A BEM-AVENTURANÇA DA PAZ
Mateus 5.9
Pregado em 6.11.2005, na Igreja Batista Itacuruçá, noite
Há duas classes de pessoas: as que sabem perdoar e as que não sabem. “Ou sabem perdoar e amar, ou não sabem. Se sabem, podem ser socorridas. Podem provar a graça. Se não sabem, estão perdidas. Jeanne Murray WALKER)
O orgulhoso século 20 teve cerca de 40 milhões de soldados mortos em guerras, a metade na chamada Segunda Guerra Mundial. A guerra é filha da barbárie. A guerra é filha da civilização, mesmo da democracia. A guerra é filha do homem.
A guerra está na família. A guerra está na igreja. A guerra está na cidade. A guerra está no país. A guerra está no mundo.
Guerra é ausência de paz. A guerra está dentro de nós.
Guerra é altar ao “eu”. Paz é passarela para o “nós”.
Guerra é amargura. Paz é doçura.
Guerra é ansiedade. Paz é felicidade.
Guerra é arma-de-fogo. Paz é cruz.
Guerra é bomba. Paz é pomba.
Guerra é contrato. Paz é palavra.
Guerra é corpo endurecido. Paz é braço aberto.
Guerra é covardia. Paz é coragem.
Guerra é dedo em riste. Paz é saudação.
Guerra é “dente por dente”. Paz é dar a outra face, caminhando a segunda milha, emprestando o guarda-chuva, oferecendo carona.
Guerra é derrota. Paz é vitória.
Guerra é desigualdade. Paz é justiça.
Guerra é droga. Paz é sorvete.
Guerra é exigência. Paz é graça.
Guerra é fome. Paz é alimento.
Guerra é força. Paz é diálogo.
Guerra é fruto do pecado. Paz é fruto do Espírito.
Guerra é grito. Paz é silêncio.
Guerra é idolatria. Paz é fé.
Guerra é imposição. Paz é gratidão.
Guerra é inferno. Paz é céu.
Guerra é insegurança. Paz é segurança.
Guerra é interesse próprio. Paz é interesse do outro.
Guerra é intolerância. Paz é paciência.
Guerra é inveja. Paz é desprendimento.
Guerra é lei. Paz é misericórdia.
Guerra é lenha na fogueira. Paz é água na fervura.
Guerra é maldição. Paz é bênção.
Guerra é miséria. Paz é distribuição.
Guerra é medo. Paz é liberdade.
Guerra é morte. Paz é vida.
Guerra é opressão. Paz é alívio.
Guerra é orgulho. Paz é humildade.
Guerra é pedido. Paz é doação.
Guerra é prisão. Paz é libertação.
Guerra é punho fechado. Paz é mão estendida.
Guerra é raiva. Paz é amor.
Guerra é ressentimento. Paz é perdão.
Guerra é retenção. Paz é entrega.
Guerra é rosto amarrado. Paz é sorriso franco.
Guerra é sede. Paz é água.
Guerra é tragédia. Paz é esperança.
Guerra é tributo ao passado. Paz é certeza do futuro.
Guerra é tufão. Paz é brisa.
Guerra é túnel. Paz é luz.
Guerra é vaidade. Paz é simplicidade.
Guerra é Satanás. Paz é Jesus.
Pode parecer estranho, mas Deus odeia aqueles que semeiam a discórdia, o primeiro estágio visível (Provérbios 6.19) para a guerra. A sabedoria bíblica é clara: “Há seis coisas que o Senhor odeia, sete coisas que ele detesta: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que traça planos perversos, pés que se apressam para fazer o mal, a testemunha falsa que espalha mentiras e aquele que provoca discórdia entre irmãos” (Provérbios 6.16-19).
Então, Jesus, o príncipe da paz (Mateus 9.6-7), nos diz que os pacificadores é que são felizes. Ele nos ensina que não nos tornamos filhos de Deus por ser pacificadores, mas somos pacificadores porque somos filhos de Deus.
Precisamos desses felizes. Precisamos de pacificadores em nossas famílias. Precisamos de pacificadores em nossas igrejas. Precisamos de pacificadores entre as nações. Precisamos de pacificadores que levam a mensagem “paz com Deus” (Romanos 5.1). Precisamos de pessoas que vivam em paz consigo mesmas.
DIFICULDADES PARA UMA VIDA EM PAZ
E por que é tão difícil viver em paz, com os outros e conosco mesmos?
