CREDO APOSTÓLICO, O CREDO CRISTÃO, 6 – Creio em Jesus Cristo que viveu e morreu ao tempo de Pôncio Pliatos

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Creio em Deus Pai, Todo-poderoso,
Criador dos Céus e da terra.

2
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,

3
o qual foi concebido pelo poder do Espírito Santo;
nasceu da virgem Maria;

6
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado;

7
desceu à mansão dos mortos,
ressurgiu dos mortos ao terceiro dia;

8
subiu ao Céu;
está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso,
donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

9
Creio no Espírito Santo;

10
na santa Igreja católica;
na comunhão dos santos;

11
na remissão dos pecados;

12
na ressurreição do corpo;

13
na vida eterna.
Amém.

CREDO APOSTÓLICO, 6

O Credo dos Apóstolos parte do pressuposto que Jesus Cristo teve uma existência real.

CREIO EM JESUS CRISTO QUE
“PADECEU SOB PÔNCIO PILATOS,
FOI CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO”.
AFIRMANDO A VERACIDADE HISTORIA DE JESUS CRISTO

Ao longo da história, tem-se procurado negar a história de Jesus.
Há alguns argumentos para esta negação. Mencionemos alguns:

  • Não há informações extrabíblicas sobre Jesus. Tudo o que sabemos sobre Ele vem do Novo Testamento.
  • Os primeiros registros do Novo Testamento sobre Jesus surgiram 30 anos depois dos fato narrados.
  • Os Evangelhos contêm dados contraditórios sobre Jesus.
  • O retrato apresentado de Jesus é mitológico, já que os atos que realizou (como as curas e sua própria ressurreição) não são factíveis à luz da razão.

1
Quanto às informações extrabíblicas contemporâneas de Jesus, elas não são abundantes, para os nossos padrões, mas não são poucas considerado o contexto da antiguidade. 1
Citemos, entre tantos, quatro textos antigos.

Flávio Josefo (37-100 d.C.), um historiador judeu, escreveu em suas Antiguidades:
“Nesse tempo vivia Jesus, um homem sábio. Ele era feitor de obras maravilhosas, Mestre dos homens que aceitam a verdade com prazer. Ele atraiu tanto judeus como gregos. E mesmo com provas dos principais homens entre nós à cruz tendo sido condenado por Pilatos, não o abandonaram os que primeiro lhe tinham amado. Até hoje o povo dos cristãos, do qual foram nomeados, não desapareceu”.´

Tácito (56-117), um historiador romano, anotou:
“Assim, para fazer calar o rumor, Nero criou bodes expiatórios e submeteu às torturas mais refinadas aqueles que o povo chamava de cristãos, [um grupo] odiado por seus crimes abomináveis. Seu nome deriva de Cristo, que durante o reinado de Tibério, tinha sido executado pelo procurador Poncio Pilatos”.

Mara Bar-Serapion, filósofo estóico da Síria, numa carta da prisão no ano 70 d.C., perguntou:
“Que benefício obtiveram os atenienses por condenarem Socrátes a morte, uma vez que eles receberam em troca fome e peste? Ou os cidadãos de Samos por lançar Pitágoras às chamas? Num instante seu território se viu coberto de areia. Que vantagem obtiveram os judeus matando seu sábio Rei. Logo depois, seu reino foi destruído. Pois com justiça Deus vingou esses três sábios. Pois os atenienses morreram de fome, o povo de Samos foi coberto pelo mar, e os judeus, desolados e expelidos de seu reino, vagam dispersos por todas as terras. Sócrates não morreu, por causa de Platão, ou Pitágoras, por causa da Estátua de Hera, nem tampouco o Sábio Rei, continuou a viver nos ensinamentos que transmitiu”.

O Talmude Babilônio, compilado entre os anos 200-500, faz a seguinte referência a Jesus:

“Na véspera da Páscoa eles penduraram Yeshu […]. Ia ser apedrejado por prática de magia e por enganar Israel e fazê-lo se desviar […]. E eles o penduraram na véspera da Páscoa.”

