João 15.1-17: PERMANEÇA EM CRISTO

PERMANEÇA EM CRISTO
João 15.1-6)

Preparado para ser pregado na IB Itacuruçá, em julho, agosto e setembro de 2006 (vários cultos)

Jesus nos fala de um tipo de pessoa, que, não tendo raiz em si mesma, “permanece pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona” (Mateus 13:21).
A apostasia sempre rondou a fé cristã. Penso em apostasia no seu sentido primeiro, que é a renúncia à própria fé, mas penso também no desânimo que assalta os que mantêm a fé.
Escrevendo no final do primeiro século, um dos discípulos de Jesus, chamado João, mostrou a sua preocupação quanto à apostasia da fé. Então, ele escreveu uma carta, com a seguinte instrução aos cristãos de seu tempo e, logo, de todos os tempos:

“Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou. Filhinhos, agora permaneçam nele [em Jesus Cristo] para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não sejamos envergonhados diante dele na sua vinda. Se vocês sabem que ele é justo, saibam também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (1João 2.27-29).

“Permaneçam nele como ele os ensinou”. Permaneçam em Jesus como Jesus ensinou. Quando voltamos aos Evangelhos, vemos que explicitamente Jesus fez o mesmo convite. Pouco antes de ser crucificado, o Mestre ensinou a mesma verdade aos seus discípulos (João 15.1-17):

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda.
Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados.
Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido. Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos. Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor. Se vocês obedecerem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como tenho obedecido aos mandamentos de meu Pai e em seu amor permaneço.
Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa. O meu mandamento é este: `Amem-se uns aos outros como eu os amei’. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos. Vocês serão meus amigos, se fizerem o que eu lhes ordeno.
Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido. Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome. Este é o meu mandamento: `Amem-se uns aos outros'” (João 15.1-17).

A mensagem é a mesma para todos os seguidores de Jesus. Hoje também alguns se afastam da  fé cristã por razões racionais e também por razões emocionais. Uns acham que a fé precisa passar pelo crivo da razão, como, de fato, passa, mas eles se confundem no caminho, pouco entendendo da razão e nada entendendo da fé. Não há novidade neste itinerário: João diz quem aqui assim se desvia cede ao anticristo..
Outros acham que a fé deve passar pelo crivo das suas expectativas. A exemplo do que acontece na vida conjugal, muitos têm suas vidas cristãs enfraquecidas por causa das expectativas que têm acerca de si mesmos, acerca da Igreja e até acerca de Cristo. Receber a graça é de graça, mas viver sob a graça tem um preço. Receber a Cristo como Salvador é de graça; receber a Cristo como Senhor tem um preço. Entrar na Caminho não tem preço; ficar no Caminho tem.
Jesus se apresenta como o Bom Pastor, como a Porta das ovelhas, como o Messias, como a Ressurreição e a Vida, como o Pão da Vida e também como a Videira verdadeira. Jesus, portanto, se apresenta sendo uma videira, uma planta cujo fruto é a uva. Jesus nos descreve como sendo os ramos desta videira.
Há vários tipos de ramos. Há ramos que são jogados fora, como a semente plantada fora do leito das sementes (Marcos 4.15); são ramos que nunca estiveram ligados à Videira. Hamos que são cortados, como a semente plantada em solo pedregoso (Marcos 4.16-17); são ramos que quase se  ligam mas não se ligam, porque acham que vão perder a liberdade. Há ramos que são limpos por Jesus e cuidados por  Jesus. Estes são ramos da Videira verdadeira.
Que tipo de ramo sou eu. Que tipo de ramo é você?
A videira, com os seus ramos, precisa ser cuidada, mas, diz Jesus, não nos preocupemos com quem cuida dela, pois Quem dela cuida é o próprio Pai, o Deus Criador do mundo, a quem Jesus chama de Viticultor, aquele que cuida da plantação de videiras. Esta convicção de Jesus lhe dava a confiança para enfrentar as raposas de sua vida. Uma videira não surge do acaso; é plantada por Deus, é cultivada por Deus. Todo aquele que permanece em Jesus sabe que é plantado por Deus e é cultivado por Deus.

O convite da Videira verdadeira é claro: “Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês” (verso 4). Ou mais pessoalmente: “permaneça em im e eu permanecerei em você”.

1. Permanece em Cristo aquele que já o recebeu como Salvador e Senhor (verso 3)
O verso 3 põe em evidência este pressuposto: “Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado”. Vocês já pertencem ao grupo dos salvos porque aceitaram o meu convite para a salvação — eis o que Jesus está dizendo. A fé vem pelo ouvir a palavra de Jesus.
Recebe a Jesus como Salvador e Senhor quem “confessa publicamente que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele, e ele em Deus” (1João 4.15). Recebe a Jesus que vê e testemunha que “o Pai enviou seu Filho para ser o Salvador do mundo” (1João 4.14). Por Sua graça, “agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesusa, porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte” (Romanos 8.1-2). Não há condenação porque quem recebe a Jesus como Salvador e Senhor  foi justificado gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus (Romanos 3.34).
Por causa desta redenção, “se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação” (2Coríntios 5.17-18). Quem está em Cristo é filho “de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram” (Gálatas 3.26-27). O batismo do cristão custou a vida de Jesus Cristo:  “Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte?” (Romanos 6.3).
Este batismo não significa apenas uma declaração formal de que Jesus é o Senhor; antes, tem uma dimensão ética, pois implica numa demonstração de arrependimento. Jesus pede: “Dêem fruto que mostre o arrependimento!” (Mateus 3.8). Quem, de fato, se arrepende dá fruto deste arrependimento. Quem dá fruto de arrependimento considera-se morto para o pecado e vivo para Deus em Cristo Jesus (Romanos 6.11).
Quem dá  fruto de arrependimento não busca mais “pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação” (João  6:27). Todo aquele que confessa a Jesus, demonstrando sua confissão com o fruto do arrependimento, ouviu e creu na palavra da verdade, o evangelho que salva. Ao fazê-lo, foi selado “em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Efésios 1.13-14). “Sabemos que permanecemos nele, e ele em nós, porque ele nos deu do seu Espírito” (1João 4.13) .
Quando começou Seu ministério, Jesus proferiu uma frase aparentemente enigmática: “O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (Mateus 3.10). Somos estas árvores convidadas ao arrependimento. Jesus é o machado colocado em nossas raízes. Ele nos convida ao arrependimento, marcado pela confissão (dEle como Salvador e Senhor) e pela frutificação. Toda árvore que não se arrepende é cortada e lançada fora. O machado posto na raiz é um convite; mais que um convite, é um julgamento. Jesus quer cuidar desta árvore, para fazê-la frutificar. Ele quer dizer também a você: “Você já está limpo pela palavra que lhe tenho falado” (verso 3). Se você ouve a Sua Palavra e vem a Ele, Ele limpa (isto é: justifica, perdoa, purifica) você. Ele usa o machado não para condenar, mas para justifica. Se você vem a Ele, Ele não lança você fora. Garantiu ele: “Quem vier a mim eu jamais rejeitarei” (João 6.37).

