COMO A IMPIEDADE PODE LEVAR UMA FAMÍLIA À CRISE (Sylvio Macri)

Introdução

Judá era o quarto filho de Jacó, nascido de sua mulher, Léia. Seus irmãos mais velhos cometeram erros terríveis. Ruben teve relações sexuais com Bila, a concubina do próprio pai e mãe de seus irmãos Dã e Naftali (Gn.35.22). Simeão e Levi, chacinaram todos os homens de Siquém por causa do estupro de sua irmã, Diná, saquearam a cidade e levaram as mulheres e as crianças como prisioneiras (Gn.34.1-31). Judá não ficou atrás deles na prática da impiedade, como podemos ver em Gênesis 38.1-30.

1.       Casamento ímpio

Tudo começou com seu casamento. Após o triste episódio da venda de seu irmão José, e talvez por isso mesmo, Judá saiu da companhia de sua família e foi para a casa de um adulamita chamado Hira. Lá conheceu uma mulher cananéia, cujo pai chamava-se Suá, e casou-se com ela.

Judá era de família monoteísta, que adorava o Deus verdadeiro, e cometeu o erro de casar-se como uma mulher tremendamente idólatra. Os cananeus adoravam Baal e Astarote, deuses da fertilidade, cujo culto era constituído principalmente pela prostiuição, que era praticada como um ato religioso.

Não podia dar certo um casamento desses. Mais tarde o Senhor vai advertir seu povo sobre isso: “Não faças aliança com os habitantes da terra, para que, quando se prostituírem seguindo seus deuses e a eles sacrificarem, tu não sejas convidado por eles e não comas dos seus sacrifícios. Não tomes para teus filhos mulheres entre as filhas deles, para que, quando elas se prostituírem com os deuses deles, não levem também seus filhos a se prostituírem com esses deuses.” (Ex.34.15,16).

2.       Filhos ímpios

Como seria de se esperar, os filhos desse casal tiveram sérios problemas. Foram três: Er, Onã e Selá. Sobre este último não temos muita informação, mas os dois primeiros foram tão ímpios que a Bíblia diz que Deus os matou.

Er, o primogênito, “era mau aos olhos do Senhor, pelo que o Senhor o matou.” (Gn.38.7). Não é informado que pecado ele cometeu, mas devia ser muito grave para que o Senhor pudesse julgá-lo dessa maneira. Antes de morrer, porém, Er casou-se com uma mulher chamada Tamar.

Naquela época seguia-se o costume do Levirato, que mais tarde foi incluído na Lei de Moisés (Dt.25.5-10). A palavra levirato vem do latim “levir”, que significa “irmão do marido”. Quando o irmão mais velho morria o segundo mais velho era obrigado a casar-se com a viúva do falecido, e assim por diante. A finalidade disso era suscitar descendência ao irmão falecido.

O segundo filho de Judá, Onã, casou-se com Tamar, a viúva, mas por saber que os filhos desse casamento não seriam considerados seus, e sim do irmão morto, nunca completava o ato sexual, e assim Tamar não engravidava. “O que ele fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou.” (Gn.38.10).

Dessa maneira triste morreram esse dois filhos de Judá. Quando os filhos são criados num ambiente de impiedade, tornam-se ímpios e andam por caminhos de morte.

3.       Deslealdade para com a nora

Em vez reconhecer que seus filhos morreram por causa de sua maldade, Judá entendeu que Tamar se transformara numa maldição para seus filhos, e assim fez um plano para evitar que ela se casasse com seu filho mais novo, Selá.

Como ele era ainda bem jovem, Judá disse a Tamar: “Conserva-te viúva na casa de teu pai até que meu filho se torne homem adulto.” (Gn.38.11a). Na verdade ele não queria esse casamento, “pois dizia: Para que este não morra também, como seus irmãos.” (Gn.38.11b).

Tamar foi morar na casa de seu pai, e talvez já tivesse perdido a esperança de se casar “porque via que Selá já era homem adulto, e ela não lhe havia sido dada por mulher.” (Gn.38.14b).

Judá acrescentou a deslealdade aos seus demais pecados. Quando deixamos de reconhecer os pecados cometidos, somos levados a cometer mais pecados ainda.

4.       Envolvido com a prostituição cultual

Nesse meio tempo “a mulher de Judá morreu” (Gn.38.12a), e agora viúvo, ele se envolve com a prostituição cultual (talvez já antes a praticasse, por causa de sua vivência em um ambiente idólatra).

Sabendo disso, Tamar disfarçou-se como prostituta cultual e colocou-se à beira do caminho por onde ele passaria em direção à localidade de Timnate, onde iria tosquiar suas ovelhas. Ao vê-la, logo Judá propôs-lhe usar seus serviços sexuais em troca de um cabrito, que lhe enviaria mais tarde.

Mas Tamar, já de propósito, pediu-lhe um garantia de que receberia o pagamento prometido, e Judá deixou com ela seu selo com o cordão e o seu cajado (Gn.38.18), que esperava recuperar mais tarde, ao entregar o cabrito. Quer dizer, o que Judá queria mesmo eram os serviços de uma prostituta.

 A exposição pública da impiedade

Ao enviar o amigo adulamita, companheiro de pecados, para entregar o cabrito e reaver seus pertences, o tal amigo não encontrou nenhuma prostituta cultual, sendo informado pelos homens daquele lugar que ali nunca tinha estado uma mulher desse tipo. Assim Judá deu por perdidos o selo com o cordão e o cajado.

Três meses depois informaram a Judá que sua nora estava grávida. Como ela não tinha se casado com Selá, essa gravidez só poderia ser fruto de adultério, cuja punição era a morte na fogueira. Sendo levada para ser executada, entretanto, Tamar mostrou os objetos que estavam em seu poder e disse aos executores que o dono deles era quem a engravidara.

Dessa maneira foram expostos publicamente os graves erros de Judá, que declarou: “Ela é mais justa do que eu, porque não lhe entreguei meu filho Selá. E nunca mais a conheceu intimamente.” (Gn.38.26).

Foi Jesus mesmo quem disse: “Nada há encoberto que não venha a ser revelado” (Lc.12.2), e isso vale também para a família.

Conclusão

Como sempre na Bíblia, há algo de positivo nessa história. É interessante que da descendência de Selá pouco se sabe, a não ser o que está registrado em 1Crônicas 4.21-23, mas o nome de Perez, o primeiro dos gêmeos nascidos dessa única gravidez de Tamar, consta como uma figura importante em todas as genealogias (Gn.46.12; Nm.26.20,21; 1Cr.2.4,5). Ele é ancestral direto de Davi e, através deste, do Senhor Jesus Cristo (Rt.4.13,18; Mt.1.3; Lc.3.33). Por isso, Jesus é chamado de Leão de Judá.   

Rio, 09/05/16

Pr. Sylvio Macri 

       

                               

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