele se hospeda conosco
(Da série: Retrato de Jesus pelo que Ele fez)
ZAQUEU
— Mestre, antes de o Senhor sair, quero lhe fazer uma pergunta: por que escolheu a minha casa para passar a noite?
JESUS
. Você sabe que estou a caminho de Jerusalém. Vou ter que subir muito até chegar à cidade alta. Quando cheguei a Jericó, eu estava cansado, muito cansado. Antes de entrar na cidade, restituí a visão ao filho de Timeu, que também era cego. Já dentro da cidade, as multidões me apertavam. Conselhos e milagres, que eu faço por amor, exigem muito de mim. Vim de longe, agora você sabe.
Durante minha passagem pela cidade, sequer almocei. Não tive tempo. E a tarde chegou muito rápido e logo a noite me alcançaria. Não teria como chegar a Jerusalém, para onde estou indo para participar da Páscoa. Há muita gente comigo a caminho de Jerusalém também. Ao mesmo tempo, em queria dar atenção a todos os que me buscam, sejam de Jericó ou peregrinos como eu.
Além disso gosto de Jericó. Aqui nosso pai Josué foi abençoado pelo meu Aba para aquela conquista que até hoje é recordada nas sinagogas. Gosto da cidade, não porque seja uma cidade rica. Gosto do clima da cidade. Gosto das muitas palmeiras da cidade, das figueiras da cidade.
. Zaqueu, eu precisava de uma casa, para jantar e dormir. Certamente no Palácio de Herodes, que ele usa para descansar (dizem que é lindo o palácio!), não há lugar para mim. Então, você apareceu. Eu não tinha onde ficar. Nenhum sacerdote (e há tantos em Jericó) me convidou.
Um pouco antes vi alguém subindo numa figueira. Ao me aproximar, vi que era você. Já estive aqui antes. Até curei dois cegos. Naquela vez, há alguns meses, fiquei sabendo de você. Sua fama era terrível. O povo não perdoava você por ser o dono da empresa coletora de impostos para Roma em Jericó. Aliás, foi por causa de negócios como o seu, que tive que responder a uma pergunta difícil. Eles me perguntaram se era lícito a um judeu pagar impostos ao Império. Ninguém gosta de pagar impostos. Se não fossem os tantos soldados romanos na cidade, para garantir a ordem, poucos pagariam. É a força, Zaqueu, e você é parte desta força. Tenho um discípulo (Levi, conhece?), que tem a mesma profissão, só que ele era empregado, não chefe, com você. Ele era um telone, não um architelone. Não tem a casa que você tem. Nem vai ter, depois que decidiu me seguir.
. Sei o que pensam sobre você. Sei o que diz a legislação romana sobre o seu negócio. Sei que só um cidadão romano pode ser publicano. Sei que deve estar atento aos procuradores romanos, sempre desejosos de arrancar um pouco mais de dinheiro da sua empresa. Seu trabalho é estressante, tendo que prestar atenção em tudo, para que todos paguem os impostos e você tenha lucro, para compensar o investimento feito no negócio. O comércio de bálsamo de Jericó, que vai para todo o mundo, movimenta muito dinheiro e você precisa estar atento. Aliás, não foi aqui que Marco Antônio comprou bálsamo para presentear a rainha Cleópatra? Coisas do passado.
. Você me pergunta porque escolhi sua casa. Sabe, Zaqueu, minha nova é para todos. João Batista mesmo batizou mesmo muitos que trabalhavam como publicanos em empresas como a sua. Muitos deles ouviram o meu Evangelho e me aceitaram como Messias, que eu sou.
. Então, quero lhe agradecer por me ter recebido. Descansei e estou pronto para a subida.
Mas não pense de você o que não deve pensar. Não escolhi você por ser rico, por ser generoso. Não escolhi você para criticar os que não me receberam.
Na verdade, não escolhi você. Eu escolho a todos. Eu chamo a todos. Eu vi para todos. Para todos faço o meu chamado. Eis o que eu costumo dizer a todos: venham a mim os que estão cansados e sobrecarregados, para que possa trazer alívio para os seus corações.
Quando vi você na figueira, eu vi um homem sobrecarregado, cansado de ser xingado, cansado de ser chamado de ladrão, cansado de ser chamado de traidor, cansado de ser rejeitado, cansado das brincadeiras por causa de sua altura, como se uma pessoa vale menos ou mais pelo corpo que tenho, pelo dinheiro que tem, pelo emprego que tem, pela instrução que tem. Eu estou aqui para pessoas como você.
. Você não subiu na fogueira porque estava curioso. Há muitos curiosos, Zaqueu. Sabem tudo a meu respeito, mas não querem o que o Evangelho tem para oferecer. Têm vergonha de subir numa figueira, de se exporem em público, de acertarem suas vidas. Você não foi movido por curiosidade.
Seu desejo era mais profundo. Minha boa notícia de perdão é para os pobres. E você era um deles. Quando subiu na figueira, você estava respondendo no seu íntimo à minha voz no seu coração. Você queria mudar de vida, para obter a paz que vem para quem tem No meu coração eu ouvi a sua voz de desejo. Seu olhar me dizia: “quero conhecer este homem”. Por isto, estou aqui. Seu desejo era uma pergunta: “não sei o que faço da minha vida, apesar de não me faltar nada, nem para mim, nem para minha família”. Espero que agora você sabe o que fazer da sua vida, agora que você é um filho de Abraão. Quero ter você como meu discípulo. Daqui a pouco eu vou embora, mas eu quero que você continue anunciando a palavra do Reino de Deus.
. Seja fiel. Mantenha vivo o desejo que teve quando subiu na figueira. Naquela hora você não confiou em si mesmo. Naquela hora você se achou perdido. E eu vim para os que estão perdidos e se acham perdidos. Você era um deles, até eu lhe revelar todo o conselho de Aba. Todos eram como ovelhas sem pastor. Eu vim para mostrar o Caminho para o Pai. Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, Zaqueu. Meu Pai me enviou para salvar todo aquele que crê em mim. Quem crê em mim tem vida em abundância.
. Mantenha viva a disposição de quando me recebeu. Você me recebeu sem esperar nada em troca. E o que poderia eu lhe dar, em troca, se não tenho onde passar a noite? Você não me pediu nada, não pediu um milagre, não pediu sequer uma oração; apenas me recebeu. E como me recebeu! Com que alegria! Você me recebeu como quem recebe a salvação.
. Valeu a pena estar em sua casa. Você entendeu o Evangelho. Você mostrou isto quando me disse: “Estou dando a metade dos meus bens aos pobres”. O dinheiro deixou de ser o seu deus. A generosidade se tornou um desejo para você. Você me disse mais: “se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais”. A lei manda devolver o mesmo que foi tomado, mas você entendeu o que é mesmo a justiça, ao se propor a multiplicar por quatro antes de devolver. Você entendeu mesmo o Evangelho. Houve mesmo salvação nesta casa.
. Agora, eu posso ir.