Êxodo 20.7: PARA QUE NOSSOS VOTOS VALHAM

PARA QUE NOSSOS VOTOS VALHAM

Êxodo 20.7

1. INTRODUÇÃO
O que significa “tomar o nome de Deus em vão” numa cultura como a nossa?
Na cultura judaica, não havia qualquer dúvida. Nenhum povo levou tão a sério este mandamento quanto o povo judeu.
Embora o nosso contexto seja diferente, somos chamados ao mesmo exercício. Não devemos tomar o nome de Deus em vão. Podemos pensar numa pergunta reversa: como podemos levar a sério o nome de Deus em nossas vidas?

2. DEUS E SEUS NOMES
No idioma do Antigo Testamento (hebraico), o nome de Deus conhece três formas: El, Yahweh (Jeová) e Adonai. El (ou Elohim ou El-Shaddai — Deus Poderoso) significa poder e autoridade. Yahweh surge de uma tentativa de recuperar o nome original de Deus, mencionado por Ele a Moisés, como sendo EU SOU O QUE SOU.
Na verdade, receosos de tomar o nome de Deus em vão, todas as vezes que seu nome era referido, os antigos escribas grafavam apenas quatro letras (daí o termo “tetragrama sagrado”): YHVH. Por isto, não mais sabemos a pronúncia correta do nome de Deus. Outra forma de resolver o impasse era usar o termo Adonai (Senhor), que dá destaque a autoridade de Deus e ao nosso compromisso com Ele.
Ao longo do pacto com Deus, Israel criou outros nomes compostos, para celebrar diferentes atributos de Deus. Eis alguns deles:

. Jeová-jireh, o Deus que vê e provê (Gênesis 22.14).
. Jeová-nissi, o Senhor é a nossa Bandeira (Êxodo 17.15).
. Jeová-shalom, o Senhor é a nossa paz  (Juízes 6.24).
. Jeová-sabaoth, o Senhor dos Exércitos (Isaías 47.4; Jeremias 32.18).
. Jeová-rohi, o Senhor é meu Pastor (Salmo 23.1).
. Jeová-m’qadesh, o Senhor santifica (Levítico 20.8).
. Jehovah-shammah, o Senhor está presente (Ezequiel 48.35).
. Jehovah-raphah, o Senhor cura (Êxodo 15.26)
. Jeová-tsidkenu, o Senhor é a nossa Justiça  (Jeremias23:6; Jeremias33:16). [JEPSON, J. W. What You Should Know About God. Disponível em <http://www.christcenter.net/God_chr4.htm>. Acessado em 1.6.2003.]

Há muitos nomes de pessoas no Antigo Testamento que têm o nome Jeová na sua formação. José, por exemplo, é “Deus acrescente”, Josafá é “Jeová julga”, Josias é “Jeová sustenta”, Jeiel é “Deus está vivo”, Joel é “Jeová é Deus”, João é “Jeová é gracioso” e Josué “Jeová é Salvação”. A palavra Jeová está no nome de Jesus que significa “Jeová o nosso Salvador”. Quando o anjo prenunciou o seu nascimento, explicou o significado do seu nome: “Ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1.21).
No Antigo Testamento, o nome de Deus é a sua própria essência. Falando ao povo exilado, Deus assim se expressou por meio de Jeremais: eis que lhes farei conhecer, sim desta vez lhes farei conhecer o meu poder e a minha força; e saberão que o meu nome é Jeová (Jeremias 16.21).
 
3. QUANDO TOMAMOS O NOME DE DEUS EM VÃO
Os antigos hebreus também perguntaram a Deus em que tomavam o nome de Deus em vão (Malaquias 1.6).
A resposta de Deus, pela boca do profeta, é indignação pura:
[Vocês desprezam o meu nome] Trazendo comida impura ao meu altar! [e] ao dizerem que a mesa do Senhor é desprezível. Na hora de trazerem animais cegos para sacrificar, vocês não vêem mal algum. Na hora de trazerem animais aleijados e doentes como oferta, também não vêem mal algum. Tentem oferecê-los de presente ao governador! Será que ele se agradará de vocês? Será que os atenderá? (Malaquias 1.7-8).
Deus sugere aos sacerdotes a, diante da vida que levavam, fecharem o templo. Ah, se um de vocês fechasse as portas do templo! Assim ao menos não acenderiam o fogo do meu altar inutilmente (Malaquias 1.10).
A advertência nos chega hoje com a força da vontade de Deus de ter seguidores honestos, que honram o seu nome.
Neste sentido, os ateus sinceros merecem uma referência elogiosa: por não crerem nele, eles não tomam o nome de Deus vão. No entanto, há cristãos, que sabem que só vivem por causa do nome de Deus, que não o consideram como devem, usando-o em vão, inutilmente.
Quero sugerir algumas situações em que tomamos o nome de Deus em vão. Não são todas, mas apenas algumas. Se você se achar numa delas, convido você a se arrepender e mudar a direção da sua vida. Se nenhuma delas o inclui, assim mesmo convido você a refletir sobre se não tem pecado nesta área, não importa a circunstância.

