PARA LER O LIVRO DE NEEMIAS (José Mauricio Cunha do Amaral)

INTRODUÇÃO AO LIVRO DE NEEMIAS

Total de capítulos: 13

Total de versículos: 406

Tempo aproximado de leitura: 45 minutos  

 

O LIVRO

Como já dito na introdução ao comentário de Esdras, embora os livros de Esdras e Neemias apareçam nas Bíblias atuais como livros distintos, tanto no texto hebraico, como na Septuaginta (a versão dos Setenta como é conhecida), eles constituíam um só livro. Por essa razão, devem ser estudados  como um único livro.

 

AUTOR E DATA

Como já mencionamos em Esdras anteriormente, ao que tudo indica, ele teria sido o compilador dos dois livros valendo-se de fontes históricas, inclusive, por anotações pessoais, como também de Neemias. É muito difícil estabelecer a relação que havia entre esses dois personagens unidos na comunidade pós-exílica. O ministério de Esdras teve início no sétimo ano do reinado de Artaxerxes (cf. Esdras 7.8), enquanto Neemias, só entra em cena no vigésimo ano de governo do mesmo rei (1.1). Eles eram, contudo, contemporâneos.  O texto bíblico, entretanto, nos dá a impressão de que os dois homens realizaram trabalhos independentes e que não se conheciam até então. Também não é fácil estabelecermos com absoluta precisão a época exata dos acontecimentos, pois o autor não se mostra interessado na cronologia dos eventos. Alguns estudiosos acreditam que Neemias teria se associado a Esdras, por entender que este, na condição de escriba e sacerdote, teria precedência sobre ele, um simples leigo.   


CONTEXTO HISTÓRICO

O nome Neemias, que quer dizer “o Senhor conforta”, nos deixa cientes de todo o significado do livro. Deus foi realmente o conforto daquele povo num momento de grande oposição. Os exilados que haviam retornado da Babilônia com a primeira leva liderada por Zorobabel e Josué, tinham mais interesse em reconstruir o templo do que os muros que haviam sido destruídos quando os babilônios conquistaram a cidade (cf. 2Crônicas 36.19). Começaram então reedificar os muros, mas tiveram a obra embargada pelo rei Artaxerxes (cf. Esdras 4.12, 21-22). O livro nos relata a segunda e bem-sucedida tentativa liderada por Neemias na reconstrução dos muros da cidade de Jerusalém, cuja determinação e grande coragem, foram fundamentais para o pleno êxito dessa empreitada.   
 

SUA MENSAGEM 

A obra realizada por Neemias trouxe não somente a restauração dos muros da cidade, mas acima de tudo, o restabelecimento da confiança dos que haviam voltado do exílio. Não há quem não se impressione ao ler o livro, pois duas  marcas ficam bastante claras na vida de Neemias: sua coragem e sua dependência de Deus em oração. O livro é permeado com orações longas e curtas, de longo prazo ou em caráter de urgência. Ele deixa claro de que tinha absoluta confiança de que Deus estava à frente desse projeto: “Fiz uma rápida inspeção e imediatamente disse aos nobres, aos oficiais e ao restante do povo: Não tenham medo deles. Lembrem-se de que o Senhor é grande e temível, e lutem por seus irmãos, por seus filhos e por suas filhas, por suas mulheres e por suas casas” (Neemias 4.14).  

ESBOÇO DO LIVRO


I.      O retorno de Neemias e a reconstrução do muro (1.1 – 7.3)

 A.    O retorno de Neemias (1.1 – 2.10)

 1.    Os preparativos para o retorno (1.1 – 2.8)

  a.   O relatório de Judá (1.1 – 3)

  b.   A resposta de Neemias (1.4 – 11)

  c.   A solicitação perante o rei (2.1 – 8)

 2.    A viagem e o início do conflito (2.9-10)

 B.    A reconstrução do muro (2.11 – 7.3)

 1.    A inspeção e proposta para a obra (2.11-18)

 2.    A primeira ampliação do conflito (2.19-20)

 3.    A reconstrução é iniciada (cap.3)

 4.    A segunda ampliação do conflito (4.1-6)

 5.    A reconstrução continua (4.7-23)

 6.    Problemas internos ameaçam a reconstrução (cap.5)

 7.    O clímax do conflito (6.15 – 7.3)

 8.    O fim do conflito (6.15 – 7.3)

II.     O retorno dos exilados e a reconstrução da comunidade (7.4 – 13.31)

 A.    O retorno do exilados (7.4-73)   

 1.    A necessidade de repovoar Jerusalém (7.4-5)

 2.    O registro dos que retornaram (7.6-73)

 B.    A reconstrução da comunidade (7.73 – 13.31)

 1.     A renovação da aliança (7.73 – 10.39)

  a.   A leitura da Lei (7.73 – 8.18)

  b.   A confissão de pecados (9.1-37)

  c.   A ratificação do juramento (9.38 – 10.39)