1. É difícil viver em paz porque tendemos privilegiar os nossos direitos. Esta é a nossa natureza. Idolatramos os nossos direitos ou aquilo que achamos serem os nossos direitos. Todo conflito é conflito de direitos. Temos horror a conjugar o verbo “perder”, mesmo que rime com ganhar. Não queremos perder dinheiro. Não queremos perder uma discussão. Não queremos perder nosso lugar na fila. Não queremos perder uma oportunidade de nos divertir. Todos estamos atentos aos nossos direitos, para ninguém os defraudar. Neste itinerário, no entanto, nem sempre os nossos direitos são nossos direitos, que, nestes casos, são direitos dos outros. Por causa desta visão errada de direitos, se a força for necessária, podemos resistir por um pouco, mas acabaremos sucumbindo e lançaremos mão dela. Não estou sugerindo que não defendamos nossos direitos; estou sugerindo que devemos defender os nossos direitos que sejam mesmos direitos. Jamais podemos nos esquecer ainda que, muitas vezes, perder é ganhar.
2. É difícil viver em paz porque somos primitivos como Lameque (Gênesis 4.19-24). Podemos até pisar, sem querer, no pé do outro, mas não admitimos que pisem no nosso, e nem sempre damos a oportunidade para ouvirmos “desculpas”, às vezes, justas. Temos estado bebendo na corrente da violência. Li uma frase jocosa, que descreve esta corrente: “lembre-se, algumas pessoas só estão vivas porque é ilegal matá-las”. Por isto, mesmo entre cristãos, maridos espancam suas mulheres; irmãos em Cristo “fulminam” seus irmãos em Cristo, com os braços ou com olhares ou com as línguas por causa de motivos importantes e por causa de motivos nem a menor importância, às vezes, lamequianamente, para mostrar poder.
3. É difícil viver em paz porque nos curvamos a experiências anteriores. No passado, perdoamos e não compensou. No passado, cedemos e fomos prejudicados. No passado, nós nos humilhamos e anda não fomos exaltados, como promete a Palavra de Deus (Ezequiel 21.26). No passado, conhecemos a amargura e, agora, não queremos ser pisados de novo. No passado, forçamos a barra e vencemos. Então, para que apanhar de novo? Para que viver em paz com todos, se a própria Bíblia adverte que nem sempre isto possível? Escravos do passado, achamos que o presente e o futuro serão projeções do passado. Ah! Como é difícil deixar para trás as coisas que são de trás! (Filipenses 3.13)
4. É difícil viver em paz porque entendemos que, para sermos dignos, não podemos nos conformar e aceitar os imperadores da violência, contra os quais devemos alçar a nossa voz. Diante dos socos de maldades desfechados, julgamos ser nossa a tarefa do inconformismo pela via cidadã. Não aprendemos isto na Bíblia. Para ser claro: não aprendemos na Bíblia que devemos nos calar diante da violência; não devemos nos conter sempre. Antes, há três bem-aventuranças que são libelos contra a injustiça e a intolerância. Justiça e paz precisam caminhar juntas; ódio e paz jamais se encontrarão; conformismo e paz estão muitíssimo longe um do outro. Aprendemos, com todas as letras, que “o fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores” (Tiago 3.18).
5. É difícil viver em paz porque, no extremo oposto, preferimos nos polianizar, olhando roseamente a vida, recusando a realidade da realidade que trocamos pela realidade da imaginação, talvez bafejada por uma trégua, que não é paz, por apenas ser trégua. Para não os ter que enfrentar, preferimos não ver os problemas, mas, vendo-os ou não, eles existem. Não se constrói a paz negando a verdade. A paz não pode ser construída ao preço do engano, da ilusão e da mentira. Podemos nos recusar a ver as aflições, mas nós as temos (João 16.33). Precisamos é de ânimo para vencer, não de vendas para não ver.
SOMOS CHAMADOS AO MINISTÉRIO DA PAZ
Cada um de nós é chamado a ser um pacificador. Este é um chamado para todo filho de Deus. Estamos diante de um feliz círculo: sou pacificador porque sou filho de Deus porque sou pacificador.
