João 7: RENOVA-NOS, ESPÍRITO SANTO

RENOVA-NOS, ESPÍRITO SANTO
(João 7.37-39)

Ao longo da história do Cristianismo, o tema da renovação espiritual (também chamada de avivamento ou do reavivamento) tem sido constante. Uma vida renovada (ou avivada) é uma vida de onde saem rios de água viva. Uma vida avivada (ou reavivada) é uma vida de onde saem vasos comunicantes que levam vida ao mundo onde estão, a começar do micromundo de cada um, seja ele familiar, eclesial ou profissional.
Tem havido divisão por causa da forma como esta renovação (ou avivamento) deve ser buscada. Um movimento de renovação que se faz com divisão é uma contradição em termos. Uma vida de onde fluam rios de água viva não imporá seu movimento de renovação espiritual pela força, dividindo igrejas e famílias.

NÓS SOMOS O POVO DO ESPÍRITO SANTO
Quando ouvimos e cremos na palavra da verdade, o evangelho que nos salvou, fomos “selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Efésios 1.13-14). Nós somos o povo constituído pelo Espírito Santo.
No entanto, oramos ao Pai, em nome do Espírito Santo. Fica pressuposto, apenas pressuposto, que o Espírito Santo interpreta as nossas orações.
Em nosso culto, saudamos o nome de Jesus e exaltamos o Pai, como se pudéssemos glorificdar a Cristo e ao Pai, se não fosse pelo Espírito Santo que purifica os nossos lábios e aperfeiçoa o nosso louvor.
Quando escreve o seu Evangelho, João parece ter isto em mente. Ele começa apresentando Jesus como aquele que batiza com o Espírito Santo (João 1.33) e termina com Jesus soprando sobre seus discípulos o Espírito Santo (João 20.22). No meio, aprendemos que a vida só é possível quando vivida no Espírito Santo (João 6.63), que vive em quem crê em Jesus como Senhor e Salvador (João 14.17).
É o Espírito Santo quem ensina a verdade aos discípulos (João 14.26). Falamos e vivemos na verdade por causa do Espírito Santo em nós (João 16.13). O que sabemos sobre Jesus nós o sabemos porque o Espírito Santo testemunha a Seu respeito (João 15.26).
Então, o que aconteceu com o Espírito Santo? O que fazemos com o Espírito Santo explica a qualidade de nossas vidas.
Precisamos renovar o nosso conhecimento sobre o Espírito Santo para que Ele renove nossas vidas. Nossa oração permanente deve ser esta: “Cria em mim um coração puro, oh Deus, e renova dentro de mim um espírito estável” (Salmo 51.10). (Esta é a sua oração?)
Por causa dos sofrimentos, vamos nos desgastando, mas, se o Espírito Santo está mesmo conosco (e está!), “interiormente estamos sendo renovados dia após dia” (2Coríntios 4.16).
Portanto, se queremos (e queremos!) vidas vividas conforme as promessas de Deus, precisamos pedir que o Espírito Santo nos renove. (Esta é o seu pedido?) Este é um desejo que só o Espírito Santo pode realizar.
É Jesus quem o diz. “Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito [Santo]. O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (João 3.5-6). (Você nasceu do Espírito Santo?)
Quando Jesus estava na terra, seus discípulos não precisavam do Espírito Santo, porque o Mestre estava com eles. Agora que Jesus foi glorificado nós precisamos do Espírito Santo. No entanto, por alguma razão, parece que ainda vivemos a era de Jesus, embora estejamos na era do Espírito.
João estava preocupado com isto, quando relata:
“Jesus levantou-se e disse em alta voz: `Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado” (João 7.37b-39).

