A QUESTÃO CIENTÍFICA
No meio do caminho dos que seguem os preceitos da Bíblia tem uma pedra.
No meio do caminho dos que aceitam o ensino da Bíblia para o exercício da sexualidade tem uma pedra.
No meio do caminho dos que consideram como válida a condenação bíblica à prática da homossexualidade tem uma pedra.
E esta pedra se chama ciência.
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A LÓGICA DO PROBLEMA
A origem da homossexualidade vem sendo disputada por cientistas que defendem para ela uma causa natural e os que preconizam uma causa ambiental, numa espécie de cabo-de-guerra, com estudos enviesados de ambos os lados, para explicar porque perto de 5% da população masculina e 2% da feminina são homossexuais. 1
Em função sobretudo da publicidade que se dá a alguns achados, alguns ainda sem uma ampla aceitação pela própria comunidade científica, muitos garantem que a Bíblia está errada no que ensina sobre a homossexualidade. Para esses, uma vez que a ciência prova que o que a Bíblia diz sobre a homossexualidade está eivado de preconceito e ignorância sobre a natureza humana, a Bíblia deve ser vista como estando errada sobre o assunto e, então, substituída pela razão humana. Assim, segundo esta lógica, os cristãos devem adaptar ou mudar sua visão, para aceitar que a homossexualidade é uma orientação natural e normal, variante da experiência humana. 2
Mais uma vez, precisamos examinar com muito espírito crítico os que defendem, deterministicamente, uma origem de natureza biológica para a homossexualidade, como também os que defendem, construcionisticamente, uma base ambiental para o comportamento.
Não falta autoritarismo, que não devia combinar com a prática científica, até mesmo nos órgãos governamentais que estabelecem políticas públicas. O Conselho Federal de Psicologia proíbe que seus associados (e todos os psicólogos brasileiros são obrigados a se lhe associar) ofereçam terapia aos que desejam mudar de orientacao sexual. O Royal College of Psychiatrics do Reino Unido processou um de seus membros por discordar de um dos seus pareceres.
Se a homossexualidade é herdada ou adquirida faz uma grande diferença. Daí os investimentos feitos em pesquisa para oferecer uma resposta para a questão. Se a condição homossexual é de fundo biológico, não pode ser revertida, como ninguém pode mudar a cor dos seus olhos. Se a condição homossexual vem do convívio, ela pode ser alterada mediante a psicoterapia.
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OS DETERMINISMOS E SUAS LIMITAÇÕES
A pergunta posta é, portanto, a seguinte, com seus desdobramentos: qual a origem da homossexualidade? ela é determinada biologicamente ou ela se explica pela história do indivíduo?
A cada dia, os meios de comunicação resumem uma nova teoria. A cada dia cresce a percepção popular que a homossexualidade é anterior ao nascimento do indivíduo.
OPÇÃO X ORIENTAÇÃO
As palavras usadas já contêm a ideologia científica que lhe subjaz: orientação e opção são duas palavras que querem se impor.
Quando se usa "orientação sexual", está-se dizendo que a homossexualidade é inata, indicando o homossexual já nasceu nesta condição. Quando se emprega a expressão "opção sexual", o sentido é que se trata de uma preferência sexual, que "pode ser aprendida ou é uma questão de escolha pessoal e pode estar contra a natureza da pessoa". 3
DETERMINISMO BIOLÓGICO
Quando as pessoas em geral falam em determinação genética, querem dizer determinação biológica. A determinação biológica inclui diversos componentes, como a estrutura do genoma, a anatomia do cérebro e a distribuição de hormônios.
SEXUALIDADE HERDADA — O neurocientista inglês Simon LeVay tem pesquisado e escrito sobre a questão científica da homossexualidade a partir de dois pressupostos: ele crê no determinismo biológico e se afirma homossexual. Muitos cientistas que estudam a homossexualidade são deterministas; destes, poucos se afirmam homossexuais.
