Jonas 1: PESSIMISMO: EU SOU PESSIMISTA, MAS QUERO MUDAR

PESSIMISMO: EU SOU PESSIMISTA, MAS QUERO MUDAR
(Preparado para ser pregado na IB Itacuruçá, em 16.1.2005, noite)

A jornalista Rita Bragatto, que perdeu o marido durante uma escalada ao monte Aconcágua, no dia 7 de janeiro de 2005, fez a seguinte reflexão uma semana depois: “Muita gente me pergunta como passei a ver o montanhismo a partir desse novo momento em minha vida. Estou ferida. Quem me conhece e conhecia o Eduardo sabe que minha alma está machucada. Perdi o grande amor da minha vida e nada –absolutamente nada– vai traze de volta. Mas ao mesmo tempo estou em paz e, assim que me recuperar fisicamente, pretendo voltar às montanhas. Porque foi o Eduardo quem me ensinou a gostar de montanha. Foi ele quem me ensinou que estar na montanha é estar mais perto de Deus”. [Depoimento de Rita Bragatto disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u104221.shtml>. Acessado em 15.1.2005. BRAGATTO, Rita.]
Sublinho: “Estou em paz e, assim que me recuperar fisicamente, pretendo voltar às montanhas”. Ela não quer morrer junto com o marido, mas viver. Por muito menos, Jonas, o profeta pessimista do Antigo Testamento, queria morrer. Chamado por Deus, logo com uma vida com sentido; resgatado do ventre de um peixe, logo amado mesmo por Deus, e protegido em seu descanso, logo cuidado por Deus, ainda assim Jonas queria morrer.
Há muitas pessoas vivendo a trágica síndrome de Jonas, mergulhadas no pessimismo profundo.

A NATUREZA DO PESSIMISMO
O pessimismo se caracteriza pela certeza que a vida de uma pessoa é tão sem valor que não vale a pena viver. Afinal, segundo esta visão, o mundo é o pior possível. Como desafiou o filósofo romano E.M. Cioran (1911-1995), “mostre-me uma coisa na terra que começou bem e não terminou mal”. Antes, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) colocou o fundamento do pessimista moderno, ao propor que o mundo é uma força cega irracional, sem orientação, sem um Deus para dirigi. Bem antes, um filósofo bíblico descreveu sua visão da vida em termos que parecem ir na mesma direção: De novo olhei e vi toda a opressão que ocorre debaixo do sol: Vi as lágrimas dos oprimidos, mas não há quem os console; o poder está do lado dos seus opressores, e não há quem os console. Por isso considerei os mortos mais felizes do que os vivos, pois estes ainda têm que viver! No entanto, melhor do que ambos é aquele que ainda não nasceu, que não viu o mal que se faz debaixo do sol (Eclesiastes 4.1-4).
Este pessimismo, de contornos filosóficos, se aproxima da dimensão quotidiana da vida, levando ao estresse “quando deixa de ser um acontecimento eventual e se torna uma característica marcante do indivíduo”. Afirmativa do psicólogo José Roberto Leite, disponível em <http://www.tcmed.com.br/estresse.html>. Acessado em 14.1.2005. Segundo um estudo recente, noticiado pela Sociedade Médica Americana, os pacientes que se descrevem a si mesmos como altamente otimistas correm menos riscos de morte. De acordo com uma pesquisa realizada ao longo de nove anos, comparados com os pessimistas, os otimistas  55% menos chances de morte em geral e 23% menos de risco de morte por acidente cardiovascular. Uma visão otimista da vida dá à pessoa um beneficio adicional. Pesquisa sintetizada em Optimists Live Longer, Study Finds. Disponível em <http://www.intelihealth.com/IH/ihtIH/WSIHW000/8271/8014/403861.html>. Acessado em 15.1.2005.
Esta descoberta parece estar de acordo com a percepção da ativista Hellen Keller, cega aos dois anos de idade, nunca se entregou. Ela sabia que “nenhum pessimista descobriu os segredos das estrelas, trafegou numa terra sem mapa ou abriu um novo horizonte para o espírito humano” (Helen Keller — 1880-1968). Outro contemporâneo seu, atuando em outro campo, disse a mesma coisa em outros termos: “O pessimista jamais ganhou uma batalha” (Dwight D. Eisenhower — 1890-1969). É por isto que não há monumentos erigidos em homenagem aos pessimistas (Paul Harvey).

