DEZ?

Duas perguntas são inevitáveis, às vezes discretas, às vezes diretas nesses dias:

— O que você ganhou no Natal?

— Como foi seu ano?

 

Quanto ao que ganhamos, sabemos que, por mais caro que seja ou mesmo mais duradouro, o presente desaparecerá e, mesmo que fique, com o tempo a novidade se desfará.

Além de desembrulhar e usar o que ganhamos, devemos nos perguntar o que demos. Se demos afeto a um querido e atenção a um desvalido, fizemos bem, se foi por amor. Se presenteamos a quem geralmente pouco recebe e quase nada tem, demos o melhor.

 

Quando ao nosso ano, muitos diremos que foi bom, e talvez tenha sido mais que isto, e poucos cantaremos que foi o melhor de nossas vidas, embora talvez tenha sido.

Alguns diremos que demorou a passar, tantos os problemas, tantas as dificuldades, tantas as incompreensões, tantas as perdas, tanto os temores, tantas as dores. Se pedirem para que contemos as bênçãos, caberão nos dedos de uma mão.

Nessa hora, talvez tenhamos que duvidar de nossa avaliação.

Mesmo que tenha sido ruim o ano, chegamos até aqui. Mesmo que não tenhamos conseguido voar alto por nos faltarem asas, voamos baixo com uma asa só. Talvez não tenhamos corrido, mas rastejado, mas aqui estamos. Mesmo passando tanto tempo no vale da sombra morte, olhamos para o Senhor e Ele mudou a nossa sorte.

 

No que foi bom o nosso, qual foi a nossa parte no horizonte da audácia? Certamente, desejamos coisas boas, decidimos fazer coisas boas, disciplinamo-nos para alcançar coisas boas.

 

No que foi ruim o nosso ano, qual foi a nossa parte no latifúndio da inércia? Que devíamos fazer, mas, por alguma razão, deixamos para depois e o tempo se esgotou?

É mais culpar os outros e as circunstâncias e talvez estejamos sendo honestos. Mas, além de honestidade, precisamos de atitudes saudáveis, e uma delas é a gratidão.

Não memorizamos que devemos dar graças em tudo?

A gratidão perfuma o nosso corpo.

A gratidão é sempre suave e verdadeira, mas a ingratidão é falsa e grosseira.

A gratidão nos deixa prontos para a esperança, porque libertados de um passado que fez nossa alma prisioneira.

 

Nessa estação, um bom exercício é compor uma régua de dez centímetros. Imaginemos que nos pontos 1 a 5 está a reclamação e nos pontos 6 a 10 está a gratidão. Então: em que ponto estamos?

Ou mais simplesmente: de zero a dez, que nota damos à nossa atitude diante da gratidão?

Dez?

 

Israel Belo de Azevedo