2. Permanecer em Cristo é estar em comunhão com Ele (verso 5).
São claras as palavras de Jesus: “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma”.
Para que tenhamos vida, precisamos manter permanentemente nossa linha de comunicação com Jesus. Para tanto, toda a sua rede de tecnologia da informação está montada para nos permitir esta comunhão permanente.
A única ação nossa é mantermos conectados os aparelhos de nossas vidas. Se pego um telefone com fio e o levo para alguma lugar, tirando o seu fio, ele não vai funcionar. Não fará, nem receberá ligação. Estar em comunhão com Jesus estar em conexão com Jesus, com os fios da nossa vida conectados nEle.
Se tomo um telefone celular, preciso mantê-lo ligado, para que complete o fluxo da comunicação. Mesmo assim, há áreas de sombra em que não pegam, em que as ondas não chegam. Estar em comunhão com Jesus é estar com o telefone celular ligado; é estar sempre numa área coberta.
Mesmo com os telefones desligados, eles têm caixa postal. Posso chegar em casa e ver se há recados. Depois de uma reunião, posso ver se tem mensagem no meu telefone celular.
Neste sentido, a comunicação com Jesus começa nele. Ele começa a se comunicar conosco. Toda a comunicação, no entanto, tem duas direções, e só se completa quando nós participamos do processo da comunicação. Ele fala, eu ouço. Eu falo, Ele ouve.
De novo, a graça é onidirecional; já foi dada; está dada; paira no ar, como as ondas dispensadas pela telefonia celuar. A vida na graça é birecional. Neste sentido, só vivo na graça, que já me foi dada, se entrou na área de cobertura.
Só vivo na graça, se deixo as palavras de Jesus ecoarem no meu coração.
As palavras de Jesus permanecem em nós, se nós orarmos.
Se as palavras de Jesus permanecerem em mim, eu permanecerei em Cristo.
Se as palavras de Jesus permanecerem em mim, darei frutos próprios de quem se arrependeu.
Se as palavras de Jesus permanecerem em mim, deixarei que Ele comande a minha vida, não como um visitante silencioso na sala, mas como uma presença dinâmica por todos os cômodos da minha vida.
Portanto, preciso deixar as palavras de Jesus permanecerem em mim. Quando suas palavras permanecem em mim, mantenho a viva voz de Jesus falando comigo através das palavras registradas na Bíblia. Preciso tomar a decisão de me relacionar com uma pessoa viva, e eu o faço quando ponho suas palavras dentro da minha mente.
Para fazer isto, eu preciso, primeiramente, considerar as palavras de Jesus como divinas. “Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus” (João 3.34). Ele nos afirma que “o Espírito [Santo] dá vida; a carne não produz nada que se aproveite. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida” (João 6.63). Por isto,  Ele mesmo disse: “os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão” (Mateus 24.35). E estas palavras me convidam para uma vida transbordante (João 10.10).
Se considero como divinas as palavras de Jesus fincadas nos Evangelhos, eu medito nelas.
A palavra meditar, em latim, vem da mesma raiz de medicar, de cuidar, mas também de exercitar-se, de preparar. Meditar nas palavras de Jesus é cuidar das suas palavras, arrumá-las no nosso coração, para que possam ser eficaz em nossas vidas, para que não caia no vazio, para que possam nos alimentar na hora da fraqueza e na hora da força. Meditar nas palavras de Jesus é empenhar-se para compreender o sentido das palavras. Meditar nas palavras de Jesus é buscar essas palavras como as palavras que fazem sentido para a sua vida.
Se medito nas palavras de Jesus, eu falo as palavras de Jesus.
. Estou sendo tentado? Eu ponho em prática a advertência de Jesus: “Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26.41).
. Pequei? Eu me recordo da missão de Jesus: “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento” (Lucas 5.31-32).
. Tenho enfrentado dificuldade para viver os padrões de Deus? Eu me agarro nas palavras de Jesus a todos seus discípulos, de ontem e de hoje: “Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade” (João 17.19).
. Tem sido difícil a tarefa de comunicar o Evangelho? Eu me escondo na promessa de Jesus: “Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17.20-21).
. Fui ofendido? Eu digo, como Jesus: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23.34).
. Estou cheio de planos para o futuro? Eu me rendo à sabedoria de Jesus: “Eu lhes mostrarei com quem se compara aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as pratica. É como um homem que, ao construir uma casa, cavou fundo e colocou os alicerces na rocha. Quando veio a inundação, a torrente deu contra aquela casa, mas não a conseguiu abalar, porque estava bem construída” (Lucas 6.47-48).
. Preciso tomar uma decisão? Deixo Jesus me orientar: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal” (Mateus 6.33-34).
. Estou doente? Eu me inspiro no ensino de Jesus: “Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16.33).
. Encontro-me cansado? Eu sorvo o convite de  Jesus: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11.28-30).
. Ando desanimado? Eu me alegro com as palavras de Jesus: “Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbe o seu coração, nem tenham medo” (João 14.27).