Não procedem, portanto, as alegações de que não há registros extra bíblicos sobre a existência de Jesus Cristo.

 

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Há ainda a alegação que as informações do Novo Testamento sobre Jesus surgiram muitos anos depois dos fatos narrados.

Lembremos que esta distância é curtíssima, sobretudo para uma cultura oral, como aquela. Quando os evangelhos foram escritos, seus autores recolheram relatos e sermões que estavam na memória das pessoas em diferentes contextos. Numa cultura oral, memorizar é a única possibilidade de a história ser preservada.
Na verdade, há porções do livro de Marcos, por exemplo, escritas em manuscritos datados do ano 50 (ou seja, 20 anos após os fatos). Que dizer, então, dos escritos de Platão, cuja cópia mais antiga já encontrada é de 1200 anos após a existência do filósofo grego?
Os registros sobre a vida de Jesus são, portanto, incrivelmente próximos dos fatos narrados. O texto que temos do Novo Testamento é absolutamente digno de confiança.
Ademais, “o intervalo entre as datas do documento original e a mais antiga evidência existente é tão pequeno que se torna desprezível, derrubando assim qualquer dúvida de que as Escrituras tenham chegado até nós basicamente da forma como foram escritas. Tanto a autenticidade quanto a veracidade geral dos livros do Novo Testamento podem, finalmente, ser estabelecidas”. 2

 

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Pretendem ainda alguns que os Evangelhos contêm dados contraditórios sobre fatos ligados a Jesus.

Na maioria dos fatos relatados em comum, o registro é absolutamente idêntico. No entanto, há registros que, comparados, se mostram diferentes.
Vejamos alguns casos.
O chamado “Sermão do Monte”, que não aparece em Marcos e nem em João, não é o mesmo em Mateus 5-7 e Lucas 6.20-49.
O chamado “Pai Nosso”, transcrito em Mateus (6.9-13) e Lucas (11.2-4), não é o mesmo.
Há curas narradas de modo discrepante. Em Mateus 20.39-44, Jesus cura dois cegos em Jericó, mas Marcos 10.46-52 e em Lucas 18.35-43 só há menção a um cego.
Os relatos sobre a ressurreição de Jesus não são idênticos, havendo mesmo diferenças entre eles.
Em Mateus 28.5, diante do túmulo vazio, um anjo fala as mulheres. Em Marcos 16.5, quem aparece é um jovem vestido de branco. Lucas 24.4 descreve dois homens com roupas brilhantes. João 20.12 afirma que eram dois anjos vestidos de branco.
Para entender estas discrepâncias, consideremos alguns aspectos gerais:

  • os autores (evangelistas) escreveram para públicos diferentes, contando a história de modo que esses públicos entendessem segundo o seu universo de significação.
  • cada autor também tinha objetivos e formações diferentes, o que lhe levava a colocar luz sobre aspectos diferentes um do outro. Lucas, por exemplo, era médico; seus relatos sobre curas e a morte de Jesus são mais “técnicos”, por assim dizer.
  • cada autor segue as testemunhas que ouviu e que estas testemunhas relataram os fatos segundo os seus ângulos de visão. Se, por exemplo, um autor ouve Maria sobre o nascimento de Jesus, recebe uma versão; se ouve um pastor que esteve junto a manjedoura, recebe outra versão, igualmente verdadeira, mas diferente.

Assim, vejamos os casos mencionados especificamente.

