Tiago 4.4-10: APROXIME-SE DE DEUS

APROXIME-SE DE DEUS
Tiago 4.4-10

Precisamos nos aproximar de Deus, porque dEle nos afastamos.

1. RAZÕES POR QUE  O HOMEM SE DISTANCIA DE DEUS
1.1. Auto-suficiência do ser humano
Há uma dimensão saudável e uma dimensão enferma da auto-suficiência.
Nossa auto-suficiência será saudável enquanto for uma ferramenta para a auto-superação de nossas limitações e dos limites que nos são impostos, enquanto nos estimular a fazer melhor amanhã o que fazemos hoje, enquanto nos inspirar a desejar um mundo diferente para melhor do que este em que vivemos. Neste sentido, auto-suficiência é o antônimo de acomodação. Uma pessoa auto-suficiente conhecerá o mundo, explorará o mundo, mudará o mundo; uma pessoa acomodada aceitará o mundo como ele é, com medo do que possa vir. Um acomodado prefere os mares conhecidos. Um auto-suficiente avança por outros mares, mesmo que não conheça a braveza de suas ondas.
Nossa auto-suficiência será enferma quando nos levar para uma atitude soberba, de recusa ao fato de que somos interdependentes uns dos outros, quando nos conduzir a reduzir o sentido da vida a conquistas humanas, quando nos fizer expulsar Deus de nossas vidas como desnecessário, descartável e deletável.
Nossa auto-suficiência será enferma quando quisermos fazer com que se encaixe em nossa doutrina, como se coubesse numa garrafa com tampa, e com que fique limitado ao que for aprovado pelo crivo de uma certa razão dogmática, como se a razão explicasse tudo, bastasse para tudo, o que evidencia um reducionismo que a própria razão deveria recusar.. A esta sabedoria astuta Deus chama de loucura (1Coríntios 3.19).
Nossa auto-suficiência será enferma quando minar a nossa capacidade de crer, sem a qual não há vida com qualidade. Quem acha que pode compreender tudo não pode compreender Deus que em Jesus é tudo em todos (1Corintio 15.28). Quem faz do seu senso crítico seu próprio de Deus não pode crer nAquele que lhe deu este mesmo senso crítico. Crê aquele que admite que não pode compreender inteiramente o que Deus é e faz, mas aceita que Deus fez tudo apropriado no seu tempo e reconhece que Deus pôs no seu coração o anseio pela eternidade (Eclesiastes 3.11). Nossa sabedoria não é nada diante da eternidade, quando então vamos conhecer de fato.

1.2. Testemunho negativo dos crêem ou dizem crer em Deus
Não bastasse esta auto-suficiência destruidora, afastam as pessoas de Deus aquelas que crêem ou dizem crer em Deus mas vivem de modo a negá-lo.
Como vai crer o menino cujos pais, afirmando-se cristãos, não conseguem criar em casa um ambiente verdadeiramente espiritual, em que Deus é o centro?
Como vai crer o homem que ouve pastores, padres ou cantores prometendo o que Deus não promete, com a intenção, muitas vezes, de tirar proveito financeiro da fé alheia?
Como vai crer o vizinho que não é ajudado pelo crente que mora ao seu lado?
Como vai crer o empresário que paga propina a alguém que se apresenta como cristão?
Como vai crer o empregado desrespeitado por um patrão que ostenta a Bíblia em sua mesa de trabalho?
Como vai crer o pobre que estende a mão e recebe a indiferença de alguém que porta a Bíblia por entre as axilas?
Como vão crer os alunos e os pais de alunos no Cristo anunciado nos colégios confessadamente cristãos se seus dirigentes agem com dolo em muitas situações?
Como vai crer a vizinhança no Deus pregado numa igreja que desrespeita as leis, como, por exemplo, a do silêncio?
Como vai crer a minoria desrespeitada, às vezes, massacrada moral ou fisicamente, por autodeclarados cristãos que nos consideram como são, isto é, como iguais?
Como vai crer a nação bombardeada, dilapidada ou oprimida por uma nação que diz ter orgulho de sua fé em Cristo?
A maioria das pessoa que não crêem se acha impedida de crer por estes testemunhos negativos. A maioria das pessoas que se afastaram da  fé elege a sua decepção com os homens, lideres ou não, como a fonte de seu afastamento de Deus.
Não podemos pedir que olhem para Deus e não para nós, porque eles vão continuar olhando para nós. Eles só podem ver Deus através de nós. A nós, como cristãos, cabe não beber ao mesmo tempo “do cálice do Senhor e do cálice dos demônios”; não dá para “participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios”. Se não for por amor, precisamos temer que este tipo de atitude provoca o ciúme de Deus (1Coríntios 10.21 ) que precede a sua ira (Ezequiel 16.38).

