GRAÇA: O DEUS DA GRAÇA

Quando procuramos nos apresentar diante de Deus de modo irrepreensível, pedindo que remova de nós o que O leva a se afastar de nós, começamos a entender que o sentido da vida está em louvar a Deus, celebrando-Lhe a glória.
Certamente não temos dificuldade em pensar que nossa vida aqui deve ser experienciada na antecipação de um tempo quando o Deus escondido se tornará o Deus evidente. O Deus que parece encoberto pelo silêncio e pelas trevas se tornará o Deus da glória, com eloqüência e brilho. A sua glória, quando Cristo reinar de modo absoluto, será tal que todos a verão e todos Lhe baterão palmas e todos Lhe entoarão as mais belas canções de amor.
Nossa dificuldade é como viver hoje para o louvor da glória de Deus. Paulo, por exemplo, vivia aquilo que pregava? Tanto quanto nós, ele desejava viver para louvar a glória dAquele que deu sentido à sua vida.

1. DEUS É AQUELE QUE COMEÇA, APERFEIÇOA E COMPLETA SUA OBRA EM NÓS
Deus está aperfeiçoando a obra que começou em nós (Filipenses 1.1-6; Efésios 1.13-14)
A graça de Deus nos torna cooperadores (colaboradores, co-realizadores) da Sua obra no mundo (Filipenses 1.5). Esta obra se desenvolve na contramão dos interesses dos nossos contemporâneos, e mesmo de nossos próprios interesses, que são naturalmente outros. Como a obra Lhe pertence, Ele nos capacitará a levá-la até o fim, apesar dos nossos ouvintes e apesar de nós mesmos.
Além disso, a graça de Deus é uma espécie de garantia prévia da Sua presença conosco, para nos conduzir em triunfo até o fim de nossas vidas,  vitória que não se dá é segundo as regras deste mundo, mas conforme os valores do Alto (Colossenses 3.1). A graça é, portanto, um selo de qualidade sobre nossas vidas.
Desde sua inacabada viagem a Damasco, a experiência de vida do apóstolo Paulo é um exemplo desta verdade. Quando impediu que Saulo chegasse ao seu projetado destino de ódio, Deus começou nele, com a concordância dele, uma obra de transformação que só terminaria com a sua morte. Sua nova vida foi uma trajetória de lutas, feitas de espinhos, açoites, prisões e naufrágios, e também de vitórias, constituídas pela compreensão da natureza do mistério de Deus, pela proclamação deste mistério a um número imenso de pessoas de lugares mais distantes e pela edificação de comunidades inteiras no amor de Jesus Cristo, incluindo-nos tantos séculos depois. No entanto, o resultado maior da obra de Deus na vida de Paulo foi ter-lhe ensinado o que muitos cristãos ainda precisamos alcançar: viver pela graça. Quem pode dizer, como ele? Sei passar falta e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece (Filipenses 4.12-13) Ao final de sua vida, ele pôde afirmar, com alegria: Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé (2Timóteo 4.7). Deus sempre termina o que começa.
Pedro foi outro apóstolo que combateu o bom combate de Cristo. Ele demorou a aprender, mas Deus começou e terminou Sua obra no apóstolo que tem o temperamento de muitos de nós. Entre altos e baixos, como também acontece conosco, talvez tenha pensado que sua oportunidade de servir ao Senhor tenha terminado quando negou, por três vezes, conhecer a Jesus (Mateus 26.75). No seu último encontro, contudo, ele teve novamente a oportunidade de declarar seu amor e seu compromisso para com Cristo (João 21). Quando ele confessou que Jesus era o Messias (Mateus 16.16), teve início uma obra na sua vida. Quando ele liderou a igreja na sua gênese (Atos 1-8), Deus continuou Sua obra nele. Deus só escreve obras completas.
Abraão é outra prova de como o Senhor age conosco. Quando Deus lhe pediu em sacrifício seu único filho, filho nascido após um tempo longuíssimo de oração e como cumprimento a uma dramática promessa, Abraão deve ter achado que a sucessão de bênçãos em sua vida ia se encerrar. Quando viu o carneiro para ser sacrificado em lugar do seu menino, ele entendeu que Deus não faz nada pela metade (Gênesis 22).