1. O pacificador é bem-aventurado porque ele vive pela fé, não pela resignação.
Desde Abraão sabemos que a melhor maneira de viver é viver pela fé. Como aprendemos com Kierkegaard, Abraão não foi um homem resignado, mas um homem de fé. Precisamos de fé, não de resignação, que mata a alegria. “O que a maioria de nós almeja” na hora da dificuldade, da amargura, da contrariedade e do conflito “não é fé, mas resignação”, que não é uma virtude realmente nobre. (OWENS, Virginia Stem. Soren Kierkegaard. Em: YANCEY, Philip e SCHAAP, James C. (org.) Mais que palavras. São Paulo: Vida, 2005, p. 43.) Abraão não subiu ao monte acompanhado do filho a ser sacrificado com a resignação dos derrotados; ele o subiu com a fé dos vencedores. Fé e confiança no que Deus vai fazer, sem saber o que Ele vai fazer.
2. O pacificador é bem-aventurado porque ele perdoa, em lugar de reter o ódio.
Há duas classes de pessoas: as que sabem perdoar e as que não sabem. “Ou sabem perdoar e amar, ou não sabem. Se sabem, podem ser socorridas. Podem provar a graça. Se não sabem, estão perdidas. (WALKER, Jeanne Murray. Alice Munro. Em: YANCEY, Philip e SCHAAP, James C. (org.) Mais que palavras.São Paulo: Vida, 2005, p. 303.)) O pacificador realiza o seu ministério de perdoar aos outros. O perdão é um ministério, isto é, é um serviço prestado a Deus. Ministra o perdão aquele que reconhece que foi perdoado por Jesus. Não vive mais escravo de sua culpa, já apagada. Agora, então, ele não deseja que a culpa do outro viceje; por isto, perdoa-o. Ele aprendeu que os exigentes com os outros são exigentes consigo mesmos. Os exigentes consigo mesmo exigem mais do que Deus exige, pondo-se padrões que não podem alcançar. Tenho convivido com pessoas em que vejo esta realidade tatuada nas cicatrizes de suas almas: não perdoam os outros porque não perdoam a si mesmas; há pessoas que não gostam dos outros porque não gostam de si mesmas; não têm paz com Deus porque ainda vivem em litígio com Deus, esquecidos que “tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus” (Romanos 5.1-2). Se você já foi perdoado por Jesus Cristo, você está perdoado; a vida velha ficou para trás; agora, é vida nova. Pode ser que a alguns falte aprender a perdoar, a distribuir a graça recebida.
3. O pacificador é bem-aventurado porque ele deixa a justiça para a Deus.
Talvez neste momento alguém diga de si para si mesmo: “você não sabe a vida que estou levando” ou “você não tem idéia do que está acontecendo lá em casa” ou você “não imagina como estou sofrendo no trabalho, sem ter feito nada” ou “você precisa ir ao meu condomínio para ver o pé de guerra que está” ou “eu só queria respirar um pouco, mas ninguém deixa”. Essas são palavras, justas, justíssimas, de quem clama por justiça.
Não estou propondo o abandono de toda luta, mas propondo um princípio para a sua luta. Lute pela justiça, mas não seja ingênuo de pensar que a justiça virá; talvez haja alguma reparação, nunca à altura do prejuízo. A vida é injusta. O ser humano não é capaz de produzir justiça. Só Deus pode gerar justiça, e Ele nos convida para sermos seus parceiros, tanto no que se refere a causas que nos envolvem, quanto em causas que envolvem outras pessoas, até mesmo pessoas desconhecidas.
Se o seu direito foi espoliado, lute, sem violência, para que seja restaurado. E esta será sua forma de lutar: coloque a injustiça sofrida diante de Deus, que a receberá como uma causa dEle; deixe-se instruir por Ele sobre os caminhos a serem seguidos. Não saia como um Myke Tyson em início de carreira, batendo a torto e a direito. Não confie na sua força; desprenda-a, mas confie na força de Deus.
Cometa atos de justiça, mas não somente para si mesmos. Há duas razões para isto: uma é egoísta, mas é válida: a injustiça com o outro hoje pode ser injustiça para com você amanhã. Vou repetir o que escreveu Martin Niemöller, ao refletir sobre a ascensão do nazismo em seu país: “Primeiro, eles investiram contra os comunistas, mas eu não era um comunista e me calei. Depois, eles investiram contra os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum deles, e me calei. Depois, eles investiram contra os judeus, mas eu não era um judeu e me calei. Quando eles investiram contra mim, não havia ninguém para me defender”.