DEUS DAS FESTAS
Estas palavras foram proferidas em meio a uma festa, uma das mais importantes do calendário litúrgico de Israel. Precisamos conhecer esta festa, que celebrava essencialmente a presença de Deus com o seu povo. Ele devia ser celebrada dentro de cabanas, frágeis cabanas que indicavam que o povo era peregrino e fraco, mas tinha um Deus forte e vivo.
Como forma de materializar Sua presença, Deus mesmo inventou algumas festas, conhecedor que uma das marcas do humano é o gosto pelas festas. Não por acaso, há centenas de textos bíblicos estimulando as festas e instruindo como devem ser celebradas. Deus estabeleceu três delas para o povo de Israel:
“Três vezes por ano todos os seus homens se apresentarão ao Senhor, o seu Deus, no local que ele escolher, por ocasião da FESTA DOS PÃES SEM FERMENTO [ou Festa dos Pães Ázimos ou Festa da Páscoa], da FESTA DAS SEMANAS [Festa do Pentecostes] e da FESTA DAS CABANAS [ou Festa das Tendas ou Festa dos tabernáculos]. Nenhum deles deverá apresentar-se ao Senhor de mãos vazias: cada um de vocês trará uma dádiva conforme as bênçãos recebidas do Senhor, o seu Deus” (Deuteronômio 16.16).
Estas festas incluíam peregrinações a Jerusalém (e mais tarde, ao templo de Jerusalém) e visavam a separação de um tempo para o louvor, com ações de graças pelas bênçãos de Deus, sobretudo no cuidado demonstrado por Ele em relação à terra.
Este sentido está bem claro na Festa das Cabanas (ou Tendas ou Tabernáculos), que deve ser celebrada todos os anos. A instrução divina é bem clara:
“Diga ainda aos israelitas: No décimo quinto dia deste sétimo mês começa a festa das cabanas do Senhor, que dura sete dias. No primeiro dia haverá reunião sagrada; não realizem trabalho algum. Durante sete dias apresentem ao Senhor ofertas preparadas no fogo, e no oitavo dia façam outra reunião sagrada, e também apresentem ao Senhor uma oferta preparada no fogo. É reunião solene; não realizem trabalho algum” (Levitico 23.34-36).
Celebrada no outono israelense (ou na primavera brasileira, entre setembro e outubro), esta festa  marca o fim do período da colheita da safra e dura oito dias, sendo o oitavo para descanso solene. Era um tempo de muita alegria.
Ao tempo de Jesus Cristo, o povo era convocado pelo toque das trombetas. Postadas nas ruas, as pessoas assistiam a marcha dos sacerdotes, vestidos de branco e acompanhados de coristas e instrumentistas de corda, de sopro e de percussão. Durante o percurso, eram recitados os Salmos 113 a 118, especialmente os versos 25 e 26 do Salmo 118 ( “Salva-nos, Senhor! Nós imploramos. Faze-nos prosperar, Senhor! Nós suplicamos. Bendito é o que vem em nome do Senhor. Da casa do Senhor nós os abençoamos”). Os sacerdotes iam bem cedo ao tanque de Siloé, enchiam uma jarra de ouro de água e depois se dirigiam ao templo, onde a derramavam em duas bacias de ouro, juntamente com uma porção de vinho, sobre o altar. Este ritual simbolizava a gratidão do povo pelas chuvas que possibilitaram a safra do ano e indicava o pedido da bênção de Deus para a próxima plantação.
É durante esta festa que Jesus se apresenta como uma fonte de água viva. Sua palavra marca um contraste. Agora, não seria mais preciso ir ao tanque de Siloé. Quem estivesse ligado a Ele teria uma corrente de água para satisfazer seus anseios todos. Seus irmãos, que não criam nele (João 7.3), estavam lá. Seus discípulos estavam lá. Ele chegou no meio da festa e se manteve incógnito por um tempo, mas depois começou a ensinar ao no pátio do templo em Jerusalém.
Como lemos em João 7.37-39, “no último e mais importante dia da festa, Jesus se levantou e disse em alta voz: `Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva’. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado” (João 7.37-39).
O verso 39 tem duas informações essenciais para a vida cristã. Quando escreve o seu Evangelho, João já presenciara o Dia de Pentecoste (como narrado em Atos 2).
A primeira é que, na época desta Festa dos Tabernáculos, “o Espírito ainda não tinha sido dado”. Assim, o verso 39 ilumina o verso 38, que poderia ficar assim: “Virá um dia em que fluirão rios de água viva do interior daquele que crer em mim”. Estamos, portanto, diante de uma promessa. João, então, informa, como historiador e testemunha, que esta promessa se cumpriu. O Espírito Santo já começou o seu ministério, com poder, manifesto no Dia de Pentecoste.
Esta informação não é irrelevante. Mesmo depois do Pentecoste, havia cristãos que não tinham a percepção de que o que faziam e viviam era pelo poder do Espírito Santo. Por esta razão, por exemplo, os samaritanos foram visitados por Pedro e João para que recebessem o Espírito Santo (Atos 8.15-17).
A segunda informação adicional é que “Jesus ainda não fora glorificado”.
O mesmo evangelista deixa claro que o papel do Espírito Santo é glorificar a Jesus, que disse: “Quando vier o Conselheiro, que eu enviarei a vocês da parte do Pai, o Espírito da verdade que provém do Pai, ele testemunhará a meu respeito” (João 15.26). “Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” (João 16.13-14).
Só glorificamos a Jesus quando vivemos guiados pelo Espírito Santo.
A aplicação é imediata: não há vida cristã transbordante, de onde fluem rios de água viva, sem o Espírito Santo. Apesar disto, há cristãos tentando vivendo sem o Espírito Santo; o resultado é uma vida plenamente vazia, fria e sem fruto algum.
Não precisamos mais de Pedro e João para recebermos o Espírito. Já o recebemos! O Espírito Santo já chegou e não podemos ignorá-lO. O Espírito Santo já veio e podemos pedir a Ele que nos renove. A promessa de que o Espírito Santo viria foi cumprida, pelo que podemos agora que faça fluir do nosso interior rios de água viva.
É preciso, por isto, que perguntemos: o Espírito Santo já veio para você?