Para LeVay,
"a orientação sexual é um aspecto do gênero que surge da diferenciação sexual prenatal do cérebro. Se uma pessoa termina homossexual ou heterossexual depende em grande parte de como este processo de diferenciação biológica se desenvolve, sendo os fatores mais importantes os genes, os hormônios sexuais e os sistemas cerebrais que são influenciados por eles". 4
Tirando conclusões dos estudos sobre os comportamentos sexuais de gêmeos, LeVay insiste que "a homossexualidade é significativamente herdada em ambos os sexos" e que "o ambiente compartilhado é também importante, mas o ambiente não compartilhado desempenha um papel pequeno ou nenhum. 5
Simon LeVay, então, conclui:
"O conhecimento científico atualmente disponível apoia a ideia que os homossexuais são 'tipos' diferentes de pessoas que precisam ser protegidas da discriminação, sobretudo pelos governos, do mesmo modo que o são as minorias raciais. Também creio que haveria um monte de razões para que sejam aceitos e valorizados pela sociedade, mesmo que ficasse provado que ser homossexual é uma escolha consciente". 6
O PESO DOS HORMÔNIOS — O fisiologista norte-americano Dennis McFadden é categórico, inclusive na aplicação:
"A identidade de uma pessoa é amplamente determinada pelos genes que recebemos de nossos pais e das condições do ambiente prenatal a que somos expostos. Minha esperança é que, raciocinando, as pessoas compreendam isto e vejam que discriminar os homossexuais faz tanto sentido quanto discriminar os canhotos. Ambas as condições decorrem do grau de exposição a certos hormônios durante nosso desenvolvimento e não de uma escolha consciente que façamos, uma vez que nenhuma escolha consciente foi feita pelos heterossexuais e pelos destros. As pessoas simplesmente são o que são". 7
Escrevendo na mesma época, o neuroendocrinologista francês Jacques Balthazar parece trilhar na mesma senda:
"Baseado em resultados científicos acumulados nestas últimas décadas, creio que a origem da homossexualidade deve ser procurada na biologia dos indivíduos, que expressam sua orientação sexual particular, e não no comportamento dos seus pais ou nas escolhas feitas pelos indivíduos durante seu desenvolvimento". 8
No entanto, depois de dizer que correlação não é causalidade, que os neurônios nos governam e que a educação e o ambiente não são suficientes para explicar a homossexualidade, Balthazart oferece-nos uma conclusão que deixa a porta aberta para o fator ambiental:
"Múltiplos fatores genéticos, hormonais e ambientais interagem para modular e controlar o comportamento humano do indivíduo. Isto inclui a estrutura do genoma e suas variações individuais, bem como o estímulo social, hormonal e ambiental a que o indivíduo é exposto através de sua vida. Na maioria dos casos, é impossível atribuir um comportamento a um única causa específica". 9
PELA EPIGENÉTICA — Dois autores fazem uma proposta: a de que haja uma influência não-genética, mas epigenética. Escreveram eles:
"A nossa hipótese não é a primeira hipótese não-genética para a evolução da homossexualidade humana. Uma hipótese não-genética, altamente intuitiva, para a homossexualidade é que ela se deve à redução de marcadores de andrógenos que ocorre após o primeiro trimestre da gestação, isto é, depois que a genitália se formou. Muitos agentes ambientais podem potencialmente reduzir os marcadores andrógenos e estes podem episodicamente afetar alguns períodos de desenvolvimento do feto, mas não outros períodos". 10
Saudado como efusão pelos meios de comunicação a hipótese dos autores é, segundo suas palavras, "intuitiva", apenas isto.
Nas últimas décadas, a psicologia perdeu a corrida para biologia para a explicação dos fenômenos humanos. A ciência também anda por ondas; movendo-se segundo as modas.