A outra razão para o envolvimento com a causa da justiça é o amor de Deus e o amor a Deus. O amor de Deus precisa de corpos humanos para tocar a história e o nosso amor para com Ele nos estimula a ser seus agentes, tornando efetivo o Seu desejo: “Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!” (Amos 5.24).
4. O pacificador é bem-aventurado porque ele é diferente daquele que o ofende,
Martin Luther King Jr nos adverte para um cuidado que devemos tomar: “Um grande perigo para nós é a tentação de imitar as pessoas a quem nos opomos. Elas nos xingam, então nós também a xingamos” (Martin Luther King Jr ).
Na verdade, sustentar a raiva requer uma energia imensa. O ódio é pesado, mas a paz é leve. A amargura aprisiona, mas a paz liberta.
Há personagens na Bíblia que me encantam. Não eram perfeitos, mas eram diferentes das pessoas do seu tempo, como nós também devemos ser. Eles experimentaram na pele o ensino bíblico, infelizmente ainda próximo de nós: “Os que me retribuem o bem com o mal caluniam porque é o bem que procuro” (Salmo 38.20).
Abel conviveu com Caim, mas não lhe era igual. Alguns dirão: mas Abel morreu. Eu direi: Caim também morreu. Entre ser Abel e Caim, prefiro ser Abel.
Jônatas era filho de um pai violento, mas não lhe foi igual. Ouso dizer que, ao fazer esta escolha, ajudou Davi a seguir o mesmo caminho.
Abigail era casada com Nabal, um escravo da violência, mas ela distribuía comida entre os inimigos. Alguns dirão: ela agiu por interesse, ao oferecer doces para o rei Davi e sua tropa. Eu direi: seu marido também agia por interesse, na cultura da violência, ela navegava pela cultura da paz. É como se ela soubesse, como nós sabemos, que “a mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito é vida e paz” (Romanos 8.6).
Davi foi atacado por Saul e tinha o direito de revidar. Ele não sabia que seria rei de qualquer jeito; o filho de Jessé não tinha os livros dos cronistas para ler; ele os estava escrevendo sem saber o final. Saul estava no seu caminho, mas não removeu esta pedra. Ele deixou que Deus a tirasse. Ele, não.
O conselho que vem do nosso Deus é claro, embora difícil: “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Romanos 12.21). Não nos esqueçamos que “aquele que faz o bem é de Deus; aquele que faz o mal não viu a Deus” (3João 1.11b).
5. O pacificador é bem-aventurado porque ele mantém o foco na bondade.
Onde está o foco de nossas vidas: na bondade de Jesus ou na maldade humana? Esta é uma resposta essencial. Os que odeiam mudaram o foco da bondade para a maldade.
Há duas classes de pessoas: as que sabem perdoar e as que não sabem. Ou as pessoas sabem perdoar e amar, ou não sabem. “Se sabem, podem ser socorridas. Podem provar a graça. Se não sabem, estão perdidas”. (WALKER, Jeanne Murray. Alice Munro. Em: YANCEY, Philip e SCHAAP, James C. (org.) Mais que palavras.São Paulo: Vida, 2005, p. 303.)
Por que, no Novo Testamento, graça e paz estão juntos? Na verdade, a paz é filha da graça. No Novo Testamento, as expressões paz e graça (ou graça e paz) aparecem juntas 17 vezes. Na verdade também, a paz é a mãe da esperança por dias melhores de justiça (uma das dimensões sociais da paz) e alegria (a dimensão individual por excelência da paz).
O ministério de Jesus foi sobretudo o da possibilitação da paz. “Ele veio e anunciou paz a vocês que estavam longe e paz aos que estavam perto, pois por meio dele tanto nós como vocês temos acesso ao Pai, por um só Espírito” (Efésios 2.17-18).
Vale a pena ser um pacificador.
O pacificador é livre para receber o que Deus ainda tem para dar.
O pacificador pode sorver o cálice da esperança, porque sabe que Deus é Deus.
O pacificador experiência a alegria de viver, mesmo na civilização da tristeza.
O pacificador tem comunhão com Deus.
É por isto que “o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5.22-23).
SE QUEREMOS SER PACIFICADORES:
Como queremos ser chamados, de filhos do trovão, como os descendentes de Zebedeu (Marcos 3.17), ou de filhos da consolação, como Barnabé (Atos 4:36)?
