À MESA COM JESUS, 7
PARA CONHECER O PAI
(João 14.7-11)
[João 14.7-11]
(7) [Disse Jesus:]
— Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também o meu Pai. Já agora vocês o conhecem e o têm visto.
(8) Disse Filipe:
— Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
(9) Jesus respondeu:
— Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? (10) Você não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu lhes digo não são apenas minhas. Ao contrário, o Pai, que vive em mim, está realizando a sua obra. (11) Creiam em mim quando digo que estou no Pai e que o Pai está em mim ou, pelo menos, creiam por causa das mesmas obras.
1. SOMOS FILIPE.
Se olharmos para nossos gestos em torno do território da fé, observaremos que somos Filipe.
1.1. Como Filipe, queremos conhecer o Pai.
Há algo bastante positivo na pergunta de Filipe: ‘Mostra-nos o Pai’? (verso 9). Ele quer conhecer a Deus. Ele quer tornar a religião algo pessoal e profundo, não algo apenas institucional e superficial. Ele é alguém que faz perguntas porque é alguém que quer aprender. Palmas para Filipe.
Como Filipe, também devemos desejar conhecer a Deus. Não alcançamos o ponto em que não precisemos mais conhecer mais a Deus. O conhecimento de Deus é um excelente desejo: é o melhor dos desejos.
É muito bom conhecermo-nos a nós mesmos, mas este conhecimento, sem o conhecimento de Deus, pode nos levar ao desânimo ou à vaidade.
É ótimo conhecermos o mundo, mas este conhecimento, sem o conhecimento de Deus, pode produzir morte, e não vida.
Então, dediquemo-nos a conhecer a nós mesmos e o mundo, mas, sobretudo, dediquemo-nos a conhecer a Deus.
1.2. Como Filipe, nem sempre priorizamos conhecer o Pai.
Este desejo de Filipe pareceu um pouco tardio. Durante alguns anos, conviveu com Jesus e agora vinha perguntar pelo Pai mostrado por Jesus durante todo aquele tempo de convívio.
O que é isto, Filipe? Jesus o reprovou!
Filipe não gastou seu tempo ocupando-se de conhecer a Cristo. Somos Filipe.
Não acontece de, ao perdermos um amigo (por morte ou mudança), lamentarmos que não empregamos o tempo para conhecê-lo mais ou usufruí-lo mais?
Como Filipe, temos visto a atuação de Deus, por meio de Jesus, mas podemos fazer perguntas elementares sobre Ele.
Como seu amigo Pedro, temos visto a atuação de Deus, por meio de Jesus, e, na hora da pressão, dizemos que não O conhecemos.
Temos visto Deus agir, mas achamos que o que vemos é coincidência ou fruto dos nossos esforços. A vida passa e nos distraímos como muitos conhecimentos, perdendo o conhecimento essencial para os outros conhecimentos. O conhecimento de Deus tem a ver com esta vida e a com a próxima.
Nesta tarefa, a igreja fornece o básico, apenas o BÁSICO, numa espécie de introdução ao caminho que cada um deve trilhar, sozinho e em comunidade.
Desejemos conhecer a Deus.
1.3. Como Filipe, nossa fé parece depender de as coisas irem bem conosco.
Quando Jesus anunciou que viria um tempo em que Ele não estaria mais presente, com Sua palavra, Sua segurança, Filipe entrou em pânico. É como se o discípulo dissesse: “já que o Filho partiria, que viesse o Pai”. O que é isto, Filipe? Jesus reprovou Filipe.
A crença de Filipe dependia de as coisas irem todas bem ele. Como muitos de nós, Filipe queria um Deus que pudesse ver, apalpar. Queria uma religião de segurança dada por Deus, não de caminhada com Deus.
Como Filipe, muitos queremos manifestações visíveis do poder de Deus. Temos recebido o maná, mas queremos mais. Temos recebido codornizes, mas queremos mais. Somos insaciáveis por um Deus disponível 24 horas como se fosse um caixa bancário eletrônico.