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POLÍTICAS DE GOVERNO
Estas percepções, assim tão convictas, se tornaram políticas de governo, como demonstrada na orientação emitida pelo Royal College de Psychiatrists da Inglaterra, publicada em 2010:
"The Royal College of Psychiatrists deseja esclarecer que a homossexualidade não é uma doença psiquiátrica.
Em 1973 the American Psychiatric Association concluiu que não havia evidência científica de que a homossexualidade fosse um transtorno e a retirou do seu glossário de doenças mentais. A Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (International Classification of Diseases of the World Health Organisation) seguiu na mesa linha em 1992.
The Royal College of Psychiatrists sustenta a ideia que as pessoas lésbicas, gays e bissexuais devem ser vistas como membros valorosos da sociedade que têm os mesmos direitos e responsabilidades como todos os cidadãos. Isto inclui acesso igual à saúde pública, direitos e responsabilidades próprios da sociedade civil, direitos de responsabilidades relacionados à procriação e criação de crianças, liberdade para praticar uma religião como leigo ou líder religioso, liberdade de não ser discriminado em todas as esferas e direito a ser protegido de terapias que são potencialmente danosas, particularmente aqueles voltadas para a mudança de orientação sexual.
The Royal College of Psychiatrists crê firmemente no tratamento baseado em evidências. Não há evidência científica sólida de que a orientação sexual possa ser mudada. Ademais, os assim chamados tratamentos da homossexualidade criam um ambiente em que o preconceito e a discriminação florescem.
Há um amplo corpo de evidência de pesquisa que indica que ser gay, lésbica ou bissexual é compatível com uma saúde mental normal e com o ajuste social. Entretanto, as experiências de discriminação na sociedade e a possível rejeição de amigos, familiares e outros, como empregadores, significam que algumas pessoas lésbicas, gays e bissexuais experimentam uma prevalência maior que a esperada de problemas de saúde mental e abuso de substâncias.
A terceira edição da 'Good Psychiatric Practice' (Boa Prática Psiquiátrica) claramente estabelece: “Um psiquiatra deve fornecer um cuidado que não discrimina e é sensível às questões de gênero, etnia, cor, cultura, estilo de vida, crenças, orientação sexual, idade e deficiências". The Royal College of Psychiatrists espera que seus membros sigam a 'Good Psychiatric Practice'". 11
A linguagem dos cientistas que defendem uma perspectiva biologizante para a homossexualidade tem o mesmo diapasão, concluindo que trabalham no plano da certeza e do consenso.
DISSENSO — Há uma outra maneira de ver a questão científica em torno da homossexualidade, o que talvez permita dizer que o bom senso é bem diferente do propalado consenso.
A própria American Psychological Association (APA), mesmo afirmando que "a maioria das pessoas experimenta pouco ou nenhum senso de escolha sobre a sua orientação sexual", admite:
"Não há consenso entre os cientistas sobre as razões exatas porque um indivíduo desenvolve uma orientação heterossexual, bissexual, gay ou lésbica. Conquanto muitas pesquisas tenham examinado influências genéticas, hormonais, desenvolvimentais, sociais e culturais sobre orientação sexual, nenhuma conclusão surgiu que permita aos cientistas concluir que a orientação sexual seja determinada por algum fator ou fatores específicos. Muitos cientistas pensam que a natureza e a formação ("nature and nurture") desempenham papeis complexos". 12
Apesar da ideia popular de um consenso em torno de uma determinação biológica da homossexualidade, este consenso não existe. 13
GENES — A despeito de todas as tentativas, nunca foi identificado o "gene gay" que determinaria a orientação homossexual. Falharam os esforços para associar a homossexualidade à região Xq28 no cromossomo X. De igual modo, o uso de da tecnologia de microarranjo de DNA também não conseguiu descobrir genes específicos como fator na orientação sexual.
CÉREBRO — Os primeiros estudos que reportavam diferenças nos cérebros de homossexuais foram complicados pela infecção dos objetos de estudos, além de não serem confirmados por estudos mais amplos e mais bem controlados.
HORMÔNIOS — Quanto ao papel dos hormônios na orientação sexual, os estudos foram geralmente contraditórios, sem medidas que permitisse estabelecer algum nível de determinação.
GÊMEOS — O psicólogo norte-americano J. Michael Bailey, que pesquisou longamente sobre a orientação sexual de gêmeos idênticos e fraternos, afirmou:
"Conduzi vários estudos sobre a orientação sexual de gêmeos, que parecem que indicam alguma evidência que os genes importam, mas também fornecem uma evidência inequívoca que o ambienta importa. É importante compreender que há mais que o ambiente social. Embora a orientação sexual masculina seja amplamente ambiental, também parece ser inata". 14
ABUSO SEXUAL — Pesquisas sobre o papel do abuso sexual infantil mostraram que dos que se afirmam homossexuais, no máximo 10% foram abusados.
INCONSTÂNCIA — Além disso, a orientação sexual não é constante para muitos indivíduos, o que sugere que uma parte da orientação social seja, na verdade, preferência sexual.
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O ESTADO DA QUESTÃO
Com todas as letras, podemos dizer que "a evidência científica para a causalidade é simplesmente inconclusiva até o presente momento"; logo, "nenhuma pesquisa até o presente momento oferece amplo apoio a qualquer teoria que permita excluir a outra". 15
Deste modo, vários fatores de ordem psicológica, ambiental e biológica, junto com a escolha humana, contribuem para a orientação sexual. 16
Como escreveu um cientista brasileiro,
"para além de eventuais fatores biológicos que possam estar associados à orientação sexual na espécie humana, devemos ter sempre em mente que ela é influenciada também por inúmeros fatores ambientais e pela história de vida de cada indivíduo. Deve ser compreendido claramente que a homossexualidade na espécie humana é um processo extremamente complexo e delicado de ser estudado". 17
A sexualidade é uma variável psicológica e importante, devendo, portanto, ser vista como um mosaico complexo de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais. 18
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O PODER DA IDEOLOGIA
Assim mesmo, os biodeterministas insistem, menosprezando outras perspectivas. Um desses autores tripudia sobre a psicanálise, desrespeitosamente assim: "Sigmund Freud desenvolveu uma teoria da homossexualidade em que a dinâmica do relacionamento criança-pai determina em última análise da orientação sexual dos adultos". Segundo o autor, com o que não concordaria nenhum psicanalista, na Inglaterra e nos Estados Unidos, a psicanálise, em função até de suas fraudes, algumas do próprio Freud, "tem sido amplamente ignorada", apesar de sua persistência na cultura, "uma vez que as crenças do público em geral incompreensivelmente atrasam o avanço científico". 19
A ideologia tem dificultado que o assunto seja pesquisado dentro dos padrões rigorosos que todo objeto exige. De igual, as decisões morais não podem manipular a ciência. Os cristãos contrários ao casamento entre pessoas do mesmo sexo não podem omitir dados das pesquisas que cita. Os favoráveis não podem ignorar as fragilidades dos estudos que lhes pareçam melhores.
Os que devem um lado ou outro não podem ser desclassificados, ou como homófilos ou homofóbicos, desde que mantenham elevado o nível do debate.
A proibição brasileira pelo Conselho Federal de Psicologia de seus profissionais em oferecer ajuda terapêutica a homossexuais que o procuram, revela uma política de classe mundial. Todos esses órgãos parecem ignorar o que lembrou um psiquiatra cristão canadense, Joseph Berger: "Todo terapeuta ético oferece ajuda psicoterápica somente para aqueles que voluntariamente o procuram". 20
Nos Estados Unidos, o médico negro Ben Carson, diretor de neurocirurgia pediátrica do Johns Hopkins Hospital, em Baltimore (Md.) e respeitado pelos serviços prestados aos pobres do seu país, afirmou numa entrevista que o casamento é entre um homem e a mulher. Ele acrescentou uma frase, para argumentar, que "isto está bem estabelecido como pilar fundamental da sociedade e que nenhum grupo, sejam homossexuais, sejam pessoas que crêem na bestialidade, poderá mudar esta definição".
