TÃO GRANDE SALVAÇÃO
Hebreus 02.1-4
Depois de tanto conhecimento e tanta tecnologia, poderíamos supor que o tema da salvação estivesse completamente sepultado. Havia até brincadeira com o tema: “salvo de que mesmo?” Salvação, em alguns círculos, passou a ser vista como um alvo superado, diante do aperfeiçoamento humano…
Eis que abro um excelente livro de história da filosofia, livro bem vendido no seu país de origem e no nosso, e leio que a sua tarefa é a “busca da vida boa fora da religião, uma procura da salvação sem Deus” (FERRY, Luc. Aprender a viver. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 30). O autor francês define filosofia como busca de salvação, que deve ser alcançada por nós mesmos, por meio de “nossas próprias forças e em virtude apenas da nossa razão” (FERRY, Luc, op. cit., p. 23).
Enquanto lia este livro, li também a entrevista de uma neurobióloga norte-americana em que fala de seu livro, que tem um título bem sugestivo: “Genes do mal: Porque Roma Caiu, Hitler Cresceu, a Enron fracassou e minha irmã roubou o namorado de minha mãe” (“Evil Genes: Why Rome Fell, Hiltler Rose, Enron Failed and My Sister Stole My Mother’s Boyfriend”). Na verdade, a pesquisadora (Bárbara Oakley) interessou-se pelo assunto depois de ter que conviver com as maldades que sua irmã cometeu contra a mãe delas.
Um filósofo propõe a salvação. Um biólogo explica a origem do mal.
Estes exemplos apenas mostram que não temos como fugir do tema da salvação ou do sofrimento, porque não temos como nos interrogar sobre a razão de viver nem como não nos perguntar por que coisas ruins acontecem a pessoas ruins e também a pessoas boas. Quem nos livrará das coisas ruins? Como explicar a maldade humana?
Mesmo aquelas vidas preservadas de ver o mal de perto, pelo sofrimento próprio ou de alguém próximo ou pela morte de uma pessoa querida, farão estas perguntas, a menos que não passe pelas esquinas onde o mal espreita para roubar ou matar ou não freqüente as páginas dos (tele)jornais como imagens de crianças morrendo atacas pela fome ou pela bomba… Quem nenhuma vez olhou para dentro de si mesmo e não perguntou: quem me livrará de mim mesmo ou de um vício ou de um pensamento tenebroso?
1. O CONVITE DE DEUS
Diante destas realidades, a salvação é oferecida por filósofos, cientistas, artistas e pregadores.
A salvação é a oferta sublime do Cristianismo, a partir da Bíblia Sagrada. A salvação, biblicamente entendida, não tem nada a ver com esforço humano ou com auto-superação humana. É uma oferta, uma oferta de Deus para o homem, que Ele mesmo veio trazer. É algo tão extraordinário que um dos autores da Bíblia a chama de grande salvação (Hebreus 2.1-4). Diz ele:
“Por isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais nos desviemos. Porque, se a mensagem transmitida por anjos provou a sua firmeza, e toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição, como escaparemos, se negligenciarmos tão grande salvação? Esta salvação, primeiramente anunciada pelo Senhor, foi-nos confirmada pelos que a ouviram. Deus também deu testemunho dela por meio de sinais, maravilhas, diversos milagres e dons do Espírito Santo distribuídos de acordo com a sua vontade” (Hebreus 2.1-4).
Releio o texto:
Levemos bastante a sério as boas notícias da salvação que temos recebido da parte de Deus, que nos convida para mantermos com Ele um relacionamento.
Nossa condição era de condenados por causa da nossa desobediência, que nos levou a rejeitar o convite de Deus para a amizade com Ele.
Nossa escolha nos levou a desejar para nós o que Deus deseja para nós, mesmo que embora seu desejo fosse paz e harmonia. O resultado, como justo pagamento (como merecida punição), foi angústia, no plano pessoal, e desordem no plano social. Nossa escolha nos levou a nos tornar inimigos de Deus. Estabeleceu-se um abismo entre o mundo de Deus e o mundo dos homens.
