Isaías 53 ou a história da paixão

Esta é a história de Jesus, mas quem nela acredita?
Nele sorriu toda a graça de Deus, mas quem a solicita?
Esta é a mensagem que Seu amor a anunciar nos suscita.

Não estávamos lá naqueles dias de histórias vivas,
mas ouvimos os testemunhos fiéis que nos chegaram como dádivas.

Ele não se destacava como um cedro
que, alto e forte, parece alcançar a celeste morada,
porque não passava de um galho vedro
correndo de uma raiz pelo sol queimada.

Não tinha gesto de rei, com beleza e bondade,
crescido em família comum ao lado da carpintaria
de quem, de tão simples, ninguém se orgulhar podia,
exceto a mãe para quem todo filho é pleno de majestade.

Estivéssemos, veríamos seu corpo se retorcendo de aflição,
a face, outrora doce, pelo sofrimento desfigurada.
Estivéssemos, nós o deixaríamos na desolação,
esconderíamos nossos rostos, negando-lhe nossa amizade.
Riscaríamos seu nome de nossas lista de convidados,
para não freqüentar nossas casas, participar de nossos folguedos,
para ficar longe de nossas alegrias e distante de nossos segredos,
a fim de não sermos entre os seus seguidores contados.

Saberíamos que naquela cruz real de muita dor,
Deus o alcançava, fustigava, traspassava, castigava e esmagava
por causa do meu pecado que Ele tomou como se fosse seu,
por causa das minhas maldades que se tornaram suas,
para que o meu castigo deixasse de ser meu.
Agora plenamente eu enxergo como cristalinas águas,
Tanta oferta só tem um nome: amor.
Ah como alegro de ter sido perdoado.
Pena que tanto lhe tenha custado!

Minha história está no Calvário.
Como o cego que curou
com um feixe de luz,
como o paralítico que levantou
sem olhar para seu triste status,
como a prostituta que perdoou
como se fizesse jus,
como a mulher que curou
estancando-lhe o pus,
como o possuído que libertou
tirando-lhe o medo do simbólico capuz

eu me desviei, achando que minha escuridão brilhava,
certo que o meu caminho para o alvo certo me levava.

Até que eu vi, com os olhos que a graça operou,
o Pai desferindo sobre Ele a seta da minha iniqüidade,
oprimindo-o, para que eu encontrasse a liberdade,
afligindo-o, para que eu recebesse seu amor.

até que eu vi que Ele não quebrou o silêncio,
quando o Pai permitiu a farsa do seu julgamento,
quando o Pai o afligiu, para que eu vivesse,
quando o Pai o tosquiou, para o meu livramento.

Nele não havia violência nem mentira.
Para a todos trazer toda paz e verdade,
Ele derramou sua vida completamente,
morrendo a morte que era nossa propriedade.
Ele mesmo se entregou como presente
para que conhecêssemos o brilho da graça
que nos antecipa agora a glória da eternidade.

Então, a noite se fez como um tapete sobre a terra,
guardada por uma pedra na boca do seu corpo
morto de verdade e dado como morto.
Mas: a noite, aos olhos da esperança, era luz,
que da morte real a vida plena produz.
A pedra a palavra silenciosa do Pai ouviu
e o corpo do Filho da tumba selada saiu.

Durante a vida de Jesus,
a luz como noite soou;
agora, na morte sua noite brilhou
como a mais clara luz.

Então, como o cego que curou
com um feixe de luz,
como o paralítico que levantou
sem olhar para seu triste status,
como a prostituta que perdoou
como se fizesse jus,
como a mulher que curou
estancando-lhe o pus,
como o possuído que libertou
tirando-lhe o medo do simbólico capuz,

fui curado pelas feridas que minha culpa no seu corpo gravou.

Gritemos, com todas as forças, então:
Seu sofrimento não foi em vão.
Podemos ver a luz, que para sempre nos basta;
estamos livres do castigo que não mais nos vergasta;
podemos conhecer a justiça, que nos santifica
podemos experimentar a graça, que nos purifica.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO