Título: 1º e 2º Livro dos Reis
Total de capítulos dos dois livros: 47
Versículos de 1Reis: 817
Versículos de 2Reis: 719
Total de versículos: 1.536
Tempo aproximado de leitura: 250 minutos
INTRODUÇÃO
Os livros dos Reis narram a história dos reis de Judá e Israel, dos últimos anos de Davi até à destruição de Jerusalém (586 a.C), com algumas informações sobre o tempo do cativeiro. É interessante notarmos a importância deste momento na vida do povo de Deus. Porque além da narrativa histórica de cada reinado, eles também nos revelam a intensa atividade profética. Atividade essa permeada por extraordinários milagres que aconteceram ratificando a intervenção de Javé na vida de cada reino. Não podemos olvidar a ação de Deus através de homens como Elias e seu sucessor Eliseu que tiveram um papel muito importante nesse período da história de Israel. Os profetas foram instrumentos, tanto para denunciar o pecado dos governantes, como também o juízo de Deus para o seu povo. Outro fato que merece destaque é o caráter teocrático da história, isto é, Rei, Religiosidade e Estado, tudo existe sob a ação imediata de Deus. O rei, além de dar proteção, tinha o dever de conduzir o povo à obediência aos decretos estabelecidos por Javé. Quando este se desviava dos caminhos do Senhor, todo povo, de igual modo, também se desviava. O comportamento de cada rei é determinado pelo seu compromisso de fidelidade às obrigações religiosas do seu cargo. Por isso, encontramos diversas vezes, a expressão “e fez o que era mau aos olhos do Senhor”, designando o seu fracasso diante desse compromisso.
AUTORIA
Sobre a autoria dos livros dos Reis nada se sabe ao certo. A opinião mais provável é de que vários profetas foram compilando a história e a memória do seu povo. “A tradição judaica apresenta Jeremias como o autor, mas os acontecimentos vão até Joaquim na prisão de Babilônia, o que aconteceu vinte e cinco anos depois da última notícia que temos do profeta [Jr.44]” .
Outro fato relevante é que os dois livros dos Reis, em antigos exemplares da Bíblia, foram escritos num livro só. A atual divisão dos livros vem da LXX [Septuaginta] e da Vulgata, onde são intitulados terceiro e quarto livros dos Reis.
ESTRUTURA
O valor histórico do livro dos Reis é incontestável. A sua garantia se dá não somente pela inspiração divina, mas por documentos paralelos da história profana, cabendo a primazia à assírio-babilônica, que se apresenta com tão grande riqueza, não igualada para nenhum outro livro do Antigo Testamento. Para uma melhor compreensão precisamos levar em conta que, tanto os livros dos Reis, quanto os livros das Crônicas de Israel, precisam ser lidos de forma comparativa. Não há uma preocupação dos escritores em relação a ordem exata do tempo. Por vezes, encontramos discrepâncias relacionadas principalmente a nomes e números citados tanto em Reis com em Crônicas, o que de forma alguma invalida a compreensão da narrativa histórica . O que se precisa considerar é que essas narrativas se complementam.
DATAS IMPORTANTES
Os dois livros contemplam fatos relacionados aos reinados de Israel e Judá que permaneceram juntos até o final do reinado de Salomão no ano 931 a.C. A partir da cisão, passaram a ser designados de “Reino do Norte” e “Reino do Sul”. Por essa razão, certo número de datas se reveste de grande significação, para que se tenha boa e própria compreensão sobre qualquer período histórico. Os três acontecimentos mais significativos dessa era do reino divido são os seguintes:
• 931 a.C – A divisão do Reino
• 722 a.C – A queda de Samaria [Reino do Norte]
• 586 a.C – A queda de Jerusalém [Reino do Sul]
ESBOÇO DOS LIVROS
(1) A história dos últimos dias de Davi, continuando a narrativa de 2Samuel (1Rs.1, 1-2,11) e a história de Salomão (2,12-11,40); afinal uma referência a um livro sobre esse rei (11,41);
(2) Narrativas de origem profética:
(a) alguns episódios da vida de Jeroboão (1Rs.12:1-14,18)
(b) narrativas sobre Elias e Eliseu (1Rs.17-19,21; 2Rs.1,1-16; 2:1-25; 3: 2-8,5; 9: 1-31 e 13,14-21;
(c) narrativas sobre as guerras de Acabe (1Rs.20: 1-43 e 22: 1-38;
(d) narrativas sobre Isaías (2Rs. 18, 13-20, 19);
(3) Como trabalho mais pessoal do autor pode ser considerado o relatório sobre a descoberta do livro da lei por Helcias e sobre a reforma de Josias (2Rs.22, 3-23, 24). Devemos admitir que o autor foi testemunha ocular dessas coisas.
ANÁLISE
Basicamente os livros têm por finalidade fazer o registro histórico de cada reinado, incluindo informações: “(a) sincronismo da entronização com as datas do rei do outro reino; (b) idade do rei (só em Judá); (c) duração do reinado; (d) nome e origem da mãe do rei (só para Judá); (e) julgamento teológico sobre o rei; (f) referência mais detalhada a alguma obra; (g) morte do rei e lugar da sepultura; (h) nome do sucessor – geralmente algumas particularidades são inseridas, mas só por causa de circunstâncias excepcionais o esquema é alterado.”
