1Coríntios 1.9: EXCOMUNHÃO E COMUNHÃO

“Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Coríntios 1.9).

1. O projeto de Deus para nós, realizado em Jesus Cristo, é de comunhão, não de excomunhão.
Excomungados (isto é, sem comunhão com Deus) estávamos todos nós, sem Jesus Cristo. Como ninguém vai ao Pai senão por Jesus Cristo, excomungados são todos aqueles que ainda não estão em Cristo, porque quem está em Jesus Cristo é uma nova criação, é um novo poema de de Deus (2Coríntios 5.17). Jesus veio para que o poema de nossas vidas fosse reescrito.
Estar em comunhão com Jesus é, nos termos bíblicos, estar em Jesus. “É, porém, por iniciativa de Deus que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção” (1Coríntios 1.30). É por isto que “agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8.1-2).

2. A comunhão começou na cruz, quando o projeto de Deus por meio de Jesus Cristo se consumou.
É por isto que Jesus disse: “tudo está consumado” (João 19.30). A partir daquele momento, a iniciativa divina em favor da comunhão se realizou plenamente; desde aquele momento, a resposta humana se tornou plenamente possível. Naquele momento, a história não acabou: a história começou.

3. A comunhão tem seu símbolo máximo na celebração da Ceia do Senhor.
A palavra “comunhão” é tão importante que acabou aplicado, na história e na prática cristãs, à celebração da Ceia do Senhor, embora não apareça na Bíblia nenhuma vez com este significado.
Duas razões podem ser apresentação para esta identificação.
A primeira é que na Ceia do Senhor temos tudo em comum. Somos todos comuns, iguais uns aos outros. Uma das marcas da igreja é a comunhão entre os seus participantes (Atos 2.42), que devem desejar viver em paz uns com os outros (Gálatas 2.9). Por isto, o desejo se tornou uma bênção que tem percorrido os séculos: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês” (2Corintios 13.14).
A segunda é que a Ceia é o sinal mais claro de nossa comunhão com Jesus Cristo, por causa da fidelidade de Deus que nos chamou para esta comunhão (1Corintios 1.9), chamada que exige uma resposta.
A Ceia realiza este ideal de comunhão, uns com os outros e com Deus, como nos ensina a Bíblia: Se andarmos na luz, como Jesus está na luz, “temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1João 1.7), possibilitando esta comunhão. Sem a purificacao de nossos pecados, estávamos todos sem comunhão, isto é, na excomunhão.
Quando participamos da Ceia, estamos repetindo as verdades que tornamos fundamentais para as nossas vidas. Estamos admitindo que sem a cruz estávamos sem comunhão, mas a cruz nos resgatou para a comunhão. Estamos confessando que Jesus Cristo é o nosso Salvador, Amigo e Senhor. Estamos afirmando que somos amados por Deus.

4. Na comunhão, isto é, na celebração da Ceia do Senhor, somos sacerdotes de nós mesmos.
Eu me solidarizo com o grito de Horácio Lafer Piva, que se coloca “no grupo dos que dispensaram a classe eclesiástica na intermediação de sua relação com Deus”. E não estou inventando, porque Jesus é o último sacerdote; depois dele somos sacerdotes de nós mesmos.
A ideia de alguém que a fé precisa ser intermediada por um sacerdote ou por um templo é absolutamente estranha ao cristianismo do Novo Testamento. Essa ideia é do Antigo Testamento.
Seleciono uma série de textos que nos

  • “Era necessário que [Jesus] se tornasse semelhante a seus irmãos em todos os aspectos, para se tornar sumo sacerdote misericordioso e fiel com relação a Deus, e fazer propiciação  pelos pecados do povo” (Hebreus 2.17),
  • “Visto que vive para sempre, Jesus tem um sacerdócio permanente. Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles. É de um sumo sacerdote como este que precisávamos: santo, inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima dos céus” (Hebreus 7.24-26).
  • “Portanto, visto que temos um grande sumo sacerdote que adentrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos, pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, mas sim alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém, sem pecado. Assim, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hebreus 4.14-16).
  • “Por meio de Jesus, portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hebreus 13.15).
  • “Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra (…) nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue, e nos constituiu reino e sacerdotes para servir a seu Deus e Pai” (Apocalipse 1.6a).

No Cristianismo novitestamentário não há uma classe de sacerdotes. Há pastores que devem se colocar ao lado dos seus irmãos para os confortar e desafiar ao contato direto, sem intermediação, com o Pai.
O projeto de Deus para nós exclui, portanto, a ideia de sacerdócio. Jesus é o único sacerdote.

5. A nenhum crente em Jesus Cristo como Salvador, Amigo e Senhor e que tenha se examinado a si mesmo deve ser negada a Ceia do Senhor, a menos que o deseje, até se acertar com seu irmão.
A Ceia não pertence à igreja local, mas ao Senhor Jesus. A Ceia não pertence a uma denominação religiosa, mas ao Senhor. O apóstolo Paulo chama a Ceia de “mesa do Senhor” (1Coríntios 10.21).
Quando nos aproximamos da “mesa do Senhor”, estamos, pela recordação, nos aproximando do Senhor da mesa, no desejo de termos nossa fé renovada e fortalecida, nossa esperança reacendida e reanimada.
Aproximar-se da “mesa do Senhor” (tomando o pão e o vinho) é uma decisão intransferivelmente pessoal.
E este exercício começa com a decisão, totalmente pessoal, de aceitar o sacrifício vicário (feito por outro, no caso, por Jesus) feito em nosso lugar.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

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