A pergunta foi clara:
— Você acha que o ser humano é mau?
Respondi que “sim”.
Depois que respondi, veio o complemento:
— E você acha que as pessoas têm recuperação?
Aqui não houve concordância.
Conheci minha interlocutora naquele momento, depois da gravação de um programa de televisão sob a sua direção.
Ali, frente a frente, em pé, apresentei meus argumentos, que agora desenvolvo melhor.
Que o ser humano é mau fica-nos claro da observação ao nosso redor. Se os nossos olhos forem por demais róseos, desses que enxergam bondade em todos, temos ainda a Bíblia, que diz e rediz que todos somos pecadores.
Esta percepção é quase universal.
O outro tema é mais complexo e eu parto da Bíblia. Tomemos só um texto (entre tantos), em que o apostolo Paulo arrola uma série de vícios, dos quais seus leitores estavam livres (1Coríntios 6.9-11)
Então, vamos para a realidade. Notamos que algumas pessoas se libertam do seu vício (ou de mais de um). Observamos que algumas pessoas não ficam limpas. Concluímos também que alguns ficam abstêmios temporariamente e depois reincidem.
Precisamos tomar uma decisão: a Bíblia diz uma coisa, enquanto a realidade mostra outra.
Prosseguindo na mesma Bíblia, ficamos sabendo também, em vários lugares, que a conversão não torna os cristãos completos e que há um processo de aprendizagem, que começa com o reconhecimento de quem somos: pecadores, desorientados, carentes da graça.
Depois precisamos desejar que a mudança em nossas vidas seja radical, o que implica um preço a ser pago. A salvação não tem preço, graças a Deus. O processo de mudança, no entanto, custa propósito, esforço e disciplina.
Identificada uma área em que precisamos mudar, temos que fazer um propósito de que mudaremos, nem que tenhamos que chegar rastejando ao pódio. Propósito claro, temos que nos esforçar, evitando levar nosso olhar para onde ele vai pecar. O propósito e o esforço precisam ser acompanhados da disciplina, com a formação e repetição de hábitos e padrões, que vão com o tempo substituindo os hábitos e padrões anteriores.
Eu creio que todo ser humano é recuperável, como o traidor Pedro e o rancoroso Saulo. Um se torna um líder de coragem e outro se torna o apóstolo da graça.
O evangelho é para todos e não apenas os “bonzinhos”. Deus tem todo o poder do mundo, e não apenas sobre algumas áreas menores da vida.
Todos podemos ser educados pela graça.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
