COMO TER PÉS FORMOSOS
Isaías 52.1-12; Ezequiel 33.1-9
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 22.4 e 27.5.2001 (manhãs)
1. INTRODUÇÃO
Confrontada pelos fatos, uma alta funcionária do Senado Federal brasileiro confessou (em abril de 2001) que houve quebra do sigilo dos votos dos parlamentares. Durante seu depoimento, um senador descreveu sua luta interna como sendo um calvário, numa alusão ao sofrimento de Cristo a caminho da morte. Outros políticos chegaram a referir que o Senado, diante da vergonha exposta, terá que verter sangue para aplicar a ira da opinião pública.
A presença destas duas palavras — calvário, sangue — indica que o vocabulário cristão clássico foi absorvido pelo mundo político, embora utilizado num contexto completamente diferente do bíblico.
Ao mesmo tempo, este episódio próprio da elite brasileira é encarada com um misto de indignação e ceticismo, indignação diante da fratura da imoralidade e ceticismo diante da ausência de punição aos destruidores da democracia. Quando a indignação não é aplacada pelo castigo, cresce um certo tipo de relativismo, cuja dramaticidade resulta em desânimo e desinteresse.
Decorridos estes parágrafos, relacionados à coisa pública, a pergunta inevitável é: o que tem a ver este prelúdio com o texto proposto, de Isaías 52, lido à luz de Ezequiel 33?
1. A primeira correlação é esta: os cristãos também fomos tomados de um relativismo mórbido e visceral, que atinge até mesmo o interior de nossa fé em Deus. Se o sentido da democracia é a produção da justiça, o sentido da religião é a fruição do poder gracioso de Deus. O relativismo secular advém da conclusão de que não existe justiça possível. O relativismo cristão advém da incerteza em torno da possibilidade de Deus se manifestar de forma concreta e de haver uma verdade que nos cabe proclamar. Cada vez mais há cristãos, mesmo não o confessando, a pensar que a revelação divina em Jesus é uma revelação entre outras e não a revelação. Esta última frase precisa de uma correção, para ficar assim: cada vez mais há cristãos, mesmo não o confessando, a viver como se a revelação divina em Jesus fosse uma revelação entre outras e não a única revelação.
2. A segunda correlação é que os cristãos precisamos ir além daqueles que alcançam apenas a periferia da mentalidade bíblica, para chegar ao seu centro. Não basta que se fale em calvário a subir nem sangue a verter. É preciso que os cristãos contribuamos efetivamente para que mais pessoas entendam o que foi o Calvário e o que fez e faz o Sangue que ali foi derramado. É preciso que os cristãos não fiquemos felizes com o verniz religioso de muitas pessoas, mas ante as confrontemos com a verdade bíblica, de que só há um mediador entre elas e Deus e que só há um caminho que produz a paz: Jesus Cristo. Se sabemos disso, devemos empunhar esta bandeira com ânimo e interesse, não com desânimo e desinteresse; com dedicação e ardor, não com displicência e morna leveza.
2. QUEM SOMOS OS CRISTÃOS?
Isaías 52 e Ezequiel 33 nos ajudam a ver quem somos, como temos sido e como devemos ser. Sua leitura, no entanto, exige um mergulho na “mente” hebraico-cristã, pressuposta como sendo a “mente” que devemos ter.
Nós precisamos sempre aplicar os textos bíblicos à nossa realidade para que tenham vida. Contudo, só os entenderemos se os lermos como os seus primeiros ouvintes os escutaram. Precisamos nos despir um pouco de nossa mente, para que possam transformar a nossa mente, renovando-a com os fundamentos da Palavra de Deus, por mais difíceis (enquanto penosos) que sejam. Sem esta disposição, por exemplo, não teremos como entender Ezequiel 33, que promete castigo para todo aquele que contribuir para que um sem-Deus continue como tal.
Precisamos aplicar os textos bíblicos hebraicos à nossa realidade para que possamos reafirmar, entre outros fatos, quem nós somos.