No caso do “sermão do monte”, o conteúdo é o mesmo. Mateus (5-7) é detalhado. Lucas (6.20-49) pega um resumo.  Mateus prefere uma transcrição integral do sermão. Lucas opta por uma versão resumida. No entanto, não há nenhum ensino diferente entre si.
Quanto ao “Pai Nosso”, a versão de Lucas (11.2-4) é também mais breve que a de Mateus (6.9-13). No entanto, todas as frases de Lucas estão em Mateus. De novo, o significado é o mesmo. Além disso, uma pergunta se impõe:  Quantas vezes os discípulos pediram a Jesus que lhes ensinasse a orar. Só uma? Se pediram mais de uma vez, ouviriam a mesma oração?
Sobre a cura em Jericó, os evangelhos não registram todas as viagens de Jesus e nem todos os milagres, por sua quantidade. Para mim, a resposta é simples: numa vez que foi a Jericó, ele curou um cego; na outra, curou dois. Ele também não multiplicou pais e peixes duas vezes?
Os relatos da ressurreição são facilmente harmonizáveis se entendemos que foi um fato com vários desdobramentos e varias testemunhas. Cada um narrou o que viu no momento e no lugar em que esteve próximo ou dentro do sepulcro. Os emissários de Deus eram dois, vestidos de branco, chamados ora de “jovens” ora de “anjos”. A uns, apareceram em dupla; a outros, em separado. E cada um narrou a sua experiência. E são estas experiências que compõem os evangelhos.
Não, há, portanto, qualquer contradição. As diferenças de forma não alteram o conteúdo e mostram que a história não foi inventada; se fosse, as narrativas seriam semelhantes.
Lembremos do que escreveu belamente o teólogo alemão Oscar Cullmann:

“A igreja cristã, recusando essas tentativas de unificação artificial, recebeu os quatro evangelhos lado-a-lado, mas lhes deu títulos que assinalam bem de que se trata de quatro testemunhos sobre um mesmo acontecimento e uma mesma pessoa, de uma só boa nova, entendida de modo diferente e complementar, de um único Evangelho tetramorfo: segundo Mateus, segundo Marcos, segundo Lucas, segundo João”. 3

Sem dúvida, as variações informativas de um mesmo acontecimento indicam que não houve uma armação entre os autores para apresentar apenas uma versão. Cada evangelho é uma versão.
Como escreveu um estudioso cristão (F.F. Bruce), “não existe nenhuma literatura do mundo antigo que disponha de tal quantidade de documentos para comprová-la como o Novo Testamento”.

4
Outros pensam que o Jesus do Novo Testamento é mitológico, já que os atos que realizou (como as curas e sua própria ressurreição) não são aceitáveis à luz da razão.

Os que seguem esta linha não aceitam a possibilidade da intervenção miraculosa de Deus na história. Na perspectiva cética, tanto no passado quanto no presente, não há milagres, não há curas, nada acontece fora das leis da física. Podemos ver esta recusa à possibilidade “de qualquer ocorrência miraculosa” como “uma forma de intransigência”.Devemos encorajar os materialistas a que considerem “a possibilidade do sobrenatural, mesmo que permaneçam extremamente céticos. Manter-se fechado a essa possibilidade é afirmar um conhecimento absoluto do universo, que surpreendentemente é uma prerrogativa ‘divina’. (..) Para aquele que não crê na possibilidade de milagres, talvez seja melhor que ele mesmo leia o evangelho. Muitas pessoas que pensam assim na verdade nunca pegaram um evangelho para ler. 4
CREIO QUE JESUS CRISTO “PADECEU SOB PÔNCIO PILATOS”
Uma das indicações sobre a historicidade de Jesus está na pesquisa do torno de nome de pessoas cujas existências constam de documentos públicos da época. Este é o caso de Pilatos.

