Êxodo 20.14: NÃO ADULTERARÁS

NÃO ADULTERARÁS

Êxodo 20.14

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 24.8.2003.

INTRODUÇÃO
Escrevendo sobre o tema da natalidade entre os pobres, o médico Drauzio Varella começou assim o seu artigo:”O problema mais grave do país talvez seja o da natalidade entre a população pobre. Tenho consciência plena de que essa afirmação é considerada politicamente incorreta e que me traz problemas com certas alas da intelectualidade todas as vezes que a faço. Mesmo assim, vou insistir nela”. [VARELA, Drauzio. De volta à natalidade. Folha de S.Paulo, 23.8.2003. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2308200323.htm>. Acessado em 23.8.2003.]
Para muita gente, a concepção é um assunto de foro íntimo, mesmo que as pessoas não saibam o que seja foro íntimo, quando dão livre vazão à sua sexualidade, seja com pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo.
Sim, a decisão sobre o envolvimento sexual foi confinada ao território da individualidade. Cada um é responsável por sua sexualidade. Ninguém, nem mesmo Deus, pode orientar o outro nesta questão, sob pena de estar invadindo a privacidade alheia.
Para estar pessoas, a santidade também é uma questão interior. Não há padrões, porque os padrões podem adoecer as pessoas, que devem exercer a sua liberdade plena, inclusive no campo da sexualidade, como se não houvesse pecado abaixo do Equador, nem acima… Agostinho, tirado do contexto, é chamado por alguns, dentro e fora da igreja, para apoiar o libertinismo que sempre condenou: “Ame e faça o que quiser”.
O cristão, no entanto, que se deixa orientar por Deus através da Bíblia, em lugar de querer orientar a Deus, não precisa se preocupar com a acusação de estar sendo politicamente incorreto. O mandamento soa cristalino em Êxodo 20.14 e em Deuteronômio 5.18: “Não adulterarás”. O mandamento ali está porque a conjugação do verbo adulterar é tão antigo quanto o verbo pecar.

1. Este é um mandamento tão importante quanto os outros
Este mandamento é tão importante quanto os demais. Nem mais nem menos importante. A Bíblia não hierarquiza os pecados. O profeta Malaquias coloca igualmente o adultério no mesmo plano de outras abominações contra Deus, que fala, pela bosca do seu enviado:

Chegar-me-ei a vós outros para juízo; serei testemunha veloz contra os feiticeiros, e contra os adúlteros, e contra os que juram falsamente, e contra os que defraudam o salário do jornaleiro, e oprimem a viúva e o órfão, e torcem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos.
Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.
Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não os guardastes; tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós outros, diz o Senhor dos Exércitos.
(Malaquias 3.5-7)

Outro profeta (Oséias) repete a mesma percepção:

O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios.
Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem.
(Oséias 4.2-3)

O apóstolo Paulo segue na mesma direção:

Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.
Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.
(1Coríntios 6.9-11)

Ao escrever assim, o apóstolo Paulo está na tradição de Jesus, que arrola o adultério no mesmo grupo daquilo que poderia ser classificado de pecado capital: Do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias (Mateus 15.19).

Não há dúvida, portanto, que o adultério integra a relação dos atentados contra a santidade, santidade requerida por Deus a cada um de nós, não importam idades, estados civis, momentos de vida cristã.
Como é bom saber que muitos hoje cristãos um dia estiveram fora dos padrões de Deus, mas hoje agora procuram viver segundo estes padrões, mesmo enfrentando a pressão de não os seguir.
No entanto, como é triste ver que muitos cristãos, que um dia deixaram de ser adúlteros, voltaram a achar que o adultério é compatível com a fé cristã!

