Ezequiel 36.16-38: A ALIANÇA

A ALIANÇA
Ezequiel 36.16-38:

Pregado na Igreja Batista Itacucura, em 3.6.2001 (manhã)

INTRODUÇÃO
A Ceia do Senhor foi estabelecida como o marco do fim de um velho tempo e do início de um novo. Quando a instituiu, Jesus pretendeu deixar com os discípulos uma lembrança que lhes recordasse seus compromissos e lhes levasse a viver na perspectiva do futuro.
Há um texto no Antigo Testamento (Ezequiel 36;18-38) que nos ajuda a viver a ação de Deus por nosso intermédio, a partir da experiência do povo de Israel. Nele, o profeta recorda o velho caminho de sua gente e a ação de Deus em seu favor. A Ceia é precisamente o memorial da iniciativa de Deus para conosco.

1. A CEIA É UMA LEMBRANÇA DAQUILO QUE JÁ FOMOS.
Quando participamos da Ceia do Senhor devemos nos remeter ao nosso passado.
O texto de Ezequiel descreve nossas vidas antes da experiência da conversão. Nossos caminhos e nossas ações nos afastavam de Deus (versos 17), cuja glória não podíamos ver. Em lugar de viver na sua presença, nós O desagradávamos, provocando Sua ira contra o nosso pecado. Havia sangue inocente em nossas mãos. Servíamos a outros deuses, desde os deuses reais da idolatria até os deuses simbólicos do egoísmo.
Vivendo assim, nós profanamos o nome de Deus. E nós o fazemos quando seguimos os nomes da fama ou nos deixamos seduzir pela pressão dos valores e costumes de nossa terra, onde estamos exilados (como o povo de Israel esteve), em lugar de viver e nos mover pela mão e pelo nome de Deus. Nós profanamos o seu nome quando deixamos de levá-lo a sério. (Em chegando às nações para onde foram, profanaram o meu santo nome, pois deles se dizia: São estes o povo do Senhor, porém tiveram de sair da terra dele — verso 20)
Por isto, a Ceia só deve ser tomada por quem já se arrependeu. Não se trata de atitude exclusivista, mas de uma compreensão adequado do seu significado. Os espalhados sobre a terra (verso 19), isto é, aqueles que não fizeram uma opção clara e pública (pelo batismo consciente) por Jesus Cristo, não devem participar da Ceia. Esses ainda vivem sem Jesus. E a Ceia é para aqueles que vivem com Jesus.
Têm o que celebrar aqueles que podem olhar para trás e reconhecer que seus atos e seus cultos contaminavam a terra (“com o seus caminhos e as suas ações”– verso 17) e desagradavam a Deus (“derramei o meu furor sobre eles” — verso 18). Para estes, participar da Ceia é recordar o início no caminho da nova vida.

2. A CEIA É O SÍMBOLO DO PODER DE DEUS SOBRE NOSSAS VIDAS
A Ceia é o símbolo do poder de Deus se manifestando em nossas vidas. Ela é símbolo, mas, para ser símbolo, precisa ser uma experiência com um Deus vivo. Quando Ele deixa de ser para nós uma referência viva, Ele deixa de ser Deus para nós, embora continue sendo Deus. Ele deixa de dirigir nossas vidas e de trazer qualidade às nossas vidas.
A Ceia é o símbolo da compaixão de Deus para conosco. É a morte dEle para nossa vida. Esta compaixão é fruto apenas da Sua misericórdia, não do nosso amor (ou interesse) por Ele. O verso 22 deixa claro: não é por amor de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo meu santo nome, que profanastes entre as nações para onde fostes.  O verso 32 repete a mesma frase propositadamente: Não é por amor de vós, fique bem entendido, que eu faço isto, diz o Senhor Deus. Envergonhai-vos e confundi-vos por causa dos vossos caminhos. (verso 32)
A ação de Deus para conosco decorre da sua própria natureza compassivamente imutável. A misericórdia faz parte do caráter de Deus. Quando ele diz mas tive compaixão do meu santo nome (21), é como se dissesse: “eu não consigo não ser ser misericordioso”. Cada um de nós tem que fazer força para ser compassivo; Deus tem que fazer força para não sê-lo e não o consegue…
Como pode um Deus vir à terra pelos homens e aceitar que estes homens o matem? Só o caráter de Deus o explica.

3. A CEIA É A CICATRIZ DE UM TRANSPLANTE
A compaixão divina permite que sejamos transformados, ao recebermos do Seu Espírito um novo coração. O pecado nos torna insensíveis e nos deixa como mortos. O profeta diz que os dominados pelo pecado têm coração de pedra.
O coração de pedra é insensível diante de Deus, não conseguindo ver a Sua lei e a Sua graça, e igualmente insensível  diante do próximo, não conseguindo ver as suas necessidades. O coração de pedra aceita as tiranias sem se indignar. O coração de pedra vê o sofrimento do próximo algo estranho, não como algo que o toca. O coração de pedra não chora diante de Jerusalém, nem diante de um amigo morto.
A Ceia é para ser tomada por aqueles que têm corações de carne, transplantados por Deus. (Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. — verso 26)
Esses corações são aqueles que se abrem para receber o Espírito Santo e procuram dar o fruto desta presença (Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis. — verso 27) Não rejeitemos este transplante.
A Ceia nos lembra que não podemos permitir que a falta de comunhão com o Senhor e as amarguras da vida petrifiquem os nosos corações. Se isto acontecer, o Espírito Santo não estarão neles).