3.1. Votos cínicos
Tomamos o nome de Deus em vão quando votamos algo a Deus e não nos esforçamos por cumprir o nosso o compromisso.
Um dos exemplos notáveis de votos feitos a Deus é o de Jacó. Numa hora de extrema dificuldade, ele prometeu ao Senhor que, se tudo corresse bem com ele, voltaria, prestaria culto ao Senhor e lhe entregaria dez por centro de tudo quando conseguisse acumular (Gênesis 28.20). Deus não lhe pediu aquele voto: foi a iniciativa de um aflito.
Muitos anos depois, novamente por sua iniciativa, eis o que diz Jacó a sua família: Levantemo-nos, e subamos a Betel; ali farei um altar ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho por onde andei (Gênesis 35.3).

3.2. A doença da banalização
Tomamos o nome de Deus em vão quando banalizamos o seu nome. Banalizamos o nome de Deus de várias formas. A criatividade nesta área não tem limites.
Aprendemos com Jesus que podemos chamar a Deus de Pai. Ele nos revelou um Deus amigo. Os apóstolos nos pregaram um Deus gracioso. Nem Jesus, nem os apóstolos, no entanto, revogaram o terceiro mandamento; nenhum deles nos autorizou a brincar com o nome de Deus. Não precisamos ter medo de Deus, mas não devemos brincar com ele, colocando-O em cena, tirando-O de cena como um joão-bobo.
Brincam com Deus aqueles que portam símbolos sagrados, como crucifixos estampados no peito, bíblias abertas num salmo, fitinhas do tipo “O que faria Jesus” no pulso, adesivos com versículos de exaltação a Deus nos vidros dos automóveis, sem se importarem com o significado destes símbolos.
A cultura de massa cooptou o Evangelho de Jesus. Numa mesma banca em que se compra adesivos chulos, podem ser adquiridos adesivos com temas sagrados. Quem fabrica adesivos sagrados deve estar compromissado com a verdade neles contidos, verdade que se aplica a editoras e a gravadoras, sejam elas de evangélicos ou não, advertência que também se aplica a pregadores e a cantores evangélicos. Deus não deixará impune quem se enriquece com o Seu nome sem nEle crer e por Ele viver.
De igual modo, quem escolhe portar um adesivo sagrado precisa saber que tem um compromisso com o Deus ali apresentado.

3.3. Buscas superficiais
Tomamos o nome de Deus em vão quando não organizamos as nossas vidas para colocá-lO em primeiro lugar. Nestes casos, pronunciamos o seu nome, mas não o queremos como nosso Senhor.
Há uma busca, mas uma busca superficial. Há muitos cristãos que não buscam a Deus propriamente mas “adoram” as suas bênçãos.
Num livro notável (“Chega de regras”. São Paulo: Mundo Cristão, 2003), Larry Crabb alerta contra o que ele chama de Cristianismo do antigo caminho, erigido em torno de espera de bênção, de expectativa de cura e de desejos de uma família maravilhosa. Escreve ele, então: “No novo caminho, as bênçãos são esperadas, a cura é objeto de oração, familias felizes são edificadas, sentimentos de maravilha e alegria em servir a Deus são universalmente esperados, e quaisquer bênçãos que jorrem sobre nós são alegremente comemoradas — embora nada, absolutamente nada, seja exigido. A paixão por uma vida melhor, embora real e profunda e sentida sem qualquer sentimento de vergonha, não está no centro. Uma vida melhor não é o ponto; ela não governa nossos atos; não é a primeira paixão do coração de um revolucionário do novo caminho. Dançamos ao redor de um Deus diferente” (p. 116).

3.4. A tragédia da incoerência
Tomamos o nome de Deus em vão quando não há coerência entre o que vivemos e o que falamos. A hipocrisia tem sido o pecado mortal dos cristãos. Se os cristãos falássemos a metade do que falamos e vivêssemos o dobro do que vivemos, o mundo já teria virado de cabeça para baixo em direção a Cristo. Os cristãos temos conseguido dividir nossos cérebros em dois hemisférios: um nos faz falar da necessidade de nos amarmos uns aos outros como Deus nos amou; o outro nos manda trocar de bancada na igreja para não ter que cumprimentar um irmão que achamos que hipócrita. Nesta enfermidade, um dos nossos hemisférios cerebrais louvamos a Deus por sua bondade, mas o outro lado procura tão somente o sem bem-estar.
Temos perdido a causa do Evangelho de Jesus por causa de nossos sorrisos forçados, de nossas imposições de verdade, de nosso desinteresse em nos colocar nas mãos de Deus para que Cristo viva em nós. Temos preferido cantar canções de avivamento e viver por nós mesmos, não pelo Espírito.
Temos caído da graça porque temos desviado de Deus os nossos ouvidos, esquecidos do chicoteante conselho bíblico: O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável (Provérbios 28.9).
Não há graça em apenas falar da graça, se ela não for vivida. Não há poder no nome de Deus em nossas bocas, se não for a expressão da nossa alma, e não apenas dos lábios. As canções do poder de Deus são as canções da vida verdadeira, verdadeira no sentido de refletir a nossa insistência, não a nossa desistência em viver segundo a vontade de Deus.

