Êxodo 20.8-11: SÁBADO, PARA QUE

SÁBADO, PARA QUE

Êxodo 20.8-11

Este mandamento se tornou uma obsessão. Foi criada, ao longo da história de Israel, uma farta legislação para não deixar dúvidas acerca de que atividade poderia ser desenvolvida no sábado. A lista ficou obviamente imensa.
Burlar o sábado, no sentido que tomou, acabou se tornando uma necessidade. Jesus mesmo burlou a legislação que se desenvolveu a partir do mandamento, ao permitir que  seus discípulos trabalhassem (isto é, colhessem espigas para alimento próprio) num sábado, para desespero dos fariseus que zelavam pela sua guarda.
Estes desvios não podem nos afastar do propósito de Deus ao estabelecer o sábado.

1. O SÁBADO EM TEMPO DE GRAÇA
Para evitar que ainda alguns sejam confundidos, lembremos E aqui seguimos a síntese que aparece em CHRISTIAN APOLOGETICS AND RESEARCH MINISTRY. Should we keep the Sabbath or not? Disponível em <http://www.carm.org/diff/Exod20_8.htm>. Acessado em 14.6.2003.que, dos dez mandamentos, nove são reinstituídos no Novo Testamento. Seis estão listados por Jesus. Quando perguntado sobre a porta de entrada na vida eterna, ele recomendou a obediência aos Dez Mandamentos, enunciando seis deles: “Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 19.17-19. cf. Romanos 13.9). A adoração a Deus inclui os três primeiros mandamentos.
O único mandamento que não é reinstituído no Novo Testamento é precisamente o quarto. Jesus se apresentou como Senhor do sábado (Mateus 12.8).
O sistema legal do Antigo Testamento exigia a guarda do sábado como parte do sistema moral, legal e sacrificial pelo qual os judeus satisfaziam as demandas de Deus em termos de comportamento, governo e perdão dos pecados. O sábado era parte deste sistema. Quem quisesse ficar “bem” com Deus devia guardar o sábado. Quem não o guardasse seria punido (Ezequiel 18.4, etc.).
Com a obra expiatória de Cristo e a justificação pela fé (Romanos 5.1), não mais precisamos guardar a lei e, muito menos o sábado, que não passava de sombra das coisas por virem (Colossenses 2.16-17). Não estamos mais debaixo da lei, mas da graça (Romanos 6.14-15). O sábado foi cumprido em Jesus porque nEle temos descanso (Mateus 11.28).

Recordados estes princípios, podemos nos perguntar o que fazer com este mandamento, uma vez que estamos embebidos na graça.

2. LEMBRANDO DO SÁBADO
O mandamento nos pede que lembremos do sábado.

1. Lembrar do sábado é recordar que a terra, com tudo o que nela há, é criação de Deus.
No bom sentido, a terra foi colocada para que o homem, nela vivendo, se realize como pessoa. A natureza, portanto, é um dom de Deus para o homem.
A criação não é produto do acaso. Foi um propósito de Deus para o bem do homem. Cabe ao homem cuidar dela. Ser cuidadoso para com o meio ambiente é uma atitude profundamente espiritual.
Lembrar do sábado é ser grato a Deus pelo seu cuidado.

2. Lembrar do sábado é recordar a insuficiência da nossa auto-suficiência.
Se nós podemos fazer todas coisas, não há necessidade de Deus nas nossas vidas. Nós temos uma vocação, falsa porém sedutora, para a onipotência. O verdadeiramente onipotente descansou. A auto-suficiência humana é a pior das idolatrias, porque é o homem adorando a si mesmo.
A recomendação bíblica parece insuportável para alguns: pare. “Pare” quer dizer: “reconheça a sua limitação”. Pare de olhar para você mesmo e olhe para Deus. Veja como Ele fez e note como Ele parou.
Lembrar do sábado é convidar Deus para reinar absoluto sobre nossas vidas.

3. Lembrar do sábado é recordar a impossibilidade de exercermos controle sobre as coisas.
Se a auto-suficiência é idolátrica, o exercício do controle é uma tentação. É natural ao ser humano querer controlar tudo, planejar tudo, fazer com que tudo funcione. Sabemos como coisas, mesmo que pequenas, fora de controle nos fazem perder o controle emocional.
Somos convidados a não ceder a esta tentação, porque ela produz doença física, emocional e espiritual.
Lembrar do sábado é convidar Deus para controlar nossas vidas do modo dEle, sempre melhor que o nosso.

3. SANTIFICANDO O SÁBADO
Três verbos são aplicados, neste mandamento, ao sábado. Devemos nos lembrado que é um dia para ser dedicado, abençoado e santificado. Todos querem, em síntese, significar que todos os dias da semana, menos um, nos pertencem.

