Jó 31.38-40 — OS ZELADORES DA TERRA

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O dia 5 de Junho foi separado pela Assembléia Geral da ONU, desde 1972, como O DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE, com alguns objetivos, entre outros:

. “Mostrar o lado humano das questões ambientais” — Nem sempre pensamos que um mal feito ao meio ambiente é um mal feito ao ser humano.
. “Capacitar as pessoas a se tornarem agentes ativos do desenvolvimento sustentável” — Nossa tendência é nomear as pessoas que podem fazer bem ao meio ambiente, como cientistas da área, ambientalistas e autoridades governamentais. Esperamos dessas pessoas ações firmes, em lugar de nos convertermos também em agentes do desenvolvimento sustentável.
. “Promover a compreensão de que é fundamental que comunidades e indivíduos mudem atitudes em relação ao uso dos recursos e das questões ambientais” — Uma atitude responsável em relação ao meio ambiente começa com práticas bem simples, como o que fazer com o lixo que nós mesmos produzimos.

A situação das lagoas da cidade do Rio de Janeiro mostra que faz sentido refletirmos sobre o assunto.

VEJA VÍDEO AQUI

Quando faz sua defesa diante dos seus amigos, Jó inclui o tema do cuidado do da terra. Diz ele (Jó 31.38-40):

. “Se a minha terra clamar contra mim, e se os seus sulcos juntamente chorarem; se comi os seus frutos sem tê-la pago devidamente e causei a morte aos seus donos, por trigo me produza cardos, e por cevada, joio. Fim das palavras de Jó”. (Jó 31.38-40 ARA)

 “Se a minha terra se queixar de mim e todos os seus sulcos chorarem, se consumi os seus produtos sem nada pagar ou se causei desânimo aos seus ocupantes, que me venham espinhos em lugar de trigo e ervas daninhas em lugar de cevada”. Aqui terminam as palavras de Jó. (Jó 31-28:40 — NIV)

. “Se a terra contra mim grita
e os seus rios juntos choram;
se comi os seus frutos sem lhe pagar nada
ou se deixei a sua população desanimada,
cresçam espinhos no lugar do trigo
e surja o joio no lugar da cevada”.
 (Jó 31-28:40 — IBA)

Jó faz um exame de consciência. Em sua defesa, trata a terra como uma pessoa que, já que ela grita e seus rios choram, como fazem os seres humanos. Jó não trata a terra de um modo indiferente.
De um lado, temos aqueles que tratam a terra como uma divindade, o que é idolatria. De outro, temos aqueles que têm uma relação puramente utilitária com a terra (tirando tudo o que ela pode dar), o que é pecado.

Jó olha a terra como precisando de cuidado. Deve ser tratada para não se queixar. Seus rios devem ser tratados para que não venham a se queixar com lágrimas.
Tramita no Congresso um novo código para as florestas, discussão que a maioria da população (eu aí incluído, infelizmente) acompanha com olímpica indiferença. A campanha presidencial de Marina Silva colocou por um tempo o tema do meio ambiente na pauta. Passadas as eleições, nosso interesse passou junto. Valem a pena a conscientização e a mobilização, como mostrou a retirada, pela menos temporária, do chamado “kit gay”, que estava para ser distribuído a milhões de crianças e adolescentes no Brasil.

Jó sabe que aquilo que faz à terra — e Jó está pensando na sua terra, na terra da qual era proprietário –, tem conseqüências.
Aquilo que nós fazemos em casa, com o lixo, tem conseqüências.

A mais acabada indicação de como deve ser a nossa relação com a terra está no relato mesmo da criação da terra e do homem.
No sexto dia da criação, Deus olhou para tudo quando fizera e viu que era bom.