As palavras de Jesus são a luz de nossa vida. São elas que nos sustentam e nos fazem crescer. Se somos os ramos da videira, precisamos viver como uma videira.
Aprendi com uma empresa da área vinícola que a videira “é uma espécie de planta trepadeira, cuja propriedade é subir para buscar a luz. Assim sendo, ela tem necessidade de ser conduzida através de um sistema de condução foliar eficaz, que favoreça a fotossíntese, que transforma a luz do sol em componentes hidrocarbonados necessários ao crescimento”. (Informação disponível em <http://www.cordilheiradesantana.com.br/terroir.asp>).
Como ramos da videira, não somos diferentes. Precisamos de luz. Precisamos permitir que nossas vidas sejam conduzidas de modo a possibilitar a “fotossíntese divina” que traga os compnentes necessários para o nosso crescimento”.
Permanecendo conosco, as palavras de Jesus são a luz que nos conduzem para o crescimento.

3. Permanece em Jesus quem prazerosamente depende dEle (5b).
O ensino de Jesus é translúcido: “Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma” (verso 5b).
Dependa de Deus.

Um cristão anônimo do século 17 entendeu o sentido desta dependência, ao orar assim:
“Quando tu quiseste me conduzir, eu tomei o controle da minha vida.
Quando tu quiseste me governar, eu me dirigi a mim mesmo.
Quando tu quiseste cuidar de mim, eu me bastei a mim mesmo.
Quando eu devia depender de tuas provisões, eu me abasteci de mim mesmo.
Quando eu devia me submeter à  tua providência, eu segui o meu desejo.
Quando eu devia estudar, amar, honrar e confiar em ti, eu trabalhei para mim mesmo:
falhando e corrigindo as tuas leis para concordarem comigo,
em lugar da tua, busquei a aprovação dos homens.
Eu sou por natureza um idólatra .
Senhor, meu maior desejo é levar meu coração de volta a ti.
Convença-me que não posso ser meu próprio deus ou me fazer feliz a mim mesmo,
nem ser meu próprio Cristo para restaurar minha alegria,
nem ser meu próprio Espírito para me ensinar, me conduzir e me dirigir.
Ajuda-me a ver que a tua graça age por meio da aflição providencial,
para que, quando meu dinheiro for deus, tu me jogues para baixo,
para que, quando meus bens forem meus ídolos, tu os faças voar para longe,
para que, quando o prazer for tudo para mim, tudo o tornes amargo.
Afasta-me do erro do olhar, da curiosidade do ouvido, da avareza do apetite e da luxúria do coração.
Mostre-me que nada destas coisas
pode curar uma consciência ferida,
sustentar um esqueleto cambaleante,
segurar um espírito desviante.
Então, leva-me para a cruz e me deixe lá”.
(Texto puritano anônimo do século 17).

Você pode ser cristão sem depender de Deus. Quanto mais bênçãos receber, mais perigos correrá.

Você pode levar sua vida em família sem depender de Deus. Quanto mais forem bem as coisas, mais riscos enfrentará.
Você pode estudar sem depender de Deus. Quanto mais souber, mais dificuldades conhecerá.
Você pode tocar seus negócios sem depender de Deus. Quanto mais prosperar, mais tentações sofrerá.
Você poderá desenvolver seu ministério sem depender de Deus. Quanto mais sucesso tiver, mais problemas terá.

Só que sem dependência de Deus, a fé se enfraquece, quando a vida parece afundar num abismo porque as bênção não acontecem.
Sem dependência de Deus, a vida em família se torna insuportável pela eloqüência do egoísmo e do mal-humor, das ofensas e dos xingamentos mútuos.
Sem dependência de Deus, os estudos se tornam áridos, como se fossem fins em si mesmos, campo para o exercício da auto-idolatria.
Sem dependência de Deus, os negócios nos levam a subir para baixo.
Sem dependência de Deus, o ministério se transforma num projeto pessoal, não um projeto de Deus.
Sem dependência de Deus, nossa vida não terá frutos que durem para a vida eterna (João 4.36).

Quando dependemos de nós mesmos, buscamos recursos em nós mesmos. Quando dependemos dos outros, buscamos recursos com eles. Quando dependemos de Deus, buscamos os recursos que Ele nos coloca à disposição, recursos que podem incluir a nós mesmos e aos outros.
Quando dependemos de Deus, esperamos Deus agir.
Dependência gera disciplina. E a disciplina nos permite agir segundo a vontade de Deus. Muitas vezes declaramos que dependemos de Deus, mas damos pouco valor à disciplina. Não lemos a Bíblia, mas esperamos que Deus nos fale. Dizemos esperar que Deus esteja no controle das nossas vidas, mas raramente procuramos negar-nos a nós mesmos. Este tipo de dependência sem disciplina termina em conversa fiada, em espiritualidade vazia, numa piedade fraudulenta que parece boa mas soa desagradável quando examinada à luz da experiência e da verdade. (Cf. STEDMAN, Ray. The Vine and its Fruit. Disponível em <www.raystedman.org>.)

4. Permanece em Jesus quem se deixa podar por Jesus (verso 2).
Aprendemos com Jesus que todo aquele ramo “que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda” (verso 2).
Aprendemos também com os pesquisadores que toda videira precisa passar pela poda da frutificação, que é assim definida: “A poda de frutificação, também chamada de poda de produção, tem por objetivo preparar a videira para a produção da próxima safra. Deve ser feita através da eliminação de sarmentos mal localizados ou fracos e de ladrões, a fim de que permaneçam na planta somente as varas e/ou esporões desejados” (Cf. Embrapa. Uvas Americanas e Híbridas para Processamento em Clima Temperado. Disponível em <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Uva/UvaAmericanaHibridaClimaTemperado/pod
a.htm>.)

Jesus poda apenas quem dá fruto. E o faz para que dê mais fruto ainda.
No reino espiritual, quando nos poda, Jesus nos purifica. Fique-nos claro: é Ele quem nos purifica, cabendo-nos apenas desejar e deixar que Jesus nos purifique. No reino da viticultura, a poda, que é feita por alguém externo, não pela própria planta, que não tem este poder, consiste na eliminação de sarmentos (varas) fracos ou mal localizados e de ramos ladrões vegetativos, que não frutificam normalmente.
Só damos frutos quando somos podados.