4. LEVANDO O NOME DE DEUS A SÉRIO
Deus leva a sério seu próprio nome. Nós devemos levá-lo a sério também. Ele tem amor por seu nome. Nós devemos ter este mesmo amor também.

4.1. Votos sérios
Levemos Deus a sério esforçando-nos para seguir os compromissos que firmamos com Ele.
Lembremos do conselho bíblico: Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. O que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votares e não pagares (Eclesiastes 5.4-5).
A percepção verdadeira da misericórdia de Deus não pode ser um convite ao cinismo,  porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão (Êxodo 20.7b).

4.2. Deus em cena
Levemos Deus a sério aplicando em nossas vidas o que portamos (um crucifixo ou um exemplar da Bíblia).
Se carregamos um crucifica, devemos viver o que este símbolo significa, esvaziando-se dos desejos dos nossos corações, para que os nossos desejos sejam os desejos da cruz de Cristo implementada em nossas corações.
Façamos uma revisão de nossas expressões “Se Deus quiser”, “Graças a Deus”, “Deus te abençoe”. Elas não podem ser forças de expressão, mas expressões da força de Deus. Que Seu nome flua de nossos lábios, mas não como descuido, mas como expressão de fé e prazer.

4.3. Buscas vitais
Levemos Deus a sério querendo-O como nosso Senhor. Pronunciemos o nome de Deus e O queiramos como nossa maior paixão. Seja o início e o fim de nossas buscas. Não o aprisionemos, achando-O ter encontrado por completo. Deixemos que Ele nos aprisione, para que O encontremos ainda mais.
Não busquemos apenas as suas bênçãos, mas o Seu glorioso ser. Estamos todos marchando para aquele dia em que o veremos face a face. Enquanto isto, devemos buscar para conhecer mais da Sua face aqui e agora. Ele quer se revelar a nós. Ele nos quer abençoar e ir embora. Ele quer ficar conosco. Muitos, no entanto, estamos como aqueles discípulos do caminho de Emaús: Jesus veio ao encontro deles, mas não o reconheceram. Não temos, aprendemos neste texto, capacidade para reconhecer a plenitude de Deus. Sejam como aqueles discípulos que, depois de terem reconhecido o seu Senhor, pediram para que ficasse com Eles. Tem sido esta a nossa oração, ou temos nos consolado com migalhas de presença divina?

4.4. O compromisso da coerência
Levemos Deus a sério comprometendo as nossas vidas com Ele. Amemos Deus ao ponto de queremos viver para dar glória ao seu nome, com as nossas vidas, custe o que custar. Honremos o nome que pronunciamos.
Deus honra o seu nome, no sentido que faz tudo quanto diz. Quando buscava trazer de volta o seu povo, Ele dizia: Por amor de mim, por amor de mim o faço; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória não a darei a outrem (Isaías 48.11). Por amor do meu nome retardo a minha ira, e por causa do meu louvor me contenho para contigo, para que eu não te extermine (Isaías 48.9). O que fiz, porém, foi por amor do meu nome, para que não fosse profanado à vista das nações, no meio das quais eles estavam, a cujos olhos eu me dei a conhecer a eles, tirando-os da terra do Egito (Ezequiel 20.9).
Parecemos de selecionar apenas trechos da Palavra de Deus que nos apaziguam, para nos nos concentrar também naqueles que nos fustigam. Precisamos de um Deus que vai conosco onde quer que estejamos, mas precisamos saber que Deus nos põe limites para  o nosso próprio bem.

5. CONCLUSÃO
Que todos nos lembremos que Deus não é um ser qualquer. Porque é ele o que forma os montes, e cria o vento, e declara ao homem qual seja o seu pensamento, o que faz da manhã trevas, e anda sobre os lugares altos da terra; o Senhor, o Deus dos exércitos é o seu nome (Amos 4.13).

Que a promessa bíblica ecoe em nossos corpos: Para vocês que reverenciam o meu nome, o sol da justiça se levantará trazendo cura em suas asas. E vocês sairão e saltarão como bezerros soltos do curral (Malaquias 4.2).

Que a meu respeito e a seu respeito Ele possa dizer desde agora, no último julgamento que verdadeira importa: Conheço as tuas obras (eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar), que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome (Apocalipse 3.8).

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