O mundo caiu sobre ele. Carson se desculpou pela comparação, que não central no caso, mas o mundo continuou caindo sobre ele. 21
O mesmo aconteceu com o médico britânico Peter G. May, ao questionar a falta de padrões científicos para o parecer científico que o Royal College of Psychiatrics ofereceu ao governo britânico e à Igreja Anglicana.
May avaliou todas as fontes utilizadas pelo Royal College e demonstrou que todas foram distorcidas para servir ao ideário. O que pediu é que "todas as discussões públicas sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo no mundo ocidental seja orientado pela melhor pesquisa científica e não pela ideia do que seja politicamente correto mesmo que cientificamente sem fundamento. 22 O Royal continuou no seu ideário mesmo não dispondo de evidências claras.
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A (IM)POSSIBILIDADE DA PSICOTERAPIA
A grande questão em jogo é a legitimidade da psicoterapia para homossexuais que desejam deixar sua condição.
A questão é: se a homossexualidade é determinada biologicamente, é imutável, nao implica em transgressão moral e deve ser exercida livremente.
Como sintetizou o neurocientista e militante homossexual Simon LeVay, o alvo dos defensores da moralidade da prática homossexual "é fortalecer a aceitação das pessoas homossexuais como são, em toda a sua rica diversidade, e não buscar aceitação numa inadequada conformação com a maioria heterossexual". 23
Orgãos de classe como o britânico Royal College ou o brasileiro Conselho Federal de Psicologia entendem que a psicoterapia gera preconceito e sofrimento, além de ser inútil já que, no seu entendimento, a homossexualidade não é reversível.
Postulam outros, muitos, afirmando sua fé cristã, que:
"Não há uma localização específica no cérebro para a 'orientação" sexual e nenhuma justificativa para afirmar que uma pessoa com atração pelo mesmo sexo não possa, por meio da psicoterapia, descobrir ou redescobrir atração pelo sexo oposto. Se as pessoas que se identificaram uma vez como heterossexuais podem posteriormente se identificar como homossexuais, o oposto também pode ser sustentado. 24 Em suas pesquisas,
O entendimento desses autores é que inexiste um corpo significativo de literatura científica demonstrando dano por causa da terapia, apenas casos isolados. Opostamente,
"há um amplo corpo de literatura científica de qualidade demonstrando o tratamento bem-sucedido de pessoas infelizes com desejos homossexuais que se tornam heterossexuais resolvidos". 25 Ademais, a correlação entre estima social e problema homossexual é real, mas a prova empírica da primeira causando a segunda ainda não foi descoberta.
Um estudo feito ao longo de sete anos examinou a mudança de orientação homossexual para heterossexual em homens e mulheres que passaram por programas cristãos. A conclusão é que mudança aconteceu de modo positivo para alguns e que o estresse psicológico não aumentou como resultado do envolvimento no processo de mudança. O que se pode afirmar sobre a validade da psicoterapia é que não há consenso entre os cientistas sobre a sua eficácia. Sequer há também consenso sobre os eventuais danos que provocaria. 26
Quanto a outros aspectos da moral, tornou-se comum em 2013 alguns pessoas, sobretudo do meio artístico, irem a público declarar, sem que ninguém lhes perguntasse, que eram bissexuais. É possivel que o próximo passo seja a defesa da bissexualidade como orientação sexual. O futurólogo americano sugere: "É fácil imaginar que, num mundo onde o casamento homossexual era comum e plenamente aceito, uma forte campanha para legalizar uniões poliamorosas aconteceria". 27
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UMA CRÍTICA DA CIÊNCIA
Podemos, agora, gerar alguns princípios que a ser considerados (pelos cristãos) em sua discussão sobre a perspectiva científica em torno da homossexualidade.