Se queremos ser pacificadores, eis o caminho a ser percorrido:
1. Sejamos pessoas de oração.
Li e concordo que “há uma única coisa que Deus pede de nós — que sejamos homens e mulheres de oração, gente que viva perto de Deus, gente para quem Deus seja tudo e para quem Deus seja suficiente. Essa é a raiz da paz. Temos paz quando o Deus gracioso é tudo que buscamos. Quando começamos a buscar qualquer coisa além dele, nós a perdemos”. (MANNING, Brenan. O Evangelho maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 46.)
Também li e concordo que “a oração pode fazer o que Deus pode fazer”. (WARREN, Rick. O caminho para a recuperação. São José dos Campos: Propósitos, 2005, p. 102.)
2. Acreditemos no Deus da paz e na paz de Deus.
Acreditar na paz é ser sábio, desprendido e grato. O pacificador é aquele que dedica sua vida para viver em paz com todos (Romanos 12.18-21). É aquele que ajuda os outros a ter paz com Deus ao proclamar o evangelho da paz (Romanos 5.1 e Efésios 6.15). É aquele que proclama o evangelho. É aquele que leva as pessoas ao príncipe da paz.
Pacificador que ouve Jesus dizendo: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus” (Mateus 5.43-45a).
O que fazemos com um ensino deste?
3. Construamos ou reconstruamos pontes.
Sabemos que “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo; aquele que assim serve a Cristo é agradável a Deus e aprovado pelos homens. Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz e à edificação mútua” (Romanos 14.17-19).
Quantas vezes, um simples sorriso reata uma amizade destruída por um mal-entendido ou por uma ofensa. Nunca vi uma palavra dura, uma cara feia ou um dedo em riste construir pontes, mas a cavar fossos e buracos, a dividir o que antes estava unido, a ferir corpos até então intatos.
Sejamos militantes da não-violência (conforme a expressão de Erick Erickson) nas relações interpessoais e na vivência comunitária. Militemos contra a violência, usando os recursos que tivermos em mãos. Os violentos são fracos. Calemos diante de um conflito, se não podemos ajudar. Promovamos encontros para a reconciliação. Sejamos voluntários da paz, seja integrando uma equipe que distribua alimento e remédios aos necessitados deste tipo de paz, seja promovendo a fraternidade entre pessoas de classes ou peles diferentes, seja acolhendo os entristecidos por alguma dor, seja levando alegria e orientação a hospitais e presídios, sejam elevando a auto-estima dos massacrados, seja dando voz aos oprimidos. Paz não se faz só com amor, mas com militância também.
4. Ministremos perdão em nossas relações interpessoais.
Se você deseja tornar efetivo o ministério do perdão em sua vida, eis alguns passos:
. Faça um inventario daqueles que, por alguma razão, estão na lista daqueles que não desejam mais o seu bem, ou você não lhes deseja o bem, por causa de algum episódio do passado.
.
Pergunte a você mesmo se já os perdoou. Se não os perdoou, perdoe-os primeiro no seu coração. Pode ser uma maledicência que danificou a sua reputação. Pode ser um julgamento que o magoou profundamente. Pode ser uma trapaça num negócio. Pode ser uma ingratidão, que dói muito. Faça-os saber que erraram, não como se fosse alguém que jamais erra.
. Depois, faça-os saber que os perdoou. Viva livre dos erros dos outros. Deixa que aqueles que viver livres sejam livres também. Para arrancar a dor, será preciso lutas de oração, até que Ele ateste que o perdão foi ministrado. Pode ser que seja necessário um tempo de jejum, porque há dores que só com joelho dobrado e jejum exercitado. Paz e santidade são faces de uma mesma experiência de vida: “Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14).
. Seja honesto para notar se você não é o ofensor. Se foi, perdoar é reparar, pedindo perdão com sinceridade e verificando se pode fazer algo para sarar as feridas deixadas. Mesmo que você tenha sido o ofensor, há salvação para você. Não se martirize a vida toda. Apenas seja honesto. Faça o que estiver ao seu alcance, e deixe Deus fazer o resto, não importa quanto custe, quanto tempo demore.
. Em todas as situações, veja se já fez tudo. “Façam todo o possível para viver em paz com todos” (Romanos 12.18) — este é pedido de Deus. Perdão não é graça barata. Jesus fez tudo: morreu, para nos perdoar, Ele que não tinha pecado. Se você fez tudo, deixe Deus fazer a parte dEle. Não queira faze: você não vai conseguir fazer a parte de Deus… Muitas vezes, caímos no território do impossível: não há nada que possamos fazer. Impossível é advérbio humano, nunca divino.