CUIDADO COM O NEGATIVISMO
A vida cristã, vivida na perspectiva bíblica, se opõe ao pessimismo, e talvez possa ser caracterizada como sendo a de um otimismo crítico. De fato, o ser humano é mal. O que esperar dele, então?
Um escritor (Albert Camus — 1913-1960) escreveu algo que nos ajuda a entender o nosso dilema: “Se o Cristianismo é pessimista com relação ao ser humano, é otimista com relação ao destino humano. Quanto a mim, sou pessimista quanto ao destino humano, mas otimista quanto ao homem”. Infelizmente, há cristãos camusianos, otimistas quanto ao ser humano e pessimistas quanto ao destino do ser humano. A teologia cristã da esperança vai em outra direção, e precisa ser resgatada, para o bem de todos.
Onde Martin Luther King Jr, por exemplo, encontrou força para a sua resistência pacífica, sabendo, pela leitura da Bíblia e por experiência própria, que a tendência natural deste mundo e das instituições humanas é mesmo a corrupção? King não se desesperou, mas se deixou motivar pela percepção de que, embora os seres humanos sejam maus, Deus é bom e poderoso. Ele pode estabelecer a justiça e o fará. [PIPER, John. Sin, Civil Rights, and Missions. Disponível em <http://www.desiringgod.org/library/fresh_words/2004/063004.html>. Acessado em 14.1.2005.]
Aprendemos com Luther King Jr, um pessimista esperançoso, que a percepção da realidade da depravação humana e a perspectiva da esperança da redenção em Jesus Cristo precisam gerar um impulso profundo e poderoso para as lutas da vida, tanto as pessoais quanto as sociais.
Sabemos que há problemas no mundo, na igreja, na família e em nossas vidas, mas isto não nos autoriza a nos deixar dominar pelo negativismo, mesmo que pareça uma conseqüência lógica. Devemos nos lembrar que a vida é maravilhosa porque somos criaturas feitas à imagem e  semelhança de Deus e porque somos aquinhoadas com um maravilhoso sistema de redenção.
Há uma ordem eterna nas coisas que transcende o campo temporal do sofrimento e das lágrimas. Crendo nisto, Paulo pôde escrever, mesmo na prisão: Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! (Filipenses 4.4). Cabe-nos, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livrarmo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, para que corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus (Hebreus 12.1-2).
Quando o pessimismo é substituído pela confiança cristã, a vida se torna plena de sentido, que é viver na perspectiva da cruz. O contrário é o desânimo, como o vivenciou o derrotista profeta Jonas.

JONAS, O PESSIMISTA
A história do emissário a Nínive termina de modo melancólico, por escolha dele, não de Deus. No livro temos o retrato sem retoques de um pessimista.

1. Chamado para uma missão (Jonas 1.2), Jonas se recusou a cumpri-la (Jonas 1.3), porque estava certo de que sua tarefa laboraria em fracasso. Por isto, em lugar de ir para a cidade indicado, comprou uma passagem para Társis, na direção oposta.
2. Sua  missão triunfou, mas ele ficou frustrado. Jonas nunca estava satisfeito. Se o povo não se convertesse, ele se sentir um inútil, por ter levado a cabo uma missão sem sentido. Como o povo se converteu, ele se sentiu mal, por ter descoberto que a sua visão de mundo estava errada. O sucesso, sim, o sucesso, de Jonas lhe tirou o chão e preferiu morrer. Duas vezes ele declarou o seu desejo, neste sentido (Jonas 4.3,8).
3. Ao sucesso, portanto, tal como ocorreu com Elias, seguiu-se a depressão. O pessimista sempre arranja uma desculpa para se sentir mal. Elias foi para uma caverna, para não ver ninguém; Jonas foi para um canto da cidade, para não ser visto por ninguém. Ali, construiu para si um abrigo, sentou-se à sua sombra e esperou para ver o que aconteceria com a cidade (Jonas 4.5). É claro: ele esperava o pior. Só o pior lhe interessava. Ele só veria o pior.
4. Seu pessimismo lhe impediu de ver que a conversão dos ninivitas era uma ação de Deus por intermédio dele, o profeta. Seu pessimismo lhe impediu de ver que a planta (Jonas 4.10) que cresceu ao seu lado era uma demonstração da providência cuidadora de Deus. O pessimista não vê o que Deus faz.

Se aprendemos com o pessimismo de Jonas, para irmos na direção oposta, aprendemos Quem Deus é, para viver segundo a Sua proposta para nós.

