1Coríntios 10.13: NADA ALÉM DO LIMITE


Mensagem pregada em 20/12/2006.

Nossa vida transcorre num plano natural e num plano espiritual.
No plano natural, há o trabalho e o esforço, há as relações entre as pessoas e os afetos, há os projetos e as realizações. Há também o desânimo; há também os desencontros e os desafetos; há também as frustrações.
Esta dimensão, no entanto, não explica tudo o que nos acontece na vida. A bênção de Deus, que pode vir como uma conseqüência de nossos bons atos, pode vir também por ações misericordiosas dele, sem que saibamos. Na verdade, na bênção o divino se encontra com o humano. Os dois, divino e humano, se encontram, nem que seja o humano apenas recebendo, nem nada fazer.

A HISTÓRIA DE TODOS NÓS

Todos somos abençoados por Deus. Paulo toma o exemplo do que Ele fez ao povo hebreu no livramento do Egito e peregrinação pelo deserto e por dentro de um mar e de um rio.
(1Coríntios 10.1-11)
“Porque não quero, irmãos, que vocês ignorem o fato de que todos os nossos antepassados estiveram sob a nuvem e todos passaram pelo mar. Em Moisés, todos eles foram batizados na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso os seus corpos ficaram espalhados no deserto. Essas coisas ocorreram como exemplos para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram. Não sejam idólatras, como alguns deles foram, conforme está escrito: “O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregar à farra”. Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram e foram mortos por serpentes. E não se queixem, como alguns deles se queixaram e foram mortos pelo anjo destruidor. Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos. Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” (1Coríntios 10.1-13)

Paulo, então, nos diz que Deus põe sua nuvem de graça sobre nós, faz-nos atravessar por terra seca onde é um mar e nos alimenta física e espiritualmente (versos 1 e 2) Neste périplo, Cristo está sempre conosco, mesmo que sob uma forma invisível ou impensável, como uma rocha (verso 3).
No entanto, mesmo assim abençoados, podemos escolher caminhos que produzem dor em nossas vidas e  tristeza em Deus. Estes dois caminhos são sedutores e nos levam à tragédia, mesmo que tenha a face de uma comédia. O apóstolo os nomeia: idolatria (verso 7) e imoralidade (verso 8).
Idolatrar é considerar qualquer pessoa, qualquer causa ou qualquer coisa como digna de atenção maior que a atenção dada a Deus; a idolatria tira Deus de nosso foco e põe outra pessoa ou outra causa ou outra coisa no foco de nossas vidas; na idolatria, perdemo-nos completamente.
Viver na imoralidade é viver dominado pelos desejos; é ser conduzido por eles; o imoral considera o prazer que o exercício do desejo traz no momento de sua prática; o imoral pensa, se é que pensa, que o prazer compensa o pecado; o imoral acha que o critério máximo de uma ação é o prazer que ele produz; o imoral diz, se é que diz, “sei que estou errado, mas está muito bom como estou”; o imoral diz, e certamente o diz, que não há pecado porque cada um deve explorar todas as possibilidades de prazer, não há pecado quando se ama, entre outros conceitos aparentemente corretos.
Então, eu direi: eu não sou um idólatra e jamais o serei, mas o apóstolo me diz: “Quem está em pé tome cuidado: você também pode cair” (verso 13). Eu direi: jamais escolherei a imoralidade, mas o apóstolo me lembra: “Para cair, basta estar em pé”. E eu estou em pé hoje. Estarei amanhã?

PROVAÇÃO VERSUS TENTAÇÃO

O apóstolo Paulo fecha seu ensino com uma informação, acompanhada de uma promessa:

“Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (verso 13).

A informação nos livra de uma confusão. Há a provação e há a tentação. O que distingue se um evento em nossa vida é provação ou tentação é a sua origem. Veja o que Tiago, o irmão de Jesus, nos ensina (Tiago 1.2-8, 12-18):

“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma. Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente, de boa vontade; e lhe será concedida. Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal pessoa que receberá coisa alguma do Senhor, pois tem mente dividida e é instável em tudo o que faz. (…) Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam. Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta”. Cada um, porém, é tentado pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido. Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte. Meus amados irmãos, não se deixem enganar. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes. Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou” (Tiago 1.2-8, 12-18).
As provações vêm de Deus para o nosso bem. As tentações vêm de Satanás para o nosso mal. Deus nos olha e vê uma área a ser desenvolvida; então, Ele nos envia uma provação ou permite que uma provação nos alcance. Se não passarmos pelo teste, ficamos como estamos e onde estamos. Se passamos, crescemos.
Por sua vez, Satanás procura uma brecha em nós, não para fechá-la, mas para escancará-la, para nos deixar ainda mais vulneráveis. Ele usa nossos maus desejos (Tiago 1.14). O desejo mau é nosso, e Satanás procura nos seduzir, apresentando-os como bons. O desejo mau é nosso, vem de nossa natureza decaída, mas o estímulo a pô-lo em prática vem de Satanás. O desejo mau é nosso; a missão de Satanás é criar oportunidades para que os realizemos.

O TEMPORÁRIO PODER DA QUEDA

O apóstolo Paulo, então, oferece uma notícia ruim, como advertência: as tentações fazem parte da vida (verso 13). Não há vida que não seja tentada. As tentações são comuns a todos os cristãos. A queda pode acontecer comigo e com você. Ninguém está imune. Todos nós estamos sendo atacados. Satanás ronda as nossas vidas (1Pedro 5.8).
Não se ache menos amado por Deus porque Satanás lhe tem tentado. Jesus, o filho em que o Pai tinha prazer máximo, foi tentado.
Como os antigos hebreus, somos tentados à idolatria e à imoralidade, que se expressam sob formas cada vez mais criativas. Em linhas gerais, a falta de domínio próprio (1Coríntios 7.5) é a porta de entrada das lanças inflamadas (isto é, cheias de fogo) de Satanás contra nossas vidas. Em linhas gerais também, são três as trincheiras do ataque, comuns a todos os seres humanos, e nas quais pomos indevidamente o Senhor à prova (1Coríntios 10.9):

  • O sexo (“Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram e num só dia morreram vinte e três mil. Não devemos pôr o Senhor à prova, como alguns deles fizeram e foram mortos por serpentes” — 1Coríntios 10.8-9; “Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o seu próprio corpo. Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si mesmos? — 1Coríntios 6.18-19; “A vontade de Deus é que vocês sejam santificados: abstenham-se da imoralidade sexual. Cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa, não dominado pela paixão de desejos desenfreados, como os pagãos que desconhecem a Deus” — 1Tessalonicenses 4.3-5),
  • O poder (“Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos:  — Filipenses 2.3; “Jesus os chamou e disse: `Vocês sabem que os governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo, e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo`” — Mateus 20.25-27; “Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará ” — Tiago 4.10; “sejam todos humildes uns para com os outros, porque “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” — 1Pedro 5.5b) e
  • O dinheiro (“o engano das riquezas e os anseios por outras coisas sufocam a palavra [de Deus], tornando-a infrutífera” – Marcos 4.19b; “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” — Mateus 6.24; “Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição” — 1Timóteo 6.9).

O PAPEL DE DEUS NA PROMESSA

Depois da notícia ruim, o apóstolo Paulo resume a promessa: “Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (verso 13b).
Deus não impede que sejamos tentados, mas impede que sejamos tentados além de nossas forças.
Ele é fiel. A fidelidade de Deus faz parte do seu jeito de ser. Ele não permitirá que lhe venha uma tentação maior que sua possibilidade de passar por ela. Satanás, que lhe tenta, está sob o controle de Deus. Acalme-se e saiba que Deus é Deus.
Se você está sendo tentado, fortemente tentado em alguma área de sua vida, lembre-se da promessa. Você pode suportá-la.

Deus capacita você a suportar a tentação. Não temos a capacidade de impedir nossa própria queda. A luta está acima de nós, mas Deus é poderoso para impedir você de cair, pois Ele quer receber você diante da Sua glória sem mácula e com grande alegria (Judas 24).

O NOSSO PAPEL NA TENTAÇÃO

Deus providencia um escape para você fugir da tentação.

Saia do foco da tentação. Para tanto, siga a rota de fuga que Deus lhe oferece. Esteja atento.
Você tem uma parte nesta vitória. Deus capacita você para você lutar.

