COMO A PARCIALIDADE LEVOU UMA FAMÍLIA À DIVISÃO E AO ÓDIO (Sylvio Macri)

Aos quarenta anos Isaque ainda não se casara, e Abraão, seu pai, incumbiu seu servo mais velho de ir à sua terra natal e trazer de lá, de sua família, uma esposa para o filho (Gn.25.20). A escolhida foi Rebeca, que, no entanto, era estéril. Por isso Isaque orou insistentemente, durante vinte anos, pedindo ao Senhor em favor dela. Só quando tinha sessenta anos é que nasceram seus filhos Esaú e Jacó, que apesar de serem gêmeos, eram diferentes em tudo (Gn.25.26). Talvez por isso seus pais cometeram um grave erro.

A Bíblia diz que “Isaque amava Esaú (….), mas Rebeca amava Jacó.” (Gn.25.28). O erro da parcialidade ou do favoritismo é um mal que traz grande infelicidade à família, levando os pais a praticarem outros erros no intuito de proteger e favorecer seus escolhidos, acarretando divisão, ressentimento e até ódio entre familiares. Foi o que aconteceu com a pequena família de Isaque, Rebeca, Esaú e Jacó.

Era muito importante na antiguidade a figura do filho primogênito, que tinha direitos especiais como herdeiro e como sucessor natural do pai na liderança da família. Tinha também direito a uma bênção paterna especial. Quando nasciam gêmeos, o primeiro a nascer, mesmo que fosse por uma diferença de minutos, era considerado primogênito. Esse foi o caso de Esaú (Gn.25.24-26). Como Isaque tinha preferência por Esaú, isso veio a calhar aos dois, porém não a Rebeca e a Jacó.

A mãe, que preferia Jacó, não se conformava com isso, e incutiu em seu favorito o desejo de obter a primogenitura a qualquer custo. Quando teve o ensejo, Jacó, usando de esperteza, tomou-a de seu irmão. Esaú chegou do campo com muita fome e pediu a Jacó um pouco da comida que este tinha preparado. Jacó, porém, propôs-lhe trocar a comida pelo direito de primogenitura, o que Esaú aceitou, pois não dava valor a esse privilégio (Gn.25.29-34).

Restava, porém, obter a aprovação do pai para essa troca, com a qual Isaque nunca iria concordar, por causa de seu franco favoritismo para com Esaú. Por isso Rebeca montou uma farsa para enganar o marido. E a oportunidade surgiu quando Isaque resolveu, antes de morrer, impetrar a bênção de primogenitura a Esaú. Para tanto, pediu a este último que fosse à caça e trouxesse algum animal para preparar-lhe o alimento que ele tanto apreciava. Em seguida, Esaú seria devidamente abençoado.

A fraude foi assim praticada: Jacó e Rebeca mataram dois cabritos, preparam um guisado como se fosse de animal de caça, do jeito que Isaque gostava; Rebeca vestiu Jacó com as roupas de Esaú e cobriu suas mãos e pescoço com a pele dos cabritos, pois Esaú era peludo. Isaque, que já estava cego, sentiu o cheiro das roupas de Esaú, apalpou a pele de cabrito, saboreou a comida bem preparada e impetrou a bênção da primogenitura a Jacó, em lugar de Esaú (Gn.27.1-29).

Quando Esaú chegou era tarde demais. Isaque soube que fora enganado e Esaú, que perdera a bênção. O ódio tomou conta do coração de Esaú e ele planejou matar Jacó após o falecimento do pai (Gn.27.30-41). O resultado disso é que Jacó foi obrigado a fugir para a terra natal de sua mãe, onde permaneceu em exílio por vinte anos (Gn.31.21). Mesmo após esse período, ao voltar para Canaã ainda tinha muito medo de seu irmão (Gn.32.3-33.17).

O que há positivo nessa história é que Deus, mesmo com todas as falhas de Jacó, o escolheu para ser o pai daqueles que iriam constituir as doze tribos de Israel (Gn.28.10-22). Assim é que funciona a graça soberana de Deus: elege gente sem nenhum mérito para ser instrumento em suas mãos e executar seu propósito no mundo. Por isso, exclama o salmista: “A tua graça é melhor que a vida.” (Sl.63.3).

Pr. Sylvio Macri               

  

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