1. Devemos ser críticos em relação à ciência.
Somos muito críticos em relação à política, pouco críticos em relação aos meios de comunicação e nada crítico em relação a ciência.
A crença em geral é que a ciência é neutra, mas também ela é feita a partir de um lugar. Não pense que a ciência seja neutra. Ela é feita por pessoas que têm uma premissa a defender ou uma hipótese a provar Em algumas áreas, há interesses muito grandes em jogo. Seja crítico.
O lugar do cientista pode trair seu rigor. Ao examinar dezenas de artigos e livros, para este estudo, verifiquei que os pesquisadores (sendo ou não homossexuais) pró-homossexuais deixaram de lado as evidências contrárias, deixaram de lado autores com perspectivas diferentes, foram condescendentes quando avaliaram evidências que lhe eram favoráveis. 28
Também verifiquei que os pesquisadores, sobretudo cristãos, e os ativistas contra a regularização das práticas homossexuais igualmente omitiram informações que negavam os seus argumentos. Dou um exemplo: os defensores da terapia reparativa usam como autoridade para sua proposta o estudo de Robert Sptizer com homossexuais que passaram pela terapia. Em sua conclusão, Spitzer avalizava a terapia. No entanto, alguns anos depois, ele admitiu que seus estudos continham erros metodológicos e pediu desculpas. Os promotores da terapia reparativa continuaram a usar o estudo que lhe era favorável. 29
A honestidade intelectual deve se sobrepor à ideologia. Devemos estar atentos para desmascarar suas pretensões, para que a ciência seja uma boa ciência.
O mal uso das ciências tem um impacto devastador.
Assim, não acredite nas afirmações do tipo "a ciência provou que". Nem sempre o que se diz que está provado está mesmo provado. O rigor científico inclui o seguinte cuidado: uma conclusão científica só é aceita quando o experimento é repetido independentemente por outros pesquisadores.
2. Devemos ser críticos a toda forma de reducionismo.
Não é plausível que a biologia seja a única causa para a homossexualidade.
Não é razoável que a psicologia seja capaz de explicar todos os comportamentos humanos.
Não é plausível que o ambiente determine todas as ações humanas. No máximo, poderíamos falar não em “determinação” mas em “predisposição” genética. 30
Não simplifique para que tudo caiba no campo da fé, porque há muitos temas que pertencem a outra campo, que não o da fé. Saber que existe vida extraterrestre não é uma questão de fé, mas de ciência.
Portanto, não pense que a vida pode ser biologizada. Nem tudo é genético. Nem tudo é neurológico. Nem tudo é determinado. O papel das escolhas humanas, conscientes ou não, permanece forte, como sempre foi.
3. Não transformemos questões morais em questões científicas.
'Precisamos cuidar para não fazer perguntas a cientistas e psicólogos para as quais não estão equipados para responder. Embora neurocientistas, psiquiatras e psicólogos tenham muito a nos ensinar, eles não têm condições de nos ajudar a compreender o que a Bíblia realmente ensina sobre este assunto. Perguntas sobre a intenção divina ao ordenar os relacionamentos humanos são questões teológicas e éticas, para as quais a ciência e a psiquiatria não têm repostas". 31
O pesquisador J. Michael Bailey é bem claro: "Penso que as pessoas são rápidas demais em tirar conclusões sociais e ética dos dados científicos". 32
A ciência, portanto, não deve ter autoridade sobre questões morais.
4. Devemos afirmar a nossa liberdade.
Uma vez que "não há evidência até o presente momento que substancie a teoria biológica, assim como não há evidência capaz de apoiar apenas a explicação psicológica", 33 continuemos pesquisando.
Uma vez que "não há nenhum teste (físico ou biológico) em laboratório para determinar quem é ou quem não é homossexual", 34 continuemos exercendo a nossa liberdade.
