2Coríntios 2.14-17: CHEIROS (2)

Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 11.7.1999 – manhã

1. INTRODUÇÃO

A dimensão cultural do cheiro. Segundo alguns estudiosos, só há um cheiro universal, agradável a todos os gostos ao redor do mundo: é a cola, que talvez explique o sucesso da Coca-Cola e da Pepsi-Cola…

2. EXPOSIÇÃO

O apóstolo Paulo passava por uma situação difícil: Deus lhe abrira uma oportunidade para pregar o Evangelho, mas ele esperava por um auxiliar, Tito, com notícias sobre a causa (vv. 12-13). Acredite quem quiser: o grande missionário estava sendo questionado em seus métodos e propósitos.
Enquanto esperava, sentiu o conforto de Cristo, sentindo-se, não um derrotado, mas um vitorioso. Ele descreve esta vitória nos termos da procissão triunfal romana.
O general vencedor era levada em uma carruagem pelas ruas de Roma. À sua frente, iam vários sacerdotes que derramavam potes de perfume. Atrás dele viam os cativos que tinha feito na batalha e que eram levados algemados para a execução. Pouco depois seguiam os oficiais do seu exército. As ruas ficavam cheias de gente aclamando o vencedor.
Para os prisioneiros, esses cheiros eram cheiros de derrota e morte, porque prenunciam o que lhes iam acontecer. Para as pessoas livres, esses cheiros eram cheiros de vitória e de vida.
Em homenagem às grandes vitórias, às vezes eram edificados arcos, chamados de arcos do triunfo, especialmente quando o vencedor era também um imperador.
Paulo faz uma fusão entre a imagem romana e a imagem bíblica, uma vez que, no Antigo Testamento, o cheiro é parte integral do sacrifício prestado a Deus, que dele se agradava.
Agora, este sacrifício é algo vivo: nossas vidas são sacrifícios agradáveis e vivos, especialmente porque exalamos não um cheiro próprio, mas o cheiro de Cristo, presente em nós.
Viver desse modo, como perfume de Cristo, não é fácil. No entanto, isto deve ser natural em nós. Não precisamos parecer que somos de Cristo, porque o somos, com sinceridade.

3. APLICAÇÕES

Jesus está vivo e pode nos libertar das dificuldades e pressões pelas quais passamos. Onde quer que estejamos, Deus sorve a doçura e a beleza de Jesus manifestas naquilo que fazemos para Ele.

3.1. Os cristãos somos levados em triunfo (14a).
Somos levados de vitória em vitória, a despeito das dificuldades, como a de Paulo, que enfrentou um conflito: servir a Deus de imediato ou esperar por Tito (e servir a Deus depois). Diante daquela situação, o apóstolo se imaginou vitorioso e sentiu vitorioso.
É Deus quem nos faz triunfar. Ele jamais abandona seus ministros. Esta deve ser a certeza de todos quantos atuam no seu Reino. No exercício da fé cristã, passamos por muitos problemas, mas Deus nos carrega em triunfo.
É do caráter de Deus cuidar daqueles que procuram viver em sua presença, não importam as circunstâncias. Humanamente, as circunstâncias tendem a nos derrotar. Pela fé, nós já as derrotamos.
Isto não nos deve levar ao triunfalismo ou ao ufanismo. Triunfalista é aquele que acha que vence por si mesmo. Ufanista é aquele que se recusa a ver os problemas e tem orgulho de suas vitórias, mesmo as menores, tornadas grandiosas. Antes, nossa vitória é a vitória de Cristo.
Quando passamos, nosso perfume exala. Que passemos e o nosso perfume fique.

3.2. Os cristãos somos os meios que Deus usa para perfumar o mundo (14b).
É do projeto de Deus usar o perfume que somos para perfumar o mundo. Na imagem da procissão do triunfo, enquanto ela durava as pessoas viviam a vitória do seu general. Nossa vitória é a garantia da vitória de Deus no mundo.
O conhecimento de Cristo é uma fragrância (um cheiro, um perfume). E não há como esta fragrância ser conhecida senão por nosso intermédio.

3.3. Os cristãos somos cheiros de vida e de morte para o mundo (vv. 15-16)
Na procissão triunfal, havia dois grupos que desfilavam. Os cativos e a tropa. A tropa, ao final, recebia seu troféu, incluindo o general. Os cativos não tinham qualquer esperança: esperava-os a morte.
Nós somos o exército de Cristo. Somos cheiros de vida. A vida do mundo depende do nosso cheiro. Somos vida, quando nosso perfume leva à salvação.
No entanto, também somos morte, quando nosso perfume leva à perdição. Diante do nosso testemunho de vida, muitos preferem ignorar a Deus e escolhem a morte. É da natureza do perfume ser notado. Muitos, mesmo notando o perfume, preferem recusá-lo. Recusar o perfume de Cristo que somos nós é escolher a morte. Eis algo triste que precisa ser dito, e o apóstolo Paulo o disse: nosso testemunho, que é para a vida, pode significar a morte… para os que recusam a Deus. Não há culpa em nós, quando isto acontece.
Infelizmente, porém, podemos ser perfume de morte, num outro sentido. É quando permitimos que o perfume de Cristo evapore do nosso frasco e ficamos vazios. Dizemo-nos perfumes de Cristo, mas nada mais temos de Cristo, senão o frasco. Se estamos assim, não somos vida, não comunicamos vida, embora mantenhamos o discurso.
Outros podemos ser perfumes escondidos no frasco. Olhar um vidro de perfume não é se perfumar. Muitos fechamos os frascos para que deles não saiam qualquer cheiro. Perfumes assim não contribuem para espalhar a fragrância do conhecimento de Cristo.
Quando isto acontece, somos perfumes para a morte. Não comunicamos vida.

3.4. Os cristãos não podemos mercadejar a Palavra de Deus (v. 17a).
Na era do mercado, como a nossa, que problema há em mercadejar a Palavra de Deus?
O verbo, no passado bíblico, tinha um sentido diferente do de hoje. Significava falsificar, retalhar, adulterar um produto.
Falsificamos a Palavra de Deus, quando dizemos uma coisa e vivemos outra. Uma das maneiras de adulterar a Palavra de Deus é viver de modo duplo. Às vezes, na vida conhecemos pessoas antipáticas, sem educação mesmo, grosseiras até, e acabamos nos defrontamos com elas na igreja, às vezes simpáticas, educadas e atenciosas. Às vezes, trocamos experiências moralmente terríveis com pessoas que, um dia descobrimos, na igreja. Essas pessoas falsificam o Evangelho.
Falsificamos a Palavra de Deus, quando não conseguimos viver segundo esta Palavra. Ela, por exemplo, diz que o verbo essencial da vida é amar; no entanto, muitos de nós só conseguimos amar a uma pessoa: a gente mesma…
Falsificamos a Palavra de Deus, quando a misturamos com nossas próprias idéias. Nossas idéias só têm sentido quando podem ser conferidas com o Evangelho. O nosso evangelho próprio não interessa; só o de Jesus, que é o que salva.
Em outras palavras, podemos ser perfumes falsificados. A etiqueta é de um grande perfume, mas o produto foi fabricado em algum fundo de quintal. Nossos frascos podem conter a etiqueta: cristão, nome daquele que segue a Cristo. No entanto, muitos somos cristãos apenas no rótulo.

3.5. Os cristãos devemos falar o que vem de Deus (vv. 16b, 17b).
Ao descrever uma vida perfumada, Paulo pergunta: quem é idôneo (digno) de viver desse modo? (v. 16b). Só um super-homem, diriam alguns.
A resposta, no entanto, é outra e está na última parte do versículo 17. Nosso ministério é viver na presença de Deus, o que só é possível por Cristo.
Este é o grande método de evangelização: ser aquilo que nós somos e falar o que provém de Deus.
É isto que é sinceridade: viver sob  os raios do sol e ainda assim evidenciar sua pureza. (Aliás, a palavra deriva de sol e juízo.) Trata-se uma meta a ser perseguida. Quanto mais nós somos aquilo que falamos que somos, mais nossas vidas testemunham de Deus.
Como falar o que provém de Deus? É viver na certeza de que o triunfo vem de Deus. É colocar nossas vidas ao dispor dele, para ele dispor dela como quiser. É colocar nossa sabedoria (inteligência e conhecimento) para perfumar o mundo.

4. CONCLUSÃO

Aquilo que eu sou exala o perfume de Cristo?
Não há suficiência em nós. Só Deus é suficiente. Aquele que anda com Deus e para Deus é suficiente o bastante, mas pela suficiência de Deus.

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