1. Deus não é pessimista. Se fosse, não enviaria Jonas a Nínive, não criaria o homem, não enviaria Seu filho ao mundo. Deus é mesmo o Deus da esperança (Romanos 15.13).
2. Deus chama para tarefas. Ele não exclui os pessimistas deste chamado, porque Ele trabalha conosco como nós somos, para não continuarmos a ser o que somos. Há qualidades em todos os seres humanos, até nos pessimistas, qualidades que Deus usa.
3. Deus quer nos ensinar que Ele está no controle. O autor do livro de Jonas deixa isto bem claro, a todo tempo. O pessimista precisa saber que Deus está no comando. Foi Ele quem mandou a tempestade para naufragar Jonas, mas foi Ele quem enviou o peixe para tragar e salvar Jonas.
4. Deus espera que nos lembremos daquilo que nos pode dar esperança (Lamentações 3.21). Sem esperança não há travessia possível. Foi o que Jonas fez no ventre do peixe (Jonas 2). Quando o pessimista reconhece o poder de Deus, ele ora. A esperança levou Jonas a orar. Só oramos verdadeiramente quando nos permitimos enrolar nas teias da esperança.

NOSSO CAMINHO À LUZ DA BÍBLIA
À luz da Bíblia, eis algumas sugestões que precisamos considerar para uma vida com qualidade.

1. Lute contra sua tendência ao pessimismo.
Lembre-se do mal desta visão. Ele drena a alegria de viver. Ele nos leva para longe de Deus. Ele nos torna um Jonas, desanimado, desobediente e desesperado.
Se a tendência tem dominado você, convertendo-se numa porta aberta para o desamparo e a depressão, procure ajuda de quem pode ajudar a você a se superar.
Ao lado disso ou além disso, memorize alguns versículos bíblicos.
A Bíblia é um livro esperançoso e otimista, porque o Seu autor é amoroso, compassivo, comunicativo e fraterno.
. O Senhor agrada-se do seu povo; ele coroa de vitória os oprimidos. Regozijem-se os seus fiéis nessa glória e em seus leitos cantem alegremente! (Salmo 149.4-5)
. Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos serão bem-sucedidos (Provérbios 16.3)
. Bendiga o SENHOR a minha alma! Não esqueça nenhuma de suas bênçãos! (Salmo 103.2).
. Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente temerem, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos: “Aba, Pai”(Romanos 8.15).
A memorização e recitação pessoal destes versos podem ajudar você a se livrar do fardo do derrotismo.

2. Cuide para ouvir menos e ver menos.
Talvez um de seus problema seja ouvir demais, ver demais. Então, ouça menos, veja menos. Evite deixar-se influenciar pelos pessimistas. Não confie nas pessoas que, a propósito do mar, só falam de enjôo (Louis Pauwels).
De igual modo, não seja você um pessimista a entristecer os outros. Siga a instrução bíblica: Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem (Efésios 4.29).

3. Mantenha a visão de Quem Deus é.
Não permita que a visão de quem você é impeça você de ver quem Deus é. Jonas perdeu esta perspectiva e afundou. Idolatricamente, ele olhou para si.
Deus vive mergulhado na alegria. Saber disso deve nos encher de confiança, inclusive com relação ao nosso futuro. Jesus Cristo veio e viveu de modo perfeito, revelando o amor de Deus. Ele morreu por nossos pecados. Ele venceu a morte. Ele salva todo aquele que põe sua confiança no amor de Deus. Ele assegura que está voltando para nos levar com Ele para sempre. Ele nos diz que as tristezas e dores desta vida serão substituídas pela glória de uma vida para sempre na Sua presença. EGNER, David. How To Know God Through The Bible: The Mood (emotion). Disponível em <http://www.gospelcom.net/rbc/ds/q0404/point4.html>. Acessado em 15.1.2005. Deus se compraz nos que O temem, nos que esperam nEle (Salmo 147.11).
Se você foi avassalado por uma tragédia, não se ache desamparado. Deus jamais nos desampara. Nosso sofrimento pode durar uma noite, mas o sorriso vem pela manhã (Salmo 30.5)
Lembre-se que os olhos do Senhor estão sobre os que temam a Deus, sobre os que esperam na sua bondade (Salmo 33.18). Sua oração seja como a do salmista: Descanse somente em Deus, oh minha alma; dele vem a minha esperança (Salmo 62.5). Seu horizonte seja iluminado por um compromisso: Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel (Hebreus 10.23).

4. Tente coisas novas.
Siga a instrução do grande inventor Thomas Alva Edison: “Não chame isto de fracasso. Chame-o de aprendizagem”. Não procure desculpa para não tentar. Lembre-se que “o pessimista vê dificuldades em todas as oportunidades. O otimista vê oportunidades em todas as dificuldades”. (Winston Churchill — 1874 – 1965)
Afinal, se trabalhamos e lutamos é porque temos colocado a nossa esperança no Deus vivo, o Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem (1Timóteo 4.10). Por isto,  bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo (1Pedro 1.3-5).
E que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo (Romanos 15.13), pois nessa esperança fomos salvos. Mas, esperança que se vê não é esperança. Quem espera por aquilo que está vendo? (Romanos 8.24)

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