1.3. Amizade com o mundo
Há um terceira fonte de afastamento humano de Deus. Tiago a chama de “amizade com o mundo” (verso 4).
Deus não nos pede para sair do mundo; antes, pede até que oremos por ele, mas o mundo jaz no maligno. Seus valores são inspirados pelo inimigo número 1 de Deus e dos próprios habitantes do mundo. Esses valores que o apóstolo Paulo chama de “princípios elementares do mundo” escraviza as pessoas (Gálatas 4.3); eles se opõem à verdadeira liberdade do ser humano. É por isto que Tiago é necessariamente tão duro: “Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus”.
Ser amigo de Deus é bom, mas não é uma escolha fácil. Deus é muito exigente, amorosamente exigente.
O mundo gosta de idolatria. Deus gosta de fidelidade e diz para não termos outros deuses diante de nós.
O mundo gosta de pornografia. Deus gosta de pureza e nos pede para sermos santos como Ele o é.
O mundo gosta de reclamação. Deus gosta de gratidão.
O mundo gosta de corrupção. Deus gosta de honestidade.
O mundo gosta da exploração. Deus gosta de justiça.
O mundo gosta de usar as pessoas em benefício próprio. Deus gosta de ver pessoas respeitadas.
O mundo gosta de guerra. Deus gosta de paz.
O mundo gosta da mentira. Deus gosta da verdade.
O mundo gosta da maledicência. Deus gosta da reverência pelo outro.
O mundo gosta do egoísmo. Deus gosta da solidariedade.
O mundo gosta do vício. Deus gosta da virtude.
O mundo gosta de embalagem bonita. Deus gosta de conteúdo bonito.
O mundo gosta do superficiais. Deus gosta dos profundos.
O mundo gosta dos vaidosos. Deus gosta dos humildes.
O mundo gosta dos fortes. Deus gosta dos fortes mas também dos fracos.
O mundo gosta do que é fácil. Deus gosta do que é bom.

2. ATITUDE DE DEUS DIANTE DE NOSSA DISTÂNCIA
A atitude de Deus diante da auto-suficiência humana e da inimizade humana se expressa nos braços abertos de Jesus na cruz do Calvário, onde foi sacrificado talvez no ano 28 da era cristã. Aqueles braços foram abertos por amor. Foi um gesto voluntário de Jesus, embora tenha doido muito.
Tal é o amor de Deus para conosco que, mesmo sendo alto o preço, ele nos convida para o encontro: aproxime-se — este é o Seu imperativo.
Este imperativo divino, que encontra sua possibilidade de realização plena na cruz de Jesus Cristo, veio sendo apresentado desde muito cedo. Ao povo de Israel, Deus garantiu: “Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso para os ídolos esculpidos. Mas fui eu quem ensinou Efraim [isto é: o povo de Israel] a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los” (Oséias 11.1-4). Deus faz o mesmo hoje, porque Ele é o mesmo hoje.
Olhe para a sua vida e veja se o texto não se aplica a você. Vou lê-lo de novo, de modo editado para nos incluir mais claramente: “Quando você era criança, eu amei você, e do território da escravidão chamei você, meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais você se afastava de mim. Você, junto com outras pessoas, ofereceu sacrifícios a deuses falsos e queimou incenso para os ídolos esculpidos. Mas fui eu quem ensinou você a andar, tomando-o nos braços; mas você não percebeu que fui eu quem o curou. Eu o conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-lo”. O profeta Jeremias repete a mesma idéia, trazendo-nos as seguintes palavras de Deus: “Eu a amei com amor eterno; com amor leal a atraí” (Jeremias 31.3).
O convite de Deus é um convite ao encontro, à amizade e a uma relação de amor. É um convite feito com respeito. Ele quer se aproximar, mas espera que permitamos, aproximando-nos, deixando-nos atrair por seu ímã.

3. EIS COMO O HOMEM DEVE RESPONDER
Como devemos responder a este amoroso convite, feito no passado, feito agora?
Tiago recomenda: “Portanto, submetam-se a Deus. Resistam ao Diabo, e ele fugirá de vocês. Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. Entristeçam-se, lamentem-se e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará” (versos 7-10).
A sugestão de Tiago encontra eco na carta aos Hebreus: “Aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel” (Hebreus 10.22-23).
Estes textos nos sugerem uma decisão, que signifique negativamente uma recusa à auto-suficiência e uma renúncia à amizade com o mundo e um desejo de um testemunho digno.
Se a auto-suficiência lhe tem estorvado o acesso a fé, sabe de que você precisa? Ouça o autor aos hebreus: “Embora a esta altura já devessem ser mestres, vocês precisam de alguém que lhes ensine novamente os princípios elementares da palavra de Deus. Estão precisando de leite, e não de alimento sólido!” (Hebreus 5.12). Quando leio este texto, eu me lembro da conversa que tive recentemente com um ex-membro de uma igreja evangélica. Ele me disse que gostaria de ter a fé que seu pai tinha e mesmo a fé que um dia teve. Eu disse a ele que precisa voltar ao convívio da igreja para ter sua fé renovada; a fé se recebe solitariamente, mas só se desenvolve solidariamente, na comunidade.
Se a sedução do mundo tem brilhado diante dos seus olhos, seja pelo entretenimento ou pela ideologia, escute o apóstolo Paulo: “Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo” (Colossenses 2.8). O que mais se ouve, desde Nietzsche, é que cada um de nós deve ser autônomo, constituindo-se no seu próprio guia, a partir da razão. É o que  o homem tem feito, e com que resultado? A razão é essencial, mas é insuficiente em si mesma para conduzir o homem à felicidade individual e civilizacional. A liberdade só existe para aquele que, humilhando-se, aproxima-se de Deus. Fora deste centro tudo é periferia.
Se a sedução do mundo lhe tem levado a testemunhar negativamente da cruz de Jesus, quebre-se diante do desafio de Tiago: “Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração” (verso 8b). Olhe honestamente para as suas mãos, para ver se estão mesmo limpas; se não estiverem, peça a Deus para limpá-la. Olhe honestamente para a sua mente e veja que outras presenças convivem ali com a presença de Deus; quem orienta as suas decisões? Se sua mente está dividida, peça a Deus para governá-la sozinho. Faça uma revisão das áreas da sua vida e deixe Deus mudara sua vida.

Para lhe fazer um convite, quero lhe apresentar mais uma citação de Hebreus: “Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hebreus 4.16).
Quando diz, portanto, “aproxime-se de mim e eu me aproximarei de você”, Deus se oferecendo como estando em seu trono de graça, pronto para distribuir misericórdia e graça. A graça da fé renovada que você busca está no trono de Deus. A graça da alegria renovada que você busca está no trono de Deus. A graça da comunhão renovada que você busca está no trono de Deus. Então, Ele lhe diz: “aproxime-se; venha buscar a fé, venha buscar a alegria, venha buscar a comunhão”.

Qual é a sua resposta?
Renda-se a Deus. Aproxime-se dEle. Olhe para Jesus na cruz e receba o sacrifício dEle em seu lugar para que você possa viver.
Renda-se a Deus. Aproxime-se dEle. Apresente-se para ser instruído e então batizado, tornando-se assim um aprendiz do mestre Jesus.
Renda-se a Deus. Aproxime-se dEle. Se um dia esteve junto ao trono da cruz, recebendo misericórdia e graça, e quer estar de novo, reconcilie-se com Deus. Volte para Jesus, por meio da Igreja que, mesmo imperfeita, vai ajudar você a viver sempre próximo de Deus. Você foi feito para ter comunhão com Deus. Não impeça Deus de ser seu amigo.