Deus jamais desistiu de seu desejo por um religamento (ou relacionamento). Para trazer seu convite, Ele propôs um plano, com palavras firmes, entregue ao profeta Moisés por meio de um anjo no deserto há 3500 anos, usando palavras vivas e que têm atravessado os séculos (Atos 7.37-38).
O homem, pertinaz em sua pretensão de resolver tudo sozinho e ao seu modo, tornou inóquo o plano de Deus, cujo amor exigente não desiste jamais, veio fazer o convite agora por meio de um profeta, nascido entre o povo judeu há 2.000 anos, como o próprio Moisés prenunciou (Atos 7.37). Deus mesmo atestou a veracidade desta mensagem enviando sinais, fazendo maravilhas, realizando milagres e distribuindo aos crentes dons do Espírito Santo que os capacitava para uma vida cheia de plenitude. Ele anunciou a salvação, o meio divino para que a amizade perdida fosse reconectada. Muitas pessoas foram dizendo “sim” ao seu convite e foram experimentando a verdade e a força desta extraordinária salvação. Suas vidas encontraram paz e propósito.
2. “TÃO GRANDE SALVAÇÃO”
O texto inspirado por Deus nos chama a prestar atenção ao que Ele fez e está fazendo por nós. Temos feito isto?
A este esforço de Deus por nós e para nós o autor da carta aos Hebreus chama de “tão grande salvação”. Ele mesmo nos diz porque a considera “tão grande”.
2.1. A salvação oferecida por Deus é “tão grande” porque é diferente de todo esforço até então empreendido e que se baseava na competência humana.
Há muitas salvações sendo oferecidas; só a do Deus da Bíblia salva.
A lei, dos antigos judeus, apesar de todos os seus detalhes, gerou hipocrisia e medo, jamais salvação. Por isto, Deus mesmo veio ao mundo, através do seu Filho, para que todo aquele que nEle crê não se perca, mas receba a vida eterna (João 3.16).
A filosofia, seja ela qual for, ao propor um caminho de sabedoria, não tem feito as pessoas felizes nesta vida e nada pode oferecer para o tempo inacabável da eternidade. A filosofia não consegue admitir a radicalidade da maldade humana e busca pôr a razão a serviço da bondade. A filosofia não convive com a realidade do pecado, mas esta é a condição humana. Todo projeto que ignora o pecado leva a mais pecado, não ao perdão e à paz. É por isto que lemos: “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3.23-24).
O esporte, mesmo que tão agradável, serve para o corpo, melhora a mente, mas não salva.
Pensar positivamente ajuda, mas não salva. Não basta pensar coisas boas para atrair coisas boas. A lei da atração, esta nova versão do velho poder do pensamento positivo, pode ajudar uma pessoa, mas não pode salvá-la. A salvação vem de Deus; não é fruto do esforço humano.
Há salvações pequenas, mas salvação “tão grande” só a oferecida por Deus. Esta é a notícia que “temos ouvido” (Hebreus 2.1), vinda como presente (dádiva, graça).
2.2. A salvação oferecida por Deus é “tão grande” porque é fundada na Encarnação.
A idéia da encarnação, isto é, a idéia de que Deus se tornou humano é estranha ao ser humano. Seus contemporâneos ficaram confusos. Os estóicos davam um terrível adjetivo para a encarnação: medíocre. Encarnação quer dizer que Jesus foi bebê, criança, adolescente, jovem, por fim um homem morto no início da sua carreira. Como um Deus, tão elevado, tão diferente, tão infinito, pode se tornar humano. E será que leram Isaías 53, que descreve Jesus como um servo sofredor que, como diz o autor de Hebreus, experimentou a morte em favor de todos (Hebreus 2.9).
Deus falou e fez por seu intermédio. Na verdade, a Encarnação de Jesus Cristo é a palavra final de Deus ao mundo. (PIPER, John. Spoken, Confirmed, Witnessed: A Great Salvation. http://www.desiringgod.org/ResourceLibrary/Sermons/ByScripture/26/956_Spoken_Confirmed_Witnessed_
A_Great_Salvation). Pela Encarnação, Deus nos falou por último (Hebreus 1.2). Na Encarnação, Deus constituiu a Jesus como herdeiro de todas as coisas (Hebreus 1.2).