Esta verdade, contudo, tem o seu clímax na história familiar deste mesmo Isaque (Gênesis 25). Abraão enviou seu empregado Eliezer para buscar uma esposa para seu filho. Deus orientou o mordomo de Abraão passo a passo, até encontrar Rebeca, com quem Isaque se casou. Só que, tristeza das tristezas, Deus lhe deu uma mulher estéril, portanto, incapaz de lhe dar uma descendência. Isaque, em lugar de reclamar da bênção maldita, orou, durante longos 20 anos (Gênesis 25.26), por sua fertilidade. A história terminou, como sabemos: o Senhor lhe ouviu as orações e Rebeca, sua mulher, concebeu (Gênesis 25.21). Isaque sabia que o Senhor completaria a obra que tinha começado.
O Deus de Abraão e Isaque, a Quem Pedro e Paulo servia e a Quem nós servimos, não deixa sua obra pela metade. Embora não mereçamos, Ele nos torna idôneos (capazes, prontos) para receber a herança celestial comum a todos os santos. E nós fruímos esta herança desde agora, embora parcialmente, já que estamos sendo transformados dia a dia na imagem do próprio Cristo (2Coríntios 3.18).
Isto nos acontecerá porque temos o selo do Espírito Santo estampado em nós (Efésios 1.13). Porque cremos em Deus, a promessa feita (de nos completar) se realizará. Em Efésios 1.14, o apóstolo usa uma figura do mundo dos negócios financeiros para ilustrar como Deus age. A prática do penhor bancário é antiga e persiste até os dias de hoje.
Uma das modalidades tem a ver com o oferecimento de garantias ao banco por quem tem bens imóveis. Assim, se você vai a um banco tomar dinheiro emprestado, precisa demonstrar que tem condições de honrar o compromisso assumido. O banco exige que o interessado tenha bens suficientes para pagar o empréstimo. Se a pessoa não tem bens, seu fiador precisa ter. Se não houver pagamento, o banco fica com estes bens, vende-os e liquida a dívida. O banco não pode perder. Por isto, ele penhora ou hipoteca esses bens, para se garantir. Jesus é a garantia de nossa vida. Ele se ofereceu ao Pai como nossa garantia. Nós podemos falhar, mas nossa herança nos será entregue, porque Jesus a garante.
Outra modalidade tem a ver com o oferecimento de jóias ou pedras preciosas em penhora. A Caixa Econômica Federal brasileira, por exemplo, empresta dinheiro, desde que o tomador deixe nos seus cofres objetos no valor correspondente à importância solicitada, já descontados os juros. Ao final do período, o tomador comparece ao banco, devolve o dinheiro que pegou e tem de volta as suas jóias penhoradas. Nós somos propriedade de Deus. Esta propriedade trocou de mãos (do Senhor da luz para o imperador das trevas) por um tempo, mas Deus a resgatou por meio de Jesus Cristo, que é o penhor da nossa herança (Efésios 1.14) de glória.
Ainda não vemos, nem na história geral nem em nossa história particular, a manifestação completa desta glória. Pela fé, no entanto, nós a vislumbramos. E só a vemos porque o Espírito Santo do Pai e do Filho já imprimiu em nós o selo da justificação e da santificação.
Esta é a realidade de todos os santos até os dias de hoje: somos criações da graça de Deus, mas ainda não vivemos esta graça em toda a sua plenitude. Como nos ensina o mesmo apóstolo em outro texto (Romanos 8.22-23), a graça já nos alcançou, mas ainda não se consumou, razão por que ainda gememos e suportamos as angústias próprias dos seres humanos. Mesmos os portadores das primícias do Espírito, aguardamos o  tempo da redenção final, quando a obra será completada.
O Espírito Santo nos sussurra ao ouvido, com sua linguagem própria (Romanos 8.26), que já fomos resgatados e seremos resgatados. A obra da redenção foi realizada DE UMA VEZ POR TODAS, mas vai também se manifestando AOS POUCOS em nossa vida diária (santificação) para se completar DEFINITIVAMENTE no final dos tempos, quando Cristo for tudo em todos. Hoje Ele é tudo em alguns, mas virá o tempo que reinará sobre todos. Hoje Ele é tudo em parte de nós, mas virá o tempo em que comandará cada célula do nosso ser. Eis o que esperamos, esperança que o Espírito Santo alimenta a cada dia, ao nos sustentar.
Este é sentido da afirmação paulina: Deus está aperfeiçoando, continuará aperfeiçoando, para torná-la completa e nos tornar completos, a obra de salvação (transformação) que começou em nós e a obra do cuidado que exerce sobre nós. Nisto consiste sua bênção sobre nossas vidas.