3.1. Dedicar o sábado é entregar a Deus o que lhe pertence.
O sábado pertence ao Senhor. Nossos recursos financeiros lhe pertencem. Nossa inteligência lhe pertence.
Na cultura cristã, em que o sétimo dia é o domingo, o dia do Senhor, o primeiro dia da semana, o sétimo se tornou o primeiro na ordem. Há nisto um rico símbolo. O primeiro dia da semana, a primícia da semana, pertence a Deus. Não sabemos o que virá pela frente, mas o dedicamos, pela fé, ao nosso Senhor.
Não é fácil dedicar as primícias ao Senhor. Não é fácil, por exemplo, entregar o dízimo ao Senhor. Para entregar quando o recebemos, precisamos confiar que não nos fará falta. Para entregar no final do mês, sabemos que dificilmente nos sobrará. No entanto, não somos convidados para entregar o que sobra. Antes, devemos ficar com os 90% que sobram. Deus quer muito pouco, para nos ensinar a viver. Deus espera que dediquemos a Ele o sábado dos nossos recursos financeiros.
Deus não quer apenas o dízimo dos nossos bens, mas o dízimo de tudo, inclusive o nosso tempo. Ele deseja que separemos tempo para Ele. Somos, por vezes, pobres espiritualmente porque dedicamos 100% do nosso tempo para nós mesmos, chamando a isto de trabalho, estudo e lazer. Nosso alimento será o trabalho, o estudo e o lazer, mas traalho, estudo e lazer não nos alimentam adequadamente. Deus é Quem nos alimenta quando separamos tempo para Ele na nossa agenda.  Deus espera que dediquemos a Ele o sábado de nosso tempo.
Deus quer também o dízimo de nossa inteligência. Precisamos devolver para Deus parte daquilo que sabemos. Não importa a área do conhecimento, se damos ao Senhor o dízimo do que sabemos, Ele o vai usar para abençoar pessoas. Deus espera que dediquemos a Ele o sábado do nosso conhecimento.

3.2. Abençoar o sábado é torná-lo diferente dos outros dias
O sábado é para ser abençoado. Deus o abençoou e nós devemos fazê-lo também.
Na narrativa da criação, Deus abençoou os animais, ao criá-los (Gênesis 1.22), o ser humano (Gênesis 1.28; Gênesis 5.3), ao criá-lo, e o sábado (Gênesis 2.3), ao terminar Seu primeiro grande ciclo criativo.
Deus, portanto, abençoou o sábado, isto é, desejou que o sábado recebesse bênçãos. No Seu propósito, o sábado deve ser bendito, de modo que quem o bendiz receba as bênçãos advindas de Deus.
O profeta Isaías (Isaías 58.13) nos ajuda a entender o significado desta bênção, ao nos conclamar a não profanar o sábado, isto é, a não buscar nossos próprios interesses. Abençoar o sábado é honrar a Deus segundo os caminhos de Deus, não segundo os nossos. Abençoar o sábado é fazer a vontade de Deus, não a nossa. Abençoar o sábado é proferir para Deus e para os homens palavras que bendizem, não que amaldiçoem, palavras plenas de significado, não de futilidade. O sábado é um grito contra a superficialidade e contra a futilidade das nossas vidas.
Abençoar é dispor-se a ser abençoado por Deus. A palavra para abençoar, aqui usada, significa descansar sobre os joelhos. Em Deus, significa que Ele se inclinou, tocou  na terra, para contemplar a Sua criação, para tornar bendita a Sua criação, para abençoar a Sua criação. Em nós, significa ajoelharmo-nos para contemplar o criador, para bendizer o criador, para abençoar aqueles a quem criou. Nós não somos abençoados porque não queremos ser abençoados.
O ser humano tem dificuldade para ajoelhar-se; é algo humilhante… Deus, no entanto, se ajoelhou. O momento sublime deste ajoelhar-se foi a cruz. Ele se inclinou. Ele se tornou humano… para nos abençoar. Sim, bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo (Efésios 1.3).
Somos todos convidados a abençoar, inclusive aqueles que nos perseguem (Romanos 12.14). Abençoar é deixar de ser humano demais em nossas reações, para sermos divinos nos nossos desejos.

3.3. Santificar o sábado é desejar a comunhão com o Senhor.
Deus fez o sábado porque deseja estar em comunhão com os seus filhos.
Todos os dias são comuns, mas há um dia especial (domingo na cultura cristã), quando devemos parar para celebrar o Deus da criação e o Deus da salvação. Nossas vidas são agitadas, mas não devemos nos agitar sempre. Há um tempo em que devemos reconhecer que Deus é Deus e que o homem é homem.
O descanso no domingo é um descanso criativo. Nem sempre temos tempo para nos ajoelhar, mas deve haver um dia em que ficar de joelhos ocupe a maior parte do nosso tempo.
O descanso no domingo é um descanso comunicativo. O anseio do coração de Deus é que seus filhos anseiem por sua presença. O domingo é o dia em que aprendemos a praticar a presença de Deus. Deve ser um dia de culto, um dia de louvor, um dia de oração, um dia de leitura da Bíblia.

Deus fez o sábado porque deseja ver a comunhão entre os seus filhos.
Há uma relação profunda entre domingo e igreja. Domingo é o dia por excelência da igreja, quando os crentes se reúnem para se alimentarem juntos da Palavra de Deus.
Há um legalismo em tornar o domingo um dia especial, mas há um libertinismo em tornar o domingo como um dia como os outros quaisquer. Se não temos necessidade imperiosa de trabalhar, o domingo deve ser para o descanso, para o culto, para o cultivo dos relacionamentos, para o almoço em família, para a pizza com os amigos, tudo com calma, sem correria. Já corremos de segunda a sábado. Domingo pode ter um ritmo menos humano e mais divino.

4. CONCLUSÃO
Uma de nossas irmãs não vem regularmente aos domingos à igreja. Ela vem às quartas-feiras. Seu marido não é crente e ela não quer que o domingo seja um pomo de discórdia entre eles. Além disso, ela participa de uma das horas de oração e agora está sendo discipulada numa das manhãs da semana. Ela está guardando o sábado no seu verdadeiro sentido.

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