 2.    A dedicação dos muros (caps. 11 – 12)

  a.   A listagem dos residentes (cap.11)

  b.   A listagem dos sacerdotes e levitas (12.1-26)

  c.   A dedicação propriamente dita (12.27-43)

  d.   Provisões para a manutenção do clero (12.44-47)

 3.    A reforma do povo (cap.13)

  a.   A exclusão dos estrangeiros (13.1-3)

  b.   A atenção do templo (13.4-14)

  c.   A observância do sábado (13.15-22)

  d.   O fim dos casamentos mistos (13.23-31)

 

O TEXTO MAIS DIFÍCIL

Além de enfrentar os opositores na reconstrução do muro, Neemias passa a enfrentar também, uma crise interna entre o povo. Diz o texto: “Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci” (5.6). Se já não bastasse a fúria dos seus inimigos, agora tinha que resolver um outro problema relacionado à injustiça social: a reclamação das famílias mais pobres em relação às mais abastadas. Os ricos estavam explorando os pobres cobrando-lhes juros em suas negociações. Como solucionar um problema tão delicado? Mais uma vez prevalece a autoridade e sabedoria do líder eficaz. Neemias convoca os sacerdotes (os guias espirituais do povo) exigindo deles, em primeiro lugar, o cumprimento de um pacto. Deu certo. Todos acataram sua palavra: “Então convoquei os sacerdotes e os fiz declarar sob juramento que cumpririam a promessa feita. Também sacudi a dobra do meu manto e disse: Deus assim sacuda de sua casa e de seus bens todo aquele que não mantiver a sua promessa. Tal homem seja sacudido e esvaziado! Toda a assembleia disse: “Amém”, e louvou ao Senhor. E o povo cumpriu o que prometeu” (Neemias 5.12-13).


OS TEXTOS QUE MAIS TOCARAM O MEU CORAÇÃO

O livro é repleto de textos que nos estimulam a confiar em Deus. Gostaria de destacar pelo menos dois. O primeiro deles é a convocação do povo para a obra. Percebendo que havia oposição Neemias age com toda a cautela. Sua primeira providência foi inspecionar os muros à noite (para não ser notado) acompanhado de alguns homens de sua confiança (2.13-15). Aprendemos com Neemias que precisamos ser discretos se quisermos ser bem-sucedidos em nossas tarefas. A discrição é um elemento importante para o êxito em qualquer empreendimento. Depois disso, Neemias chama a atenção do povo para o lamentável estado da cidade: “Vejam a situação terrível em que estamos: Jerusalém está em ruínas, e suas portas foram destruídas pelo fogo: Venham, vamos reconstruir os muros de Jerusalém, para que não fiquemos mais nesta situação humilhante” (2.17). Um outro texto que quero destacar é sobre a tarefa a ser realizada. Neemias planeja tudo com extremo cuidado, sem, contudo, se descuidar do inimigo.  Todavia, atribui a Deus o sucesso da missão (2.18). Às vezes, fazemos tudo certo, mas nos descuidamos do principal: oração e vigilância: “Mas nós oramos ao nosso Deus e colocamos guardas de dia e de noite para proteger-nos deles. Por isso posicionei alguns do povo atrás dos pontos mais baixos do muro, nos lugares abertos, divididos por famílias, armados com espadas, lanças e arcos. Dessa maneira prosseguimos o trabalho com metade dos homens empunhando espadas, desde o raiar da alvorada até o cair da tarde” (Neemias 4.9,13,21).

 

Conclusão

Para alguns estudiosos o livro de Neemias parece chegar ao fim no que talvez seja considerado um modo um tanto quanto insatisfatório, porque todos os abusos mencionados nesse capítulo final, foram tratados anteriormente, mas eles reaparecem apesar dos melhores esforços dos reformadores. É como se o livro estivesse apontando para o seu próprio fracasso, pensam alguns. Tudo isso nos faz refletir sobre a frágil natureza humana indicando que suas  inclinações para o mal estão sempre evidentes. Apesar de tudo, Deus peleja sempre pelo seu povo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri: Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

Bíblia de Estudo NVI / organizador geral Kenneth Backer; co-orgnizadores Donald Burking… [et. Al]. – São Paulo: Editora Vida, 2003.


Comentário Bíblico: Vida Nova / D. A Carson … [et. Al]. – São Paulo: Vida Nova, 2009.

Comentário Bíblico Africano / editor geral Tokunboh Adeyemo. – São Paulo: Mundo Cristão, 2010.

 

(José Mauricio Cunha do Amaral)


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