Há muitas famílias na Bíblia, dentro e fora dos padrões. Hoje quero lhe convidar a pensar numa delas, composta de avó, mãe, filho e um pai adotivo, como aprendemos a partir da leitura de 2Timóteo 1.3-6.
Quero lhe convidar a considerar este trecho na perspectiva de um pai. Paulo era o pai adotivo de Timóteo, respondendo à seguinte pergunta: "O que querem os filhos de nós?".
Eles querem que VIVAMOS COM A CONSCIÊNCIA LIMPA ("Dou graças a Deus, a quem sirvo com a consciência limpa" — verso 3a).
O apóstolo Paulo era um pai, espiritual neste caso, que tinha a consciência de que tinha sua consciência limpa diante de Deus.
Assim deve viver, com integridade, um pai, uma mãe. Uma vida limpa, honesta, sincera, verdadeira, é o maior legado que um pai, uma mãe, pode deixar para na formação do presente e na memória do futuro de seus filhos.
A violência, física ou verbal, em casa dos pais poderá ser repetida na casa dos filhos.
Eis um exemplo: uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz, com dependentes químicos, demonstra que o consumo de drogas na cidade do Rio de Janeiro é incentivado pelo uso de entorpecentes dentro da própria família. O exemplo paterno é a principal, o que é surpreendente, porque se acreditava mais no papel dos amigos na indução ao vício. Segundo a pesquisa, feita com 3.772 dependentes, 48,7% dos homens e 45% das mulheres disseram que o pai usava drogas. O pai aparece como a principal figura no processo da drogadição. Uma psiquiatra (Ana Cristina Saad) que participou da pesquisa fez o seguinte comentário: “Isto não quer dizer que o pai fica com a garrafa ou com o baseado na mão incentivando o consumo. Mas ele é visto em casa consumindo”. (Dados disponíveis em )
Uma vida exemplar dos pais não garante uma vida exemplar dos filhos, porque estes podem escolher os seus caminhos, mas é a regra. Filhos ruins de pais bons, como Manassés, filho de Ezequiais, são exceções. Filhos ruins de pais ruins, como Acabe, filho de Onri, são a regra. Filhos bons de pais ruins, como Jônatas, filho de Saul, são exceções.
Ter a consciência limpa diante de Deus é importar-se com o julgamento de Deus e buscar ser aprovado por Ele.
Eles queremos também que DESEJEMOS ESTAR COM ELES ("Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa" — verso 4).
Tive um privilégio cujo valor reconheço prazerosamente. Até minha adolescência, meu pai tinha seu consultório de dentista em casa. Minha mãe cuidava integralmente da casa. Eu cresci podendo olhar para eles, sem que isto me tornasse dependente, porque souberam manter os espaços distintos. Quanto a meu pai, a influência mais decisiva de minha vida, eu o via no seu escritório cheio de livros lendo a Bíblia por longas horas. Eu o via ajoelhado ao pé da cama. Quando ele se tornou pastor, preparava seus sermões e os boletins em casa, com a minha ajuda, enquanto estive com eles; fui seu redator.
Tudo isto está gravado na minha memória, como está gravada a quinta-feira. Durante um longo tempo da minha vida, toda quinta-feira meu pai fechava seu consultório em Vitória e íamos todos para a praia. Pegávamos o ônibus, com um farnel e um pneu para servir de bóia e nos divertíamos na então praia de Camburi. Abençoadas e inesquecíveis quintas-feiras.
Paulo e Timóteo, pai e filho espirituais, gastaram muito tempo juntos. Choraram juntos. Agora separados, o pai preso, o filho livro, tinham saudade um dos outros. Eles se conheceram numa viagem do apóstolo, que foi a sua casa (Atos 16) e participou da sua experiência religiosa (quando o circuncidou — Atos 17). Separaram-se várias vezes, mas sempre com o desejo de estarem reunidos de novo, ele e outros cooperadores. Quando o enviou numa missão, usou as seguintes palavras: "estou lhes enviando Timóteo, meu filho amado e fiel no Senhor, o qual lhes trará à lembrança a minha maneira de viver em Cristo Jesus, de acordo com o que eu ensino por toda parte, em todas as igrejas" (1Coríntios 4.17). Tornado co-autor de muitos de seus livros, este filho adotivo (nos termos de hoje) é referido por Paulo como filho na fé (1Timóteo 1.2), filho (1Timóteo 1.18) e amado filho (2Timóteo 1.2).
Paulo achava que estar com o filho era ter alegria completa.
Nossos filhos devem encontrar alegria fora de casa, porque a vida não se resume à nossa casa, mas devem sobretudo encontrar prazer em estar em casa. E a tarefa de tornar a nossa casa um lar para eles é dos pais, que devem apreciar quando estão em casa. E isto tenderá a acontecer quando encontrarmos tempo e lugar para eles.
Nossos filhos querem, ensina-nos com sua prática o pai adotivo Paulo (2Timóteo 2.3-6), que VIVAMOS COM CONSCIÊNCIAS LIMPAS, que INTERCEDAMOS POR ELES e que DESEJEMOS ESTAR COM ELES.
Eles querem ainda que ACREDITEMOS NELES ("Recordo-me da sua fé não fingida, que primeiro habitou em sua avó Lóide e em sua mãe, Eunice, e estou convencido de que também habita em você" — verso 5).
Paulo estava certo de que Timóteo era um cristão, chamando-o, em outro lugar, de "homem de Deus" (1Timóteo 6.11).
Há pais e mães que acreditam nos filhos, no valor deles, confiam neles, mas não dizem isto a eles. Paulo, o pai adotivo, diz do filho: "Você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta, o meu propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha perseverança, as perseguições e os sofrimentos que enfrentei" (2Timóteo 3.10-11a).
Numa situação difícil numa das igrejas que dirigia, Paulo enviou o filho, seguro de sua competência (1Tessalonicenses 3.5). Por isto pediu que cuidassem dele quando chegasse à cidade (1Coríntios 16.10). Para ele, Timóteo era um homem aprovado que serviu "como um filho ao lado de seu pai (Filipenses 2.22).
Nossos filhos não são perfeitos, como nós não somos. Valorizemos as qualidades dos nossos filhos. Eduque seus filhos. Educar inclui valorizar o educando.
Eles querem também que LHES LEMBREMOS O DOM DE DEUS ("Por essa razão, torno a lembrar-lhe que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos" — verso 6).
É nossa responsabilidade ajudar nossos filhos a manterem nos seus corações, onde quer que estejam, a chama da fé. Todos podem desistir deles, menos nós, estejam eles conosco, trilhando o mesmo caminho junto a Deus ou não.
Sempre atento, Paulo aconselha seu filho agir de modo a que ninguém o desprezasse e que não negligenciasse o dom que fora concedido (1Timóteo 4.12-16).
Timóteo era um pastor, que precisava do cuidado pastoral do seu pai, como todo filho precisa do cuidado pastoral da sua mãe ou do seu pai.
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Com inteligência, seja diligente, pai; seja diligente, mãe.
Se seu filho está firme com você na fé, ajudem-se mutuamente.
Se seu filho um dia esteve e hoje não está mais firme na fé, ou nunca esteve no bom caminho em que se deve andar, por exemplo, interceda mesmo que secretamente, pregue mesmo que cuidadosamente. Se você não o fizer, quem o fará.
Se você mesmo não está firme ou nunca tomou a decisão de ser um cristão, uma cristã, faça isto por você. Faça isto por seu filho ou filhos.
Israel Belo de Azevedo