“Então, disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão”.
Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
Deus os abençoou e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”.
Disse Deus: “Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês. E dou todos os vegetais como alimento a tudo o que tem em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a todas as criaturas que se movem rente ao chão”.
E assim foi.
E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”. (Gênesis 1.26-31)

Fica bem evidente que a terra e o homem são criações de Deus. Assim, o homem deve tratar a terra com respeito. O presente recebido (a terra) inclui um mandamento: o cuidado (da terra).
Fica claro que o homem precisa da terra para sobreviver. Não há terra sem o ser humano. Não há ser humano sem a terra. Talvez alguns estranhem a afirmativa que “não há terra sem o ser humano”. Um depende do outro. A terra depende do homem para ser aperfeiçoada. Com o cuidado humano, a terra se completa. O homem se multiplica; a terra, não. O homem pensa; a terra, não. Assim mesmo, o homem precisa da terra para se alimentar.
A terra jamais será má; o homem pode se comportar pecaminosamente contra a terra.
O homem peca quando acumula propriedade por acumular, matando até quem deseja dividir. A terra, ensina-nos a Bíblia, não pertence ao homem, que é apenas o seu gestor, não o dono. A terra pertence ao Senhor Deus (Salmo 24.1).
O homem peca quando explorar o solo (e subsolo e atmosfera) sem pensar no futuro. Ainda se mata quem se importa em preservar a terra
A terra e o homem são criações do corpo. A terra é a habitação de Deus. O corpo é habitação de Deus. Há uma ecologia da terra, mas há uma ecologia do corpo. A terra precisa de nosso cuidado para ter saúdo. Nosso corpo, também. Os movimentos são diferentes, mas ambos são cuidado.
Como a terra, o corpo não é inesgotável. O abuso do corpo também cobra o seu preço.
Penso no abuso do alimento.
Penso no uso do álcool.
Penso no apelo a drogas (inclusive remédios).
Precisamos de uma ecologia para o nosso corpo.
Muitos dizemos que sabemos usar a terra racionalmente, mas não sabemos. Muitos nos achamos temperantes e talvez o sejamos, mas nossos filhos, os filhos que aprenderam a beber com os mais velhos, o serão?
Vejo, feliz, que estamos vencendo a guerra contra a dependência do cigarro, mas, como se fosse uma compensação, vejo, infeliz, que estamos perdendo a guerra para as drogas, inclusive o álcool, a pior das drogas.
Acrescento algo que me tem preocupado: há muitos homens que não lavam as suas mãos quando vão aos sanitários de suas casas ou públicos. Eles podem estar economizando água, mas estão multiplicando as bactérias no seu corpo e nos outros outros.

Concluo com as sugestões da ONU, para que façamos algo ecologiamente responsável todo dia. (Uso adaptado de <http://www.ipc-undp.org/dmma/facaalgo.htm>)

QUANDO ESTIVER EM CASA:
1. Economize água.
Há maneiras simples de fazer algo todo dia pelo nosso planeta: não deixe a torneira ou o chuveiro ligado, quando escova os dentes, tira a barba, lava o rosto ou toma banho; reutilize a água para limpar calçadas, quintais ou automóveis.
(Talvez você precise fazer uma viagem para um lugar onde falte água, para saber que falta água e o que é a falta de água.)

2. Prefira fraldas de pano.
Se for possível, evite fraldas descartáveis. Esta não é uma tarefa fácil, sobretudo pela “conquista” que é a fralda descartável, mesmo que ela fique acumulada nos lixões durante muitos anos.

3. Prefira garrafas e embalagens reutilizáveis.
Na media do possível, evite garrafas ou embalagens (como do tipo pet) de uso único (one way), sejam de plástico ou de lata.
Ao embrulhar o lanche, opte por embalagens reutilizáveis, em lugar de folhas de alumínio ou saquinhos de plástico.