2. DEUS  É AQUELE QUE NOS ALCANÇA COM TODA A SORTE DE BÊNÇÃOS (Efésios 1.3)
Por este conjunto de operações em nosso favor, devemos bendizer o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente porque Ele nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo (Efésios 1.3)
Há um conjunto de bênçãos, que podemos ver como plurais, mas que são uma só, expressa em vários sinônimos. Nesta seção (Efésios 1.1-23), que se constitui num dos mais lindos e profundos poemas em prosa de toda a Bíblia, o apóstolo Paulo descreve a excelência do ministério de Jesus Cristo em nosso favor. Este texto é mais uma evidência do desejo divino máximo: que todos os homem se salvem a partir do conhecimento da verdade revelada (1 Timóteo 2.4).
Deus nos abençoa com todo tipo de bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo. Esta expressão quer dizer que todas as bênçãos concedidas por Cristo são espirituais, no sentido que abarcam toda as dimensões da vida, inclusive aquelas que classificamos como materiais. Tudo que provém de Cristo é espiritual, seja no plano eclesiástico, no plano financeiro, no plano biológico ou no plano moral. Estas bênçãos são espirituais porque nascem nas regiões celestes (isto é, no mundo espiritual), onde não entram as coisas próprias da natureza humana, e nos alcançam aqui, onde por enquanto vivemos. Estas bênçãos são espirituais também porque não podem ser medidas por parâmetros naturais, senão espirituais. Compreenderemos plenamente a natureza dessas bênçãos quando estivermos habitamos nas regiões onde são concebidas pelo Espírito de Deus.
Podemos enumerar essas bênçãos, priorizando aquelas que são o fôlego de nossas vidas.

1. A primeira dessas bênçãos é a própria graça de Deus.
Contra toda a lógica da justiça dos homens, mas coerente com a lógica do direito do Reino de Deus, a redenção (Efésios 1.4) —  que é o ato de Deus nos tirar do império do medo — não custou nada aos homens, embora tenha custado a vida do próprio Deus em Cristo. Este projeto divino, com sua dramática realização, em que Jesus pagou o preço do resgate — sua própria vida — ao Seqüestrador de nossas vidas, aquele que veio para roubar e matar, tem um nome: graça.
Cristo é o ponto final da revelação de Deus. Por meio dEle, o amor, que a alguns podia parecer vago (apesar da Páscoa, do deserto e da conquista), tornou-se absolutamente completo. Ele veio na plenitude dos tempos. O foco da história é Cristo.
(Isto quer dizer que Ele veio na hora que a Trindade julgou a mais propícia para o que o “espetáculo” da cruz fosse realmente mundial, como de fato aconteceu em função das condições geográficas, políticas e econômicas do primeiro século da era depois denominada cristã.)
E como é triste que tantas pessoas se afundem na tristeza, alguns tirando a sua própria vida, por falta de graça no seu presente e no seu futuro! Um dia desses soube de um médico bem sucedido, que tantas vidas salvara com suas cirurgias, pôs fim à sua própria existência, para surpresa de todos. Comparei o seu gesto com outros que conheço. Porque salvos e sustentados pela graça, suportam dolorosos espinhos na carne (e eu me refiro especialmente a pessoas que portam doenças severas por longo tempo). Não só estão vivos, como lutam contra a enfermidade e agradecem diariamente a Deus cada bênção recebida, mesmo que só eles ou os mais próximos percebem. Diferentemente, aquele era um homem que ainda não se deixara alcançar pela graça, graça que Jesus fez jorrar, a partir da cruz, sobre todos os que a aceitam. Em Sua sabedoria, Deus sabia que esta era (e é) a única forma que tinha/tem para alcançar os seres humanos, mas Ele o fez (e faz) com prudência, isto é, com o cuidado de considerar a vontade humana. Este é o único lugar onde Ele não entra sem permissão: o coração. A graça é para todos… os que a aceitam. Deus não a barateia, fazendo com que jorre indistintamente para os que a querem e para os que não a querem. Ele não lança sua pérola (sim, a salvação é uma pérola de grande valor) aos porcos (Mateus 7.6).
Ao nos redimir, Deus revelou o mistério de sua vontade, isto é, Ele deixou bem claro o seu propósito de modo a não haver qualquer dúvida acerca do Seu desejo. A cruz foi a demonstração pública da vontade de Deus. Diante dela resta aos homens dobrar os seus joelhos. Se esta vontade parecia escondida, a encarnação (nascimento, vida, morte e ressurreição) de Jesus Cristo foi/é a mais completa publicação do seu conteúdo.

