CABEÇA CHEIA E CORAÇÃO VAZIO (Oswaldo Jacob)

Aprendi que erudição e piedade devem sempre andar juntas. Pelas minhas observações, vejo que poucos têm esta convicção. O que tenho percebido é que há muitos teólogos, mas poucos líderes comprometidos com os ensinos do Mestre. A maioria está mais preocupada em ler e produzir material do que vivenciar os princípios do evangelho da graça no dia a dia da igreja e da comunidade em volta, na assistência aos necessitados. Temos uma forte queda para encher a nossa cabeça com princípios teológicos, cultura geral e o nosso coração ficar vazio de sentimentos cristãos. Precisamos aplicar o que temos aprendido em nossos relacionamentos. A nossa cabeça deve transmitir para o coração as verdades assimiladas. Razão e emoção devem ser convergentes. Ensino e prática devem andar juntos. Nas regiões onde o evangelho esfriou (principalmente na Europa Ocidental), as cabeças estavam cheias de teologia e os corações vazios de atitudes de amor. Temos uma forte inclinação de ensinarmos o que não praticamos. Pregarmos profissionalmente e nos esquecermos da devoção. A pregação e o ensino devem ser fruto de intimidade com o Deus Sublime e Santo, e o relacionamento rico com o próximo. O saber deve resultar no viver. A mente e o coração convergem para o viver diário. O nosso viver deve ser Cristo (Filipenses 1.21). 
 
   O perigo é escrevermos textos desconectados da nossa realidade. Ou sermos especialistas em realidade sem experimentá-la. Há escritores sem nenhuma simpatia. Teologia se faz no terreno da experiência com o Senhor e com o nosso próximo em amor profundo. Os melhores textos são aqueles que são produzidos com o coração fervente, envolvente. É muito fácil produzir textos a partir do mosteiro, da cela monástica sem nenhuma vida, apenas teorizações. Somos tentados a todo momento a ser teóricos. Os escribas e fariseus eram mestres da religião, mas tão distantes do Senhor e do próximo. Os escritores têm a tendência ao isolamento, com profunda dificuldade de se relacionarem. Há elementos que são antipáticos, antissociais e elitistas. A cultura que realmente satisfaz é aquela que é fruto da minha convivência com Deus e o meu próximo. Na verdade, não temos paciência com pessoas que consideramos “chatas” como se não fossemos também. É duro você ler um artigo ou um livro de alguém que não manifesta empatia, simpatia e amor. Produtores de textos são inclinados a viverem em seus casulos e esquecerem que o ser humano, feito à imagem e semelhança do Senhor. As pessoas precisam receber toda a nossa atenção e a nossa afetividade em Cristo Jesus. 
 
    Há uma grande necessidade de termos cabeça e coração repletos dos ensinamentos de Cristo Jesus resultando em atitudes e atos de adoração, gratidão e amor fraterno. Sim, cabeça cheia de pensamentos positivos acerca do próximo e um coração cheio de amor para repartir. Em nossa realidade cristã, somos desafiados a ser como Jesus, que sempre foi manso e humilde de coração (Mateus 11.29). Como leitores e escritores, sejamos alunos do Mestre Jesus, que sempre teve a Sua vida voltada para o alto, para o seu interior e para o próximo. Jesus é o nosso exemplo de coração cheio de amor e cabeça cheia de pensamentos positivos, de valores sublimes. A Sua mente e o Seu coração estavam debaixo da autoridade do Pai. Não era a Sua vontade, mas a vontade do Pai. O teólogo é aquele que busca a profundidade do relacionamento com Deus e com o próximo. Aprendamos a ouvir o outro, mas principalmente o Senhor. 
 
Na estrada da vida, o teólogo sempre encontra os caminhantes, os maltrapilhos com os quais ele deve se relacionar, amar profundamente em Cristo para então ter os subsídios para sua vida e sua produção teológica. Aqui está a riqueza da teologia que parte de cima e de baixo – Deus e o homem, Sua obra-prima tão amada. Sejamos homens e mulheres cujas mentes sejam a de Cristo (1 Coríntios 2.16) e cujos corações tenham a paz de Cristo Jesus como o seu árbitro (Colossenses 3.15). O nosso grande desafio é conciliarmos mente e coração a serviço daquele que é a nossa inspiração constante. Glorificamos a Deus quando expressamos amor a Ele e amor ao nosso próximo – os dois pilares fundamentais do fazer teológico. Que o Senhor encontre em nós, Seus obreiros das letras e do saber, amor para com os mais necessitados, os pequeninos. Eles devem ser sempre alvo do nosso amor, carinho e afeto – atitudes e ações que certamente nos motivarão para levantar o maltrapilho e produzir textos que edificarão vidas tão preciosas. Um dia fomos alcançados pela graça de Deus. E esta graça que deve nos bastar para levantarmos o outro, vivendo a coerência de Cristo, nosso amado Salvador e Senhor. 
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