Quais as varas fracas de nossas vidas que precisam ser podadas, para que possamos dar fruto?
Cabe-nos identificar as nossas varas a serem podadas, mas ouso sugerir a auto-suficiência e um de seus opostos: a falta de cuidado.
Precisamos ser podados quando desenvolvemos um sentimento de auto-suficiência que nos leva a crer na idéia da auto-purificação. Ao contrário do que ensina o legalismo, eu não posso me purifificar  Para ser purificado, só posso orar: purifica-me, Senhor. É pela auto-suficiência que somos tentados a achamos que podemos sar galhos fora do tronco… que é o que fazemos quando tocamos nossas vidas sem oração.
Precisamos ser podados quando vivemos vidas sem a paixão pela vida. Penso na advertência de Jesus à igreja em Efeso: você abandonou o seu primeiro amor (Apocalipse 2.4). Quando tocamos nossas vidas sem paixão, precisamos ser podados. É a paixão que nos faz crescer. Quando nossas vidas profissionais caem na prisão da rotino improdutiva, precisamos ser podados. Quando nossas vidas familiares se tornam enfadonhas, precisamos ser podados; quandos nos tornamos impedimentos para que nossos cônjuges cresçam e nossos filhos se desenvolvam, precisamos ser podados. Quando, como cristãos, perdemos a dimensão de que somos ministros de Deus, para edificar a igreja para a igreja ministrar ao mundo, precisamos ser podados. Quando na sua igreja, fazemos a obra dele de qualquer jeito, relapsamente, precisamos ser podados. Se nos deixarmos amar por Deus, seremos podados, se precisarmos ser podados. Ele só nós podará, se precisarmos.

Como Deus nos poda?

4.1. Deus nos poda, chamando-nos do nosso erro, por meio do Espírito Santo que nos convence do pecado, isto acontece por meio da Palavra de Deus e por meio de pessoas.
Parafraseando Jeremias 2.21, podemos dizer que Deus nos plantou como videiras seletas, de semente absolutamente puras. Devemos, então, tomar cuidado para não nos tornarmos videiras degeneradas e selvagens.
No chamado episódio dos sanguessugas, um plano fraudulento (2006) orquestrado por empresários e políticos para superfaturar ambulâncias vendidas aos municípios, alguns dos envolvidos eram evangélicos. Podemos chamar-lhes de videiras degeneradas.
Essas videiras foram se degenerando, achando-se mais que são, invisíveis em sua corrpucao, impegáveis em seu crime, inflagráveis em seus atos criminosos.
Podemos, todos nós, nos achar, isto é, achar que somos mais do que somos ou que somos o que não somos.
Quando não somos podados, vamos nos achando invisíveis, impegáveis, inflagráveis em nosso erro e em nossa corrupção. Estes são aqueles que chegaram aonde chegaram porque não se deixaram podar.
Precisamos ser disciplinados pela Palavra de Jesus diretamente na Bíblia. João Calvino disse, com muita razão, que precisamos ler a Bíblia contra nós É bom ler aqueles versos com promessas nas quais nos fincamos para nutrir de esperança as nossas vidas. Além dessas, precisamos daqueles versos que nos corrigem, para que sejamos sementes seletas.
Precisamos ser disciplinados pela Palavra de Jesus por meio de um mentor. Não há futuro para um cristão que acha que sempre estar certo. Eu preciso ser corrigido. Eu quero dar fruto, e, para dar fruto, preciso ser podado. O Novo Testamento nos adverte que precisamos corrigir uns aos outros.
Vamos deixar que Deus nos corrija por meio de sua Palavra, lendo-a completamente para que ela nos contrarie, tomando cuidado para que nossa interpretação não nos engane.
Além disso, vamos procurar aquele amigo espiritual que pode nos dizer que estamos errados. Deus nos poda também por aqueles que têm lido a Sua Palavra e têm sido podados por ela.

4.2. Deus nos poda, permitindo o sofrimento em nossas vidas, porque a dor — seja qual for a sua natureza; seja uma doença, seja um fracasso, seja uma injustiça; sejam espinhos dolorosos no corpo ou na alma — nos faz avaliar a nossa vida e nos ensina a viver. Por isto, C.S. Lewis considerava o sofrimento como o “megafone de Deus”, já quem nem sempre ouvimos suas suves palavras.

Deixe-se podar para dar fruto.
Que fruto é este?
É o fruto da santificação, listado por Paulo como sendo: bondade, justiça e verdade (Efésios 5.9), e ampliado por ele mesmo como sendo: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5.22-23).
Não somos capazes de permitir a produção deste fruto, se não formos podados. Quando podados, estamos prontos para frutificar.
Frutifica aquele que permanecendo em Jesus “não está no pecado”; na verdade, “todo aquele que está no pecado não o viu nem o conheceu” (1João 3.6). Sim, “todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus” (1João 3.9).

5. Permanece em Jesus quem, deixando-se podar, passa pelo teste prático do amor (versos 12 e 17)
O cristianismo é a mais bela e completa teoria composta acerca da vida.
Jesus ensinou esta teoria. Os cristãos ensinamos esta teoria.
Jesus viveu esta teoria. Os cristãos devemos viver esta teoria.
Jesus morreu por esta teoria. Os cristãos, por causa desta morte primordial, não precisamos morrer por esta teoria, mas viver por ela.
E quando vivemos a teoria de Jesus, do modo como Ele nos ensinou, do modo como Ele a viveu, esta teoria deixa de ser teoria, para ser uma prática.
Uma teoria tem a força para alavancar o mundo, mas não o levanta sem a prática. Uma teoria tem o combustível para mudar o mundo, mas não o transforma sem a prática.