5. Recuperemo-nos para a paz.
Na vida pessoal, também precisamos de paz, em relação a vícios, traumas e maus hábitos, paz é liberdade, liberdade em relação a um determinado vício, liberdade em relação aos traumas que nos machucavam, liberdade em relação ao peso e prejuízo de certos hábitos nocivos à nossa saúde física, espiritual e emocional.
Por isto, quero pensar nesta bem-aventurança como uma dimensão da disciplina e como uma etapa de um caminho de recuperação. Dirijo, então, a quem tem buscado o caminho da felicidade em sua vida, travando lutas pessoais com vícios, traumas e maus hábitos.
Recordo, então, o ensino bíblico, porque indispensável: “Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados” (Hebreus 12.11). A mesma verdade aparece num salmo e na epístola de Pedro: “Afaste-se do mal e faça o bem; busque a paz com perseverança” (Salmo 34.14; 1Pedro 3.11)
Como é que se pode perseverar, especialmente diante da possibilidade de uma recaída? A maioria dos dependentes, seja de que droga for, já deixaram, por algum tempo, o vício, mas voltaram. Imagino, em outro campo, aqueles que, por maus hábitos, obtiveram um peso além do recomendável: começam a correr três vezes por semana, que viram três vezes por mês, que viram três vezes por ano; durante três dias consecutivos, mas só durante três dias consecutivos, conseguem comer menos ou mais saudavelmente. Como é difícil perder peso!
Nesta, e em outras áreas, a vontade não é suficiente.
Por isto, o princípio 7 do programa “Celebrando a Recuperação” é valioso: “Reservo, diariamente, um tempo com Deus para auto-avaliação, leitura da Bíblia e oração, a fim de conhecer a Deus e a Sua vontade para minha vida e obter força para segui” (principio 7 de “Celebrando a Recuperação”). O mesmo valor está contido no passo décimo dos Alcoólicos Anônimos: “Continuamos a fazer o inventario pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente” (passo 10 do AA).
Embora os autores originais do programa Celebrando a Recuperação não o façam, derivo este princípio da bem-aventurança da paz, porque a paz é uma conquista que vem da graça. Na verdade, Jesus abençoa os que buscam a paz, os que promovem a paz, os que se empenham pela paz. E isto, tanto no campo da justiça social quanto no território da cura pessoal, demanda auto-avaliação; conhecimento de Deus, por meio da leitura da Bíblia e da oração, e recebimento de força para a luta.
Vejamos os passos para a paz-cura:
1. Admita seus problemas.
A guerra existe porque os dois lados está certos e cada um quer fazer prevalecer sua razão. As dificuldades emocionais são mais dramáticas quando não há uma percepção de sua existência e de sua força.
Se você quer se recuperar, admita que está ferido e que perdeu a paz. Não importa, neste momento, se você mesmo destruiu as pontes da sua vida, trazendo dor e enfermidade; você já foi perdoado e não precisa voltar toda hora ao calendário do passado. A página já foi virada na cruz. A culpa acabou. Admita, no entanto, que ficou ferido. A avaliação é necessária. Alguém lhe feriu. Você feriu a você mesmo. Está doendo. O vício está queimando dentro de você. O hábito ruim parece uma sentença condenatória. O trauma é um retrato na parede, como se lhe contemplasse.
Todos nós precisamos de momentos de paz, de quietude, de silêncio, de encontro conosco mesmos, de avaliação de nossas qualidades e nossos defeitos. Há momentos que, fora do ruído, precisamos ouvir nossa própria respiração, para podermos ouvir o que Jesus nos tem para dizer nesse momento de nossa vida. Encontre este tempo. Talvez lhe tenham dito: não pare, mantenha a mente ocupada. Não faça isto sem antes parar, reservando um tempo para si mesmo e para Deus. Se for necessário, diminua o ritmo. Nessa hora silenciosa, virão desejos ruins, mas “não seja ingênuo. Verifique tudo e retenha só o que é bom. Atire longe tudo o que tiver a mácula do mal” (1Tessalonicenses 5.21 — Cf. A Mensagem, paráfrase de Eugene Peterson).