SEM MEDO DA RENOVAÇÃO
Problemas à parte, precisamos de renovação.
A promessa de Jesus nos permite formular respostas a algumas perguntas a este processo espiritual.

1. Quem precisa de renovação?
Comecemos por perguntar: quem precisa de renovação?
Todo cristão que se encontra esgotado moralmente (não vivendo segundo os padrões elevados da graça de Deus) precisa de renovação. Todo cristão que se submeteu ao deus deste mundo, que é o dinheiro, precisa de avivamento. Todo cristão que tem subordinado a sua vida aos seus desejos, temperamentos e instintos, fora do controle do Espírito Santo, precisa de reavivamento. Todo cristão que acha que pode dispor da sua mente e do seu corpo como bem lhe entender sem atentar para os mandamentos da Palavra de Deus precisa de avivamento. Todo cristão que se acha esgotado espiritualmente (não vendo mais graça na fé) precisa de renovação.  Todo cristão que tem perdido a guerra contra o poder da ansiedade precisa de avivamento. Todo cristão que ainda não aprendeu amar seu pai ou sua mãe ou seu filho ou sua filha ou seu irmão ou sua irmã precisa de reavivamento. Todo cristão que, por não encontrar mais prazer nisto, não fala do que Jesus fez em sua vida precisa de reavivamento. Todo cristão que vive fechado em si mesmo, sem olhar para o outro, sem ver a necessidade do outro, precisa de renovação. Todo cristão que não se vê a si mesmo como Deus vê, cheio de dignidade, precisa de reavivamento. Todo cristão que não abençoa, com palavras e atos sentidos, seu próximo precisa de renovação. Todo cristão que tem se permitido ouvir o conselho dos ímpios, seguir o caminho dos pecadores e permanecer na roda dos escarnecedores precisa de avivamento. Todo cristão de cuja vida não saem rios de água viva precisa de reavivamento. Todo cristão que não glorifica a Jesus precisa de renovação.

Confesso: eu preciso de renovação espiritual, que não pode ser confundida com um estilo de culto, que é uma questão de gosto culturalmente estabelecido.
Minha vida precisa ser renovada pelo Espírito Santo. Você também precisa?

2. Por que precisamos ser renovados?
Quero mencionar apenas três razões.

. Ao reler este texto, fiquei intrigado com a atitude de Jesus. Quando decidiu ir à festa, ela já tinha começado. E só no oitavo dia, Ele entrou em ação.
Ele sabia a hora, exatamente como eu, que só falo na hora certa, com o conteúdo certo. Certo? Errado! Eu não sei a hora de falar, e só não erro mais porque o Espírito Santo me corrige. Sim: precisamos ser renovados para ser orientados sobre a hora de ficar em pé e falar; isto é: sobre quando, como e porque agir. Sem o Espírito Santo será imensa a sucessão de erros.
A promessa de Jesus é preciosa: “O Conselheiro, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes fará lembrar tudo o que eu lhes disse” (João 14.26). Quando somos renovados pelo Espírito, Ele nos ensina o que devemos dizer (Lucas 12.12).
Nossa oração deve ser esta: Espírito Santo, renova-nos, dando-nos palavras de sabedoria. (Você tem orado assim ou confiado no seu taco?)