1. Somos resgatados por Deus.
Comecemos por registrar a informação primordial: nós fomos resgatados por Deus, pelo preço de sangue (v. 3), de Seu próprio sangue.
Porque assim diz o Senhor: Por nada fostes vendidos; e sem dinheiro sereis resgatados. Porque assim diz o Senhor Deus: O meu povo no princípio desceu ao Egito, para nele habitar, e a Assíria sem razão o oprimiu (versos 3-4).
Os hebreus tiveram seu Egito e sua Assíria, e Deus os tirou de lá. Também já tivemos nossa era egípcia ou nosso tempo assírio. Podemos dizer que somos ex-oprimidos pelo Egito ou ex-oprimidos pela Assíria, mas agora estamos livres. Não tenho mais cangas (jugos) sobre nossos pescoços.
Há muitos cristãos que ainda não saíram do deserto e alguns, pior, nem sequer atravessaram o Mar Vermelho. Há cristãos aprisionados sem razão pela Assíria do desânimo, do medo, da doença ou da escassez. Mesmo quando estamos sem dinheiro ou sem saúde, continuamos sendo os resgatados por Deus. O Deus que nos fez atravessar o rio Jordão a pé nos fará derrubar as muralhas com um sopro. Muitos olhamos para as muralhas de Jericó como se não soubessem que Deus as derrubou e ficam perplexos diante da impossibilidade de serem vencidas…
Eis como devemos viver.
Sacode-te do pó, levanta-te e toma assento, oh Jerusalém; solta-te das cadeias de teu pescoço, oh cativa filha de Sião (v. 2).
Não somos mais cativos. Não temos mais cangas de ferros sobre nós. A poeira não é mais a nossa cama. O chão não é o mais o nosso assento.
2. Trajamos a roupa nova da graça
Em lugar de roupas andrajosas de derrotados, devemos nos vestir com roupa de festa, que é a roupa da graça.
Desperta, desperta, reveste-te da tua fortaleza, oh Sião; veste-te das tuas roupagens formosas, oh Jerusalém, cidade santa; porque não mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo (v. 1).
Quando Isaías proferiu estas palavras, Sião era um monturo, mas ele lembra a fortaleza dela; os guarda-roupas de Jerusalém tinham virado cinzas, mas o profeta recorda a beleza das roupas sacerdotais.
Pela fé, ele viu Sião restaurada e Jerusalém ataviada.
Pela fé, cada um de nós pode ver sua saúde restabelecida ou a vontade de Deus manifesta, porque nada nos pode separar do Seu amor. Um dia desses um de nossos irmãos estava viajando de avião, quando lhe sobreveio o medo de a aeronave cair. Ao mesmo tempo, sobreveio-lhe a paz, quando concluiu: “Este avião está nas mãos de Deus, mas, se ele não estiver, eu estou”.
Pela fé, cada um de nós pode ver relacionamentos partidos sendo restaurados, pessoas afastadas de Deus sendo redimidas ou aprender a respeitar a liberdade do outro, pois até Deus a leva em conta. Alguns, por exemplo, se perguntam se vale a pena continuarem orando pela conversão de uma pessoa? A resposta é: “Sim!”. Nós oramos, Jesus Cristo bate esperançoso à porta, mas Deus não violenta a liberdade de quem decide. As vitórias de milhares de pessoas de mostram que vale a pena. O problema é que a maioria de nós não tem paciência para orar durante décadas e desiste exatamente no ano em que talvez a pessoa iria aceitar…
Pela fé, cada um de nós pode ver a prosperidade no seu emprego ou do seu negócio ou aprender o significado do sucesso segundo a mente de Deus. O fruto do trabalho é sempre abençoado, mesmo que esta bênção considere as decisões tomadas. Nosso grande problema é que nós queremos decidir que profissão seguir, que negócio fazer, sempre por nós mesmos, mas nem sempre estamos preparados para arcar com as conseqüências de nossas decisões. Há pessoas que escolhem profissões apenas pelo princípio do prazer que ela lhe dá, sem considerar sua faixa salarial média; depois querem ficar ricas. Há pessoas que querem ter prazer e dinheiro, ao mesmo tempo, esquecidas que, por vezes, eles se excluem mutuamente. Assim mesmo, pela fé cada pode ver sua própria vitória profissional ou material, dentro ou fora do horizonte que escolheram, porque a vitória que Deus dá é diferente do triunfo que o mundo oferece. O sucesso que o mundo concede como conquista exige a entrega da própria vida; o sucesso que Deus outorga carece apenas que o cristão compartilhe com Ele suas escolhas, ansiedades e conquistas. Quando há esta disposição, Ele oferece algo que ninguém pode oferecer: visão para o exercício da vida profissional e negocial.