4. Plante uma árvore!
Atualmente existe apenas uma árvore para cada 500 habitantes em nosso planeta.

NA RUA:
1. Use sacolas de pano ou papel.
“Não vá a lugar nenhum sem a sua sacola de pano, de modo que você possa simplesmente dizer ‘não’ ao plástico sempre que for fazer compras”.
(As sacolas plásticas serão abolidas por lei. Antes disto, vamos nos habituando, enquanto a tecnoindústria não inventa um utensílio tão prático quanto o plástico, que dura, pelo menos, cem anos antes de se gastar completamente.

2. Use o automóvel racionalmente.
“Por mais radical que pareça, a forma mais fácil de reduzir suas emissões de de carbono é minimizar o uso de automóveis. Ao invés de dirigir, tente andar de bicicleta, caminhar, pegar carona, usar transportes públicos etc. Se você não tem outra opção senão dirigir [sozinho] para o trabalho, procure por carros de maior eficiência de combustível e mantenha os pneus regulados na pressão correta para reduzir o consumo do seu carro. Agora, se você está entre a maioria dos motoristas que passam horas presos no trânsito, considere desligar o motor se for ficar parado por um período longo. Para os apressadinhos, lembre-se que dirigir agressivamente aumenta o consumo de combustível e as emissões de gases de efeito estufa. Por isso, se você quiser contribuir com o meio ambiente, acelere gradualmente e tente manter uma velocidade constante”.

3. Não jogue lixo.
Não jogue lixo na rua, no rio, na calçada, no meio de transporte, no restaurante, na igreja.

4. Plante uma árvore!
Uma árvore adulta pode absorver do solo até 250 litros de água por dia.

NO TRABALHO:
1. Se possível, ao tomar café, prefira uma caneca lavável.
(Deixe um copo de vidro e uma garrafa reutilizável no local de trabalho para diminuir a quantidade de copos plásticos ou de garrafinhas de água. 80% de garrafas de plástico são recicláveis, mas apenas 20% são efetivamente recicladas).

2. Quando precisar imprimir, veja se é possível usar uma folha de rascunho ou frente e verso.

3. Participe dos programas de reciclagem ou comece um.
Reciclagem de lixo contribui efetivamente para a redução de emissões de carbono. E estima-se que 75% do que é jogado no lixo pode ser reciclado, embora atualmente a reciclagem seja de apenas 25%.

4. Configure seus computadores para economizar.
Além disso, desligue-os (computadores, impressoras, monitores, copiadoras, etc.) ao final do dia.
(Essas ações reduzem as emissões de carbono do seu escritório).

5. Plante uma árvore!
As arvores uavizam os perfis dos edifícios.

EM GERAL:
1. Nos dias de calor, experimente abrir as janelas e usar roupas leves, ao invés de ligar o ar-condicionado.
Se precisar usá-lo, não coloque lâmpadas ou televisores perto dele, porque ele irá identificar o calor proveniente desses aparelhos e, por isso, trabalhará mais tempo que necessário.

2. Desligue as luzes.
Quando não precisar ou quando for sair, desligue todas as luzes e aparelhos eletrônicos, inclusive os  carregadores, que continuam a consumir energia mesmo se não estiverem mais carregando.
No trabalho, desligue todas as luzes desnecessárias, especialmente nos escritórios e salas de conferência, banheiros e áreas que não estão sendo utilizadas.

3. Doe o que não quiser ou não precisar mais.
Não jogue nada fora. Antes de ficar sem uso, doe.

4. Recicle, Reduza e Reutilize!

5. Plante uma árvore!
. “Quando plantamos árvores, plantamos sementes de paz e esperança” .(Wangari Maathai, laureada com o Prêmio Nobel da Paz 2004)
. “Quem planta uma árvore planta esperança”. (Lucy Larcom)
. “O melhor tempo para plantar uma árvore foi há 20 anos. O próximo tempo é agora”. (Provérbio chinês)

***
Proponho um exame de consciência para cada um de nós:
. Como temos tratado a terra em que vivemos?
. Como temos tratado o corpo que somos?

Podemos falar como Jó falou?

ISRAEL BELO DE AZEVEDO