Êxodo 33: A VERDADEIRA GLÓRIA

A VERDADEIRA GLÓRIA

Êxodo 33

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 18.4.99, noite

1. INTRODUÇÃO
Por força da natureza autocentrada da oração, o mais comum é pedirmos para que Deus nos abençoe, dificilmente para que Ele brilhe.

2. O DEUS A QUEM ORAMOS
A experiência de Moisés nos ensina quem é Este Deus a Quem oramos.

2.1. Deus não convive com pessoas insubmissas (v. 3).
Ele impõe condições para atuar; não vai conosco como se fosse uma obrigação decorrida do seu amor. Essas condições são: disposição para a fidelidade/exclusividade a Deus; disposição para a santidade (a experiência da sarça ardente — Ex. 3.3) diante dele; disposição para ouvir a sua voz.

2.2. Deus tem profundo interesse pelos projetos humanos (v. 14a).
Ele anda conosco (vv. 16 e 23). Se Ele não for conosco, é melhor não ir. É uma pena que muita gente prefira caminhar sozinho… É sua presença de Deus que permite que descansemos (v. 14b). Descanso aqui não é ausência de trabalho; é ausência de ansiedade.

2.3. Deus nos conhece pelo nome (v. 17).
Ele é bondoso, misericordioso e compassivo. Num delicioso paradoxo, Deus é apresentado por Moisés como sendo “fogo consumidor” (Dt 4.24) e excessivamente “compassivo” (Dt 4.31). Diante do pecado, Ele é fogo que consome. Diante do pecador arrependido, Ele é fogo que aquece, acolhe e purifica.  Ele atende nossos pedidos mais profundos (v. 17).
Deus nos conhece pelo nome. Na literatura hebraica, isto quer dizer que nos conhece profunda e intimamente, já que o nome de uma pessoa tinha a ver com sua identidade.

2.4. Deus se apresenta a nós como mistério (vv. 11 e 20).
Não podemos ver sua face, isto é: não podemos contemplá-lo na sua inteireza. Permanece, portanto, o mistério do seu ser (vv. 11 e 20). Há uma aparente “contradição” entre os vv. 11 e 20. No v. 11, Deus e Moisés se encontravam face a face, no sentido de que havia uma perfeita intuição espiritual e intelectual (Maimônides) por parte de Moisés. Era um diálogo existencial. No v. 20, a face é mais que sua essência: é Ele mesmo (Chouraqui). Trata-se de uma decorrência natural da sua existência. A Este não vemos.
Deus é mistério. [A importância da dimensão do mistério.] Não podemos apreender toda a inteireza de Deus; se o fizéssemos, Ele não seria absoluto ou nós o seríamos. O mistério nos mostra nossa limitação, que é a essência mesma da nossa condição.

3. O CONTEÚDO DA ORAÇÃO
Não existe uma fórmula para a oração, uma vez que ela é a essência de nosso desejo diante de Deus. No entanto, a experiência de Moisés nos mostra como devemos nos dirigir a Deus, não quanto ao aspecto formal, mas quanto a sua dimensão essencial.

3.1. Devemos buscar, pela oração, intimidade com Deus (v. 13).
Nossa oração deve ser para conhecer a Deus; para conhecer o modo de Deus agir (“teus caminhos)”; para que Deus faça habitação em nossas vidas, de modo que não precisemos mais de intermediários; para que adquiramos a mente de Deus (vivendo segundo os seus valores e não segundo os nossos); para que tenhamos interesse nos propósitos de Deus, colocados como primeiros, para nossas vidas.
Esta intimidade pode custar caro à nossa individualidade, seja porque nossa vontade deixa de ser insubmissa, para se submeter aos caminhos determinados pela comunhão com Ele, seja porque marca uma diferença em relação ao estilo de vida predominante. Moisés experimentou isto. Seu rosto brilhava. Como o de Moisés, o rosto de quem ora brilha e ela passa a ter dificuldade para se comunicar com as demais pessoas (34.29). Não se confunda isto com aqueles que posam de santos. O brilho da glória de Deus aponta para Deus  e não para qualquer um de nós.

3.2. Devemos convidar a Deus para fazer parte do nosso projeto de vida (v. 15).
Nossa oração deve ser para que Deus não nos permita desenvolver nenhum projeto em que não esteja. Sejamos mais duros: para que nos proíba estar onde Ele não estiver. Nossa oração tem que ser um escândalo, pois em nosso mundo, altamente secularizado, orar assim é para poucos, porque aprendemos a confiar no trabalho, na sociedade, na igreja, na tecnologia, em tudo, menos em Deus.

3.3. Devemos orar pelos outros (v. 13).
Nossa oração deve ser por nós mesmos, para obter o favor de Deus e conhecer o seu caminho,  mas também pelos outros. Como temos insistido, a verdadeira oração é a oração intercessória. Todo o esforço de Moisés não era por e para si, mas por e para seu povo. Até mesmo a oração para si era para os outros: o que pediu para si era para melhor conduzir seu povo.
A melhor oração que você pode fazer é por esta igreja, pelo ministério dela neste mundo e pela saúde física, mental e espiritual dos seus membros. Por isto, que tal cada um de nós ter uma agenda ou lista de oração. Não há nada mágico na lista; é apenas pra gente não esquecer. Se não quiser, anote no boletim. Tome a relação dos aniversariantes, ligue para eles. Tome os avisos e ore pelas atividades da igreja.

3.4. Devemos pedir para ver a glória de Deus (v. 18).
Ver glória de Deus é sentir a sua presença em nossos caminhos e não apenas na igreja. Deus está aqui, mas não será glorioso se não estiver em todos os momentos de nossas vidas, estejamos onde estiver. A visão judaica da presença de Deus na nuvem, no tabernáculo e no templo foi superada, pois todo lugar é lugar de oração, é lugar para se ver a glória de Deus.
Ver a glória de Deus é contemplar sua beleza. Conforme Gênesis 1, cada ato de sua criação, Deus via que tinha ficado bom (bonito). De igual modo, cada ato de Deus em nossas vidas deve ser visto como bom e bonito. [A bobagem do “Oh! Glória!”.] A glória de Deus não é sua carranca (sisudez). A face de Deus não é feia. É beleza. Não existe beleza maior. Foi por isto que quando Moisés desceu do monte, seu rosto brilhava. Sua beleza excedia tanto que ofuscava quem olhasse para ele (34.29-35).
Ver a glória de Deus é reconhecer sua diferença em relação a nós. Ele é, de fato, o totalmente outro. Ninguém pode compreende-Lo completamente.  Foi por isto que Moisés não pôde vê-Lo. Moisés talvez imaginasse a Deus como uma pessoa de carne e o osso, como os deuses de então. Não havia o que ver: Ele era totalmente diferente. Ele é totalmente diferente, pelo que jamais o veremos, exceto naquilo que nos quer mostrar.
A realidade da sua presença, da sua beleza e da sua diferença não nos deve desanimar, mas, antes, nos mover a viver buscando a sua glória.

4. O QUE ACONTECE QUANDO ORAMOS
Deus responde ao nosso pedido (mesmo para que Ele se manifeste) ao modo dele.

4.1. A resposta de Deus sempre vem.
A experiência de Moisés o demonstra em todo o Pentateuco.

4.2. A resposta de Deus pode parecer um “não” (v. 19)
A vida de Moisés foi uma caminhada constante em direção a Deus. Ele agora queria o máximo, o máximo de presença. Ele não sabia o que estava pedindo. Se Deus lho concedesse, ele morreria. Como Moisés, nem sempre sabemos pedir; é por isto que Deus não nos concede as coisas do modo como pedimos, que podem parecer para nosso bem.
Moisés queria ver a glória de Deus e Moisés a viu, não do modo que ele achava ser esta glória. É assim que Deus age conosco, mas como é difícil entender!

4.3. A resposta de Deus pode ser até mesmo um claro “não” (v. 20)
O sonho de Moisés, de entrar na terra prometida, não foi alcançado. Deus não lho permitiu. Deus sabia que o líder Moisés do deserto não seria o mesmo líder Moisés da terra conquistada. Sim, Deus tem o direito de dizer “não” (v. 20).
Devemos continuar fiéis a Ele mesmo quando isto acontecer, porque se fez assim é porque é melhor para nós.

5. CONCLUSÃO

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