Na antigo aliança, “toda transgressão e desobediência recebeu a devida punição” (2b). Na nova aliança, Jesus recebeu a devida punição, isto é, a morte, pela nossa transgressão e pela nossa desobediência.
2.3. A salvação oferecida por Deus é “tão grande” porque é atestada por Ele mesmo.
No verso 4 (Hebreus 2.4), lemos que “Deus também deu testemunho dela [isto é: da salvação] por meio de sinais, maravilhas, diversos milagres e dons do Espírito Santo distribuídos de acordo com a sua vontade”.
Quando Jesus atuou por aqui, sua vinha foi acompanhada de “sinais, maravilhas e diversos milagres”, que deixavam atônitas as pessoas diante do poder manifesto de Deus. Ao longo da história, Deus vem manifestando o mesmo poder, para o bem das pessoas, mas sobretudo para a salvação das pessoas. Em certo sentido, a operação de “sinais, maravilhas e diversos milagres” é um método de Deus para chamar à salvação. Não devem ser buscados como moeda de troca, porque devem produzir primeiro arrependimento (e depois cura ou satisfação de necessidades). Tendemos a inverter as coisas. Uma pessoa curada miraculosamente vai morrer. Uma pessoa salva, curada ou não de uma doença, viverá eternamente. Há muitos preferindo a cura e recusando a salvação.
Quanto aos dons espirituais, eles continuam sendo distribuídos pelo Espírito Santo, aos salvos, como instrumento de salvação para outras pessoas. Também tendemos a inverter as coisas. Um dom do Espírito Santo não é para deleite próprio; é para deleite de Deus.
A salvação se dá em Jesus, por meio de sua morte. Cristo mesmo nos diz: “Eu tenho um testemunho maior que o de João [Batista]; a própria obra que o Pai me deu para concluir, e que estou realizando, testemunha que o Pai me enviou. E o Pai que me enviou, ele mesmo testemunhou a meu respeito. Vocês nunca ouviram a sua voz, nem viram a sua forma, nem a sua palavra habita em vocês, pois não crêem naquele que ele enviou. (…) São as Escrituras que testemunham a meu respeito”. (João 5.36-39).
A obra a que Jesus se refere é a obra salvação, que o próprio Jesus define o que é: ser salvo é ouvir a voz de Deus, ver a sua forma (no corpo de Jesus Cristo). É salvo quem crê em Jesus como Salvador e Senhor. Este é o testemunho da Bíblia, desde o seu primeiro capítulo. Jesus veio para salvar todos os perdidos. Ele mesmo o disse. (“O Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido” — Lucas 19.10).
3. A NECESSÁRIA RESPOSTA HUMANA
Não importa o que pensemos: precisamos encarar o tema da salvação.
O que fazer diante de grande salvação?
3.1. Considere a grande salvação como o que ela é: grande salvação.
Quando o Salvador Jesus nasceu, a natureza cantou. Quando o Salvador Jesus morreu, a natureza gemeu. A salvação em Jesus não foi um fato corriqueiro da história, mas algo extraordinário.
Talvez, por sua experiência de participante de cultos (especialmente se nasceu num berço cristão), você não venha considerando a salvação como o que ela é: grande, providência de Deus para você, morte para que haja vida. Participar de culto não é sinônimo de ser salvo. Salvação não é hereditária, de pai para filho. A aceitação de Jesus como Salvador é algo pessoal. A recusa a Jesus como Senhor é algo pessoal.
Preste atenção na salvação, para ter clara qual é a sua convicção.
Preste atenção e receba a salvação como o escape divino para a sua condenação. A pergunta da Bíblia é: “Como escaparemos, se negligenciarmos tão grande salvação”? (Hebreus 2.3a)
3.2. Aceite a grande salvação para quem ela é: para você.
Creia no Deus que enviou Jesus. Creia no Cristo que nos revelou Deus. Diante dele, muitos não criam no Pai que o enviara (João 5.32b) e não foram salvos.