PARA LER DEVAGAR
Um texto que na minha concepção vale a pena ser lido com toda a atenção, é aquele que fala da dedicação do templo ao Senhor [1Reis 8:1-11]. Foi um momento singular na história do povo de Deus. Devemos nos lembrar de que até aquele momento, o povo nunca tivera a oportunidade de adorar a Deus num santuário. A arca do Senhor era transportada de um lugar para outro numa tenda [tabernáculo] que servia de templo provisório. Agora, todos poderiam contemplar a glória do Senhor inundando a sua Casa: “E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, um nuvem encheu a Casa do Senhor. E não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a Casa do Senhor” [vv.10,11]. Foi uma celebração suntuosa. Não só pela magnitude do templo, mas principalmente pela presença marcante de Deus. “Na história religiosa de Israel, a consagração do templo foi o mais significativo evento desde que o povo deixou a região do Sinai. A súbita transformação que os tirou da servidão do Egito para serem uma nação independente no deserto serviu de importantíssima demonstração do poder de Deus em favor do seu povo”
OS TEXTOS QUE MAIS TOCARAM O MEU CORAÇÃO
No primeiro livro dos Reis, o texto que mais toucou o meu coração, sem dúvida, é aquele que narra a vitória do profeta Elias sobre os profetas de Baal [cap.18]. A oração de Elias é de grande beleza, invoca Deus como: o Deus dos Pais Abraão, Isaque e Jacó: “Senhor Deus de Abraão, Isaque e Israel, mostra hoje que és o Deus de Israel, e que eu sou teu servo, e que por tua ordem fiz todas estas coisas” [1Rs.18:36]. Numa nota de rodapé da Bíblia Paulinas, o comentarista destaca: “Essa evocação dos pais define a experiência religiosa de Israel, radicada na história. Baal não possui história e nada fez por Israel. Somente Javé, o Deus de Israel é o Deus da salvação” . O Deus a quem servimos faz toda a diferença. Elias deixa isso muito claro diante do povo. Quem era Baal? Ele simplesmente não existia. Era um deus morto.
O outro texto que gostaria de destacar está no segundo livro dos Reis que narra a cura do rei Ezequias [2Reis 20:1-11] Ao receber do profeta Isaías a notícia sobre a sua saúde, o texto diz que Ezequias chorou copiosamente. Mas o que mais chama a minha atenção nessa passagem é a sua oração. Ezequias declara ao Senhor a sua fidelidade: “Ah! Senhor! Sê servido de te lembrar que andei diante de ti em verdade e com o coração perfeito e fiz o que era reto aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo” [v.3]. Fico me perguntando: será que podemos como Ezequias argumentar com o Senhor que temos sido servos fiéis? Você pode fazê-lo? E a confirmação das palavras de Ezequias veio na resposta de Deus ao profeta Isaías: “Volta e dize a Ezequias, chefe de meu povo: Assim diz o Senhor, Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas, eis que te sararei; ao terceiro dia subirás à Casa do Senhor” [2Rs.20:5]. Entretanto, Ezequias, assim como eu e você, não teve nenhum mérito diante Deus. Deus cura a quem ele quer. Quantos têm sido servos e servas fiéis ao Senhor e não são curados? Viveu por mais quinze anos pela bondade de Deus. Graça! Tão somente graça de Deus!
O TEXTO MAIS DIFÍCIL
Os dois livros trazem alguns textos de difícil compreensão. Vou destacar apenas um. A decadência de Salomão registrada no primeiro livro dos Reis: “Assim fez Salomão o que era mau aos olhos do Senhor e não perseverou em seguir ao Senhor, como Davi, seu pai” [1Rs.11:6]. O que teria levado um homem que temia ao Senhor, que teve um reinado de vitórias e realizações inigualáveis, riqueza e sabedoria jamais vistas na vida de nenhum outro rei, que teve o privilégio de construir o templo do Senhor, se tornar um idólatra, promíscuo, e profano diante de um Deus que sempre lhe fora fiel? O fato é que não conseguimos encontrar respostas convincentes, não é mesmo? Schultz faz o seguinte comentário:”Salomão não apenas tolerou a idolatria, mas ele mesmo prestou honrarias a Astarote, a deusa fenícia da fertilidade, que era conhecida pelo nome de Astarte entre os gregos e Istar entre os babilônios. Para a veneração de Milcom ou Moloque, o deus dos amonitas, e de Camos, o deus dos moabitas, Salomão erigiu um lugar elevado em um monte a leste de Jerusalém. Esse lugar alto não foi removido durante três séculos e meio, mas continuou sendo uma abominação nas proximidades do templo de Jerusalém até os dias de Josias [ver 2Reis 23:13].” Pelo menos duas conclusões posso tirar do fracasso de Salomão no final da sua vida. A primeira, é que qualquer um de nós está sujeito a ter o mesmo fim que ele teve. A segunda, é que precisamos nos esforçar, de todo o nosso coração, para cumprir fielmente o que ele mesmo recomendou antes de abandonar o Senhor: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo o homem” [Ec.2:13].
CONCLUSÃO
O conjunto de livros que narra a história dos reis de Israel começa com o apogeu da nação israelita, ainda sob a liderança de Davi, que passa a Salomão, seu filho e sucessor, o reinado, e termina, com a triste decadência de uma nação dividida em dois reinos e assolada com a destruição da cidade de Jerusalém por Nabucodonosor, rei da Babilônia, no ano de 586 a.C
Referências Bibliográficas:
ANGUS, Joseph. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. Trad. de J. Santos Figueiredo. São Paulo: Hagnos, 2003,
A BÍBLIA SAGRADA. Trad. da Vulgata pelo Pe. Matos Soares. 34a. ed. São Paulo: Paulinas, 1977.
DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DA BÍBLIA. Trad. de Frederico Stein. Petrópolis: Editora Vozes, 1977.
SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. Trad. de João Marques Bentes. São Paulo: ida Nova, 1980.
(José Mauricio Cunha do Amaral)