DAVI, BEM SUCEDIDO COMO LÍDER, FRACASSOU COMO CHEFE DE FAMÍLIA (Sylvio Macri)

Os problemas familiares de Davi foram a verdadeira tragédia de sua vida. Um líder capaz de unificar um povo formado por doze tribos, transformando-o numa grande nação, assistiu impotente, seus filhos cometerem toda a espécie de desatinos. Seu sucesso como o mais importante rei que Israel teve infelizmente não se repetiu no seu desempenho como chefe de família. Pelo contrário, foi um fracasso em muitos sentidos, cujas razões veremos a seguir.

1.       Uma família muito aquém do modelo criado por Deus

O modelo divino é a monogamia, a união entre apenas um homem e uma mulher, conforme Gênesis 2.18-25, mas Davi teve muitas mulheres. A Bíblia menciona oito delas pelo nome, mas ele casou-se com outras mulheres em Jerusalém, cujo nome não é mencionado, e teve muitas concubinas (1Sm.18.27; 1Cr.3.1-5,9; 1Cr.14.3). Com tantas mulheres e concubinas, Davi teve muitos filhos, dos quais a Bíblia cita o nome de dezenove, mas teve outros, nascidos em Jerusalém, além dos nascidos de suas concubinas, cujos nomes não são citados (1Cr.3.1-9; 14.4-7). Não era costume citar nome das filhas, por isso ficamos sabendo apenas de Tamar e não somos informados sobre as outras, que certamente também foram muitas. É possível supor que ele teve mais de sessenta filhos. Como é fácil concluir, Davi não poderia cuidar adequadamente de uma família tão grande, tão diversa e complicada, ainda mais se considerarmos suas grandes responsabilidades como líder do povo de Israel. Seus filhos foram criados sem nenhum limite. O que foi dito acerca de um deles, Adonias, pode ser estendido a todos: “Seu pai nunca o havia contrariado, dizendo: Por que fizeste assim?” (1Rs.1.6).

Quando deixamos de seguir o modelo de família criado por Deus – um homem e uma mulher cuidando pessoalmente de seus filhos, acompanhando seu crescimento e formando seu caráter – caminhamos para o fracasso familiar.

2.       Muito mais que um adultério

Davi, de vez em quando, era levado por arroubos sensuais. Foi assim com Abigail, com quem se casou imediatamente após ela ficar viúva de Nabal, pois tinha se encantado com ela ao conhecê-la (1Sm.25.32,33,39). Foi assim também com Bate-Seba, uma mulher casada por quem se apaixonou, com quem adulterou e a quem engravidou (2Sm.11.1-27). Ocorre que Bate-Seba era mulher de Urias, um dos generais do exército israelita. Ao descobrir a gravidez, Davi planejou uma maneira de encobri-la, chamando Urias do campo de batalha e fazendo com que tivesse relações sexuais com sua mulher. Mas como era a regra para todos os guerreiros israelitas abster-se de sexo enquanto estivessem em guerra, Urias não coabitou com Bate-Seba. Davi, então, mudou seu plano, mandando Urias de volta para a guerra e ordenando a Joabe, comandante do exército, que o colocasse na linha de frente, para morrer no campo de batalha. Assim, Davi tornou-se culpado de adultério, de homicídio e de cobiçar e tomar a mulher do próximo.

Apenas passado o tempo do luto, Davi casou-se Bate-Seba. Foi tolo ao pensar que seus pecados tinham sido encobertos, pois o Senhor enviou-lhe o profeta Natã, que expôs seus erros e as tristes conseqüências que deles viriam (1Sm.12.1-15). Davi se arrependeu amargamente, como diz no Salmo 51: “Pequei contra ti, e contra ti somente, e fiz o que é mau diante dos teus olhos, por isso tua sentença é justa, e teu julgamento é puro.” (v.4).

De uma vez Davi quebrou três mandamentos da lei de Deus: não adulterarás, não matarás, não cobiçarás. Mas ele se arrependeu e pediu perdão, e a graça do Senhor, como sempre, foi mais abundante que seus pecados.   

3.       As consequências funestas de suas falhas

Deus havia mandado Natã dizer a Davi que ele o perdoara, porém isso não eliminaria os resultados trágicos do seu pecado. Em primeiro lugar, o filho ele que teria com Bate-Seba morreria, e, em segundo lugar, a espada jamais se afastaria da sua família (2Sm.12.10,14). Mas houve conseqüências também de sua negligência na educação dos filhos. Vejamos a seguir, o tamanho dessa tragédia familiar.

a.       Logo depois de nascer, morreu o primeiro filho de Bate-Seba com Davi, que jejuou e orou sete dias pela criança, mas de nada adiantou (2Sm.12.14-18).

b.      Amnom, o filho mais velho de Davi cometeu incesto com sua meia-irmã, Tamar, que era irmã também por parte de mãe de outro filho de Davi, Absalão. Este, depois de dois anos, vingou-se de Amnom, matando-o (2Sm.13.1-36).

c.       Por causa desse crime, Absalão fugiu para Gesur, pequeno reinado onde sua família materna exercia o poder. Três anos depois voltou para Jerusalém, e, decorrido algum tempo, iniciou uma conspiração para tomar o lugar de seu pai no trono. Dentro de quatro anos Absalão já tinha forças suficientes para tomar o poder, obrigando Davi a fugir juntamente com os que lhe eram leais (2Sm.13.37 a 17.29). Absalão reuniu um exército para perseguir Davi, mas foi derrotado e morto pelos experientes guerreiros que tinham permanecido ao lado do rei. Davi lamentou profundamente a morte do filho (2Sm.18.1-18).

d.      Estando Davi já bem velho, Adonias, seu quarto filho, montou uma conspiração para sucedê-lo, com o apoio de Joabe, o comandante do exército, e do sumo sacerdote Abiatar. Davi, porém, já havia escolhido Salomão para seu sucessor e rapidamente tratou de entronizá-lo. Ao sentar-se no trono, Salomão deu um jeito de mandar matar seu irmão Adonias. Também mandou matar Joabe e destituiu Abiatar do sumo sacerdócio. (1Rs. 1.1-53 e 2.12-35).

e.      Salomão, filho de Davi com Bate-Seba, foi um grande rei, mas seguiu o mau exemplo do pai quanto às mulheres. “Ele teve setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas e suas mulheres desviaram seu coração. Na velhice de Salomão, suas mulheres desviaram seu coração para seguir outros deuses.” (1Rs.11.3,4). Isso levou à divisão do reino, ao apego à idolatria pelos israelitas, ao exílio e à extinção da dinastia iniciada por Davi.

f.        Quanto aos demais filhos de Davi, não somos informados sobre o que fizeram, mas não podemos esperar coisa melhor, tendo em vista o tipo de formação que todos tiveram.

O caráter e o comportamento dos nossos filhos mostram nosso sucesso ou nosso fracasso como pais. Pelo que seus filhos fizeram, percebemos o quanto Davi falhou em sua educação. Essa faceta de Davi serve de exemplo de como não devemos proceder como chefes de família.        

Entretanto, Deus tinha o propósito de suscitar da descendência de Davi o Salvador do mundo, Jesus Cristo. Assim, de uma família tão atribulada por tantos pecados, surgiu aquele que pode nos libertar do mal e salvar homens e mulheres para constituírem verdadeiras famílias de Deus. Como Paulo ensinou, a relação entre Jesus, o Filho de Davi, e seu povo, serve de parâmetro para as relações na família cristã.

 

Pr. Sylvio Macri  

 

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