Assim, devemos ter em mente que todas as pessoas, homo ou heterossexuais "não são robôs subumanos que agem de modo predeterminado". Antes, "são agentes morais que herdam tendências da biologia e do ambiente e que compartilham na formação de seu caráter por meio das respostas que dão a diferentes situações de vida". Por isto, "como todas as pessoas, não devem perguntar: 'o que eu quero fazer', mas 'é isto que eu quero fazer?' A existência de inclinações ou de predisposições não apaga a necessidade da avaliação moral destas inclinações". 35
***
No meio do caminho dos que seguem os preceitos da Bíblia tem uma pedra.
No meio do caminho dos que aceitam o ensino da Bíblia para o exercício da sexualidade tem uma pedra.
No meio do caminho dos que consideram como válida a condenação bíblica à prática da homossexualidade tem uma pedra.
E esta pedra se chama ciência, mas ciência mal-utilizada.
_______________________________
[1]JONES, Stanton L. & YARHOUSE, Mark A. Homosexuality: the use of scientific research in the church's moral debate. Downers Grove: InterVarsity Press, 2000, p. 46.
[2]JONES, Stanton L. & YARHOUSE, Mark A. Homosexuality…, p. 17.
[3]MCNIGHT, Jim. Straight science? homosexuality, evolution and adaptation. London: Routledge, 1997, pos. 301
[4]LEVAY, Simon. Gay, Straight, and the Reason Why: The Science of Sexual Orientation. London: Oxford University Press, 2011, pos. 3275.
[5]LEVAY, Simon, op. cit., pos. 2075.
[6]LEVAY, Simon. Gay, Straight, and the Reason Why: The Science of Sexual Orientation. London: Oxford University Press, 2011, pos. 77.
[7]McFADDEN, Dennis. Sound and sexuality. Entrevista disponível em <http://www.lansingcitypulse.com/lansing/article-7869-sound-and-sexuality.html>
[8]BALTHAZART, Jacques. The biology of homosexuality. London: Oxford University Press, 2012, pos. 31.
[9]BALTHAZART, Jacques, op. cit., pos. 149.
[10]RICE, William R. e GRAVRILETS, Sergey. Homosexuality as a Consequence of Epigenetically Canalized Sexual Development. The Quarterly Review of Biology. Disponível em <http://www.jstor.org/stable/10.1086/668167>
[11]Royal College of Psychiatrists’ Position Statement on Sexual Orientation. Disponível em <http://www.rcpsych.ac.uk/pdf/rcpsychposstatementsexorientation.pdf>
[12]APA. Sexual orientation and homosexuality. Disponível em <http://www.apa.org/helpcenter/sexual-orientation.aspx>.
[13]O resumo a seguir vem do artigo de JONES, Stanton L. Same-Sex Science. Disponível em <http://www.firstthings.com/article/2012/01/same-sex-science>
[14]BAILEY, J. Michael. Is Sexual Orientation Chosen, Learned, Inborn, Genetic or What? Entrevista disponível em <http://www.lansingcitypulse.com/lansing/article-8043-whom-you-love.html>.
[15]JONES, Stanton L. & YARHOUSE, Mark A. Homosexuality…, p. 84. Um bom resumo deste livro e de outros aparece em GRASS, Guenther. Perspectives on homosexuality: a review article. JETS 45/2, 2002. Disponível em http://www.etsjets.org/files/JETS-PDFs/45/45-3/45-3-PP497-512_JETS.pdf
[16]Bradford Hill estabelece as bases para se dizer se uma exposição é causa de um determinado desfecho. Cf. BRADFIRD-HILLBradford-Hill, Austin. (1965). "The Environment and Disease: Association or Causation?". 'Proceedings of the Royal Society of Medicine' (1965), 58: 295–300.
