1Pedro 1.1-7: DE QUE SOMOS PROTEGIDOS

DE QUE SOMOS PROTEGIDOS
1Pedro 1.1-7

(Preparado para ser pregado na Igreja Batista Itacuruçá, no dia 28.10.2007)

Há na Bíblia uma nuvem de textos sobre o cuidado divino para com o ser humano. E repito apenas cinco deles:
. “O Senhor é meu pastor e nada me faltará” (Salmo 23.1).
. “Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá” (Salmos 37.5).
. “E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mateus 28.20b).
. “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Romanos 8.28).
. “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13).

Outro texto, também consolador, é 1Pedro 1.1-7, que tem dois parágrafos. O primeiro, com o destinatário da carta, diz:

(1) Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, (2) eleitos segundo a presciência [ou conhecimento prévio] de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.

Ou, também, segundo outra versão,

(1) Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia, (2) escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue: Graça e paz lhes sejam multiplicadas.

O segundo parágrafo é um cântico dirigido a Deus, nos seguintes termos:

(3) Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, (4) para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada nos céus para vós, (5) que pelo poder de Deus vocês são guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo; (6) na qual exultam, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejam contristados por várias provações, (7) para que a prova da sua fé, mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; (8) a quem, sem o terem visto, amam; no qual, sem agora o verem, mas crendo, exultam com gozo inefável e cheio de glória, (9) alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas. (ARA, modificada)

É muito difícil ler todo este segundo parágrafo num fôlego só. Razão pela qual, precisamos alterar a pontuação original.

(3) Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Conforme a sua grande misericórdia, ele nos regenerou para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, (4) para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor; herança guardada nos céus para vocês (5) que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo; (6) nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. (7) Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado. (8) Mesmo não o tendo visto, vocês o amam; e apesar de não o verem agora, crêem nele e exultam com alegria indizível e gloriosa, 9 pois vocês estão alcançando o alvo da sua fé, a salvação das suas almas. (NVI)

Diz o autor, portanto, que há pessoas que são protegidas (ou guardadas, ou preservadas) pelo poder de Deus. Diante de tantos perigos à vida, soa como um brado de esperança escutar o apóstolo repetir esta promessa que se espraia pela Bíblia.

A HISTÓRIA DE NOSSA ELEIÇÃO
Preciso dizer, no entanto, que esta não é uma carta para todos. O autor se inclui no grupo a quem escreve, como circundando a promessa entre eleitos e peregrinos.
As duas palavras podem soar estranhas. “Eleitos” pode sugerir que Deus escolhe algumas pessoas para a salvação e outras para a perdição. Bem, de fato isto ocorre. A Bíblia está cheia de referências a este fato (cf. Mateus 24.22, Marcos 13.20, Romanos 11.17, 1Timóteo 5.21, Tito 1.1).
Neste texto, contudo, o próprio apóstolo Pedro trata de dirimir qualquer dúvida, quando informa que os eleitos são eleitos segundo o conhecimento prévio que Deus tem da história toda de uma pessoa. Do alto do Seu conhecimento, Deus vê as nossas escolhas; aqueles que respondemos ao Seu convite, Ele elege como salvos.
Vou repetir aqui a explicação que um autor (Francis Leonard Schalkwijk [em “Confissões de um peregrino”. Viçosa: Ultimato, 2000, p. 16]) dá para Romanos 8.30. Neste texto, Paulo anuncia o processo da salvação nos seguintes termos: “aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou” (Romanos 8.29-30).
No texto paulino, que Pedro ilumina, vemos a seqüência da eleição no plano divino. É assim que Deus vê e age, em quatro passos: primeiro, ele predestina (escreve o nome no livro do céu); chama; justifica (perdoa os pecados) e glorifica (regenera para uma nova vida, aqui e no futuro).
Não vemos na perspectiva de Deus, pelas razões de nossa óbvia limitação. O que vemos tem os seguintes passos, seqüenciados: primeiro, Deus chama a todos para a salvação, que é uma vida de amizade com Ele desde agora; depois, Deus justifica (perdoando) aquele que aceita seu convite para a salvação; em seguida, glorifica-a (regenera-a, dando-lhe uma personalidade à imagem de Jesus Cristo); por fim, Deus a predestina, escrevendo seu nome no livro que está na biblioteca que tem o tamanho do céu.

