CREDO APOSTÓLICO, O CREDO CRISTÃO, 5 — O nascimento virginal de Jesus

Depois de apresentar Jesus como sendo o único filho de Deus e nosso Salvador e Senhor, o Credo dos Apóstolos confessa que Jesus Cristo

“foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da virgem Maria”.

As duas frases dizem a mesma verdade. O nascimento virginal de Jesus aconteceu pela atuação do Espírito Santo. Em outras palavras, a concepção de Jesus não teve participação masculina. A concepção de Jesus por Maria foi, portanto, sobrenatural, uma vez que não houve sêmen para a sua fecundação.

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A conclusão da fé nasce da leitura do Novo Testamento, sobretudo de Mateus 1.18-25 e também de Lucas 1.26-35.

Leiamos os textos:

Mateus 1.18-25 relata:
(18) Foi assim o nascimento de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espírito Santo.
(19) Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente. (20) Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse:
— José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. (21) Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.
(22) Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: (23) “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel”, que significa “Deus conosco”. (E aqui Mateus cita Isaías 7.14: “a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel”.)
(24) Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa. (25) Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho.
E ele lhe pôs o nome de Jesus. (Mateus 1.18-25 — NVI)

Lucas 1.26-35 informa:

(26) No sexto mês Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, cidade da Galiléia, (27) a uma virgem prometida em casamento a certo homem chamado José, descendente de Davi. O nome da virgem era Maria. (28) O anjo, aproximando-se dela, disse:
— “Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!
(29) Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. (30) Mas o anjo lhe disse:
— Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! (31) Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. (32) Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, (33) e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim.
(34) Perguntou Maria ao anjo:
— Como acontecerá isso, se sou virgem?
(35) O anjo respondeu:
— O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado Santo, Filho de Deus. (Lucas 1.26-35 — NVI)

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Entendamos os textos bíblicos:

  1. “Maria, [a mãe de Jesus], estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espírito Santo” (verso 18) — Maria e José eram noivos. Não devemos tomar esta informações nos termos do século 21. Na prática judaica antiga, eram dois os estágios anteriores ao casamento: o compromisso e o noivado. O compromisso era firmado por membros das famílias dos adolescentes, que podiam até não se conhecer. Algum tempo depois, ocorria o noivado. Nesse período, eles continuavam morando em casas separadas. O noivado só podia ser rompido com um divórcio, nas mesmas condições do casamento.
    Estando ainda noiva, Maria foi engravidada pelo Espírito Santo.
  2. Diante deste fato, “José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente” (verso 19) — Em outras palavras, José, não querendo expor sua noiva à vergonha, pretendeu anular o noivado secretamente. Ao agir assim, ele pretendia se proteger a si mesmo. Na legislação da época, a relação sexual entre os noivos era um pecado mais grave do que o cometido por um dos cônjuges depois do casamento. Tanto a noiva quanto o noivo flagrados em adultério deviam ser mortos por uma das seguintes modalidades de pena capital: apedrejamento, incendimento, decapitação ou estrangulamento. (Cf. STERN, David. Comentário judaico do Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2008, p. 27)
  3. Segundo a palavra do enviado de Deus, o que foi gerado em Maria procedeu do Espírito Santo (verso 20) — Em termos científicos, o papel representado naturalmente pelo homem (macho) no processo de fecundação foi desempenhado sobrenaturalmente pelo Espírito Santo. O Deus que criou as leis da fertilização suspendeu essas leis para um novo tipo de nascimento.
    Lucas, que era médico, nos ajuda a entender esta procedência do Espírito Santo (Lucas 1.26-35). Em sua narrativa, o evangelista destaca que Maria era virgem e noiva de José. Quando ouve o anúncio de sua impossível gravidez próxima, Maria se agita e pergunta: como, se não nunca tivera e não estava tendo relações sexuais com seu namorado? A resposta do anjo inclui metáforas do ato sexual, ao profetizar: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado Santo, Filho de Deus” (Lucas 1.35). Assim, “através da obra miraculosa do Espírito Santo, Maria foi transformada no tabernáculo da glória (‘shekinah’) de Deus quando o ‘poder do Altíssimo’ a cobriu”. (MOODY, D. Virgin birth. Em: BUTTRICK. G.A., ed. The Interpreter’s Bible Dictionary of the Bible. Nashville: Abingdon, 1962, v. 4, p. 789.) Sim, ninguém é o Filho Santo de Deus, senão Jesus Cristo, que foi concebido como foi.
  4. Seguindo as instruções do mensageiro de Deus, José “recebeu Maria como sua esposa, mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho” (versos 24-25) — José efetivou o casamento com Maria, viajando com ela (já esposa) para Belém.
    Ao se casar com Maria, José se tornou, nos termos da lei vigente à época, pai legal (nós diríamos: pai “adotivo”) de Jesus. A informação que não teve relações sexuais com ela enquanto não deu à luz o primeiro filho sugere que isto aconteceu depois. O Novo Testamento nos fala que Jesus teve irmãos; não há nenhuma dúvida que Maria teve outros filhos (Mateus 13.55-56 — “Não é este o filho do carpinteiro? O nome de sua mãe não é Maria, e não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Não estão conosco todas as suas irmãs? De onde, pois, ele obteve todas essas coisas?”; cf. Marcos 6.3) Á luz da Bíblia, não há nenhuma possibilidade para o ensino de que Maria permaneceu virgem para o resto da vida ou que ela mesma foi concebida também de modo sobrenatural. A “imaculada conceição” foi só para Jesus, e assim mesmo por uma razão teológica: só um homem nascido de Deus (“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e todo aquele que ama o Pai ama também o que dele foi gerado” — 1João 5.1) pode tirar o pecado do mundo. Por isto, negar o nascimento virginal de Jesus Cristo implica em negar o seu poder para nos regenerar de nossos pecados.
  5. Por isto, o apóstolo Paulo diz que “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Lei, a fim de redimir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4-5).
    Naquela cultura, o comum é falar de alguém como sendo filho de um  homem. O apóstolo Paulo, no entanto, destaca que Jesus nasceu de uma mulher, como que para demonstrar que algo extraordinário aconteceu aqui, o nascimento virginal. (GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2002, p. 873.)