1. Assuma a sua responsabilidade diante das tentações. Sua vida não é uma bola de tênis assolada por duas raquetes. Você é uma pessoa livre. Deus não faz por você o que você não quer que Ele faça. O diabo não abre as portas que você mantém trancadas, com fechaduras em cima, no meio e embaixo e com câmeras de vídeo para alertar da chegada dos seus emissários.
A sua luta não é um jogo de computador. A sua luta é contra poderes tremendos, na qual você não está sozinho, mas tem que lutar.

2. Confie no poder de Deus como maior que o de Satanás. Reconheça o poder de Deus, mesmo que esteja passando por tentações. Revista-se do poder que coloca ao seu dispor. “Fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos”(Efésios 6.10-18).

3. Evite a tentação. Se o seu problema se desenvolve no campo de batalha sexual, que oportunidades são-lhe dadas? Evite aquelas situações que deixarão você vulnerável. Quem sabe, você precisará passar do outro lado da banca de jornal, para não ter vontade de comprar uma revista com imagens ditas eróticas. Quem sabe, você precisará parar de ver televisão sozinho. Quem sabe, você precisará abandonar os chats ou só entrar nessas salas com alguém do lado. Quem sabe, você precisará evitar ficar sozinho com seu namorado ou namorada. Quem sabe, você precisará evitar encontrar-se naquela  roda especializada em piadas picantes.
Se o seu problema se encontra no campo de batalha do poder, como as suas luzes brilham diante dos seus olhos? São os aplausos? É o seu completo desinteresse pelos problemas dos outros? É mesmo o desrespeito pelas idéias e pelas dores dos outros? É a possibilidade de manejar pessoas e coisas? Talvez você precise de uma quarentena, longe de cargos e das luzes da ribalta. Talvez você tenha que evitar reuniões onde o prazer é comentar implacavelmente a vida alheia. Talvez você precise passar uma temporada no deserto, onde a vaidade não entra e o poder nada compra porque não há o que comprar.
Se o seu problema está no campo de batalha do dinheiro, que seduções lhe são oferecidas? Crédito fácil, pré-aprovado no caixa eletrônico? Compras pela internet? Cartão de débito ou de crédito? Uma liquidação, com grandes descontos e prazos longos? Talvez você precisa jogar fora seu cartão de crédito, por mais difícil que seja, por você mesmo ou pela operadora do cartão, que fará tudo para que você continue com ele. Talvez tenha que passar uma boa temporada longe de um shopping ou, quando for, só se acompanhado de uma pessoa de juízo.

4. Resista à tentação. Se não conseguiu fugir e acabou frente a frente com o inimigo, resista ao seu poder. Se você resistir, ele vai fugir (Tiago 4.7), em busca de uma presa mais fácil. O diabo é cúpido, mas é preguiçoso.
Neste itinerário,
. analise honestamente o seu problema,
. ore ao Senhor sobre sua tentação pedindo a Ele a Sua intervenção, escolha e memorize versículos bíblicos, que lhe serão úteis na hora da tentação. Considere estes quatro exemplos:
– “Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti” (Salmo 119.11).
– “Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso e pecar contra Deus?” (Gênesis 39.9).
– “Sonda-me, oh Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno” (Salmo 139.23-24).
– “No íntimo do meu ser tenho prazer na Lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?” (Romanos 7.22-24).
. Procure ajuda. Além da ajuda do Alto, procure ajuda de outras pessoas. Você provavelmente não sairá de uma dependência, do álcool, da droga, do cigarro, do consumo, da maledicência, da vaidade, do sexo sozinho. Procure ajuda.

4. Escape. Se não conseguiu evitar ou resistir, e caiu na cilada, fuja. Se for preciso, faça como José. Deus manteve a porta aberta e ele fugiu por ela, embora nu. Se você foi ao bar e está com o copo sobre a sua mesa, vá ao banheiro e despeje lá o conteúdo, mesmo que tenha que pagar por ele. Se tem um cargo que o está levando a pecar, renuncie a ele. Se a sua língua varre vidas com o fogo come a floresta, faça um jejum de palavra, escolhendo o silêncio estratégico, até sua língua deixar de ser uma ameaça, para você e para os outros.

COMPRE O COMENTÁRIO BÍBLICO DA PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS

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