De que maneira os antigos escritos de sabedoria judaica, a chamada literatura sapiencial, que em nossas bíblias modernas estão compilados nos livros de Provérbios e Eclesiastes, se relacionam com a vida que aqui vivemos?
Nas breves reflexões publicadas aqui, a partir de agora, vamos tratar muito especialmente dos textos em Provérbios, ao mesmo tempo relevantes e oportunos.
Relevantes porque a sabedoria e a sensatez são indispensáveis para uma vida de qualidade. Ou, ao menos, para uma vida com o equilíbrio necessário.
E são textos igualmente oportunos — e eu diria até de indiscutível urgência — porque em nenhuma outra época da nossa geração houve uma tão evidente carência de lucidez e bom senso nos relacionamentos, nos debates, nas escolhas e em nossas ações e reações cotidianas.
Imagine que, na travessia do mar noturno e com o barco a balançar entre ondas agitadas, os preceitos de sabedoria em Provérbios são como um farol a lançar sinais e apontando o caminho a seguir.
Entre os autores ingleses que mais gosto de ler, destaca-se, com certeza, Joseph Conrad — que, aliás, não era exatamente inglês, e sim um ucraniano que migrou para a Inglaterra. Vários dos seus livros narram aventuras de personagens em travessias marítimas e dramas de marinheiros nas embarcações em alto mar. Os críticos literários concordam que o mar, para Conrad, é o símbolo das angústias existenciais, o desafio que o ser humano precisa superar e vencer para demonstrar sua coragem.
Pois a imagem de um barco no meio da noite, açoitado por ondas agitadas e com os tripulantes se esforçando para chegar ao cais do porto, parece uma representação bem adequada da vida e de como a vivemos em face das suas reviravoltas e dificuldades.
Muito úteis para atravessarmos o mar noturno são os sinais lançados pelo farol no cais, apontando o caminho a seguir. E podemos considerar o livro de Provérbios, parte da literatura sapiencial do Primeiro Testamento bíblico, como um farol a emitir sinais para que naveguemos com mais segurança nas águas do mar da vida.
A partir de hoje damos início a uma série de reflexões sobre esses preceitos de sabedoria, compreendendo que não basta viver a vida — é necessário que saibamos vivê-la com a prudência e a sensatez fundamentais ao que o filósofo Aristóteles, três séculos antes de Cristo, chamava de summom bonum, ou bem supremo.
Se estamos cruzando o mar que altera momentos de bonança com cenários adversos, aproveitemos os sinais do farol de Provérbios para que vivamos bem e melhor em quaisquer condições à frente.