A SOMBRA DA MORTE (Eurípedes da Conceição)


No dia 27 de março de 2004 eu fui surpreendido pela notícia de que Lukas, o filho mais jovem de Caio Fabio havia falecido, vítima de um atropelamento.

No “Cemitério da Colina”, em Pendotiba, não tive palavras de consolo para o amado Pastor que já nos trouxe tanta alegria e consolação através de seus sermões e livros que transformaram a maneira de pensar e agir de toda uma geração.

Diante de minha incapacidade de esboçar qualquer expressão verbal de consolo, restou-me apenas dar-lhe um caloroso e apertado abraço enquanto o meu silêncio era quebrado pelas palavras de Caio: “Está tudo explicado!”.

Comecei a meditar no que ele dissera e concluí que eu sabia muito pouco a respeito dos mistérios que envolvem a vida e a morte.

Concluí também que estes mistérios, na maioria das vezes, são construídos por nós mesmos; são mitos gestados em nosso inconsciente.

É por causa de nossa veneração a estes mitos fantasiosos que nos distanciam do mundo real e ofuscam a nossa percepção, que nos sentimos tão impotentes e confusos face às aparentes crises e perdas que são objeto contínuo de nossa negação.

Em razão disso, a nossa tendência é buscarmos explicações para coisas que já foram explicadas por Deus há muito tempo atrás quando suas mãos nos criaram e nos afeiçoaram (Sl 139).

Enquanto o meu coração chorava pela perda de Lukas, eu tentava encontrar nos arquivos da minha memória uma rationale que reafirmasse o sentido de uma fala tão lacônica como a do Caio: “Está tudo explicado!”.

Ocorreu-me que durante muito tempo eu não conseguia entender o salmo 23, principalmente o verso 4 que diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu (Deus) estás comigo; o teu bordão e o teu cajado me consolam”.

Lembrei-me que o célebre  pregador Donald Gray Barnhouse enquanto levava os seus filhos ao funeral de sua esposa, parou no cruzamento do trânsito. À frente deles, havia um gigantesco caminhão. O sol incidia seus raios num ângulo tal que projetava transversalmente a sombra do caminhão no campo coberto de neve ao seu lado.

O Dr. Barnhouse apontou para a sombra e disse aos filhos: “Observem a sombra do caminhão sobre o campo. Se vocês tivessem que ultrapassar, ultrapassariam o caminhão ou sua sombra”.

O filho mais novo respondeu primeiro: “A sombra. Ela não pode ferir ninguém”. “Está certo”, declarou Barnhouse. Mas lembrem-se, crianças, Jesus permitiu que o caminhão da morte o atropelasse, de tal modo que ela jamais pudesse nos destruir. Agora, mamãe mora com Jesus. A sombra da morte apenas passou sobre ela”.

Agora, eu sei porque está tudo explicado! Lukas está vivo no céu, pois a sombra da morte apenas passou sobre ele.

Lembre-se: "Tragada foi a morte pela vitória" (1 Co 15. 54b).

Não foi sem razão que o nosso Senhor deixou o Sacramento da Ceia como lembrança de sua morte: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22. 19b).

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