. Há uma segunda razão para sermos renovados: o pecado também é residente em nós. Bom seria que fosse só o Espírito Santo o nosso companheiro, mas o pecado também o é.
A recomendação bíblica é clara: “não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos” (Romanos 6.12) Mas como obteremos a vitória sobre o pecado? Se nos lembrarmos da força do pecado, pedimos ao Espírito Santo que nos livre de pecar. Devemos nos lembrar que o pecado é derrotado toda vez que é enfrentado no poder do Espírito Santo.
(Você tem orado para ser renovado pelo Espírito?)

. A terceira razão é que não somos capazes de sermos discípulos por nós mesmos. Só pelo Espírito Santo. Toda vez que achamos que somos capazes de ser discípulos por nós mesmos, fracassamos.
Conheço cristãos fracassados porque acharam que podiam por si mesmos se manter fiéis.
Conheço cristãos fracassados porque, achando que podiam ser discípulos por mesmos, deixaram sua igreja de lado. No início, faziam cultos regulares, sozinhos ou em família. Depois os compromissos foram se interpondo, e já não cultuavam mais. Como não tinha um pastor chato a estimular a leitura da Bíblia, a Bíblia foi esquecida.
É o Espírito Santo que nos discípula. Ele conta com a Palavra de Deus, impressa e lida e comentada no culto. Ele nos põe a disposição a oração, particular e pública, em que a particular é alimentada pela fé vivenciada publicamente.
Por isto, seria bom que uma placa bíblica estivesse sempre diante de nós:
“Vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, conhecido antes da criação do mundo, revelado nestes últimos tempos em favor de vocês. Por meio dele vocês crêem em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos e o glorificou, de modo que a fé e a esperança de vocês estão em Deus” (1Pedro 1.18-21)

3. De que somos  renovados?
Tomando a imagem de Jesus, podemos pensar que somos renovados em nosso interior do que vem de dentro de nós mesmos e do que vemos de fora.

. Precisamos ser renovados de nossa tendência em nos acomodar. Tocou-me, como já disse, a expressão: “No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz” (João 7.37a). Nosso comodismo, estimulado pelo medo, nos impede de ficar em pé e falar.  Precisamos que o Espírito Santo nos renove a perseverança na pregação. Precisamos ficar em pé e proclamar que Jesus é o Salvador do mundo. Não podemos deixar de falar, mas só falaremos, se acharmos que realmente Deus sacia o homem de sua sede de Deus.
Quando a festa narrada por João se desenvolve, Jesus no meio dela, todos comentavam sua presença, “mas ninguém falava dele em público, por medo dos judeus” (verso 13). Que texto atual, não para os contemporâneos de Jesus, mas para os cristãos. Há cristãos se calando sobre Jesus com medo ou vergonha. Que vergonha!
Nosso comodismo, estimulado pelo medo, nos leva a nos contentar com vidas espirituais medíocres. Ficamos com sede, mas não vamos ao Espírito Santo beber da água viva que é Jesus. Ficamos com fome, mas não vamos ao Espírito Santo, que nos dá o pão que é Jesus. Ficamos com frio, mas não vamos ao Espírito Santo que nos aquece com a sua presença de Jesus. Ficamos tristes, mas não vamos ao Espírito Santo para ter nossa alegria de volta pela graça de Jesus. Ficamos com medo, mas não vamos ao Espírito Santo precisamos porque temos medo. Apegamo-nos à mediocridade e lhe damos o nome de Cristianismo. Apegamo-nos a tradições, que nós mesmos inventamos, e chamamos a isto de Palavra de Deus, como se a tivéssemos obedecendo, quando, na verdade, estamos idolatrando o conforto que sentimos quando nosso culto está arrumado, nossa teologia está sistematizada, nossas perguntas estão respondidas. Não foi isto que fizeram os contemporâneos de Jesus, que tinham um esquema tão certinho que um Messias diferente do seu esquema não cabia. Se aceitam o Messias, seu sistema ficaria de cabeça para baixo. Não! Isso não. Ainda hoje, seo o Espírito Santo não nos renova, fazemos o mesmo. Diferentente: se o Espírito Santo desarruma nosso culto, aleluia! Se a nossa teologia fica confusa, amém! Se temos mais perguntas e respostas, graças a Deus, estamos começando a entender o Evangelho! Precisamos ser renovados pelo Espírito Santo para nos abrirmos ao Espírito Santo.

