PARA LER O LIVRO DE ESDRAS (José Mauricio Cunha do Amaral)

ESDRAS
 

Total de capítulos: 10 

Total de versículos:  280

Tempo aproximado de leitura: 40 minutos  

O LIVRO
Embora nas Bíblias mais atuais os livros de Esdras e Neemias apareçam como  livros distintos, no texto hebraico e na Septuaginta (a tradução do AT em grego), eles constituíam um só livro (a divisão em dois livros foi provavelmente uma inovação da igreja cristã). Orígenes (185 – 253 a.C) foi o primeiro autor de que se tem informação a fazer distinção entre eles, a quem chamou 1Esdras e 2Esdras. Por constituírem originalmente duas partes de uma só obra devem ser estudados juntos como um único livro. Outro fato que chama a atenção, é que não se tem tanta certeza se, além disso, os livros devem ser considerados parte integrante da obra do autor dos livros de Crônicas.

AUTOR E DATA
Apesar de uma antiga tradição afirmar que um único autor teria escrito o livro de Crônicas, e também de Esdras e Neemias, é consenso entre os estudiosos de que o autor de Crônicas (“o cronista”), não seja o mesmo autor dos referidos livros. De qualquer forma, ao que tudo indica, Esdras como “hábil escriba" (cf. Esdras 7.6), além de um instrutor na Lei de Deus como sacerdote, provavelmente, manteve um diário, que lhe permitiu mais tarde se tornar o compilador dos livros (Esdras e Neemias) em concordância com a tradição judaica. O período mais provável para se datar esses dois livros está entre os anos 430 – 400 a.C.

CONTEXTO HISTÓRICO
Esdras, cujo nome significa "Deus é auxílio", era sacerdote, um dos judeus deportados para a Babilônia, que tornou-se conselheiro do governo persa para negócios judaicos. A história, cujos fatos se narram neste livro, consta de duas partes separadas por um espaço de tempo de cinquenta e oito anos, incluindo todo o reinado de Xerxes. A primeira parte, que termina no capítulo 6.22, contém a história dos que voltavam da Babilônica e trata da reedificação do templo, a qual tinha sido determinada por um decreto de Ciro (cf. 2Crônicas 36.22-23) no ano 536 a.C. A segunda parte, a partir do capítulo 7.1, contém a narrativa da jornada de Esdras a Jerusalém, jornada esta empreendida em virtude de um decreto de Artaxerxes Longimano no ano 457 a.C. Uma vez que a história de Esdras é contada antes da de Neemias, geralmente se supõe que tenha sido Artaxerxes I.   

SUA MENSAGEM
Os livros de Esdras e Neemias, mostram a fidelidade de Deus em cumprir sua promessa feita a Jeremias muito tempo atrás (Esdras 1.1; Jeremias 29.10), contudo a restauração ocorreu apenas parcialmente, pois Israel não alcançou a posição de um de reino independente como acontecia antes do exílio, mas permaneceu como província do império persa. No caso específico de Esdras, o enfoque do livro é o cumprimento do decreto de Ciro para a reconstrução do templo, e a restauração espiritual do povo ao tomar consciência do seu pecado em virtude da celebração de casamentos mistos.

 

ESBOÇO DO LIVRO

I.   Primeiro retorno do exílio e reconstrução do templo (caps.1 – 6)

A. Primeiro retorno do exilados (cap.1)

            1. O decreto de Ciro (1.1 – 4) 

            2. O retorno comandado por Sesbazar (1.5 – 11)

        B. Lista dos exilados que voltaram (cap.2)

        C. Restabelecimento do culto no templo (cap.3)

            1. Reconstrução do altar (3.1 – 3)

            2. A festa das Cabanas (3.4 – 6)

            3. O começo da reconstrução do templo (3.7 – 13)

        D. Oposição à reconstrução (4.1 – 23)

            1. Oposição no reinado de Ciro (4.1 – 5)

            2. Oposição no reinado de Xerxes (4.6)

            3. Oposição no reinado de Artaxerxes (4.7 – 23)

        E. O templo é concluído (4.24 – 6.22)

            1. Retomada a obra no reinado de Dario (4.24)

            2. Novo começo inspirado por Ageu e Zacarias (5.1,2)

            3. Intervenção do governador Tatenai (5.3 – 5)

            4. Relatório a Dario (5.6 – 17)

            5. Busca do decreto de Dario (6.1 – 5)

            6. Ordem de Dario para a reconstrução do templo (6.6 – 12)

            7. Conclusão do templo (6.13 – 15)

            8. Dedicação do templo (6.16 – 18)

            9. Celebração da Páscoa (6.19 – 22)

        II. A volta de Esdras e suas reformas (caps. 7 – 10)      

         A. A volta de Esdras a Jerusalém (caps.7,8)

            1. Introdução (7.1 – 10)

            2. A autorização para Artaxerxes (7.11 – 26)

            3. Doxologia de Esdras (7.27,28)

            4. A lista dos que voltaram com Esdras (8.1 – 14)

            5. A busca pelos levitas (8.15 – 20)

            6. Oração e jejum (8.21 – 23)

            7. Distribuídos os artigos sagrados (8.24 – 30)

            8. A viagem e a chegada a Jerusalém (8.31 – 36)

        B. As reformas de Esdras (caps.9,10)

            1. O delito dos casamentos mistos (9.1 – 15)

            2. A confissão e a oração de Esdras (9.6 – 15)

            3. O povo corresponde (10.1 – 4)

            4. Uma assembleia pública é convocada (10.5 – 15)

            5. Investigação dos culpados (10.16,17)

            6. A lista dos culpados (10.18 – 43)

            7. A dissolução dos casamentos mistos (10.44)

 