Então, ore assim: “Senhor, eu te agradeço por me teres libertado e salvado, por teres morrido em meu lugar. Assim mesmo, ando ferido por vícios, traumas e maus hábitos. Ando ferido, mas quero ficar em paz. Quero que tu afastes de mim todo cálice da maldade, para respirar tão somente a tua vontade para mim, que é sempre a melhor coisa para mim. Eis o que te peço, em nome de Jesus”.
2. Procure conhecer a Deus.
Na hora do silêncio, podemos conhecer melhor a Deus; sua vontade está expressa na Sua Palavra; nossas necessidades podemos apresenta na oração. Encontre tempo para passar tempo com Ele. Passando tempo com Ele, você obterá força para continuar seu caminho de recuperação com Ele.
Leia bons livros, que o ajudem a conhecer mais de Deus. Quero sugerir alguns para você:
OS FORTES E OS FRACOS, de Paul Tournier (editora ABU)
PERSEVERANÇA, de Charles Swindoll (editora Vida)
SAÚDE EMOCIONAL E VIDA CRISTÃ, de Esly Carvalho (editora Ultimato)
SONHOS DESPEDAÇADOS, de Larry Crabb (editora Mundo Cristão)
TROVÃO INVERSO: o livro de Apocalipse e a oração imaginativa, de Eugene Peterson (editora Habacuc)
Enquanto lê bons livros na busca por conhecer a Deus, ore assim: “Senhor, conhecer eu quero mais. Quero ter a fé saudável que Abraão teve, saindo para uma vida que Deus lhe mostraria como seria. Quero ter a fé misericordiosa que Davi teve, ao ponto de poupar a vida de alguém que o perseguia, e por isto ficou conhecido como um homem segundo o coração de Deus. Quero ter a fé transformadora que Paulo teve, deixando mesmo para trás uma vida triste, em que perseguia os amigos de Deus, mas uma vez admitido na companhia de Deus, nunca mais foi fustigado por culpas. Quero conhecer, Senhor, para me conhecer e viver como desejas. Eis a minha oração, feita em nome de Jesus. Amém”.
3. Seja grato.
A gratidão cura. Todo dia agradeça a Deus pelo que tem feito por você.
Neste caminho, faça uma lista dos passos de progresso que já deu em sua recuperação. Não importa que sejam poucos os passos, mas se os deu, registre-os. Agradeça a Deus por esses passos, mesmo que tímidos. Deus abençoa o tempo das coisas pequenas também (Zacarias 4.10)..
Faça uma lista do que Deus fez por você neste ano, neste mês, nesta semana, no dia de hoje. Depois, faça uma lista de pessoas que Deus tem usado para abençoar você. Se achar interessante, dê um culto de gratidão, com os amigos. Dê uma festa para agradecer a Deus e aos amigos.
Ponha em prática o ensino bíblico: “Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração. Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3.15-17)
Ore assim: “Obrigado, Senhor, porque o Senhor me fez e nunca desistiu de mim, mesmo que, às vezes, eu desista de Ti e até de mim. Eu sei que tenho valor para o Senhor, tanto que morreste por mim. Obrigado também pelas pessoas que tens colocado na minha vida e que me têm ajudado no caminho que estou trilhando. Dê paciência a eles para continuarem comigo. Dê-me paciência para continuar com eles. Este é o meu desejo. Em nome de Jesus. Amém”.
4. Persista.
Não desista, mesmo que pareça não estar havendo progresso.
Não desista, mesmo quando houver uma recaída. Continue no caminho, mesmo que tenha havido algo tropeço ou desvio.
Para persistir, procure ajuda. Procure a ajuda de um amigo ou amiga. Procure um grupo de ajuda, com o qual você se comprometa.
Persista em lutar para que acha paz. Você foi alvo da grande libertação, feita por Jesus para você. Agora você está sendo alvo de pequenas libertações, feitas por Jesus em você a cada dia. Ele põe as armas dEle para a vitória.
Feche agora os seus olhos e ouça as seguintes palavras de Deus à sua mente:
“Fortaleça-se no Senhor e no seu forte poder.
Vista toda a armadura de Deus, para poder ficar firme contra as ciladas do Diabo,
pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais.
Por isso, vista toda a armadura de Deus, para que possa resistir no dia mau e permanecer inabalável, depois de ter feito tudo. Assim, mantenha-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz.
Além disso, use o escudo da fé, com o qual você poderá apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Use o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus.
Ore no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica”
(Efésios 6.10-18)