Romanos 13.11b-14: REVESTIDOS DE JESUS CRISTO

REVESTIDOS DE JESUS CRISTO

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Romanos 13.11b-14

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

Escreve-nos o apóstolo Paulo:

1. “Chegou a hora de vocês despertarem do sono” (verso 11b).
Dorme o cristão que perdeu a perspectiva da salvação como tendo ocorrido no passado, desenrola-se no presente e se completa no futuro. No passado, ela se manifestou como justificação. No presente, ela se desenvolve como santificação. No futuro, ela se mostrará como glorificação. (John Stott)
Se estamos descansando com a salvação operada por Jesus Cristo na cruz, num dia radioso de alegria que não existe mais, estamos dormindo. Salvação tem um poder operativo hoje.
Se fomos salvos, mas vivemos premeditando como satisfazer os desejos da carne, feitos de orgia, bebedeira, imoralidade sexual e depravação, perdemos a oportunidade de nos parecermos cada dia com Jesus. Ele enfrentou tribulações, mas as venceu. Seus seguidores seguem o mesmo itinerário.
Se, como cristãos, não nos vemos como peregrinos que um dia seremos glorificados, assim, seremos salvos, – oh maravilhoso amor de Deus! -, como que pelo fogo (1Coríntios 3.15). Não assistiremos ao mundo sendo julgado (Lucas 22.30), mas ainda assim seremos salvos, por causa do decreto imutável de Deus.
Se não nos vemos como peregrinos, não queremos ser glorificados, por estarmos satisfeitos com a vida que levamos, só por causa de algum mísero prazer que hoje sentimos. Prazer que é uma lentilha diante de um prato cheio. Prazer que dura um minuto do relógio da eternidade. Ah como somos Esaú!

2. “A nossa salvação está mais próxima do que quando cremos” (verso 11c).
A nossa salvação está mais próxima porque já passamos o tempo em que ela se manifestou como justificação, que foi quando cremos em Jesus Cristo como Salvador. Estamos no tempo da santificação e chegará o tempo da glorificação. A salvação mais próxima, referida pelo apóstolo Paulo, é a salvação-glorificação. Alguns poderiam pensar que a salvação depende daquilo que fazemos, mas ela depende tão só da graça de Deus. A salvação-justificação já aconteceu. Nunca mais seremos condenados, porque já fomos absolvidos.
A salvação-glorificação é para ser desejada. Deseja-a quem diz: “com toda a determinação de sempre, também agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida, quer pela morte; porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Filipenses 1.20-23).
Deseja-a quem não tem a volta de Jesus Cristo como tardia, como se Ele não cumprisse as suas promessas (2Pedro 3.9). Vivemos extremos equivocados: de um lado estão os irritantes calendaristas, sempre vasculhando sinais para tentarem datar a vinda próxima de Jesus Cristo; para eles, tudo é escatologia: uma guerra, uma fome, um terremoto. Jesus mesmo não sabia quando haveria de voltar; Paulo não sabia; Pedro não sabia; mas eles querem  saber, ou melhor, eles dizem que sabem. De outro lado, estão aqueles que têm certeza de que Jesus, quando voltar, não os encontrará vivos, porque certamente vai demorar muito para isto acontecer. Para eles, nada é escatologia; tudo é natural e não tem nenhum significado espiritual mais profundo, além da superfície.
A história está sob o controle  de Deus. Ele a está escrevendo. Seu ápice é a volta de Jesus Cristo. Quando ele voltar, os que estiveram vivos serão glorificados. Os que estiverem mortos serão ressuscitados com um corpo glorificado. Esta esperança é essencial. Por melhor que seja a vida que vivamos, ela não passa de uma imagem do que será a vida plenamente eterna.