ELEIÇÃO, UM PROCESSO

 

SEQÜÊNCIA DIVINA
<!–[if !supportLineBreakNewLine]–>
<!–[endif]–>

SEQÜÊNCIA HUMANA
<!–[if !supportLineBreakNewLine]–>
<!–[endif]–>

predestinação

chamada (convite)

chamada (convite)

justificação

justificação

glorificação

glorificação

predestinação

(Fonte: SCHALKWIJK, Francis Leonard. Confissões de um peregrino. Viçosa: Ultimato, 2000, p. 16)

Esta seqüência é autorizada pelo verso 29, muitas vezes esquecido e que diz: “aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. A predestinação, portanto, existe e se baseia no conhecimento prévio que Deus tem de nossas decisões. Continuamos livres, para aceitar ou recusar Seu convite à amizade.
Pedro deixa isto bem claro, quando diz que somos escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai (verso 2).
Assim, só pode entender a proteção de Deus, manifesta em termos de e-terno cuidado, quem é predestinado, isto é, quem, tendo recebido o convite de Deus para ser predestinado, aceita-o e então é predestinado.
Esta é uma discussão de ordem especulativa. Em geral, não temos dificuldade de aceitar que somos “eleitos”. Até nos alegramos com o fato.

A CONDIÇÃO DE PEREGRINOS
Há outra expressão de natureza existencial e que é mais difícil de ser aceita. Eu me refiro à expressão “peregrinos”, que Pedro toma de empréstimo de sua realidade, quando muitos cristãos tiveram que deixar a região que hoje conhecemos como Palestina e se espalhar por cidades distantes.

(Veja a região da Galácia ao tempo de Pedro.) 

Esta condição de “peregrinos” é permanente para o cristão. Ela não se aplica apenas aos cristãos do tempo de Pedro.
Encontramos a condição em outro texto de Pedro: “Amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, vocês se abstenham dos desejos carnais que guerreiam contra a alma” (2Pedro 2.11).
O autor aos Hebreus tinha a mesma auto-compreensão: ao falar dos patriarcas, sintetizou seus testemunhos nos seguintes termos: “Todos estes viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-no de longe e de longe o saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra” (Hebreus 11.13).
A expressão está em sintonia com os pré-cristãos e eu me refiro às personagens do Antigo Testamento fiéis a Deus. Um salmista anota: “Como são felizes os que em ti, Senhor, encontram sua força e os que são peregrinos de coração!” (Salmo 84.5). Outro ora assim ao Senhor: “Sou peregrino na terra; não escondas de mim os teus mandamentos” (Salmo 119.19).

O peregrino sabe que é frágil e que são muitos os perigos da caminhada, mas o peregrino é tentado a cultuar a sua própria força e sua própria sabedoria, força para vencer e sabedoria para se livrar das dificuldades. Não deveria ser difícil admitir nossa fragilidade, porque nós a vemos todo dia no espelho da manhã, mas nossa cultura nos repete uma frase personalizada: não há ninguém mais forte do que eu. Nossa cultura nos manda medir forças e fracassaremos se escutarmos seu canto, esquecidos de que somos peregrinos, logo frágeis.
Há um filme clássico sobre o mundo do boxe: chama-se Touro Indomável (Raging Bull), de 1980, dirigido por Martin Scorsese e estrelado por Robert de Niro. No filme, baseado em fatos reais, o boxeador Jake LaMotta vai derrubando os adversários sem dificuldades, mas acaba derrotado pela cobiça, tendo entregue uma luta fácil para chegar mais rápido ao topo, e pelo ciúme doentio da esposa, que o abandonou.

O peregrino sabe que sua caminhada é feita de momentos agradáveis e desagradáveis, porque a rodovia da sua vida passa por desertos longos, pontes estreitas, subidas íngremes, descidas inseguras, mas o peregrino é tentado a absolutizar estes momentos, tanto os agradáveis e desagradáveis, achando que são para sempre.
O deserto não é para sempre. Sofrem aqueles que, por alguma razão, não conhecem o deserto, seja o deserto do sofrimento, seja o deserto do silêncio, porque o deserto nos dá uma distância do sucesso. Precisamos olhar o sucesso com uma certa distância para não sermos engolidos pela enlouquecedora máquina do sucesso. As pontes também não são para sempre. As subidas não são para sempre. As descidas não são para sempre.
De igual modo, a festa não é para sempre. Não dá para nos enganar e pular de festa em festa. Jesus foi muito ao deserto, mas não fez lá sua casa, porque o deserto não é a casa dos eleitos e peregrinos. Jesus foi a Caná, mas lá não era sua casa; ali era apenas um convidado, junto com sua família.