O Credo nos traz a clara informação sobre a época em que Jesus viveu. Ele foi contemporâneo de Pôncio Pilatos.
A existência de Pilatos foi posta em dúvida, até acontecerem as escavações conduzidas em 1961 pelo arqueólogo italiano Antônio Frova num antigo teatro construído, no ano 30 a.C., por ordem de Herodes o Grande em Cesaréia, então capital da província da Judeia. O cientista desenterrou um bloco de calcário medindo 82cm x 62cm, com uma dedicatória ao imperador Tibério César Augusto. A inscrição, de quatro linhas, diz:

[DIS AUGUSTI]S TIBERIEUM
[. . . . PO]NTIUS PILATUS
[. . .PRAEF]ECTUS IUDA[EA]E
[. .FECIT D]E[DICAVIT]

“Ao Augusto Tiberium
Pôncio Pilatos,
Prefeito da Judeia,
dedica”

Pilatos foi o quinto prefeito (procurador, governador) da província romana da Judeia por 10 anos (de 26 a 36 d.C). Ele é mencionado 57 vezes nos (quatro) evangelhos (11 em Mateus, 12 em Marcos, 12 em Lucas e 22 em João) e também em Atos (Atos 3.12, 4.27, 13.28) e na Primeira Carta de Paulo a Timóteo (1Timóteo 6.13).

Este padecimento, que foi real, foi narrado em detalhes pelos Evangelhos.
Tomemos um deles, Marcos (capítulos 14 e 15).
O padecimento de Jesus começou numa festa, quando teve início o processo de sua traição por Judas, ocasião em que se despediu formalmente dos seus discípulos, prenunciando a morte próxima. Saindo dali, ele os discípulos saíram para orar, mas os rapazes dormiram e o Mestre teve que orar sozinho.
Pouco depois, foi preso, tendo todos os seus amigos fugido. Começaram, então, os seus processos, com muitos testemunhando falsamente contra ele.
No dia seguinte, foi levado a Pôncio Pilatos, que tentou interroga-lo, “mas Jesus não respondeu nada, e Pilatos ficou impressionado” (Marcos 15.5). Entre soltar Barrabás, um bandido e solta-lo, a multidão preferiu a liberdade de Barrabás. “Desejando agradar a multidão, Pilatos soltou-lhes Barrabás, mandou açoitar Jesus e o entregou para ser crucificado” (Marcos 15.15).
Os soldados “batiam-lhe na cabeça com uma vara e cuspiam nele”  (Marcos 15.19). Depois, “o levaram para fora, a fim de crucificá-lo” (Marcos 15.20).
Sobre este padecimento, os primeiros teólogos cristãos derivaram conseqüências para a vida dos cristãos:

“Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos. (1Pe 2:21)

“Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito”. (1Pedro 3.18)

“Portanto, uma vez que Cristo sofreu corporalmente, armem-se também do mesmo pensamento, pois aquele que sofreu em seu corpo rompeu com o pecado”. (1Pedro 4.1)

“Assim, Jesus também sofreu fora das portas da cidade, para santificar o povo por meio do seu próprio sangue”. (Hebreus 13.12)

“Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu”. (Hebreus 5.8)

 

Com todas as letras, fica claro que este padecimento (sofrimento) foi uma vez por todas e em lugar de todos os pecadores de todos os tempos.
Jesus sofreu pelos flagelos físicos que recebeu. Jesus sofreu pelo abandono de que foi alvo. Jesus sofreu pelo volume de pecados (os nossos pecados) que foi lançado sobre as suas costas..
Ao que não receberam a salvação, possível pelo sofrimento de Jesus em nosso lugar, o oferecimento permanece.
Ao que já receberam a salvação, possível pelo sofrimento de Jesus em nosso lugar, o convite é outro: o padecimento de Jesus é um exemplo para que amemos do mesmo modo com que fomos amados.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

 

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1  Para um resumo atualizado, veja EASTMAN, Mark. Historical Evidence for Jesus of Nazareth. Disponível em <http://www.blueletterbible.org/commentaries/comm_view.cfm?AuthorID=15&contentID=3145&commInfo=9&topic=The%20Search%20for%20the%20Messiah>
2  KENYON, Frederick C. Citado por ORR-EWING, Amy. Por que confiar na Bíblia? Viçosa: Ultimato, 2008, p. 44.
3  CULLMANN, Oscar. A formação do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2001, p. 16.
4  ORR-EWING, Amy. Por que confiar na Bíblia? Viçosa: Ultimato, 2008, p. 54-55.

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