5.1. A teoria de Jesus está no Novo Testamento, com todas as letras.
. Deus nos amou de tal maneira que nos enviou seu único Filho para que todo aquele que nEle crê tenha a vida eterna (João 3.16). E “nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos” (1João 3.16).
. Deus nos ama de tal maneira que nos perdoa de todos os pecados, se os confessamos (1João 1.9), lançando-nos para uma vida de liberdade, alegria e paz, onde não deve haver lugar para a opressão (para nenhum tipo de opressão, porque a verdade de Jesus é libertadora — cf. João 8.36), para a tristeza ee para o medo (porque o perfeito amor de Deus em nós lança fora de nós todo medo (1João 4.18).
. Deus nos ama de tal maneira que nos ensina a perdoar aquele que nos ofende, aquele que comete injustiça contra nós, aquele que não agradece o bem que lhe fazemos, aquele que nos defrauda no que temos de mais caro. Este perdão, como teste prático do amor, é inspirado no perdão divino para conosco. Eis porque devemos orar assim: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mateus 6.12).
. Deus nos ama de tal maneira que nos convida a servir ao outro, especialmente ao pobre, seja qual for o preço a ser pago; Jesus ensinou que amar ao próximo é amar a Deus. O Mestre didaticamente se põe já no juízo final para estabelecer seu critério: “Eu tive fome, e vocês não me deram de comer; tive sede, e nada me deram para beber; fui estrangeiro, e vocês não me acolheram; necessitei de roupas, e vocês não me vestiram; estive enfermo e preso, e vocês não me visitaram. (…) Digo-lhes a verdade: o que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo (Mateus 25.42-45).

5.2. Esta teoria é tão bonita que seduz. Por isto, podemos achar que basta a teoria, mas a teoria não basta. Ela precisa deixar de ser teoria.
Esta teria é tão bonita que a transformamos em louvação, com cantos harmoniosos, até mesmo vibrantes. E o louvor pode ser uma fuga da prática, logo uma negação da teoria de Jesus. Uma das tragédias do cristianismo brasileiro é o louvor, quando feito para agradar a quem canta, seja o cantor, o grupo, o coro ou a congregação. Muitos acham que louvar basta e apenas louvam. Não vivem, mas louvam. Cantam o amor, mas não amam. Cantam a graça, mas não a demonstram aos outros. Cantam a santidade, mas não a buscam. Não falo dos fracos, dos que sabem que são fracos, dos que almejam e fraquejam. Estes são amados por Deus, nunca vomitados por Ele.
Uma das tragédias, portanto, do cristianismo brasileiro é o louvor sem misericórdia. Ouvimos os profetas e Jesus advertindo que Deus não aceita louvor sem misericórdia (Oséias 6.6; Mateus 9.13), mas ficamos tanto encantados com a beleza, com o movimento do corpo e da alma que provoca, que achamos que Deus, para quem dizemos ser o louvor, também se encanta. Muito de nossa louvação é para nos deixar felizes, não para agradar a Deus.

Esta teoria é tão bonita que a transformamos numa máscara, que usamos quando nos é conveniente. Estava uma vez numa reunião de cristãos e um assunto veio a lume: a integridade como um compromisso constante. Pegando carona, um dos presentes, que infelizmente conheço como truculento e trapaceiro, falou da necessidade da transparência, insinuando que esta era a sua prática. Honestamente, tenho que dizer que tive vontade de vomitar; só lembrar aquela atitude me move as entranhas. Há pessoas que, quando falam, nos provocam ânsias de vômito, sem que possamos tirar as suas mascaras, nós, que talvez, tenhamos as nossas.
Há violentos com máscaras de sorridentes. Há pessoas que lhe sorriem e lhe detonam pelas costas.
Há viciados com máscaras de santos, quando seriam honestos se admitissem que são viciados, para quem haveria cura. Há cura para quem admite o seu vício. Não há cura para os mascarados.
Há maledicentes que se mascaram de intercessores, que mancham o mistério da oração.
Há adversários que se mascaram com elogios a pessoas de quem não gostam.
Há corruptos que escrevem discursos sobre a ética, para aplauso geral.
Os mornos que Deus vomita (Apocalipse 3.16) são os que querem parecer o que não querem ser.
Há cristãos que ninguém quer ter como vizinhos, não por causa de sua  fé, mas por causa de sua falta de misericórdia. Há cristãos que ninguém quer ter como colegas, não por causa de sua fé, mas por causa do desinteresse pelos dramas privados e coletivos. Há cristãos em que ninguém vota nem para síndico do seu prédio, não por causa da sua fé, mas porque seus únicos interesses são eles mesmos.
Não! Não são cristãos, apesar da roupa de cristãos, do sorriso de cristãos, do louvor de cristãos. Não são cristãos, embora o digam. Não têm fé, embora a arrotem. Não amam e amar é o teste prático da fé, é a baliza da fé.
Um motorista não é alguém que sabe tudo sobre direção. Um motorista é quem dirige. Não basta saber como se passa uma marcha; tem que saber e passar a marcha. Não basta saber onde fica o acelerador; tem que pôr o pé equilibradamente nele. Não basta saber para que serve o volante; tem que saber e movê-lo no tempo e na dimensão corretos. Um motorista precisa praticar primeiro na auto-escola (você já foi um aprendiz!) e depois sozinho nas ruas e estradas (você ainda é um aprendiz!).

5.3. Percorrendo uma livraria recentemente, folheei um livro de um homem que governou o seu país por oito anos consecutivos, fora o tempo que chefiou ministérios. Tratava-se de um livro com conselhos aos jovens políticos, para a construção de um Brasil melhor, mesmo que durante o seu governo o Brasil não tenha ficado melhor… Um belo teórico, eis o que é aquele presidente. Estamos cheios de teóricos na política e na fé. O nosso cristianismo pode continuar sendo apenas uma teoria. Para deixar de ser uma teoria, o nosso cristianismo precisa passar pelo teste prático.
Nossa teoria tem que ser prática. Teoria sem ação não tem valor, como já nos ensinou Tiago: fé sem obras é fé morta (Tiago 2.17, 26); fé morta é fé sem efeito; fé morta é fotografia de fé, não é fé.
O cristianismo é a religião da prática. Os cristãos, ensinou Jesus, são reconhecidos por seus frutos (Mateus 7.16).
O cristianismo é a religião do amor, desde sua origem (Deus nos amou e nos deu Seu filho), ou não é nada.