3. Devemos romper em alegria
Se você anda meio triste, talvez insatisfeito com bênçãos ditas incompletas, sentindo-se a própria ruína, eis o que lhe diz o verso 9:
Rompei em júbilo, exultai à uma, oh ruínas de Jerusalém; porque o Senhor consolou o seu povo, remiu a Jerusalém. (v. 9)
Este texto faz lembrar a experiência de Paulo e Silas na prisão em Filipos. Mesmos acorrentados pelos pés, por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus (Atos 16.25).
Você está triste, rompa em júbilo e aguarde. O consolo do Senhor virá. O seu livramento chegará. Contudo, o consolo virá e o livramento chegará quando você romper em júbilo. Se você não pode romper em júbilo, é porque ainda não entregou o seu caminho ao Senhor (Salmo 37.1). Se você preferir cuidar do seu próprio caminho, cuide. Se você preferir entregá-lo ao Senhor, Ele cuidará.
3. COMO TEMOS ALGUNS VIVIDO?
No entanto, não temos vivido assim. A maioria de nós mendiga vida. Parodiando o professor Luciano Lopes, podemos dizer que boa parte dos cristãos é um mendigo assentado sobre um saco, sobre um saco de barras ouro, sobre um saco de barras de ouro puro.
O profeta Isaías descreve como vivemos muitos de nós.
1. Muitos nos deixamos reescravizar.
Recentemente recebemos, chocados (chocados? será que alguma desgraça ainda nos choca?), a informação que um navio cheio de crianças africanas, levadas para serem escravas na Europa, singrava os oceanos. O fato levou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) a denunciar, numa estatística conservadora, que 200 mil crianças são vendidas por ano como escravas.
Diante da permanência destes comportamentos cruéis, chegamos a ter vergonha de nossa humanidade. Este estilo de vida escravizador acaba sendo imposto, muitas vezes sem que o percebamos.
Em todos os tempos, as nações são governadas por tiranos. Em nosso tempo, há tiranos visíveis e tiranos invisíveis. Aos primeiros, como Sadam Husseim, nós combatemos. Aos segundos, nós nos submetemos, às vezes de bom grado. Os tiranos de nosso tempo, formados por governos, megaempresas e poderosas redes de comunicação, produzem uma espécie de pensamento único que todos devemos pensar.
Os tiranos de nosso tempo dão uivos de alegria sobre seus escravos. Deus mesmo se pergunta: “que farei eu aqui?” (verso 5), antes de desnudar seu braço diante das nações, mostrando Seu poder libertador das tiranias (verso 10).
Deus não é um tirano, porque Sua marca registrada é o respeito à liberdade humana. Ele permite, embora não seja Seu desejo, que vivamos uma vida cristã pobre, escrava da dúvida, subserviente a outros senhores, maculada pelo desgosto, alquebrada diante das dificuldades.
Ele olha para aqueles que abandonaram o primeiro amor para com Ele e se pergunta: “que farei eu aqui?” Sim, o que fará Ele com uma vida que não O adora porque escravizada pelos tiranos da sociedade ou pelos tiranos do coração, que são os problemas, as dificuldades, os medos, as inseguranças?
2. Muitos nos curvamos diante das blasfêmias contra Deus.
Há cristãos consumindo blasfêmias contra Deus, consumindo e aplaudindo, consumindo, aplaudindo e enriquecendo os que blasfemam.