3. “A noite está quase acabando; o dia logo vem” (verso 12a).
Por melhor que seja a nossa vida aqui, ela está plena do poder da queda, aquela que o pecado original provocou.
Há algumas certezas na minha vida pessoal: não consigo não pecar. Eu sou um pecador. Quando olho para a humanidade, vejo que não estou sozinho.
“Noite” é o nome deste período em que vivemos. Depois vem o dia, o Dia do Senhor, o dia em que o Senhor será finalmente reconhecido como Senhor, o dia em que a Luz será plena. Para quem é salvo, é certo que o dia virá. A noite existe, mas não será definitiva. Para quem não é, não há dia; a noite será eterna.
“O dia logo vem”. Nenhum cristão precisa se desesperar.
“A noite está quase acabando”. Nenhum cristão precisa se sentir tentado a fazer o que se faz à noite. Há mais crimes de noite do que de dia porque as trevas permitem o anonimato, próprio para o ataque e para a fuga. Mas a noite — graças a Deus — vai acabar.
O cristão precisa tomar cuidado para não ceder à tentação de viver a noite, como se não fosse do dia, já que foi resgatado da noite (isto é, das trevas) por Jesus para a Sua maravilhosa luz (1Pedro 2.9). Ele pode ser um agente duplo, mas não deve. Quando está com os que são do dia, pratica o que é próprio do dia, mas seu coração arde de desejo pelos desejos próprios da noite, que Paulo arrola como sendo orgias, bebedeiras, imoralidade sexual, depravação, desavença e inveja (verso 13). Já justificado, o cristão está no tempo da santificação, a caminho do tempo da glorificação. A noite, mesmo que iluminada pela sedução, não é nosso tempo. É por isto que a Bíblia propõe: “Deixemos de lado as obras das trevas e revistamo-nos da armadura da luz” (verso 13). Não fiquemos “premeditando como satisfazer os desejos da carne” (14b).

4. “Revistam-se do Senhor Jesus Cristo” (14a).
O que significa esta expressão: revestir-se do Senhor Jesus Cristo?

Revestir-se do Senhor Jesus Cristo é vestir-se da armadura de Deus.
Em outro lugar, o mesmo apóstolo nos recomenda: “Fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham-se firmes”.
Em seguida, o apóstolo descreve como é esta armadura: vistam-se com “a couraça da justiça” e tenham “os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Efésios 6.10-17).
A armadura de Jesus, o Filho de Deus, é própria para cada um de nós. A armadura de Jesus não é a que Jesus usa. É a que nos dá, Ele mesmo, para as lutas da vida. Viver é lutar. A armadura de Jesus não é como a de Golias, aquele gigante do Israel antigo, enfiada no corpo de Davi, um jovem (1Samuel 17-18). Ao contrário, a armadura de Jesus, usada pelo crente, é utilizável pelo cristão. Seu corpo é igual ao de Jesus, de quem é irmão. Não somos co-herdeiros com Ele? (Romanos 8.17; Tito 3.7).

Quando nos recomenda que nos revistamos de Jesus, Paulo usa o nome completo do Mestre: Senhor Jesus Cristo (Kyrios Iesus Cristos). E ele o faz propositalmente, com acontece em outras 60 vezes no Novo Testamento, 48 das quais em Paulo, para exaltar Aquele que nos protege e que nos supre, por nos amar. Assim, revestir-se do Senhor Jesus Cristo é confiar no Senhor como nosso protetor; é esperar em Jesus como aquele que supre todas as nossas necessidades; é amar a Cristo como o maior tesouro da nossa vida. 
A idéia de que devemos nos vestir com a armadura de Deus, isto é, com a armadura que Deus prepara para nós, é destacada pelo apóstolo Paulo em outras cartas.
Ao Efésios ele recorda: “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade” (Efésios 4.22-24). A armadura de Deus é uma armadura nova; não é uma armadura natural, mas espiritual; não aquela da nossa inteligência ou esperteza ou força. Não é a armadura da ansiedade; é a armadura de quem se entrega e se deixa vestir. Quem veste a armadura de Deus se assemelha a Deus, porque seu conteúdo não é ferro ou bronze, mas justiça, santidade e verdade.
Aos 1Tessalonicenses, ele traz à memória dos crentes o seguinte: “Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Tessalonicenses 5.8-9). A couraça divina, oferecida a nós, é feita de fé, amor, esperança. Estas são as armas ao dispor de quem quer.
Com os Colossenses, Paulo parece mais preocupado: “Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador” (Colossenses 3.9-10).
Por fim, ele assim descreve os gálatas: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram” (Gálatas 3.26-27). Que assim nos permitamos descrever também.