A doença do ter, mesmo condenada universalmente, avança universalmente. Não precisamos aqui condenar, mais uma vez, esta doença. Ela é também um ídolo que nos contempla e convida, e contra o qual é preciso vigiar.

Ao ter, contrapomos o ser, muito antes de Erich Fromm (com o seu belo “Ter ou Ser”). Ser, no entanto, é pouco, se não incluir a dimensão do fazer.
Somos o que cremos. Cremos o que fazemos.

Por que podemos fazer como Jesus fez?
Ele disse que faremos o que Ele fez se tivermos fé (Mateus 17.2), permanecendo nEle, com Quem aprendemos e de Quem temos a unção e o mandamento para amar .

Temos o exemplo de Jesus.
Jesus cria que no Reino de Deus os maiores serão os menores (Mateus 19.30). Por isto lavou os pés dos seus discípulos. O relato bíblico é intrigante: “assim, [Jesus] levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura” (João 13.4-5). Sim, quem “afirma que permanece em Jesus, deve andar como ele andou” (1João 2.6).

Temos uma unção de Jesus.
Jesus tem um cuidado especial para com aqueles a quem envia. E a questão não é se todos os cristãos são enviados, porque são, mas se, sendo enviados, obedecem e vão. Os que estão na obediência do ir não devem se preocupar com o que falar; segundo a promessa de Jesus, “naquela hora lhes será dado o que dizer, pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês” (Mateus 10.19-20).
Na Bíblia o nome desta dádiva é unção, que é algo que está dentro de nós, mas que veio de fora de nós, do Espírito Santo. Temos uma unção que procede de Jesus (1João 2.20). E quando esta unção que recebemos permanece em nós, somos ensinados por Jesus a permaneceer nEle (1João 2.27).

Temos o mandamento de Jesus.
Jesus é repetitivo: “O meu mandamento é este: ‘Amem-se uns aos outros como eu os amei’. (…) Este é o meu mandamento: ‘Amem-se uns aos outros'” (João 15.12 e 17).
Amar o outro — este é o teste prático da  fé cristã. Nas palavras de João, “ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós” (1João 4.12) .
Amar se aprende amando. Fazer se aprende fazendo.

Para amar, preciso aceitar que sou amado.
Para amar, preciso decidir que vou amar.
Para amar, preciso começar a amar.
Para amar, preciso amar.

Pouco importa que você concorda que precisa amar. Importa que você ame. Amar é fazer.

6. Quem tem suas orações respondidas permanece em Jesus (verso 7).
Jesus nos garante: “Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido” (verso 7).
Oramos e temos nossas orações respondidas.
No entanto, esta experiência nem sempre é verdadeira para nós. Oramos e as nossas orações não são respondidas.
Por que?

6.1. Há condições para termos respondidas as nossas orações.
Jesus nos surpreende e apresenta duas condições para os discípulos termos respondidas as nossas orações.

6.1.1. A primeira é: precisamos permanecer em Jesus. Segundo aprendemos neste poderoso conjunto de ensinos,
. Permanece em Cristo aquele que já o recebeu como Salvador e Senhor (verso 3)
. Permanecer em Cristo é estar em comunhão com Ele (verso 5).
. Permanece em Jesus quem prazerosamente depende dEle (5b).
. Permanece em Jesus quem se deixa podar por Jesus (verso 2).
. Permanece em Jesus quem, deixando-se podar, passa pelo teste prático do amor (versos 12 e 17).
Só ora verdadeiramente a Jesus quem ama a Jesus. Os outros buscam apenas sinais e Jesus, às vezes, os dá, mas geralmente não os dá, para evitar que os abençoados não alcancem o arrependimento (a que Ele mesmo chama de sinal do profeta Jonas” — cf. Mateus 12.39).

6.1.2. A segunda promessa tem a ver com discipulado. Ser discípulo é estar impregnado das palavras de Jesus. Se você está impregnado pelas palavras do mundo, você vai recorrer ao mundo. Se você está encharcado das palavras de Jesus, você vai recorrer a Jesus.
Mais ainda: se você está encharcado das palavras de Jesus, você vai orar como convém, em lugar de procurar apenas os seus deleites (Tiago  4.3). Se as palavras de Jesus estão em você, essas palavras vão inspirar sua oração.
O problema é muitos conhecemos muito pouco a Bíblia. Não sabemos sequer a seqüência dos livros bíblicos. Uma dia desses pedi a um casal para me ler um texto em Hebreus, mas nenhum dos dois conseguia achar o livro bíblico; nem sabia que estava no Novo Testamento. Quero estimular você, se não o sabe, a aprender a seqüência dos livros bíblicos, de Gênesis a Apocalipse.
Perdemos também o costume de decorarar versículos bíblicos. No entanto, são os versos que sabemos de cor que vão nos socorrer; as dificuldades aparecem quando não temos um exemplar da Bíblia conosco. Quero estimular você a decorar pelo menos 50 versículos bíblicos. Alias, se você decorar um por semana, saberá 52 ao final de cada não.
6.2. Precisamos entender a natureza dos pedidos referidos por Jesus.
Aque pedidos Jesus se refere? Aos pedidos de coisas naturais, como comida, saúde e segurança? Penso que os inclui. Devemos orar por nós mesmos, pelas nossas necessidades, mas devemos interceder pelas necessidades dos outros. Confesso que, às veze, ficou meio envergonhado diante de Jesus. Quando me ajoelho para orar (e quando me ajoelho, é porque estou levando a sério os pedidos que faço), imagino, por vezes, Deus falando: “Lá vem o Israel com a sua lista de pedidos”. É como se estivesse indo ao supermercado fazer compras. Eu me sinto meio ridículo, mas continuo orando. Deus me entende, apesar de eu ser egoísta demais. Eu gasto mesmo muito tempo com coisas que perecem… apesar da advertência do meu Mestre (João 6.27).
Jesus inclui nossos pedidos por comida, saúde e segurança, mas Ele quer que caminhemos além. Ele quer que peçamos coisas espirituais.
Ele espera que queiramos aquilo que nos ajuda a dar fruto. É o que lemos no verso 16: “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça, a fim de que o Pai lhes conceda o que pedirem em meu nome”.
Não é errado pedir coisas que perecem, como comida, saúde e segurança, mas Jesus deseja que subordinemos estes desejos comuns a desejos espirituais, a desejos do Reino de Deus, a desejos centrados em Deus,  desejos que exaltem a Cristo, a desejos que glorifiquem a Deus. O foco da oração, portanto, não é a nossa satisfação, mas a glorificação do Pai (“Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto” – verso 8).
Quando nossos desejos naturais são meios para alcançarmos os desejos espirituais, e não o contrário, os desejos espirituais tornam-se o centro de nossas orações. (John Piper)
Egoístas como somos todos, com igrejas oferecendo respostas como se oferecem produtos na prateleira, e nós com tanta carência, soa estranho pensarmos que Jesus quer que nos interessemos por realidades além de necessidades naturais, mas este é o desejo dEle.