4. A CEIA É UM CONVITE À SANTIDADE
A Ceia é um convite à santidade. Ela está associada a batismo, que o símbolo da passagem pela purificação e só acontece uma vez. A Ceia lembra purificação, mas purificação contínua.
Os versos 23 e 25 podem ser lincaos ao batismo, um momento singular. (Vindicarei a santidade do meu grande nome, que foi profanado entre as nações, o qual profanastes no meio delas; as nações saberão que eu sou o Senhor, diz o Senhor Deus, quando eu vindicar a minha santidade perante elas. [verso 23] Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. [verso 25])
No entanto, o verso 29  pode ser associado à purificação como um processo:  Livrar-vos-ei de todas as vossas imundícias; farei vir o trigo e o multiplicarei, e não trarei fome sobre vós. (verso 29). Um dos elementos da Ceia é o pão, feito de trigo e que sacia a fome. Do trigo ao pão, há um processo, como acontece também com a santidade. Um santo é uma espiga de trigo que Deus colhe, transforma em pó e massa, põe o formento do Seu Espírito, molda da forma que acha melhor, dá o seu calor transformador, até ficar pronto para alimentar outros corpos.
Nossos desejos só serão atendidos quando nos purificarmos. Uma vida impura é uma existência assolada pela iniqüidade, desolada como um deserto aos olhos de todos e abandonada como imprestável (Assim diz o Senhor Deus: No dia em que eu vos purificar de todas as vossas iniqüidades, então, farei que sejam habitadas as cidades e sejam edificados os lugares desertos. Lavrar-se-á a terra deserta, em vez de estar desolada aos olhos de todos os que passam. — versos 33-34). Uma vida compromissada com a santidade é como um jardim do Éden reconstruído, como uma cidade bem fortificada e bem habitada. (versos 33-35) A santidade não é só peso; ela dá prazer.
O santo é aquele que glorifica a Deus. Então, as nações que tiverem restado ao redor de vós saberão que eu, o Senhor, reedifiquei as cidades destruídas e replantei o que estava abandonado. Eu, o Senhor, o disse e o farei. (…) Ainda nisto permitirei que seja eu solicitado pela casa de Israel: que lhe multiplique eu os homens como um rebanho. Como um rebanho de santos, o rebanho de Jerusalém nas suas festas fixas, assim as cidades desertas se encherão de rebanhos de homens; e saberão que eu sou o Senhor.  (versos 36 -38) O santo é aquele para quem as pessoas olham e vêem Deus. Se o santo é o que é, apesar da sua natureza, só tem uma explicação: é Deus quem faz por seu intermédio. O santo, portanto, não chama atenção para si mesmo, porque sua vida indica para Deus.
Ser santo é afirmar que Deus é Senhor. Quando participamos da Ceia, nós fazemos esta afirmativa. Tomar o pão ou beber o vinho é confessar a soberania de Deus em Jesus e dobrar-se festivamente diante dEle.

5. A CEIA É UMA MEMÓRIA DO FUTURO.
Quando o apóstolo Paulo nos lembra que, quando celebramos a Ceia, exaltamos a Jesus Cristo até que Ele venha (1 Coríntios 11.26) e complete o que começou na história universal e em nossas histórias.
A Ceia é uma memória acerca do futuro, de que habitaremos a casa de Deus, onde a Ceia será contínua. Se bem que aplicadao a um novo tempo, para Israel fora do cativeiro, podemos tomar, com liberdade, a promessa de Ezequiel como também descrevendo o que acontecerá com os filhos de Deus. (Tomar-vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra. Habitareis na terra que eu dei a vossos pais; vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus. Multiplicarei o fruto das árvores e a novidade do campo, para que jamais recebais o opróbrio da fome entre as nações. Então, vos lembrareis dos vossos maus caminhos e dos vossos feitos que não foram bons; tereis nojo de vós mesmos por causa das vossas iniqüidades e das vossas abominações. — versos 24, 28, 30 e 31)
Sim, haverá um tempo, e disto a Ceia nos lembra, quando toda a família de Deus se reunirá em torno da mesa do Senhor, feita de milhores de quilômetros, para receber todos os salvos.
Sim, haverá um tempo, e disto a Ceia nos lembra, em que nenhum tipo de escassez, material, emocional e espiritual, será conhecido.
Sim, haverá um tempo, e disto a Ceia nos lembra, em que seremos verdadeiramente povo de Deus e Ele será completamente nosso Deus.

CONCLUSÃO
Em Jesus, Deus firmou uma aliança unilateral conosco. A Ceia nos lembra disso.
Ao aceitarmos a Jesus como o Salvador morto por nós, firmamos nossa aliança com Deus, que passa a ser bilateral. A Ceia nos lembra disso.
Com a alegria que esta assinatura infunde (ou deveria infundir) em nós é que devemos participar da Ceia do Senhor.