2. O mandamento contra a adultério não é contra o exercício da sexualidade, mas contra o seu domínio sobre o ser humano

Faz parte das regras de ouro porque (e Deus o sabe) a sexualidade é parte essencial da vida. Em certo sentido, sexo é vida, embora a vida não seja sexo, mas amor.
Não por acaso a Bíblia contém dois livros sobre o amor conjugal: Rute e Cântico dos Cânticos.
O problema é que sexo é desejo que reivindica nos dominar. O adultério é o triunfo do desejo, a derrota da razão. O conselho bíblico é a outro, porque parte de outro pressuposto, o de que podemos vencer nossos desejos:
Nnão permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos (Romanos 6.12). Afinal, os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos (Gálatas 5.24).

O adultério é pecado contra o outro, contra si mesmo e contra Deus. José do Egito o entendeu, como o demonstra a narrativa sagrada:
Depois de certo tempo, a mulher do seu senhor começou a cobiçá-lo e o convidou:
— Venha, deite-se comigo!
Mas ele se recusou e lhe disse:
— Meu senhor não se preocupa com coisa alguma de sua casa, e tudo o que tem deixou aos meus cuidados. Ninguém desta casa está acima de mim. Ele nada me negou, a não ser a senhora, porque é a mulher dele. Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso e pecar contra Deus?
Assim, embora ela insistisse com José dia após dia, ele se recusava a deitar-se com ela e evitava ficar perto dela. (Gênesis 39.7-10)

3. A prática do adultério é um atentado contra a santidade e contra a inteligência
A prática do adultério pressupõe um certo tipo de onipotência, a de que não serão descobertos. Eis a lógica do pecado: aguardam o crepúsculo os olhos do adúltero; este diz consigo: “Ninguém me reconhecerá”; e cobre o rosto (Jó 24.15).
Por isto, a sabedoria bíblica lembra:
O que adultera com uma mulher está fora de si; só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa.
Achará açoites e infâmia, e o seu opróbrio nunca se apagará.
Porque o ciúme excita o furor do marido; e não terá compaixão no dia da vingança.
Não se contentará com o resgate, nem aceitará presentes, ainda que sejam muitos. (Provérbios 6.32-35)

4. Casamentos são rompidos, vidas são destruídas por causa do adultério
A fidelidade matrimonial é uma condição, embora não seja a única, para a estabilidade do casamento. Por isto, é digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros (Hebreus 13.4)
O dr. Drauzio Varella poderia ter acrescentado que não é só a falta de educação para a natalidade a raiz de nossos problemas sociais. O sexo fora do casamento está na raiz também desses males. Filhos indesejados porque frutos da aventura são filhos que poderão ser desajustados.

5. A pureza sexual é um valor último. por isto, ela começa no coração do homem
Jesus é radical. Disse ele: Ouvistes que foi dito: “Não adulterarás”. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela (Mateus 5.27-28).

6. A punição para o pecado do adultério é a morte, sentença abolida pela graça, que não nos deve levar ao libertinismo, que é achar que temos um corpo e não que somos um corpo, porque somos um corpo em que habita o Espírito Santo de Deus, a quem abafamos e entristecemos quando pecamos.

Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera. (Levitico 20.10)

Ao morrer na cruz, Jesus perdoou/perdoa todos os nossos pecados, desde que haja arrependimento, que inclui o desejo de não praticar mais aquele pecado.
Não importa o pecado que tivermos cometido, adultério ou outro, o sangue de Jesus nos purifica, mas o poder deste sangue  está limitado ao arrependimento.
A síntese apostólica é que Deus é luz; nele não há treva alguma. Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. (…) Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. (1João 1.5-9)

CONCLUSÃO
Estejamos atentos a todos os mandamentos de Deus, absolutos para as nossas vidas.

E as borlas estarão ali para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor e os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos, após os quais andais adulterando, para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos ser por Deus. Eu sou o Senhor, vosso Deus.
(Números 15.39-41)

Quando você se mantém puro no casamento, quando você espera a hora do casamento para ter uma vida sexual ativida, você está um pouco sozinho neste mundo, mas está na companhia de Deus. Não vale a pena?

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