6.3. Preciso proseguir, fazendo três afirmações, antes da afirmação final:
6.3.1. Não podemos esquecer que a oração já é por si mesma uma resposta, pelo privilégio que representa e pela comunhão que oferece. O melhor da oração é a oração. O melhor de Deus é Deus mesmo, não o que Ele oferece.

6.3.2. Orações respondidas são apresentadas em nome de Jesus (verso 16b).
O verso 16 mostra qual é o papel de Jesus na oração. É em nome dEle que devemos orar. Quando não o fazemos, defraudamos o nome de Jesus.
Não se trata de uma fórmula mágica. Quando eu peço em nome de Jesus, não peço em meu próprio nome. Quando peço em nome de Jesus, sei que não tenho mérito. Não recebo pelo que fiz para Deus; recebo pelo que Jesus fez por mim na cruz. Orar em nome de Jesus é humildade reconhecida. Pedir em nome de Jesus, portanto, é me lembrar que não é pelas minhas eventuais virtudes que recebo as bênçãos de Deus.

6.3.3. Para o nosso bem (creio nisto), Deus também diz: “sim, meu filho, mas não agora”, “sim, meu filho, mas não do seu jeito” e “não, meu filho”. Eu sou mais abençoado quando ouço “não”.
Quando ouço estas respostas, eu oro mais.
Quando ouço estas respostas, em insisto.
Quando ouço estas respostas, eu me aprofundo. Sou pouco abençoado quando sou abençoado. Sou mais abençoado quando não sou abençoado.
Quando ouço estas respostas, eu aprendo que posso viver, e melhor, sem o que não recebi. (Na verdade, recebi mais, ao no receber.)

6.4. Orar não é uma forma de conseguir que Deus faça o que você quer que Ele faça, mas é um pedido em função do que Ele prometeu que faria. Ore de acordo com as promessas de Deus para você. Oração e promessa precisam andar de mãos dadas. Então, para tornar efetivas as suas orações, comece a ler e a estudar as promessas de Deus. Só assim você orará segundo a vontade de Deus. Então, o que você pedir será concedido, não importa quanto tempo leve.
Enquanto isto, continue crendo na promessa de que Deus lhe concederá o que você pede. Você sabe que sua oração será respondida se for da vontade dEle, como aprendemos: “Esta é a confiança que temos ao nos aproximarmos de Deus: se pedirmos alguma coisa de acordo com a vontade de Deus, ele nos ouvirá. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos o que dele pedimos” (1João 5.14-15). Acontece que você não sabe qual é a vontade dEle; então, continue orando, jamais esquecendo que Deus é soberano, sábio e misericordioso. Esta precisa ser a sua certeza e o seu consolo.

7. Permanece em Jesus quem vê cumprida em sua vida a promessa dEle.
O verso 11 traz uma nota de esclarecimento por parte de Jesus: “Tenho lhes dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa”.
No capítulo 16 do mesmo Evangelho, Jesus volta a prometer alegria completa: “Até agora vocês não pediram nada em meu nome. Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa” (verso 24).
No capítulo 17, há outra informação valiosa: “Mas agora vou para ti; e isto falo no mundo, para que eles tenham a minha alegria completa em si mesmos” (verso 13).
A promessa é clara: Jesus nos dá a sua alegria. Jesus é mesmo a alegria dos homens. Quando foi anunciado, no Natal, sua vinda foi descrita como uma notícia que trazia alegria. Quando foi batizado, o Pai externou a Sua alegria.
Deus está interessado na nossa alegria. É por isto que nos dá a sua alegria. Ao longo da Bíblia, Deus se alegra e comunica a sua alegria.
Ele sabe que nós gostamos da alegria.
O tema está presente em nossas vidas, sob várias palavras, uma delas sendo felicidade. Segundo o DataFolha, em pesquisa nacional (2006), 76% dos brasileiros se consideram felizes.

7.1. Se perguntarmos o que é a felicidade, as respostas vão variar. Penso que, em termos gerais, a alegria ou a felicilidade será associada às seguintes situações:
. amar e ser amado
. fazer o que gosta
. sentir-se bem
. estar com a família em equilíbrio

A fé em Cristo nos põe neste caminho. A fé em Cristo é uma prova de que somos amados por Deus, logo temos valoar par Ele. A fé em Cristo nos estimular a amar a Deus e ao próximo. A fé em Cristo nos ajuda a cultivar o amor no contexto familiar. Ele provê os recursos para alcancarms a alegria. Claro: “Com nossos pés no Calvário, nossos olhos na face de Jesus e nossas mãos ajudando os pecadores ao arrependimento, a Sua alegria é nossa” (Andrew Murray).