No Israel antigo, a ruína do povo era uma blasfêmia contra Deus. Hoje, não é diferente: a ruína espiritual, moral e material do Seu povo é uma blasfêmia contra o Senhor.
Quando andamos encurvados, permitimos que o nome de Deus seja motivo para deboche, porque Deus nos fez para olhar de cima e para cima; por isto, o bordão profético: “Despertem-se. Acordem. Levantem-se.” Nós nos encurvamos não só pelos pesos dos problemas, mas quando deixamos de olhar para Deus.
E aqui podemos ser bem claros. A religião está presente todos os dias nos programas não religiosos de televisão. Por eles somos inspirados por experiências de transformação de vidas por Cristo, mas somos também obrigados a telever ataques, frontais e subliminares, à fé cristã.
Quando este ataque é frontal, nós precisamos da coragem de desligar o aparelho diante de nós ou trocar de canal. Se não houver nenhum programa que valha a pena, não podemos ficar diante da televisão como se fôssemos órfãos. Tem gente que se comporta como uma fossa, prazerosa em receber o excremento da televisão. Fossa fede. Tem cristão fedendo por absorver tanto excremento. Seu primeiro amor foi para o espaço. A memória do sacrifício de Cristo na cruz por Ele é uma vaga lembrança. A recomendação de que deve buscar primeiramente o Reino Deus e os seus valores, na fé que as demais coisas serão acrescentadas, foi invertida para: “Deus está nas demais coisas; buscando-as, nós O acharemos”.
Certamente não há nenhum entre os ouvintes, mas não posso ter a mesma certeza quando os ataques ao propósito de Deus para o mundo e seu povo são discretos, subliminarmente apresentados. Estes são os ataques mais perigosos. Estes exigem discernimento, muito discernimento, que é, ao mesmo tempo, um esforço da inteligência humana e um dom de Deus.
Devo dizer que os ataques a Deus não vêm apenas da televisão, mas chegam de diferentes fontes e frontes. No entanto, é ela que ocupa o centro de nossas casas e de nosso tempo. Ela é, ao mesmo tempo, uma máquina de paz e uma máquina de guerra. Ela é, ao mesmo tempo, uma máquina de progresso e uma máquina de atraso. Seu maior perigo consiste no seu poder de sedução e na impressão que vende que, ao assisti-la, estamos participando. Há pessoas que perdem horas demais da sua vida vendo televisão passivamente. Televisão é diversão, mas deve ser vista criticamente.
Vou ser mais radical. Ver televisão o dia todo, como fazem alguns, é uma espécie de morte em vida. Ela oferece a aparência de participativa, de interativa, mas traz tudo pensado. Quando permitimos que pensem pela gente, a mente da gente vai embotando, emperrando, com uma porta com as dobradiças enferrujadas. Quem vê televisão demais ri, mas não faz ninguém mais rir.
Talvez alguns se perguntem pela alternativa. Eu digo que há alternativas até para aquelas pessoas forçadas a viver em casa, por razões de saúde.
Há livros para serem lidos.
Há telefonemas a serem dados. Há cartas a serem escritas.
Há orações a serem feitas. Há a Bíblia a ser conhecida e meditada. Há livros a serem escritos, mesmo sem a perspectiva de serem publicados.
Há o computador a ser dominado.
Há lugares onde se pode ir.
Há carinho a ser dado.
O problema é romper o círculo da inércia e da preguiça.
Pode parecer que esteja pregando contra a televisão, mas estou profetizando contra o consumo não crítico, o consumo ingênuo da televisão, porque este consumo mata. Ela não pode ser um deus Moloque, que exige a morte da mente para ser adorada…
Pode parecer que me desviei do assunto, mas estou recordando que somos muito importantes para Deus para gastarmos nossas vidas diante de outros deuses. Estou também relembrando que os valores de Deus devem estar sempre em nossas mentes e não outros valores. Estou também trazendo de novo à memória que o prazer de Deus é o nosso prazer. Estou também advertindo que o nosso compromisso deve ser a Sua defesa, porque a Sua vitória é a nossa. Eis algo do que não devemos esquecer e que aprendemos com os profetas do Antigo Testamento: Se o meu Deus é atacado, eu sou atacado. Por Ele se comporta assim: se o Seu povo é atacado, Ele é atacado.