O TEXTO MAIS DIFÍCIL
Os dois últimos capítulos do livro tratam do problema do casamento misto. O capítulo 10.2-3, fala sobre um acordo da parte do povo liderado por Secanias para dispensar as mulheres estrangeiras, juntamente com seus filhos,  casadas com os israelitas. O texto, sem dúvida, pode suscitar algumas questões. Não seria essa atitude injusta? Como sábio homem de Deus, através do ensino, sem qualquer coerção, Esdras aguarda pacientemente que cada líder familiar assuma sua responsabilidade de acordo com as instruções estabelecidas na Lei de Moisés (cf. Deuteronômio 7.1-4). Não foi uma decisão fácil, porém necessária, a fim de que a maldição de Deus não permanecesse sobre o povo: “Que os nossos líderes decidam por toda a assembleia. Depois, que cada homem de nossas cidades que se casou com mulher estrangeira venha numa data marcada, acompanhado dos líderes e juízes de cada cidade, para que se afaste de nós o furor da ira de nosso Deus por causa desse pecado” (Esdras 10.14). Seria inconcebível em nossa cultura, mas não na cultura daquele tempo. As mães recebiam a custódia de seus filhos quando os casamentos eram dissolvidos. No caso de Agar, por exemplo, quando foi dispensada por Abraão, seu filho Ismael foi junto com ela (cf. Gênesis 21.14).

 

OS TEXTOS QUE MAIS TOCARAM O MEU CORAÇÃO
Escolhi dois. Na sua oração registrada no capítulo 9, ao incluir-se no pecado do povo que se casara com mulheres estrangeiras, Esdras não só dá provas da sua piedade, como também de ser um homem profundamente temente a Deus: “Meu Deus, estou por demais envergonhado e humilhado para levantar o rosto diante de ti, meu Deus, porque os nossos pecados cobrem a nossa cabeça e a nossa culpa sobe até os céus” (9.6). O outro texto que falou ao meu coração foi o da celebração da Páscoa: “Durante sete dias eles celebraram com alegria a festa dos pães sem fermento, pois os Senhor os enchera de alegria ao mudar o coração do rei da Assíria, levando-o a dar-lhes força para realizarem a obra de reconstrução do templo de Deus, o Deus de Israel” (Esdras 6.22) . Escolhi também esse texto por duas razões. A primeira delas, é que depois de tantos anos de cativeiro, o povo volta a celebrar a Páscoa, a festa mais importante no calendário litúrgico judaico, no templo, depois de o reconstruírem (6.16), como clara demonstração da bondade de Deus. A segunda razão que chamou a minha atenção, é que o texto deixa claro a intervenção divina. Foi Deus quem mudou o coração do rei Dario para que se cumprisse um decreto de Ciro anteriormente promulgado sobre a reconstrução do templo, o que demostra claramente a soberania de Deus na história: “Tendo recebido o decreto do rei Dario, Tatenai, governador do território a oeste do Eufrates, Setar-Bozenai e os companheiros deles o cumpriram plenamente” (Esdras 6.13).


Conclusão


A grande lição que se pode tirar da leitura do livro de Esdras é que Deus é o grande condutor de toda a história. O livro narra o retorno de dois grupos de exilados da Babilônia, o primeiro liderado por Zorobabel (1 – 6) e o segundo por Esdras (7 – 10). O propósito do autor torna-se mais claro quando lemos (1.1) que é a mão de Deus que conduz o restabelecimento dos judeus à terra concedida aos seus ancestrais em cumprimento à sua promessa.


Bibliografia:

Bíblia de Estudo NVI / organizador geral Kenneth Backer; co-orgnizadores Donald Burking… [et. Al]. – São Paulo: Editora Vida, 2003.

Comentário Bíblico: Vida Nova / D. A Carson … [et. Al]. – São Paulo: Vida Nova, 2009.

Dicionário Enciclopédico da Bíblia / Coordenação da edição portuguesa do Frei Frederico Vier, O.F.M. – Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1977.

Dicionário Bíblico Universal / pelo Rev. A. R. Buckland, M. A, trad. Joaquim dos Santos Figueiredo. Rio de Janeiro: Livros Evangélicos, 1957.

JOSÉ MAURÍCIO CUNHA DO AMARAL