. Precisamos ser renovados de nosso terrível desejo de glória própria, que tende a nos dominar, mesmo conhecendo a advertência de Jesus: “Aquele que fala por si mesmo busca a sua própria glória, mas aquele que busca a glória de quem o enviou, este é verdadeiro; não há nada de falso a seu respeito” (João 7.18).
Num sermão, Martin Luther King Jr (1929-1968) reconhece: “Um dos problemas que tenho de enfrentar e mesmo lutar todos os dias é o problema do egocentrismo.  Esta tendência  mui facilmente alcança minha vida”. O que ele fez, quanto mais aumentava sua fama? Diz ele: “E uma das orações que faço todos os dias a Deus é esta: `Oh Deus, ajuda-me a me ver em minha verdadeira perspectiva. (…) Ajuda-me a ver  (…) que o boicote aconteceria em Montgomery, Alabama, se eu não estivesse no Alabama. (…) Oh Deus, ajuda-me a ver que estou onde estou porque dos outros que ajudaram a estar aqui e por causa das forças da história que me projetaram para cá. E esse momento aconteceria mesmo que Martin Luther King não tivesse nascido’. (…) Esta é a oração que faço a Deus todo dia: `Senhor, ajuda-me a ver Martin Luther King como Martin Luther King em sua verdadeira perspectiva’. Se não vir isto, eu me tornarei o maior imbecil de todos os Estados Unidos”. [KING JR., Martin Luther. “Conquering Self-Centeredness”. Sermão pregado na Igreja Batista da Avenida Dexter, em 11.8.1957)]
. Precisamos ser renovados de nossa capacidade de voltar a nos sujar, retornando à lama (2Pedro 2.22). É incrível como nos esquecemos da verdade sintetizada pelo apóstolo Paulo: “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1Coríntios 6.9-11). Por isto, recomenda outro autor bíblico: “Aproximem-se de Deus e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos, e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. Entristeçam-se, lamentem-se e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor e ele os exaltará” (Tiago 4.8-10).

. Precisamos ser lembrados pelo Espírito Santo que somos discípulos de Jesus Cristo, não do mundo. O mundo, com todas as suas atrações, jaz no maligno e faz o que é mau. Jesus mesmo nos adverte desta triste realidade: “Para mim ainda não chegou o tempo certo; para vocês qualquer tempo é certo. O mundo não pode odiá-los, mas a mim odeia porque dou testemunho de que o que ele faz é mau” (versos 6-7). Eis aí outra verdade para não ser esquecida.

. Precisamos ser renovados pelo Espírito Santo para não transformarmos nossa fé em Jesus Cristo num espetáculo. Ele mesmo disse: “Fiz um milagre e vocês todos estão admirados” (verso 21) . Precisamos de festas; gosto de pensar num culto como uma festa. Culto é festa, mas nunca um show. Num show-festa, quem brilha é o artista; num culto-festa, quem brilha é Jesus; num show-festa, o celebrante saiu suado; num culto-festa, o celebrante sai transformado. Penso em  dois cultos-festas no Antigo Testamento.
Num deles, o celebrando saiu transformado, com o seu pecado perdoado, e sua vida comissionada para profetizar ao povo; estou falando do culto-festa narrado em Isaías 6, inesquecível para o celebrante e para a sua gente. O culto-festa é um marco para uma nova vida; não um fim em si mesmo, que termina com aplausos.
No outro culto, o povo ouviu a leitura da Bíblia por varias horas seguidas. Houve um reavivamento tal, regado a comida. Estou falando do culto que Neemias (Neemias 8) dirigiu e que terminou com uma confissão pública de pecados. Ao mesmo tempo, os celebrantes, quando voltaram para casa, ainda cantando, levaram consigo pratos para os pobres que estiveram presentes à festa. A adoração verdadeira nunca termina em alienação.