7.2. Precisamos da alegria de Jesus, que, imagino, tem três marcas em sua vida:.
. ter sido enviado para um propósito exclusivo
. ser recebido como Senhor e Salvador
. estar em comunhão com os seus amigos
Não podemos ser como Jesus, mas cada marca desta nEle tem um significado para nós. Ele foi enviado, enviado a nós. No plano de Deus, somos o centro.
Quando recebemos a Jesus como Senhor e Salvador, permitimos que o plano de Deus se realize. O apóstolo Paulo sintetizou a dinâmica deste encontro Deus-homem, quando escreveu: “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos” (Efésios 2.10). Só podemos ser plenamente humanos, que é a nossa tarefa, quando estamos em comunhão com Jesus. Por isto, Ele nos convoca: “Permaneçam em mim”.
Quando permanecemos nEle, Ele se alegra. Quando permanecemos nEle, podemos ser felizes.
Podemos, aqui e agora, não ser amados, mas o amor dEle em nós nos levará a amar, como resposta ao amor dEle para conosco, mesmo que aqui e agora não sejamos correspondidos. Deus sempre nos corresponde porque Ele é amor.
Pode ser que, aqui e agora, não consigamos estar envolvidos num trabalho capaz de nos trazer satisfação. Infelizmente, por aqui as coisas podem ser assim. Ainda assim o amor de Deus em nós vai transformar o nosso coração para uma vida feliz, mesmo que nossos braços não estejam aplicados nas ações mais interessantes…
Pode ser que, em nossa família, sejamos atribulados, por causa de desencontros e desavenças. Assim mesmo, porém, o amor de Deus transbordante em nós nos dará força para persistirmos amando e para termos esperança.
Jesus é a nossa alegria, quando falta alegria nos nossos relacionamentos. Jesus é a nossa alegria, quando sobram as frustrações nas realizações materiais. Jesus é a nossa alegria quando as dificuldades superam as vitórias na vida familiar.

7.3. Nossa alegria pode ser completa, mesmo em meio às tribulações. Conhecemos só a experiência do apóstolo Paulo: “Alegro-me grandemente no Senhor, porque finalmente vocês renovaram o seu interesse por mim. De fato, vocês já se interessavam, mas não tinham oportunidade para demonstrá-lo. Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.10-13).
Eu me pergunto: como foi isto possível? Vejo uma dinâmica humana e uma dinâmica divina, nesta atitude. Paulo foi amado, quando os filipenses se preocuparam com ele. Mas eles se preocuparam, desegoisticamente, porque foram inspirados pelo Espírito Santo a ter esta atitude. Sozinho e necessitato, solitário e na prisão, ele precisava saber que seu ministério não era algo inútil e a atenção dos filipenses deu-lhe esta certeza. Conectado a Jesus Cristo, em quem permanecia, Paulo foi assim abençoado com a alegria completa, em meio à escassez completa, inclusive a pior delas, liberdade.

Nossa alegria pode ser completa.
1. Nossa alegria é completa quando sabemos que há alegria em Jesus; há alegria completa em nós quando recordarmos Sua entrega na cruz por nós; há alegria completa em nós quando conservamos conosco as suas palavras; há alegria completa em nós quando respondemos à voz de Jesus, que nos convida para a vida feliz (em transbordância).
Este convite pode cair nos vazio ou ser aceito por nós, com alegria, tal como a semeada em terreno pedregoso. (“Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria” — Mateus 13.20).

2. Nossa alegria é completa quando é baseada no poder da ressurreição de Jesus, que atualizamos quando esperamos a volta de Jesus. Devemos esperar Jesus como uma grávida espera seu filho vir à luz (“A mulher que está dando à luz sente dores, porque chegou a sua hora; mas, quando o bebê nasce, ela esquece a angústia, por causa da alegria de ter vindo ao mundo” — João 16.21). Sejamos como uma mulher grávida na sua expectativa.

3. Nossa alegria é completa quando pomos o foco da vida nas palavras de Jesus, para resistir aos ladrões da alegria. Quais são os ladrões de nossa alegria que precisam ser jogados ao chão, para que possamos dar fruto?

. Pode roubar a nossa alegria a idéia de alegria predominante em nosso tempo, feita de ação e de diversão, que são importantes, mas insuficientes e até mesmo falsas. Pode haver muito riso e felicidade numa festa, mas no coração de quem ri pode haver ao mesmo tempo muita tristeza. Não precisamos achar que estamos alegres porque estamos numa festa, às vezes estranha e com estranhos, algumas alimentados com produtos químicos ou com dinheiro. Só vale a pena o show no palco quando há show no nosso coração. Se permanecemos em Jesus, é sow, mesmo que o palco esteja vazio.

. Pode roubar a nossa alegria a submissão a um jeito natural de ser entristecido por causa da falta de boas condições para a alegria. Felicidade tem sido erroneamente relacionada a realizações de natureza material. Todo dia nos dizem que, se não temos, não podemos ser. Aprendemos, no entanto, que podemos ter (e é bom ter!) e assim mesmo mergulharmos nossos corações nas sombras. Esta visão de alegria nos rouba a alegria completa de Jesus, que não depende de sermos realizados materialmente, sexualmente, profissionalmente. Depende de permanecermos em Jesus.

. Pode roubar a nossa a alegria a centralização de nossas vidas em outra pessoa que não seja Jesus. Quando o nosso foco está nEle e quando permanecemos como amigo dEle, nossa alegria é completa.

4. Nossa alegria é completa quando cultivamos a alegria. Precisamos cultivar a alegria, começando por conhecer cada dia mais a Jesus. Não é Ele a fonte de alegria? Como seremos alegremos bebendo em outras fontes? Precisamos cultivar a alegria, evitando pessoas, atitudes e sentimentos que produzem tristeza em nós. Se convivemos com pessoas amargas, devemos tomar cuidado, para não ficarmos amargos também. Se tendemos a nos entristecer por isto ou aquilo, devemos ser sábios em não permitir que essas situações se aproximem de nós. Se certas situações (como leituras e filmes) nos levam à tristeza, devemos tomar cuidado e buscar outras leituras, outros filmes, outras músicas. Cultive a alegria.

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O cristão “é como árvore plantada à beira de águas correntes: dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!” (Salmo 1.3). Quem passa por um pomar ou por uma fazenda entende o significado deste salmo.
Quem convive com o cristão cheio do Espírito Santo sabe o que é permanecer em Jesus, pelo fruto que vê.
Permaneçamos em Jesus.

A condição está dada, para fruirmos a promessa da alegria completa.