O peregrino sabe que a viagem é longa, cheia de possibilidades boas e possibilidades ruins, e, logo, sabe que precisa de orientação e companhia para seu caminho, mas é tentado a achar que conhece todo o trajeto, que sabe distinguir por sua própria conta as possibilidades e sempre trilhar as boas e recusar as ruins, logo, que pode seguir sozinho.
Quando viajamos por rodovias, nós nos deparamos com andarilhos, sujos, descalços e com enorme sacos às costas. Se viajamos varias vezes, podemos nos encontrar com eles, em sentidos opostos. Eu olho para estes homens e me pergunto: em que minha vida se distingue das deles. Vejo que ambos somos andarilhos, ambos estamos sujeitos às intempéries da vida. No entanto, ouso dizer há duas diferenças entre nós: eu sei para onde vou e eu sei que não estou sozinho na minha peregrinação. Se não sei que não estou sozinho, faço do desespero o meu companheiro. Se não sei para onde vou, ando em todas as direções, sem ter onde chegar. Tenho que caminhar: não tenho escolha, mas escolhi que não caminharei sozinho. A Bíblia põe isto em termos bem reconfortantes: enquanto caminho, anjos, que não vejo, acampam-se ao me redor com minhas sentinelas (Salmo 34.7) e vou seguindo.

O peregrino sabe que há outras possibilidades, oferecidas como mais seguras, mais agradáveis, mais divertidas. O convite vem daquilo que o Novo Testamento chama de “século presente” (ou “presente século” ou “era presente”). É o “século presente” que encobre a verdade e cega “o entendimento dos descrentes, para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Coríntios 4.4).
Há dois tipos de cegos: os que um dia viram e perderam a visão e os que nunca enxergaram. Um não sabe que é peregrino e outro se esqueceu. Os que nunca enxergaram podem enxergar, porque o Evangelho lhes têm sido proclamado. Os que já enxergaram e ficaram cegos precisam ver onde caíram, para voltarem ao melhor amor de suas vidas, que é Jesus Cristo. Há crentes que, em lugar de imitarem Pedro e Paulo, seguem a trilha de Demas, um dia discípulo de Jesus Cristo, mas que, amando o seu presente século, seguiu o presente século (2Timóteo 4.10).

O eleito e peregrino sabe que o Espírito Santo continua a realizar na sua experiência Sua obra santificadora. O eleitos e peregrino sabe que seu maior prazer é obedecer a Jesus Cristo, de modo que possa fruir todos os efeitos da aspersão do sangue de Jesus Cristo, sangue que, desde a cruz, nos purifica quando nos alcança.

A NATUREZA DA PROTEÇÃO
Podemos, agora, então, considerar a pergunta que nos interessa: de que os eleitos e peregrinos são protegidos?
De que é protegido, então, aquele ou aquela que está sem emprego, embora esteja preparado para o mercado de trabalho; aquele ou aquela que, estando fora do grupo de risco, contraiu uma enfermidade galopante; aquele ou aquela que, estando com a razão, não ganha uma causa na Justiça; aquele ou aquela de que, obedecendo as regras de trânsito, é alcançado por um que não vive segundo regras próprias; aquele ou aquela que, procurando fazer a sua parte, vê o cônjuge partir, em busca de outro amor; aquele ou aquela que é vítima de um abuso que deixa marcas para o resto vida? De que?

Este tipo de pergunta, tão antiga quanto o sofrimento humano, tem recebido algumas respostas.

1. A hipótese niilista
A primeira resposta é que não há resposta alguma. Embora soe para a vítima como resultado do acaso, tudo é fruto de causas, conhecidas ou não, cegas na sua origem e nos seus efeitos. “Aqui se faz, aqui se paga”, diz o adágio. Não há deus algum a quem se recorrer. Não há  esperança alguma a se nutrir. Não há propósito no que fazemos ou no que fazem conosco; somos como os andarilhos das rodovias.
No entanto, Pedro diz que há um Deus, o Pai de Jesus Cristo. A maior prova da existência de Deus é a existência de Jesus Cristo, a qual ninguém ousa negar, por ser fato histórico absolutamente estabelecido. Este Deus, ainda segundo Pedro, usou de misericórdia para conosco, regenerando-nos “para uma esperança viva, por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança”, “herança guardada nos céus” e “que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor; herança guardada nos céus” (versos 3-4).
Antes de responder “de” que somos protegidos, aprendemos, neste texto, “com o que” somos protegidos e “para o que” somos protegidos. Deus nos protege, em nossa peregrinação, com a esperança, que tem um adjetivo: “viva”. A esperança, posta no coração do peregrino por nosso Pai, é viva porque não se baseia na matéria de nossa memória, mas na ressurreição de Jesus Cristo; seu fundamento, portanto, não é o nosso pensamento (por mais animado e dinâmico que seja),  mas Jesus. Esta esperança é viva porque tem um poder sobre nossas vidas, não só para o futuro, quando se manifestará plenamente a glória de Deus (Tito 2.13) mas também para o presente. Agora, este poder se manifesta em termos de confiança em o Deus que fez continuará fazendo, uma vez que Ele é sempre o mesmo. Outro autor bíblico chama esta esperança, alimentada por Jesus, de “ancora da alma, firme e segura” (Hebreus 6.9). Um dos resultados desta esperança é a perseverança (1Tessalonicenses 1.3).
Esta esperança tem ainda um “para que?”. Somos protegidos para receber a herança, “guardada nos céus”, razão por que “jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor” (versos 3-4). Fico feliz que esta herança esteja guardada nos céus, onde ninguém pode entrar e furtá-la. Não está guardada em algum banco, onde, por mais segura que seja a sua segurança, nada está seguro. Minha herança é mim; não há risco de golpes ou equívocos. Guardada por Deus, esta herança jamais perderá o seu valor, que não se mede por ouro ou por euro. Esta herança, que será recebida no futuro, já tem seus efeitos de agora, desde o momento em que confessamos Jesus como nosso Senhor. O que foi dito aos efésios ecoa nas nossas experiências de fé: “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Efésios 1.13). Os peregrinos sabem que têm recebido centavos desta herança, porque vão recebê-la integralmente quando Jesus for revelado para toda a humanidade como Senhor (verso 7).

2. A hipótese cessassionista
A segunda resposta é que a proteção divina se manifesta através da orientação que dá na Bíblia e da força que dá a quem Lhe pede.
Segundo esta visão, tudo o que precisamos saber Deus já nos disse. Suas leis estão inscritas também na natureza e na história, leis que não devemos quebrar se não queremos arcar com as conseqüências. Ele não fala mais porque já falou e ficou registrado na Bíblia. Como não intervém mais, Ele dá força ao fraco, se o fraco vai a Ele em oração.
Esta posição tem a vantagem de nos fazer pessoas responsáveis, que escolhem e arcar com as conseqüências de suas decisões. O que precisamos agora de Deus é apenas sabedoria para tomar decisões corretas.
A desvantagem desta idéia, que tem o seu charme, é que ela contraria o ensino bíblico sobre a ação de Deus. É verdade que a Sua Palavra é lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos (Salmo 119.105) e que nela está todo o conselho de Deus para nos fazer sábios (Atos 20.27). É verdade que Deus renova as forças dos cansados (Isaías 40.31). É verdade que nos “reveste de força e torna perfeito” o nosso caminho (Salmo 18.32).  Ele é o Deus que me reveste de força e torna perfeito o meu caminho. Também é verdade a natureza tem suas leis e também é verdade que a história roda segundo leis e regras, que nos cabe observar.
No entanto, Deus não é parte da natureza, com suas leis. Deus não é parte da história. Ele está acima da natureza que criou. Deus está além da história que principiou. No interior da natureza, mas acima dela também, Deus age. No interior da história e além da história, Deus age e fala.
Uma pessoa contrai uma doença terminal. Seus dias estão contados. Deus intervém e diz, sem palavras, mas com poder: “agora, não”.
Um casal esgota todos os recursos, inclusive as ofensas, e caminha para a separação. Deus intervém e faz com que se “casem” de novo.
Um homem se afunda no vício, sem nenhuma chance de voltar à dignidade. Deus intervém e liberta o homem para uma nova vida.
Esses casos podem ser contrastados com outros, porque há pessoas morrendo, casais se separando e homens se perdendo no vício. No entanto, nenhuma alteração do curso natural, nesses casos mencionados, tem explicação senão na intervenção divina. Um deus que não intervém não é Deus, porque não é soberano. Ao mesmo tempo, um Deus que intervém a toda hora não um Deus sábio porque tira do homem a sua responsabilidade diante das leis da natureza e da história. A idéia de um Deus que intervém é incômoda, mas é bíblica. A idéia de um Deus que sustem a responsabilidade humana também é incômoda, quando chega a nossa vez.
Incomoda-nos “ser entristecidos por todo tipo de provação” (verso 6). Como eleitos e peregrinos, devemos, contudo, estar certos que “assim acontece para que fique comprovado que a fé que [nós temos] é muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado” (verso 7).

3. A hipótese protecionista
Pedro nos diz que, “mediante a fé, [nós somos] protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo” (verso 5).
A expressão “salvação prestes a ser revelada no último tempo” nos lembra que nossa caminhada de peregrinos se dá em meio a dificuldades, das quais Deus nos vai livrando, mas o livramento completo virá no final, “no último tempo”. Não podemos esquecer que estamos a caminho. Os eleitos já são salvos e experimentam o poder desta salvação em suas vidas. São salvos, mas não estão livres das leis da natureza e das regras da vida. No “ultimo tempo”, quando Jesus for revelado em toda a sua plenitude, a natureza terá desaparecido com suas leis e a história não mais existirá com suas regras.
O processo da nossa proteção se dá na história, mas não é realizada pela história, mas por Deus, o Senhor da história.
Essa proteção consiste de não sermos mais abandonados, adoentados, assaltados, atacados, atropelados?
Essa proteção garante que não seremos mais provados, com a doença, o desemprego, a depressão, a desorientação?
Para responder a esta série de perguntas, precisamos ouvir Jesus nos dizer: “Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados” (Mateus 10.30).
Paremos para pensar nesta declaração de Jesus.
(Pausa)
Por Seu poder, Deus nos conhece completamente, mais do que nós mesmos nos conhecemos. Sua proteção se dá a partir do conhecimento que tem a nosso respeito.
Por Seu poder, nada está fora do conhecimento de Deus. Ele sabe que somos testados. Ele sabe que somos tentados. Ele está vendo nossa provação. Ele está vendo quando estamos sendo tentados. Nada está fora do seu controle, embora tudo pareça de cabeça para baixo. Seu poder se dá em meio a visão que tem de nós, do nosso presente, do nosso futuro, das circunstâncias ao nosso redor.
Por Seu poder, Deus não está indiferente à nossa provação ou tentação. Precisamos ser provados, podemos ser tentados, e Ele está no comando, mesmo que nossas vidas pareçam sob o controle do acaso ou de Satanás. Quando as águas estão intensas, avançando sobre nós, Ele está no comando e tem nas mãos o controle do volume e da pressão da água. Foi assim com três rapazes de uma história antiga. Fiéis a Deus e ao primeiro mandamento, não se curvaram diante de outros deuses e foram então atirados numa fornalha em chamas; depois, quando foram retirados, surpreendidos e confusos, “os sátrapas, os prefeitos, os governadores e os conselheiros do rei se ajuntaram em torno deles e comprovaram que o fogo não tinha ferido o corpo deles. Nem um só fio de cabelo tinha sido chamuscado, os seus mantos não estavam queimados, e não havia cheiro de fogo neles” (Daniel 3.27).
Por Seu poder, Deus intervém, suspendendo os efeitos das leis da natureza ou das regras da história, quando esta suspensão resulta em “em louvor, glória e honra” (verso 8). Seu poder o põe acima da natureza e da história.
Por Seu poder, Deus nos orienta, dando-nos sabedoria para trilhar pelas estradas e curvas da vida. Seu poder se manifesta no imenso manual de vida que é a Sua Palavra.
Por Seu poder, Deus nos dá força. Quando a nossa se esgota, Ele põe a Sua força e nos renova. Como cantou o salmista, é Ele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças, que resgata a sua vida da sepultura e o coroa de bondade e compaixão, que enche de bens a sua existência, de modo que a sua juventude se renova como a águia” (Salmo 103.3-5).
Por Seu poder, Deus faz a caminhada conosco. Deus é peregrino e conhece o caminho que temos por fazer. Ele fez o nosso caminho. Jesus, “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênitoe vindo do Pai, cheio de graça” (João 1.14).
Por Seu poder, Deus nos ensina a ter a melhor perspectiva, banhada em esperança, acerca do sofrimento, que é esta: o sofrimento é por um pouco de tempo, mesmo que nos pareça longo demais, duro demais, eterno até.
Por Seu poder, Deus nos protege de sofrer. Ele só permite que permaneça sobre nós aquele sofrimento que, ao final, não redunde no louvor da sua glória. Aconteça o que acontecer — e pode ser até a morte –, nós somos eleitos e peregrinos, protegidos por Deus. Nem a morte é final, para os peregrinos. Portanto, devemos nos alegrar com o poder protetor de Deus. Sim, Este Deus nos faz exultar (verso 6). Não exultamos por causa do sofrimento, mas por saber que Deus nos protege e por Ele mesmo nos convidar a que entreguemos a Ele as nossas preocupações, com a promessa de que Ele nos susterá e não permitirá que caiamos (Salmo 55.22).

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

Para comentar esta mensagem, acesse comentandomensagens

plugins premium WordPress