“O texto diz: `Quem crer em mim (…) do seu interior fluirão rios de água viva’. Recebemos dádivas em dobro. Somos aceitos, somos saciados, somos renovados e, ao mesmo tempo, somos agraciados com o dom de testemunhar, de amar e de servir. Aceitos, saciados e renovados pelo Espírito, tornamo-nos aptos para amar os irmãos e as irmãs. Transformados, servimos com alegria; abençoados, podemos ser uma bênção para outras pessoas. Tornamo-nos, como diz o reformador M. Lutero, (…) um cano, melhor dito, um vaso comunicante que leva a outras pessoas a riqueza das dádivas recebidas. “Quem crer em mim” receberá o Espírito e será um vaso comunicante, pelo qual fluirão rios de bênçãos em forma de serviços do amor ao próximo: auxílio a carentes, consolo aos abatidos, conforto aos doentes, comunhão aos dispersos e solitários e amor aos esquecidos”. [KUNERT, Augusto Ernesto. Domingo de Pentecoste. Disponível em <http://www.est.com.br/publicacoes/proclamar_libertacao/08_07_03.pdf>]

4. O que é ser renovado?
Jesus é claro: avivado é o cristão de quem fluem rios de água viva.
João completa: reavivado é o cristão que glorifica a Jesus.
Em síntese: renovado é o cristão que glorifica a Jesus vivendo de uma forma que do seu interior fluam rios de água viva. A renovação vem de dentro e alcança o exterior. O que flui de dentro é fruído no exterior.
Por isto, o reavivamento só é possível para quem confessou que Jesus Cristo é o seu Senhor e Salvador.
Aqui vem uma percepção teológica essencial: se você teve a sua vida gerada de novo, você é mesmo um cristão que pode ser reavivado. É o Espírito Santo quem o regenerou (gerou de novo). Não fique achando que não recebeu o Espírito Santo porque não faz algumas coisas que outros fazem ou dizem fazer; na verdade, sem o Espírito Santo, você estaria ainda morto em seus pecados. Se você foi regenerado pelo Espírito Santo, você (já) foi batizado por Ele. Busque a sua plenitude, deixando-se renovar por Ele.
Quem se deixa renovar por Ele glorifica a Jesus. Eu afirmo: quero glorificar a Jesus, embora tenha muita vontade em receber glórias humanas, mesmo sabendo que são passageiras. Glorifica a Jesus quem entende estas extraordinárias palavras de Jesus:
“Jesus respondeu: `Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem. Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto. Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a conservará para a vida eterna. Quem me serve precisa seguir-me; e, onde estou, o meu servo também estará. Aquele que me serve, meu Pai o honrará” (João 12.23-26).
Confesso: eu sou o grão de trigo que caiu na terra e morreu, que Jesus fez renascer para dar muito fruto.
E você? Já morreu para o mundo a fim de viver por Cristo e para Cristo. Se você quer ter uma vida que se renova precisa se reconhecer como grão de trigo que cai na terra.

***

O Espírito Santo nos torna sedentos de Jesus.
Na Festa das Cabanas, durante a procissão, tendo os sacerdotes à frente, o povo cantava a profecia de Isaías: “Com alegria vocês tirarão água das fontes da salvação” (Isaías 12.3).
Jesus sabia desta expectativa e então usa uma imagem que todos entenderão, ao se reportar à experiência do povo no deserto, quando ”Deus fendeu as rochas no deserto e deu-lhes tanta água como a que flui das profundezas; da pedra fez sair regatos e fluir água como um rio” (Salmo 78.15016). Sim, os filhos de Deus “não tiveram sede quando ele os conduziu através dos desertos; ele fez água fluir da rocha para eles; defendeu a rocha, e a água jorrou” (Isaías 48.21).
Apesar deste carinho todo, o povo de Deus “cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água” (Jeremias 2.13).
Pare de cavar suas próprias cisternas: venha para a fonte de água viva, que o Espírito Santo testemunha que é Jesus Cristo.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO