PARA LER EZEQUIEL (Nelson S. Galgoul)

 
Número de capítulos: 48
 
Tempo para a leitura: 7 horas
 
INTRODUÇÃO 
O profeta Ezequiel, cujo nome significa "Deus fortalecerá", era um dos cativos de Judá em Babilônia, levado, provavelmente, na segunda leva junto com o rei Joaquim, de linhagem sacerdotal (Ezequiel 1.3), escolhido por Deus para falar ao Seu povo no exílio. Suas profecias se superpõem ao início do ministério de Daniel.
Ao contrário de outros profetas, que foram chamados para falar a uma ou outra das casas de Israel (Israel ou Judá), Ezequiel foi chamado para profetizar aos filhos de Israel como um todo (Ezequiel 2.3), no sentido de não esquecerem o motivo pelo qual haviam sido levados em cativeiro.
O seu livro é escrito em ordem totalmente cronológica, à medida em que Deus lhe fazia as revelações, o que permite estabelecer uma divisão básica deste livro:
 
. Ezequiel 1-24 profetiza continuamente a destruição da cidade de Jerusalém, até a consumação da mesma;
. Ezequiel 25-32 apresenta profecias contra as diversas nações vizinhas, a  exemplo do que fizeram a maioria dos outros profetas, tendo em vista o que fizeram a Israel;
. Ezequiel 33-48 focaliza, basicamente, assuntos relativos ao retorno do povo à sua terra após o exílio e no reino milenar. 
 
A TEOLOGIA DO LIVRO
Se quisermos simplificar bastante, podemos dizer que o livro de Ezequiel trata apenas de dois assuntos: a punição e a restauração de Israel. Ocorre que assim procedendo perderíamos toda a riqueza da revelação de Deus que é feita à medida em que o profeta apresenta esses dois assuntos. 
Vemos, por um lado, o pecado de Israel sendo apresentado como motivo inequívoco da punição vinda da parte do Senhor e ao mesmo tempo a Sua glória sendo removida do templo de Sua morada em Jerusalém. Deus não pode conviver com o pecado!
Contrastando com essa cena, vemos a glória que nos foi dada (João 17.22) sendo restaurada no templo milenar ao final do livro por ocasião também da restauração de Israel.
A quebra da aliança traz consigo a certeza do castigo ao vermos Deus declarando que Jerusalém não seria poupada nem se nela habitassem Noé, Jó e Daniel, três servos muito fiéis, mas a misericórdia de Deus O leva a apresentar a Nova Aliança na qual Ele mesmo tomaria sobre Si o castigo a nós devido (36.25-28).
Junto com a restauração de Israel vem um Novo Céu e uma Nova Terra. Esse é o Deus que Ezequiel apresenta em suas profecias. 
 
ESBOÇO
 
O presente resumo foi extraído de TAYLOR, John B. Ezequiel, Introdução e Comentário. São Paulo:Nova Vida e Mundo Cristão, 1984:
 
I. A visão, a comissão e a mensagem de Ezequiel (1.1 – 5.17)
a. Introdução (1.1-3)
b. A visão do carro-trono do Senhor (1.4-28)
c. A comissão para ser porta-voz do Senhor à casa de Israel (2.1 – 3.15)
d. O atalaia silencioso (3.16-27)
e. Quatro mensagens encenadas (4.1 – 5.17)
i. O cerco de Jerusalém (4.1-3)
ii. Os dias do castigo de Israel e de Judá (4.4-8)
iii. A fome em Jerusalém (4.9-17)
iv. A tríplice ruína do povo de Jerusalém (5.1-17)
II.  Oráculos de juízo (6.1 – 7.27)
a. A profecia contra os montes de Israel (6.1-14)
b. "O fim vem" (7.1-27)
 
III.  A visão do castigo de Jerusalém (8.1 – 11.25)
a. As idolatrias sendo praticadas no templo (8.1 – 11.25)
b. Os sete algozes. o castigo pela matança (9.1-11)
c. O carro-trono do Senhor. o castigo pelo fogo (10.1-22)
d. A morte de Pelatias (11.1-13)
e. Um novo coração para o povo de Deus no exílio (11.14-25)
 
IV.  Oráculos acerca dos pecados de Israel e Jerusalém (12.1 – 24.27)
a. Mais duas mensagens encenadas (12.1-20)
i.         Indo para o exílio (12.1-16)  
ii. O terror dos habitantes de Jerusalém (12.17-20)
b. Corrigidos dois ditos populares (12.21-28)
c. Profecia contra os profetas e as profetizas de Israel (13.1-23)
d. A condenação daqueles que se entregam à idolatria (14.1-11)
e. Os poucos justos não evitarão o juízo (14.12-23)
f. A parábola da videira (15.1-8)
g. Jerusalém, a infiel (16.1-63)
h. A parábola das duas águias (17.1-24)
i. A lei da responsabilidade individual ((18.1-32)
j. Uma lamentação sobre os reis de Israel (19.1-14)
k. Um retrospecto da história e dos planos futuros de Deus para ele (20.1-44)
l. O julgamento pelo fogo e pela espada (20.45 – 21.32)
m. Três oráculos sobre a imundície de Jerusalém (22.1-31)
n. Oolá e Oolibá (23.1-49)
o. A panela enferrujada (24.1-14)
p. A morte da esposa de Ezequiel (24.15-27)
 
V. Oráculos contra as nações (25.1 – 32.32)
a.    Contra nações vizinhas (25.1-17)
b.    Contra Tiro e Sidon (26.1 – 28.26)
i.         A profecia da destruição de Tiro (26.1-21)
ii. O naufrágio de Tiro (27.1-36)
iii. A queda do príncipe de Tiro (28.1-10)
iv. A lamentação contra o rei de Tiro (28.11-19)
v. A profecia contra Sidon (28.20-26)
c.    Contra o Egito (29.1 – 32.32)
i.         Os pecados do Egito (29.1-16)
ii. O Egito e a Babilônia (29.17-21)
iii. O julgamento contra o Egito (30.1-19)
iv. Quebrado o braço de Faraó (30.20-26)
v. O grande cedro (31.1-18)
vi. Lamentação contra Faraó (32.1-16)
vii. Faraó desce para o Sheol (32.17-32)
VI. Oráculos relacionados com a queda de Jerusalém (33.1 – 37.28)
a.    Reafirmados os deveres do atalaia (33.1-20)
b.    A cidade cai, mas o povo não se arrepende (33.21-33)
c.    Os pastores do passado e o Pastor do futuro (34.1-31)
d.    A denúncia da traição de Edom (35.1-15)
e.    Uma terra restaurada e um povo transformado (36.1-38)
f.     O renascimento espiritual do povo (37.1-28)
 
VII. A profecia contra Gogue (38.1 – 39.29)
a.    A invasão dos exércitos de Gogue (38.1-16)
b.    O massacre (38.17 – 39.24)
c.    Os propósitos finais de Deus para Israel (39.25-29)
 
VIII. Os planos para a nova Jerusalém (40.1 – 48.35)
a.    A visão do templo (40.1 – 42.20)
b.    Volta a glória do Senhor (43.1-12)
c.    Regulamentos para o culto no templo (43.13 – 46.24)  
i. O altar, suas dimensões e sua consagração (43.13-27)
ii. Os ministros, seus deveres e qualificações (44.1 – 45.8)
iii. As ofertas e outros regulamentos (45.9 – 46.24)
d.    As águas vivificantes (47.1-12)
e.    A divisão da terra (47.13 – 48.35)
 
TEXTOS DIFÍCEIS
O livro de Ezequiel contém alguns textos de difícil interpretação.
Um destes textos se encontra em Ezequiel 3.17-27, onde Deus fala ao profeta sobre as suas obrigações como atalaia, embora apresente, também, e de maneira muito clara, a responsabilidade individual do homem diante de Deus. É muito significativa a co-responsabilidade do atalaia na morte do ímpio, caso este não seja avisado do mal que lhe espera. A forma como essa responsabilidade nos é cobrada sem dúvida tem suscitado acalorados debates.
Outra dificuldade que encontramos no livro de Ezequiel diz respeito às situações difíceis e por vezes até incompreensíveis que Deus faz com que Seu profeta passe ao servir de ilustração pessoal para as suas mensagens.
Em Ezequiel 4, por exemplo, o profeta começa a falar efetivamente sobre o cerco à cidade de Jerusalém, os horrores da fome que ela viria a sofrer e, finalmente, a sua queda (Ezequiel 5). Ele deveria fazer isso de maneira ilustrativa, representando a cidade com uma espécie de maquete, cercada com um muro de ferro, que faria o papel das forças que a circundavam. Em Ezequiel 4.9-17 Deus pede ao profeta que demonstre àqueles que o ouvem como será a fome no interior dos muros de Jerusalém, através de um rígido regime cozido sobre esterco humano. O profeta reagiu à solicitação de Deus e Este, ouvindo-o, permitiu que o esterco humano fosse substituído pelo de vaca. Tão severa seria esta fome, que Deus avisou ao profeta que os pais comeriam os próprios filhos (Ezequiel 5.10).
O simbolismo continua em Ezequiel 5, com Deus pedindo ao profeta que raspe seus cabelos, divida-os em 3 partes e que disponha destas da mesma forma como Ele fará ao povo que está na cidade: 1/3 morrerá de peste, 1/3 de fome e o restante será espalhado pelos ventos. A profecia se vira, a seguir, para o restante da terra de Israel, fora dos muros, e Deus diz a Ezequiel que a iniqüidade é total, pelo que Ele também traria, para estes, a espada (Ezequiel 6.3). O fato deste juízo ser iminente é enfatizado em todo Ezequiel 7, encerrando a 1a visão do profeta.
A mais penosa dessas situações, contudo, é aquela à qual o profeta é submetido no capítulo 24, quando ele deve anunciar aos filhos de Israel a destruição do templo, o seu orgulho e o prazer de seus olhos. Isso seria exemplificado com Deus tirando do profeta aquilo que ele mesmo mais amava: sua esposa.
A responsabilidade associada à intimidade que Deus dá ao Seu servo Ezequiel traz consigo um elevado preço de obediência.
O rei de Tiro à época, chamado Itobaal II, é severamente repreendido em Ezequiel 28 pela sua soberba. O profeta se preocupa em ressaltar a autodeificação pregada por ele, ao mesmo tempo em que deixa clara a ira de Deus sobre o seu pecado. São inúmeros os textos bíblicos que nos informam do quanto Deus abomina o 1o de todos os pecados, justamente aquele que levou à queda de Satanás: a soberba (ver, por exemplo, Provérbios 8.13). Somos surpreendidos aqui, contudo, com o profeta se dirigindo ao próprio Satanás e não ao rei. Isso é feito, todavia, para deixar clara a origem deste hediondo mal. Somos informados em Ezequiel 28.12-15 do quão perfeito e belo ele era, do seu status de querubim que guardava o monte santo de Deus e de como era inculpável até ao dia em que se achou nele iniqüidade, motivo pelo qual é profetizada a seguir a sua destruição.
Ezequiel 37 contém uma maravilhosa visão que Deus dá a Ezequiel sobre a restauração política e espiritual de Israel. O Senhor mostra ao profeta a situação de destruição em que se encontrava o povo (todos ossos secos – Ezequiel 37.2) e testa a sua fé perguntando se ele cria que aqueles ossos poderiam ter vida. Essa era, sem dúvida, a condição literal do Israel político nos dias seguintes ao fim da 2a guerra mundial, quando Hitler acabara de mandar matar 6 milhões de judeus, ficando apenas os ossos amontoados nos campos de concentração. Quem poderia crer que estava prestes a se cumprir a 1a parte desta profecia referente à restauração do Estado de Israel (Ezequiel 37.11b)? Mediante a ordem do Senhor, contudo, Ezequiel profetizou e começou a se juntar cada osso ao seu osso, vindo depois nervos, carne e pele, até que a restauração física se completou. Assim foi em 1948 quando, após 2.000 anos, o povo de Israel foi trazido de volta e reimplantado na terra que Deus dera a Abraão.
Ocorre, contudo, que a 2a parte da profecia, que inclui a restauração espiritual (Ezequiel 37.23-28), preconizada também pelo apóstolo Paulo em Romanos 11.26-27, está ainda por se cumprir, com a volta do Messias para reinar sobre a casa unificada de Israel.
 
TEXTOS QUE TOCAM MESMO O CORAÇÃO
Não há dúvida de que o toque do coração é uma coisa pessoal; portanto, o texto que toca o meu coração pode não fazer o mesmo em relação a outros. Neste caso específico o texto que mais me toca o coração parece passar despercebido à grande maioria das pessoas com quem tenho conversado a respeito. Trata-se dos versos 25 a 28 do capítulo 36 que são reproduzidos a seguir:
 
"Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei.
Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.
Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.
E habitareis na terra que eu dei a vossos pais, e vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus".
 
Quando Jesus foi interrogado por Nicodemus a respeito do novo nascimento ele queria saber como o novo nascimento se dá, mas Jesus concentrou a sua resposta em dizer a ele o que lhe era necessário para nascer de novo. A única resposta de Jesus à pergunta anterior foi através de outra pergunta na qual indagava "como era possível ele ser mestre em Israel e não saber"?
Pois bem, Nicodemos deveria saber porque o profeta Jeremias já havia anunciado a Nova Aliança em 31.31-34 e Ezequiel a descreveu minuciosamente e de forma maravilhosa no texto supra-citado.
 
TEXTO PARA MEMORIZAR
Vale a pena conhecer de cor Ezequiel 36.26-27.
NELSON S. GALGOUL
 
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