Somos, então, alcançados com, pelo menos, quatro outros tipos de bênçãos espirituais, e porque espirituais, só inteligíveis e fruíveis por quem é espiritual. Eis o que diz de nós o apóstolo Paulo:

nosso Senhor Jesus Cristo (…) também nos elegeu nele antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;
e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,
segundo o beneplácito de sua vontade,
para o louvor da glória da sua graça,
a qual nos deu gratuitamente no Amado.
(Efésios 1.3-6)

2. A segunda bênção é o fato de termos sido adotados por Jesus Cristo.
Quando aceitamos esta graça, somos adotados como filhos de Deus. Sermos adotados significa que não somos mais órfãos. Quando dominados pelo pecado, temos um senhor. Este senhor foi destronado e não tem mais domínio sobre nós. Tínhamos um senhor.
O instituto divino da adoção pode ser melhor entendida se comparada às cenas de um resgate de seqüestro de duas senhoras no interior de São Paulo (março de 2002). Elas foram encontradas amarradas e amordaçadas numa floresta. Resgatadas pela polícia, foram levadas de helicóptero. A chegada foi acompanhada de lágrimas. Elas chegaram em casa. Finalmente elas voltaram para casa. Houve um hiato, certamente ainda com muito sofrimento, entre o tempo quando foram libertadas e o tempo quando voltaram para casa. Foram dois momentos inesquecíveis.
A volta para casa é a adoção, de que fala a Bíblia. Desde antes da fundação do mundo, estávamos destinados a sermos filhos de Deus. No entanto, demos outro destino a nossas vidas. Deus, como o pai da parábola do filho pródigo, ficou com os olhos “compridos” esperando a nossa volta. Diferentemente do pai do filho pródigo, o Pai celeste não ficou apenas esperando a volta, mas veio nos encontrar. Como estávamos seqüestrados pelo pecado, Ele nos tomou, dando como resgate a vida do seu próprio Filho. Depois, nos recebeu em sua casa, aceitando-nos de novo como seus filhos. É por isto que Jesus fala em regeneração. Somos gerados outra vez para entrarmos de novo na casa que era nossa e que abandonamos. O nosso Senhor nos acolhe.

3. A terceira bênção é a capacitação para sermos santos e irrepreensíveis.
Entre os muitos conceitos comuns às cartas aos Filipenses, aos Colossenses, aos Gálatas e aos Efésios, um dos mais inspiradores é o título que recebemos da mente do apóstolo Paulo: nós somos santos: santos em Cristo Jesus (Filipenses 1.1), santos e fiéis irmãos em Cristo (Colossenses 1.2; Efésios 1.1).
Não podemos esquecer que somos santos porque fomos desarraigados (tirados desde a raiz) do mundo perverso (Gálatas 1.4) em que vivíamos. Tão enraizados estávamos no império do pecado que a obra de Deus em nós foi uma autêntica libertação, pela qual Ele nos transportou para o reino do Filho do seu amor (Colossenses 1.13). Diante desta graciosa intervenção, cabe-nos constantemente dar glória pelos séculos dos séculos (Gálatas 1.5) a Quem nos resgatou.
O apóstolo Paulo se alegra com os santos da igreja em Filipos, especialmente por que se dedicavam à pregação do Evangelho de Jesus Cristo (Filipenses 1.5), mas ele sabe que os santos precisam de suas orações. Por isto, não deixa de interceder por eles todas as vezes que se põe diante do Pai (Filipenses 1.4), porque é Ele quem nos torna irrepreensíveis.
Paulo tem um vocabulário muito forte. Ele diz que fomos chamados para desenvolver uma vida irrepreensível. Em outros lugares dessas cartas, Paulo insiste que devemos nos apresentar como uma igreja santa e irrepreensível (Efésios 5.27), que devemos nos tornar irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus imaculados no meio de uma geração corrupta e perversa (Filipenses 2.15).
O fato de sermos santos pode nos encher de vaidade e até de irresponsabilidade. Já somos salvos, resgatados, separados, e nada pode mudar esta nossa condição. Somos santos por uma ação de Deus em nós, o que nos deve encher de prazer. Varias vezes no Novo Testamento (e não apenas em Efésios 1.4), o adjetivo “santo” é acompanhado por outro: “irrepreensível”, que quer dizer “sem defeito”.
A expressão sem defeito aparece 45 vezes nas instruções sobre sacrifícios de animais. Antes de sacrificar um animal em culto, o adorador devia verificar se não havia defeito nele. A razão é simples: conhecedor da natureza humana, Deus sabia que o homem tenderia a “separar” para Ele animais imprestáveis, defeituosos ou moribundos. Os sacrifícios de animais foram abolidos pelo sacrifício de Jesus Cristo.
No entanto, permanece o princípio. Por causa de Cristo, podemos agora oferecer nossos corpos como sacrifícios vivos, e nossos corpos continuam vivos. Esses corpos precisam ser sem defeito. Ao adorarmos, temos que olhar para nós mesmos e ver se estamos sem defeito, irrepreensíveis. Se reconhecemos algum defeito (algum erro, algum pecado), devemos nos arrepender. Sem confissão não há perdão. Sem perdão não há adoração. Sem adoração não há bênção. Por isto, a oração de quem foi alcançado pela graça não pode ser outra senão esta: “Sonda-me, oh Deus”.

Sonda-me, o Deus, e conhece o meu coração;
prova-me, e conhece os meus pensamentos;
vê se há em mim algum caminho perverso
e guia-me pelo caminho eterno.
(Salmo 139.23-24)

4. A terceira bênção é podermos viver para o louvor da sua glória
Nisto consiste o sentido da vida: louvar a glória de Deus e fruir as boas coisas da vida, que não são incompatíveis.
A propósito, a palavra glória aparece cinco vezes em Efésios 1 (versos 6, 12, 14, 17 e 18), três das quais integrando a expressão “louvor da glória de Deus”. Que significa ela?

Viver para o louvor da glória de Deus é olhar para Ele. Quando olhamos para nós, nossas forças se esgotam. Quando olhamos para Ele, nossas forças se renovam. Quando permitimos que a Sua glória ilumine os olhos do nosso coração (Efésios 1.18), nós temos uma visão de Deus. Quando temos uma visão de Deus, nossa vida resplandece: nossa vida se torna plena. Precisamos de uma visão do mundo em que estamos, para conhecê-lo e mudá-lo. Precisamos de uma visão de nós mesmos, para nos conhecermos e nos pormos a caminho da mudança. Sobretudo, precisamos de uma visão de Deus, para nos transformarmos e transformar o mundo em que vivemos.

Viver para o louvor da glória de Deus é permitir que Ele remova de nós tudo aquilo que nos afasta de uma vida plena com Ele, com o nosso próximo e conosco mesmos.
O nosso temperamento nos afasta das pessoas? Vivamos para o louvor da glória de Deus, pedindo e permitindo que Ele domine o nosso temperamento.
A nossa vaidade só nos faz ver sucesso, sucesso, sucesso, como se a vida só fosse feita de coisas grandes e não também das pequenas? Vivamos para a glória de Deus consagrando-Lhe todos os nossos labores, profissionais ou eclesiais, não apenas de palavras (em que somos “craques”), mas com sinceridade. Se vencermos, que seja para Deus. Se fracassarmos, que Deus nos abençoe a dar a volta por cima do erro.

Viver para o louvor da glória de Deus é crer no poder dEle para conosco. Iluminados por Ele, somos capacitados a experimentar desde já as riquezas da glória da sua herança para os santos (Efésios 1.18), bem como a suprema grandeza do seu poder (…), segundo a operação da força do seu poder (Efésios 1.19).
Nós temos uma herança a receber, no futuro. No presente, nós temos um poder a sentir, o poder de Deus para conosco. O fato de sermos seus herdeiros, nós, outrora pecadores condenados à morte, é a maior prova do Seu poder.

Viver para o louvor da glória de Deus é viver a vida na sua plenitude, plenitude que implica em só fazer aquilo do qual Deus se agrade, que é frutificar em toda boa obra e crescer no conhecimento de Deus (Colossenses 1.10). Quem vive com um prazer assim, e não como um fardo, não como uma obrigação, este louva a glória de Deus.

5. A quinta bênção é saber que Deus faz todas as coisas convergirem para Ele visando o nosso bem.
Paulo aos efésios diz que Deus fará convergir em Cristo todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra (Efésios 1.10). No final da história, todos os joelhos do universo vão se dobrar gostosamente diante de Jesus e todos os lábios cantarão que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Filipenses 2.10-11). Afinal, Ele terá a primazia em todas as coisas, porque nele reside toda a plenitude (Colossenses 1.16-19).
Todavia, olhando para o nosso país, é o que vemos?
Nós vemos crianças nas ruas, algumas exploradas pelos próprios pais. Nós vemos os hospitais públicos desaparelhado de recursos materiais e humanos. Nós vemos os corruptos se alternando no poder, com os nossos votos, a partir de discursos sempre moralizadores e reformistas. Parecemos ver triunfar a escalada do bonde do mal e não a escada espiralar que converge para Cristo (como antevia Pierre Teilhard de Chardin).
Olhando para o cristianismo, o que vemos? Parece que igrejas e denominações são lideradas por “espertos” (no pior sentido da palavra), que aplicam as regras mercadológicas dos filhos das trevas (Lucas 16.8) não para a glória de Deus, mas para o esplendor financeiro de seus negócios… evangélicos.
Olhando para as nossas vidas, o que estamos vendo? Parece que só conseguimos fazer o que não queremos fazer, levando-nos até a pensar, sacrilegamente, que os padrões de Deus não passam de propostas para nos deixar ainda mais culpados.
Este nosso modo de ver, conquanto verdadeiro, é incompleto.

Vejamos nós ou não, o foco da história é Cristo. O facho de luz que acompanha a história, dos primórdios ao fim, é alimentado pelo brilho de Jesus. Ele não perdeu para a morte. Ele não está perdendo para as forças de morte deste mundo. Ele está vencendo. Mesmo no sepulcro, Ele estava triunfando, preparando a expulsão da pedra que O guardava. Ainda hoje Ele está preparando o triunfo final sobre as pedras da história que tentam inutilmente detê-Lo.
Pelos olhos da fé, podemos ver este triunfo acontecendo, não pelo aperfeiçoamento da espécie, como esperam os holistas em geral, mas pelo poder de Deus em Cristo.
Também pelos olhos da fé, podemos ver o que Deus já está fazendo por meio daqueles que se tornam seus parceiros. Ele gostaria que todos os seus parceiros fossem cristãos, mas, como nem todos os cristãos são parceiros de Deus, Ele lança mão de homens e mulheres, a exemplo do que fez com Balaão e Raabe, Ciro e Maria Madalena.