3. Muitos blasfemamos contra Deus
E aqui chegamos ao aspecto mais dramático, que ocorre quando nós mesmos, não mais nossos vizinhos ou as personagens da realidade ou da ficção, blasfemamos contra Deus.
Em coro diremos: nós nunca blasfemamos contra Deus.
No entanto, blasfemamos.
Blasfemamos quando nos comportamos como se não conhecêssemos a Deus. Pedro é o paradigma deste comportamento, que nós repetimos. Ele viveu com Cristo, como nós vivemos com o Seu Espírito. Na hora em que admitir ser um cristão representava uma ameaça para a sua vida, ele afirmou que não conhecia o seu próprio Mestre. Quando estamos aqui, cantamos altos louvores; muitos, quando estamos fora daqui, jamais damos sequer um sinal, a mais discreta pista, de que somos cristãos e que todos os domingos comparecem a uma igreja para adorar a Deus, o Deus que escondemos nos demais dias da semana. Se, no seu trabalho, na sua escola, no seu prédio, no seu clube, na festa da qual você participa, ninguém sabe que você é um cristão, você está blasfemando contra o seu Deus. Aliás, Pedro estava precisamente no meio de uma multidão, quando negou a Jesus.
Blasfemamos quando duvidamos do poder de Deus. Massacrados pela vida, uns passamos a depender ainda mais de Deus, querendo ver mais de Cristo, como canta o poeta (no hino 169 do Cantor Cristão), mas outros passamos a nos perguntar se Deus tem mesmo poder.
Diante do sofrimento, muitos nos comportamos com a mulher de Ló, que recomendou ao seu marido:
— Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre.
Jó respondeu:
— Falas como qualquer doida; temos recebido o bem de Deus e não receberíamos também o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios. (Jó 2.9-10)
Jó fez perguntas a Deus, para entender a razão do seu sofrimento, mas não duvidou do poder de Deus. Nós devemos perguntar a Ele porque algumas coisas acontecem conosco. Deus não se importa e vai um dia responder; o que é blasfêmia é admitir que o Seu poder não nos alcançará, porque a verdade bíblica é clara: nada nos pode separar do Seu amor, que é o Seu poder para conosco.
Pergunte e espere a resposta.
Blasfemamos quando passamos a considerar o caminho de Deus com um dos caminhos, não como O Caminho; quando passamos a considerar Jesus um salvador entre muitos. É precisamente isto que dizem algumas pessoas, mas cabe-nos perguntar: Que Deus morreu por nós? Só o Deus da Bíblia, em Jesus Cristo, morreu por nós.
No afã de parecermos politicamente corretos, passamos achar que em religião vale tudo. Não vale. A solução de nossa vida é o compromisso com Deus, numa uma solução de compromisso, que querer estar bem com todas as idéias, ideologias, partidos e religiões. Nós devemos viver pela escolha que fizemos, respondendo ao convite de Jesus. Por mais que os veículos e os formadores de opinião o digam, não são todos os caminhos que conduzem ao Pai, mas apenas a Cruz.
Blasfemamos, portanto, contra Deus quando não levamos Suas promessas e as Suas exigências a sério.
4. COMO DEVEMOS VIVER?
Como estamos vivendo? Que significado tem tido a fé para as nossas vidas? Que prazer temos tido em Deus?
1. Este texto de Isaías é um convite a uma vida de alta qualidade. É isto que ele diz quando pede ao povo para se vestir com trajes esplendorosos. Nós fomos salvos para viver cheios de alegria, pela plenitude do Espírito Santo em nós.
Se isto está acontecendo, louvado seja Deus. Oremos para que nossas vidas sejam cada vez mais cheias do Seu Espírito.
Se isto não está acontecendo, somos convidados a acordar. “Desperta! Desperta!” (verso 1).