[17]BORGES, Jerry Carvalho. Os segredos no fim do arco-íris. Disponível em ≤http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/os-segredos-no-fim-do-arco-iris/?searchterm=Os%20segredos%20no%20fim%20do%20arco-%C3%ADris>
[18]SEUTTER, Ray A. Emotionaly absent fathers: furthering the understanding of homosexuality. Journal of Psychology and Theology, 2004, Vol. 32, No. 1, 43-49.
[19]BALTHAZART, Jacques, op. cit., pos. 226.
[20]BERGER, Joseph. Em: CALAGHAN, Dermot; MAY, Peter, op. cit., pos. 20.
[21]Veja reportagem do "Christian Post" em <http://global.christianpost.com/news/ben-carson-maintains-stance-on-gay-marriage-but-apologizes-for-previous-comments-93494/#bB4XMRlqSygcXrQw.99>
[22]CALAGHAN, Dermot; MAY, Peter. Beyont de critique; the misuse of science by UK professional mental health bodies. London, 2013, pos. 825.
[23]LEVAY, Simon, op. cit., pos. 3549.
[24]CALAGHAN, Dermot; MAY, Peter, op. cit., pos. 2.
[25]CALAGHAN, Dermot; MAY, Peter, op. cit., pos. 2.
[26]JONES, Stanton L. Same-Sex Science…
[27]CALAGHAN, Dermot; MAY, Peter, op. cit., pos. 673.
[28]Simon LeVay e Jacques Balthazart, aqui citados, escreveram dois livros muito próximos. Balthazart elogia o primeiro sem o ler e respalda algumas de suas informações em estudos de LeVay, muito criticados por falta de rigor na comunidade científica…
[29]Em 2001, ele publicou um artigo com resultado de suas pesquisas com pessoas que passaram por terapias reparativas. Sua conclusão foi pela eficácia delas. O artigo foi usado durante anos como uma prova da validade da terapia.
No entanto, ele escreveu uma carta para o editor do periódico (Journal of Sexual Behavior) que publicara a pesquisa, em que reconhecia que seus críticos estavam com razão em grande parte do que diziam. Uma vez que não havia como avaliar a credibilidade das informações dos sujeitos da pesquisa, "creio que devo desculpas à comunidade homossexual por meu estudo fazer afirmações não provadas sobre a eficácia da terapia reparativa. Também peço desculpas a toda pessoa homossexual que gastou tempo e energia sob alguma forma de terapia reparativa por crerem que eu tinha provada que a terapia reparativa funciona com indivíduos 'altamente motivados'. Carta transcrita num site contrário à terapia reparativa: <http://www.exgaywatch.com/2012/04/spitzer-i-owe-the-gay-community-an-apology/>. Os defensores da referida terapia continuam usando a pesquisa anterior de Spitzer (2003).
[30]Como explica a epidemiologista, Ilce Ferreira Silva, da Fundação Oswaldo Cruz, "são muito raras as condições geneticamente determinadas (como a Sindrome de Down e outras síndromes genéticas), porque dependem da ação de um gene de alta penetrância (ou seja, o genótipo tem alta probabilidade de produzir um fenótipo). Na maioria das condições (seja doença ou perfil fenotípico), a questão genética só responde por cerca de até 30%. O restante depende de exposições ambientais. É o que chamamos de interação gene-ambiente". Cf. Email enviado ao autor em19.5.2013.
[31]HARRISON, Glenn. The science behind same-sex attraction. Disponível em <http://www.cmf.org.uk/publications/content.asp?context=article&id=2078>
[32]BAILEY, J. Michael, loc. cit.
[33]JONES, Stanton L. & YARHOUSE, Mark A. Homosexuality…, p. 84.
[34]JONES, Stanton L. & YARHOUSE, Mark A. Homosexuality…, p. 84.
[35]JONES, Stanton L. & YARHOUSE, Mark A. Homosexuality, p. 90.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ISRAEL BELO DE AZEVEDO