Quanto aos espertos, dentro e fora das igrejas, especialmente os de dentro, Deus já os está julgando. É certo que ainda não vemos este julgamento, mas é certo também que Deus já está agindo.

De nossa parte, não podemos desistir, como se não valesse a pena ser santo e irrepreensível. Não podemos nos deixar seduzir pelo convite da impiedade, só porque a impiedade parece majoritária.

Se olharmos realmente para o Autor e Consumador de nossa fé (Hebreus 12.2), veremos que Deus está de olho em tudo para nos ajudar a montar o quebra-cabeças da vida. É desta convergência que fala a Bíblia, segundo a qual, como sabemos por experiência própria, todas as coisas concorrem [convergem, contribuem] para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Romanos 8.28).

PARA VIVER
Cremos que Deus consumará sua obra no final da história, quando joelhos e línguas voluntariamente confessarão que o Salvador (aquele foi humilhado na cruz para que nós tivéssemos vida) é digno de toda honra e glória..
Quando esta obra se consumar (terminar), o propósito da Trindade terá se consumado (cumprido). O plano de Deus (predestinação) consiste em nos fazer parte deste propósito, tornando-nos herdeiros do Seu Reino.

1. Diante destas verdades, precisamos nos perguntar se temos respondido à graça de Deus ou se ainda a deixamos no passado bíblico ou no passado de nossos pais ou avós. A graça é universal. A nossa resposta individual positiva completa o plano de Deus

2. Diante da encarnação, este plano perfeito de Deus para conosco, só nos resta agradecer. Por mais que o fizermos, não o faremos bastante. A gratidão pelo derramamento da Sua graça renovará as nossas vidas, impedindo que a experiência da salvação se torne um retrato na parede, amarelecido pelo tempo. A gratidão nos porá nos lábios o sorriso da salvação.

3. Precisamos nos perguntar se temos sido instrumentos que Deus usa para levar a Sua graça a muitos que não a conhecem. Há muitos cristãos egoístas, que entesouram a graça da salvação num cofre cujo segredo nem eles mais se lembram. Jesus morreu por todos. Todos que sabem desta verdade precisam proclamá-la aos outros. Se nós não a publicarmos, Jesus não morrerá por eles.

4. Diante da sabedoria e da prudência de Deus para conosco, firma-se a nossa esperança, sabendo que as eventuais lutas de agora nem de longe se comparam à glória (nossa e de Deus) no futuro. Esta confiança não é para nos fazer pessoas conformadas com o pouco de hoje, mas para nos fortalecer na busca do muito amanhã.

5. Precisamos nos perguntar se temos vivido para o louvor da glória de Deus. O verdadeiro hedonismo inclui o prazer próprio, desde que experienciado na presença do Senhor (Eclesiastes 2.25). Não há contradição entre santidade e prazer, mas entre prazer e afastamento de Deus, porque prazer distante de Deus não é prazer.

6. Diante da palavra da verdade da salvação, precisamos nos comprometer com o crescimento no conhecimento desta herança, realidade viva agora e realidade ainda a se completar amanhã.
Um cristão é aquele que conhece Cristo hoje mais do que ontem e amanhã mais do que hoje.
Um cristão não pode ser superficial. Um cristão é aquele que se enriquece diariamente diante da riqueza da graça de Cristo.
Um cristão não se afunda nas sombras do presente. Um cristão se desenvolve no horizonte da promessa.
Um cristão não fica paralisado diante da tirania da escassez de qualquer natureza. Um cristão é aquele que sabe que Deus fará tudo convergir para Cristo.
Um cristão vive para o louvor da glória de Deus, conforme a expressa vontade do Seu poder, segundo a aspersão da Graça do Seu Filho e em sintonia com o sopro companheiro do Seu Espírito.

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