2. O profeta pede que sacudamos o pó acumulado sobre nossas vidas. “Sacode o pó” (verso 2). Talvez aqui resida a falha maior dos cristãos. Nós vamos, aos poucos, permitindo que o pó do pecado, o pó do desejo de uma adoração sem compromisso com Deus, o pó do desânimo, vá se acumulando sobre nós.
As pessoas olham para nós e vêem a poeira de um cristão, não um cristão. Deus mesmo precisa olhar além do pó para nos ver. Nós não conseguimos vê-lO porque o pó acumulado em nossa visão requer muito colírio ou até, no caso de alguns, de uma cirurgia.
Os cristãos precisamos tirar continuamente o pó de nossas vidas. Sem este cuidado, o pó vai se acumular, vai pesar sobre nós e nos vergar (encurvar).
3. Por meio do seu mensageiro, Deus nos dirige a palavra para que nós reconheçamos a Sua voz. Um cristão é alguém que tem um relacionamento pessoal com o seu Senhor. Na experiência do povo antigo de Deus, Sua voz não era mais ouvida e Seu nome não era mais considerado entre as nações vizinhas e nem mesmo entre Seu próprio povo.
Diante desta quadro, sua promessa é clara: Por isso, o meu povo saberá o meu nome; portanto, naquele dia, saberá que sou eu quem fala: Eis-me aqui (v. 6).
Saber o nome de Deus significa buscar a Sua vontade e reconhecer quando Ele fala é discernir a Sua vontade. Em termos práticos, saber o nome de Deus significa ter novas experiências pessoalmente com o poder de Deus. É ter uma vida de crescimento com Ele. É praticar a Sua presença.
4. Deus espera que nós proclamemos a salvação, prática que torna belos os nossos pés.
Quão formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina! (v. 7)
Paulo cita este texto, ao perguntar e responder: Como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! (Romanos 10.15)
Esta proclamação deve ser feita com a paixão de um carteiro profissional. Você já reparou como andam rápido? É porque têm uma tarefa a cumprir. Eles precisam obstáculos e terminar logo sua empreitada.
Os três verbos da ação do proclamador (anuncia, faz ouvir, diz) indicam o prazer de proclamar e a insistência em proclamar. Não se trata de cumprir mecanicamente uma ordem, mas de levar uma mensagem cujo conteúdo se sabe que é fundamental.
No caso específico, o conteúdo da proclamação, naquele contexto histórico, era:
O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus. (v. 10)
Em outras palavras, Deus manifestou o seu poder e a salvação de Israel estava próxima. Esta certeza deixava apaixonado o mensageiro e fazia com que corresse, mesmo tendo que superar as montanhas. A beleza da vida cristão consiste neste proclamar.
No nosso caso, sabemos que a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens(Tito 2.11). Como os homens saberão desta manifestação e conhecerão esta graça, se nós não lhes dissermos? Precisamos levar a mensagem a Garcia, conforme o artigo escrito em 1899, por Elbert Hubbard:
Em todo este caso cubano, um homem se destaca no horizonte de minha memória como o planeta Marte no seu periélio. Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos, o que importava a estes era comunicar-se rapidamente com o chefe dos insurretos, Garcia, que se sabia encontrar-se em alguma fortaleza no interior do sertão cubano, mas sem que se pudesse precisar exatamente onde. Era impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o Presidente [Mac Kinley] tinha que tratar de assegurar-se da sua colaboração, e isto o quanto antes. Que fazer?
Alguém lembrou ao presidente: “Há um homem chamado Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan”.
Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta, meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro dias saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como se embrenhou no sertão, para, depois de três semanas, surgir do outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregado a carta a Garcia, são coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. O ponto que desejo frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia; Rowan pegou a carta e nem sequer perguntou: “Onde é que ele está?”
Se não entrarmos a mensagem de salvação aos homens, eles não serão salvos. Como ouvirão que Jesus Cristo é o Salvador e o Senhor, se não há quem lhes disser?
É por isto que esta proclamação deve ser feita com a disposição de uma sentinela (atalaia). Eis o grito dos teus atalaias! Eles erguem a voz, juntamente exultam; porque com seus próprios olhos distintamente vêem o retorno do Senhor a Sião (v. 8).
Como proclamar o Evangelho, que é a forma de termos pés formosos?
Quero sugerir algumas ações ao alcance de todos nós.
A primeira, que todos podem desenvolver, é receber bem a todos os que vêm aqui. Você pode evangelizar com o seu sorriso, com um abraço, com um olhar, com interesse real pelo outro. Mas, por favor, sem marketing, mas como algo que resulta de um desejo, o desejo de ter pés formosos, de quem exulta diante da verdade.
A segunda, que todos podemos pôr em prática, é adorar a Deus, aqui, de uma forma que os que estiverem verão a Sua glória. Quando nos deixamos envolver pela glória de Deus no culto, até o nosso corpo muda. Se o nosso amor por Jesus Cristo for real, e não algo burocrático, as pessoas quererão este amor para si.
A terceira, que todos podemos exercer, é contribuir financeiramente, para que sua igreja desenvolva o seu ministério, nesta cidade e onde for necessário. [Chamar para: Missões Mundiais; missão Casabranca; missionário no Pedro Ernesto; adoção de missionário]. Não é fácil ser fiel a Deus na área financeira. Se nós formos esperar que nosso caixa pessoal melhore, fique superavitário, para então começar a contribuir regularmente, sabe quando isto vai acontecer? Por isto, tenho sugerido: se a situação está apertada, comece com 1% ou com 2%, com a meta de chegar a 10 ou 15%, mas comece hoje. Eu disse que todos podem desenvolver, mas é possível que alguns não tenham mesmo como dar um real para Deus por meio da igreja. Infelizmente, isto é possível. Mesmo estes podem cooperar, dedicando parte do seu tempo à Igreja. Um bom conceito que precisamos desenvolver é o do dízimo do tempo. [desenvolver]
A quarta, que todos devemos nos envolver, é orar apaixonadamente pela conversão de alguém. Se você não orar por uma pessoa, você não vai falar a ela. Se você orar, ela estará no seu coração e você buscará meios e formas para chegar até a ela. Experimente orar por alguém.
Então, surgirão formas. Uma das quais gostaria de ver muita gente participando é a promoção de um culto em sua casa. [Nossa meta em setembro é efetuar 25 cultos nos lares, um a cada dia. Encontraremos 25 familias dispostas a receber cerca de pessoas não crentes em suas casas para um culto de proclamação? Encontraremos 25 pessoas dispostas a pregar? Se você pretende se organizar para convidar e receber pessoas em sua casa, ponha o seu nome num papel e me entregue, ou ao irmão Wilson, ou ponha na caixa de sugestões. Se você pretende se preparar para pregar, faça o mesmo.]
Você não se sente capacitado? Você tem medo de convidar, de falar, de orar? Não devemos viver como quem foge: Porquanto não saireis apressadamente, nem vos ireis fugindo; porque o Senhor irá adiante de vós, e o Deus de Israel será a vossa retaguarda (v. 12).
5. Deus exige que nos comprometamos com a santidade. A última recomendação que quero destacar diz tudo por si mesma: Retirai-vos, retirai-vos, saí de lá, não toqueis coisa imunda; saí do meio dela, purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor (v. 11).
O “lá” deste texto é a Babilônia, de onde o povo era convidado a sair. O cativeiro não era o lugar do povo de Deus. Por causa pecado, para lá fora levado o povo. Ao voltar, não devia se agarrar a nada que pertencia àquele mundo de pecado.
A recomendação se aplica de modo claro a nós. Nós vivemos no mundo, mas não podemos nos agarrar aos seus valores. Os nossos “utensílios” são aqueles santificados por Deus e para Deus.
5. CONCLUSÃO
Nós somos os atalaias de Deus?
Não escolhemos ser ou não atalaias. Nós já o somos, cabendo-nos apenas decidir como o temsos sido.