Queiramos ser fiéis a Deus, mesmo quando nossas orações parecem se afundar no silêncio de Deus.
2. CONHEÇAMOS O PAI.
Como Filipe, desejemos conhecer o Pai.
2.1. Para conhecer o Pai, precisamos conhecer seu Filho, Jesus.
Temos conhecido a Jesus? Ou temos feito como Filipe? Queremos seguir os passos de Jesus, mas sabemos como Ele andou quando andou por aqui?
Alguns, como Filipe, até trabalhamos para Jesus, mas conhecemos pouco sobre Jesus.
Como conhecemos a Jesus?
Conhecemos Jesus lendo, primeiramente, os Evangelhos que narram sua vida, do nascimento à ascensão, e reproduzem alguns dos seus diálogos, sermões e parábolas.
Quero fazer um desafio, a partir de uma pergunta: você já leu os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João).
Se não o fez, leia os Evangelhos um a um.
Leia os Evangelhos como uma biografia.
Faça sua harmonia dos Evangelhos. Faça o seu “Diatessaron”. Aqui me refiro ao trabalho de Taciano, realizado em meados do segundo século. Ele colocou, em 53 capítulos, todos os capítulos dos Evangelhos numa seqüência, formando um novo texto.
Faça você mesmo sua cronologia. Sou apaixonado por cronologia. Tenho gasto algum tempo pesquisando a última semana de Jesus, hora a hora, na terra. Muitos fatos ficam mais claros a partir.
Leia os diálogos que Jesus travou com discípulos e adversários, um a um.
Leia os sermões de Jesus, um a um.
Leia as parábolas de Jesus, uma a uma.
Conheça Jesus. Se você conhecer a Jesus, vai conhecer a Deus.
2.2. Para conhecer o Pai, precisamos crer no que Jesus ensinou sobre o Pai.
Cremos no que Jesus ensinou sobre o Pai?
Da boca de Jesus saem 160 referências diretas a Deus como Pai, como Seu Pai.
Nestes textos aprendemos:
. O Pai está nos céus (Mateus 5.16).
. O Pai “faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5.45).
. O Pai é perfeito (Mateus 5.45). .
. O Pai recompensa aqueles que fazem o bem em segredo (Mateus 6.6).
. O Pai sabe do que precisamos antes de lhe pedirmos (Mateus 6.8).
. Do Pai “é o Reino, o poder e a glória para sempre” (Mateus 6.9).
. O Pai perdoa as nossas ofensas e espera que façamos o mesmo com os nossos devedores (Mateus 6.15).
. O Pai que alimenta as aves do céu é o mesmo que alimenta os seres humanos que nele confiam (Mateus 6.26).
. Entrará no Reino dos céus não aquele que diz ‘Senhor, Senhor’, “mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mateus 7.21).
. Nada acontece sem o consentimento do Pai, nem mesmo os fios das cabeças dos seus filhos (Mateus 10.29-30).
. Deus esconde as grandes verdades dos “dos sábios e cultos”, mas as revela “aos pequeninos” (11.25).
. O Pai entregou todas as coisas ao Seu Filho Jesus, razão por que “ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar” (11.27).
. Quem faz a vontade do Pai faz parte da família de Jesus (12.50).
. O Pai responde às orações feitas por aqueles que concordam sobre o que estão pedindo (18.19).
. O Pai é o único pai que existe (23.9).
. Só o Pai sabe quando a história humana terá seu fim (24.36).
. Nosso Pai “é misericordioso” (Lucas 6.36).
. Devemos orar ao Pai (Lucas 11.2).
. O Pai destinou o Seu Reino para o Filho, Jesus Cristo (Lucas 22.29).
. O Pai promete que revestirá os Seus filhos com “o poder do alto” (Lucas 29.49).
. “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito [isto é: Jesus Cristo], que está junto do Pai, o tornou conhecido (João 1.18).
. “O Pai ama o Filho [Jesus Cristo] e entregou tudo em Suas mãos” (João 3.35).
. O Pai procura pessoas que o adorem em Espírito e em verdade (João 4.23).
. O “Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” (João 5.17).
. “O Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz” (João 15.20).
. Quem honra o Filho [Jesus] também honra “o Pai que o enviou” (João 5.23).
. O Pai enviou Jesus Cristo ao mundo (João 5.37).
. O Pai colocou em Jesus Cristo “o seu selo de aprovação” (João 6.27).
. A vontade do “é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna”, para ser ressuscitado “no último dia” (João 6.40).
. “Ninguém viu o Pai, a não ser aquele [isto é: Jesus Cristo] que vem de Deus; somente ele viu o Pai (João 6.46).
. Jesus e o Pai são um (João 10.30).
. O Pai colocou todas as coisas debaixo do poder de Jesus, que veio de Deus e que voltou para Ele (João 13.3).
. Na casa do Pai há muitos aposentos para os Seus filhos (João 14.2).
. O Pai ama aqueles que obedecem aos seus mandamentos” (João 14.26).
. O Pai é o agricultor da grande vinha (João 15.1).
. O Pai é glorificado quando Seus filhos dão muitos frutos (João 15.8).
. Tudo o que pertence ao Pai pertence a Jesus (João 16.15).
. O Pai ama os que amam o Filho e crêem que o Filho veio de Deus (João 16.26).
. O mundo não conhece o Pai (João 17.25).
. Assim como foi enviado ao mundo pelo Pai, Jesus nos envia ao mundo (João 20.21).
Foi isto que Jesus ensinou sobre o Pai.
Filipe amava a Deus mas conhecia pouco a Deus.
Podemos amar a Jesus e conhecer pouco de Jesus.
Podemos ser cristãos sem ser crísticos. Podemos crer em Deus sem ser teocêntricos. Podemos crer no Espírito Santo sem deixar que Ele nos conduza.
Podemos estar na igreja, sem ser da igreja, cujo cabeça é Jesus Cristo (Efésios 5.23).
2.3. Para conhecer o Pai, precisamos nos deixar confortar por Jesus.
Quando lemos o temos, vemos que Jesus reprovou a ignorância de Filipe, revelada por sua pergunta. Assim mesmo, Jesus confortou Filipe e os discípulos. Jesus os confortou ao lhes revelar Quem Ele era: Ele era Deus. Sim, é um conforto saber que Jesus é Deus. É um conforto saber que Deus se tornou gente como nós em Jesus. É um conforto saber que Deus se importa conosco.
A parte final do diálogo de Jesus e, logo, com todos os discípulos presentes na conversa, é um conforto para o que crê: “As palavras que eu lhes digo não são apenas minhas. Ao contrário, o Pai, que vive em mim, está realizando a sua obra. Creiam em mim quando digo que estou no Pai e que o Pai está em mim ou, pelo menos, creiam por causa das mesmas obras” (João 14.10-11).
Quando Jesus fala, o Pai fala (João 14.10). Lendo Jesus, temos respondidas as nossas perguntas essenciais. Lendo Jesus, sabemos quem somos, para onde vamos e porque estamos aqui. Quando ouvimos a Jesus, ouvimos o Pai. Este é o conforto que a fé em Jesus como Salvador traz.
Quando Jesus vive (aqui na terra), o Pai vive nEle. Quando vivemos (aqui na terra) como Jesus viveu, Deus vive em nós, apesar de nossas incertezas, nossos medos e nossos tropeços. Este é o conforto que a fé em Jesus como Senhor oferece.
Quando vemos Jesus em ação, vemos o Pai em ação. Deus continua realizando a obra que começou em Jesus. E agora é conosco e através de nós. Talvez não vejamos, mas Deus está em ação. Talvez não seja como nós queremos, mas Deus está em ação.
Há conforto em crer. Devemos nos deixar confortar por Ele.
***
Não oremos como Filipe (“Mostra-nos o Pai”) porque Jesus já O mostrou. Antes, oremos como os apóstolos, em outro momento de encontro com o Mestre: “Aumenta a nossa fé!” (Lucas 17.5).
ISRAEL BELO DE AZEVEDO