Não creia em anjos porque não podem salvar. Jesus pode. Não creiam em profetas porque não podem salvar. Jesus pode. Não creiam no prazer porque não pode salvar. Jesus pode. Não creia no sucesso porque não pode salvar. Jesus pode. Não creia que você vai se salvar a si mesmo porque não pode fazê-lo. Jesus pode.
Preste atenção e receba a salvação como o escape divino para a sua condenação. É clara a pergunta bíblica: “Como escaparemos, se negligenciarmos tão grande salvação”? (Hebreus 2.3a)
“Não negligencie que você é amado por Deus. Não negligencie que você é perdoado, aceito, protegido e fortalecido pelo Deus Todopoderoso. Não negligencie o sacrifício da vida de Cristo na cruz. Não negligencie o dom gratuito da justificação imputada pela fé. Não negligencie a retirada da ira de Deus, nem o sorriso reconciliado de Deus. Não negligencie o Espírito Santo que reside em você nem a fraternidade e a comunhão do Cristo vivo. Não negligencie o brilho da glória de Deus na face de Jesus Cristo. Não negligencie o livre acesso ao trono da graça. Não negligencie o inesgotável tesouro das promessas de Deus. Esta é a grande salvação. (…) Não negligencie uma tão grande salvação”. (PIPER, John. Spoken, Confirmed, Witnessed: A Great Salvation. http://www.desiringgod.org/ResourceLibrary/Sermons/ByScripture/26/956_Spoken_Confirmed_Witnessed_
A_Great_Salvation)
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Há cristãos negligenciando esta grande salvação. Não seja um deles.
Há não-cristãos negligenciando esta grande salvação. Não seja um deles. Lendo o filósofo a que me referi no início (Luc Ferry), fiquei com a impressão de estar diante de alguém que entende que a mensagem de Jesus é completa, mas não deseja crer. No seu caso, acha que não poderá continuar sendo filósofo e crente. Todos os que pensarem assim, não escaparão da morte, de que a salvação em Jesus livra. Todos os que pensarem que poderão ser salvos por suas próprias forças continuarão distantes da alegria eterna, que a salvação é, que Jesus veio trazer.
Esta é uma mensagem séria. Demanda uma decisão. Quem decide ser salvo, por meio de Jesus, recebe uma nova identidade, a de filho amado por Deus, a mesma identidade de Jesus Cristo. Quem recebe a Jesus como Salvador e Senhor não é mais escravo, mas Filho de Deus, herdeiro juntamente com Cristo (Gálatas 4.7). Eis clara a promessa: “Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória” (Romanos 8.17). Deus “derramou sobre nós generosamente” o Seu Espírito, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador”, por meio de quem somos “justificados por sua graça”, fomos tornados “seus herdeiros, tendo a esperança da vida eterna” (Tito 3.6-7).
Há alguns anos tive que participar de uma questão desagradável. Uma organização foi lesada e o juiz, mesmo reconhecendo o fato, não lhe deu ganho de causa. A escritura, que legitimava o negócio, não foi registrada; logo, não tinha valor. Fomos a um cartório em busca de orientação. Quando chegamos ao cartório, vi uma placa bem grande, com os seguintes dizeres: “Quem não registra não é dono”. A orientação estava dada e tudo o que aconteceu se resumiu: como a organização não registrara a escritura, a escritura não tinha valor.
Assim é a salvação: ela é legítima, ela é maravilhosa. Neste sentido, no entanto, não é para todos, mas para quem se registra. Tal como uma escritura, a promessa da salvação existe. Para recebê-la, é preciso registrá-la. Registrar-se é tomar a decisão de reconhecer a Jesus como Salvador e Senhor.
Receber a salvação é o verbo mais importante da vida, porque tem reflexos no presente e na eternidade. Carreira importante, mas salvação é mais importante, porque a carreira acaba; a salvação é para sempre. Casamento é importante, mas casamento é mais importante, porque, por mais que dure, a morte põe fim ao casamento; a salvação não tem fim. Corpo é importante, mas salvação é mais importante, porque corpo definha, mas salvação é algo eterno.
Não há pergunta mais importante que esta: “como escaparemos?”.
Para escapar e ser salvo, ouça a Jesus, leve Jesus a sério e fixe os olhos do seu coração em Jesus, o autor da sua salvação.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO