Romanos 7.7-25: A LUTA

A LUTA
Romanos 7.7-25

Nós sempre nos surpreendemos com a capacidade humana de fazer o mal.
Nós às vezes nos surpreendemos com o fato de fazermos aquilo que não queríamos. Temos princípios e nos vemos, por vezes, quebrando estes princípios.
Ah, que bom: não estamos sozinhos. Temos a companhia do apóstolo Paulo, num texto dramático em que se autodenomina de “homem miserável”.
Antes, no entanto, de fazer a leitura, preciso fazer uma distinção.
Paulo usa a palavra “lei” em sentidos diferentes e precisamos tomar muito cuidado para não trocar o que ele não trocou.
Para nós, lei é um conjunto de regras impostas à sociedade por outras pessoas, membro desta sociedade. No âmbito de uma nação, os códigos reúnem essas leis, como a Constituição brasileira e o Código Civil Brasileiro, entre outros.
Para Paulo, há este sentido legal, má há dois sentidos ainda. Lei é o conjunto de regras oferecidas ao povo de Israel por meio de Moisés. Lei é também o conjunto de mandamentos de Deus, transcritos no Antigo e no Novo Testamentos. Devemos viver segundo os preceitos desta Lei.

Quando lemos este texto, ficamos logo impressionados e mesmo confusos.
O retrato traçado não nos é muito favorável. Não estamos sozinhos. Estamos na companhia do apóstolo Paulo. Essa companhia nos consola: se o homem que foi levado até o terceiro céu tinha as mesmas dificuldades que cada um de nós.

Quero tomar este texto para mostrar que ele, com o testemunho deixado pelo autor, desmente verdades externas ao cristianismo e também internas.

MENTIRAS EXTERNAS
Há três mentiras externas que o texto bíblico nega. Enquanto não as negamos, elas vão sendo apresentadas como verdadeiras, logo nossas inimigas.

1.1. O pecado precede o mandamento.
Esta parece ser uma mentira ingênua, como se fosse apenas uma constatação. Há um pressuposto aqui: se o pecado precede o mandamento, o mandamento é uma ordenação para reprimir e, logo, deve ser repudiado. O pecado é visto como o estado natural e só é pecado porque o mandamento diz que é pecado. Então, o problema não está no pecado, mas no mandamento.
Lendo o texto bíblico, desde o Gênesis e agora em Romanos, fica claro que o pecado é uma rebeldia contra o mandamento. O mandamento é bom. O pecado é ruim. A pergunta é: o que surgiu primeiro, o mandamento ou o pecado? O mandamento — destinado a produzir vida (verso 10), — eis a resposta. Deus disse ao homem que não comesse da árvore do bem e do mal antes de o homem comer da árvore do bem e do mal. Até então o primeiro casal não tinha ainda pecado.
Assim, não há pecado sem mandamento. Está morto o pecado, se não há mandamento.

1.2. Não há mandamento válido.
O grande esforço humano é negar que haja um mandamento válido para todos. Não havendo mandamento, também não haverá pecado.
O que se diz é que cada cultura tem seus próprios mandamentos, que não são universais.
Para algumas pessoas, os mandamentos são invenções humanas, atribuídas a Deus, para aterrorizar pessoas com a intenção de controlá-las.
Há até uma música popular brasileira, meio antiga, mas ainda cantada, que ensina que “não existe pecado do lado de baixo do Equador” (Chico Buarque-Ruy Guerra, 1972-1973).
Para outros, cada pessoa sabe o que é melhor para si mesma.
Ao contrário, o que a Bíblia afirma e a experiência demonstra “a Lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom” (verso 12)
A lei é boa, mas é insuficiente para levar à salvação.
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1.3. O homem é capaz de produzir seu próprio bem.
Cada vez mais, mesmo contra as evidências, temos ouvido que o ser humano é bom. O que falta é cada um liberar o que há de bom dentro de si. O que falta ao ser humano é encontrar o seu verdadeiro eu, que é honesto e generoso.
Por isto, é chocante o que lemos no verso 18: — “Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne”.
O cristão pode perguntar: “como pode ser isto, se já fui redimido na cruz?”. Paulo mesmo responde: na minha carne, na minha natureza, não há nada de bom. Isto não quer dizer que uma pessoa que não confessou a Jesus como Senhor não possa produzir algo bom; pode.
Na verdade, nós fomos vendidos como escravos ao pecado.
John Donne, num belo poema de 1633, refere-se a si mesmo como tendo sido “contratado para casar” contra o inimigo de Deus, razão por que pede divórcio.

2. MENTIRAS INTERNAS
2.1. Somos joguetes nas mãos do bem e do mal.
Fala-se muito em batalha espiritual, da qual somos apenas mariscos, como na luta entre o mar e o rochedo.
O que a Biblia ensina é que a batalha espiritual nas regiões celestes já foi travada, e já vencida por Deus. Não foi uma batalha entre dois princípios, como ensina o dualismo; só há um Deus criador; o resto é criatura. Deus tem adversário, mas adversário criado, que não onipotente, nem onipresente, nem soberano.
A batalha difícil, ainda não vencida, é a que se trava no nosso coração. Esta ainda está em curso. É a batalha pela posse do território do nosso coração, incluídos aí os desejos. É a esta batalha que o apóstolo Paulo se refere quando fala de um bem que deseja fazer, mas não consegue fazer.
Dentro de cada um de nós há o pecado residente e o Espírito residente. Quem delimita o território de seus espaços somos nós. O pecado residente quer ampliar o seu território. O Espírito Santo residente está à espera para tomar o nosso coração. Esta é a escolha que temos que fazer.
Não é verdade que nosso espírito seja bom e o corpo, mau. Tudo nasce no coração.

2.2. Não temos culpa do pecado, já que é da nossa natureza pecar.
Quando alguns lêem este texto tende a cair numa atitude escapista. Se é da natureza pecar, para que nos esforçarmos para não pecar, se não o conseguires.
Vejo jovens neste caminho, mesmo que sem o saber. Abandonam-se ao pecado, porque desistiram de lutar contra ele. É como se fosse uma força invencível.
É natural pecar; é espiritual não desejar pecar.
Esta deve ser a nossa luta.
Assim, por exemplo, uma pessoa que rouba não deve dizer “eu sou um ladrão, mas alguém que tem desejos de roubar”.
Uma pessoa que vive na homossexualidade não deve dizer “eu sou um homossexual, mas alguém com desejos homossexuais”.
Uma pessoa que vive se divertindo em falar da vida alheia não deve dizer “eu sou um maledicente, mas uma pessoa que tem desejos de maledicência”.
Uma pessoa que só pensa em si não deve dizer “eu sou em egoísta, mas alguém que tem desejos egoístas”.
Nosso compromisso é espiritual, não natural, ou carnal, como diz o apóstolo.
Em outro lugar (1Coríntios 6.9-14), ele diz: “Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. `Tudo me é permitido  [como dizem alguns], mas nem tudo convém. `Tudo me é permitido’, mas eu não deixarei que nada me domine. `Os alimentos foram feitos para o estômago e o estômago para os alimentos’, [como dizem outros], mas Deus destruirá ambos. O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o
Senhor, e o Senhor para o corpo. Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará”.(1Coríntios 6.9-14)

Quando ignoramos isto, podemos cair na hipocrisia.
Hipocrisia é a discrepância entre o desejo e a prática da virtude.
A hipocrisia pode ser sincera, quando o coração da pessoa fala do desejo pela virtude que não consegue vivenciar.
A hipocrisia pode ser desonesta, quando a pessoa propõe a virtude para esconder a sua devassidão.
A hipocrisia pode ser doentia, quando a pessoa convive com a virtude numa área de sua vida e com a devassidão em outra área.
E existe a hipocrisia da hipocrisia. Que é aquela vivida por aqueles que se servem da hipocrisia do outro para justificar o seu pecado. Trata-se de uma hipocrisia porque o seu pecado nasce, na verdade, do seu desejo de pecar, não do comportamento hipócrita do outro.
 
2.3. Podemos não pecar.
Há uma outra mentira, pregada por cristãos: os que já recebemos Jesus como Salvador podemos não pecar.
Esta é uma teoria vazia, sem base bíblica e sem base na experiência. O único que efetivamente não pecou foi Jesus. Paulo pecou. Pedro pecou. Todos pecamos.
Somos como escorpiões atravessando o rio de carona. (ilustração)
O que precisamos é conhecer o nosso pecado. Devemos ficar tristes quando descobrimos que não ficamos tristes com os nossos pecados. Só reconhecendo a tristeza pelo nosso pecado, podemos experimentar a alegria do perdão.
A tensão do pecado se aplica a cristãos e não cristãos, embora em grau diferente.
No cristão, há uma consciência maior do pecado (ou deveria haver), mas, se há este peso, há o recurso do Espírito Santo, a partir da convicção de que nossos pecados podem ser perdoados. A culpa dura até a confissão.
O crente verdadeiro é aquele que confessa os seus pecados.

4. APLICAÇÃO
. Não adianta querer ser bom. Só pelo sangue santificador de Jesus Cristo você pode vencer o pecado. Vigie o senhor de escravos (Satanás, que precisa levar você a pecar.) que vigia sua vida.
. Não precisa se desesperar. O resgate foi providenciado. Há um Espírito Santo residente em você. É daí que vem o seu descanso.
. Não adianta pensar que é bom, porque o sangue de Jesus já lhe perdoou. A batalha pelo senhorio do seu coração continua. O Espírito Santo escreve a lei de Deus em nossos corações. Deixe-o fazer isto.