 

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A aceitação do nascimento virginal de Jesus é um sério desafio à razão.

Quem aceita que Deus faça milagres não tem dificuldade em aceitar a providência divina em legar ao ser humano uma Escritura Sagrada (a Bíblia). Sua produção, ao reunir pessoas de tempos e culturas diferentes num mosaico harmônico que não se contradiz, é em si milagre.
Quem recebe a Bíblia como a Palavra de Deus para a sua mente e para o seu coração aceita o nascimento miraculosamente virginal de Jesus.
O evangelista Mateus informa, claramente, que Jesus nasceu de uma virgem, tendo sido concebido por Maria antes que se unisse sexualmente ao seu marido, deixando evidente que a concepção não foi natural. A reação de José deixa patente que eles não tiveram relações sexuais com a sua noiva. A informação de que o feto que estava no ventre de Maria fora gerado pelo Espírito Santo mostra a natureza sobrenatural desta concepção. Mateus usa o termo “partenos” (virgem), palavra que denota sem sombra de duvida uma moça que ainda não mantivera relações sexuais. (GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2002, p. 871)
A Bíblia, portanto, afirma com todas as letras que Jesus foi concebido por uma virgem. “Se não podemos confiar no que a Bíblia ensina sobre o nascimento virginal, como podemos confiar no que ela diz sobre a divindade de Cristo, sua expiação por nossos pecados ou sua ressurreição física?”

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Conclusão

A doutrina do nascimento virginal é inseparável do conceito de encarnação de Jesus Cristo, que é o eterno filho de Deus se tornando homem para a nossa salvação. Ao se encarnar, “Deus se tornou completamente humano sem deixar de ser totalmente divino”. Essa encarnação se concretizou por meio do nascimento virginal. (HINDSON, Edward. O nascimento virginal. Em: COUCH, Mal, ed. Os fundamentos para o século XXI. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 298)
Devemos nos lembrar que “o nascimento de Jesus não foi, como em nascimentos comuns, a criação de uma nova personalidade. Foi uma pessoa divina — já existente — entrando neste novo modo de existência. Apenas um milagre poderia produzir tal maravilha”. (ORR, James. Citado por HINDSON, Edward. O nascimento virginal. Em: COUCH, Mal, ed. Os fundamentos para o século XXI. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 289.)
Precisamos nos lembrar que “não há razão para crer que Jesus não nasceu literal e biologicamente de uma virgem, tal como a Biblia afirma. Apenas o preconceito antissobrenaturalista injustificado é base para a conclusão contrária”. (GEISLER, Norman. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2002, p. 873.)
De fato, o nascimento virginal de Jesus é tão miraculoso quanto sua ressurreição e ascensão, como é miraculosa a forma como perdoa os nossos pecados e nos regenera. Somente “um filho de Deus nascido virginalmente e sem pecado pode morrer por nossos pecados. (Conforme a advertência de John Frame, citada por HINDSON, Edward. O nascimento virginal. Em: COUCH, Mal, ed. Os fundamentos para o século XXI. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 287 e 299.)
Continuemos afirmando que “o Jesus da história é o Jesus do Novo Testamento tal como ele é retratado ali — nascido de uma virgem, que operava milagres, que morreu de forma vicária e foi a encarnação ressurreta de Deus”. (KANZER, Kenneth. Citado por HINDSON, Edward. O nascimento virginal. Em: COUCH, Mal, ed. Os fundamentos para o século XXI. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 301)