Romanos 8.24-28 — NÃO SABEMOS ORAR

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NÃO SABEMOS ORAR

(Romanos 8.24-28)
 
O apóstolo Paulo escreveu que nós (e isto certamente o incluía) não sabemos orar como devemos. Lamentou ele: “não sabemos o que havemos de pedir como convém” (Romanos 8.26). Não fosse o todo do texto, deveríamos ficar desesperados.
 
Leiamos o texto:
 
Porque na esperança fomos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?
Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos.
Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do Espírito: que ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos.
E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.
 
Não sabemos orar?
Sim. Não sabemos orar.
Não sabemos orar quando pedimos para nossos próprios deleites. Paulo é sutil, mas Tiago é direto: não sabemos orar quando pedimos por motivos errados, para gastar em prazeres (Tiago 4.3). Mas como não orar para satisfações próprias, se é nisto que pensamos o dia todo, desde o ventre materno? Só tem um jeito, precisamos aprender a orar.
Não estamos sozinhos em nossa dificuldade. Os discípulos não sabiam orar e pediram a Jesus que lhes ensinasse. Ainda precisamos fazer o mesmo pedido preliminar (Lucas 11.1). Mas enquanto aprendemos, oremos, porque a oração é a escola da vida. Orar é um jeito de viver. Quem sabe orar sabe viver. Quer aprender a viver? Aprenda a orar.
 
Precisamos aprender a orar e esperar. Esta é a ordem. Oramos pelo que não vemos e com paciência aguardamos o que ainda não vemos (Romanos 8.26). Sabemos que o tempo de nossa vida está no ínterim entre a promessa (“já”) e sua realização (“ainda não”). Em nosso pecado (continuamos pecadores, mesmo depois de alcançados pela graça), não queremos saber de ínterim: Deus tinha que ser uma máquina de refrigerantes: apertou (pediu “em nome de Jesus”), recebeu. Quando se chega diante de uma máquina, é preciso aprender a onde colocar o dinheiro, onde apertar e onde pegar o produto. É fácil para quem sabe. É difícil para quem ainda não sabe.
Orar é difícil para nós todos. Estamos aprendendo. Orando e aprendendo.
Poderíamos pensar que aprender a orar é aprender a se comunicar com a máquina que obedece ao nosso comando. Que palavras usamos? Qual a postura do corpo? Isto serve para máquinas; para Deus, as coisas não funcionam assim. Aprender a orar é aprender a obedecer o comando de Deus, com quem está o controle.
 
1. Aprender a orar é aprender a confessar a nossa dificuldade em orar, em esperar e saber do que realmente precisamos. (E ainda bem que Deus faz mais que pedimos ou pensamos — Efésios 3.20).
 
2. Aprender a orar é aprender a esperar, esperar Deus agir. Jesus disse que nenhum de nós pode acrescentar um côvado à nossa estatura (Almeida Revisada) ou uma hora à nossa vida (“Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?” —  Mateus 6.27[Nova Versão Internacional]). Jesus lança mão de uma ironia (ao dizer que não temos poder para mudar realidades aparentemente simples) para mostrar qual ridícula é a nossa ansiedade. (E nós sabemos que somos ridículos quando ansiosos. Sabemos mas continuamos ansiosos.) Que faz uma pessoa ansiosa? exige. Que faz uma pessoa de fé? espera. Com os nossos amigos, a coisa tem que ser do nosso jeito. E não é que fazemos o mesmo com Deus, querendo que Ele faça as coisas do nosso jeito?
 
3. Aprender a orar é aprender a confiar que a nossa oração ao Pai conta com a intercessão de Jesus Cristo e com a interpretação do Espírito Santo. A oração, portanto, é nunca uma fórmula e sempre um mistério, uma vez que envolve quatro pessoas: o Pai, o Filho, o Espírito Santo e aquele/aquela que ora. O Espírito Santo ora em nosso lugar, quando nossas palavras são inadequadas. 
 
4. Aprender a orar é a aprender a ver glória de Deus ser revelada (Romanos 8.18), quando Ele faz convergir todas as coisas (mesmo as mínimas) para o nosso bem, para o nosso real bem, não para aquilo que imaginamos seja o nosso bem. Na verdade, nós não sabemos orar porque não sabemos o que é bom para nós. Nem sequer valorizamos as incontáveis vitórias pequenas, que, de tão discretas, ficam esquecidas, mas são com elas que Deus vai tecendo a sua história com a nossa.
 
5. Aprender a orar é aprender a continuar orando, mesmo que aparentemente nada esteja acontecendo; mesmo que a nossa fé esteja diminuindo; mesmo que Deus nos soe ausente. Quanto mais Deus parece ausente (como num deserto), mais Ele está presente.
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO